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segunda-feira, 29 de julho de 2013

Crítica Literária

              (Do site Orientação Espírita - orientacaoespirita.org)
 
Ícaro Redimido

Autor: Adamastor
Médium: Gilson Freire
Editora: Inede
Número de Páginas:
Lançamento: 2007

 
Análise de Leonardo Paixão
 
Colocaremos para uma leitura dinâmica, parte de textos do livro que consideramos “chaves” para a análise por nós feita e, logo em seguida as nossas observações.
 
“Durante um ano, antes de iniciar este trabalho, fui invadido, no momento do sono, por uma profusão de sonhos muito reais e que entreteciam todo o enredo da história que iria escrever mais tarde. No entanto, eu não estava ciente do fato e não podia compreender a razão daquilo. Passava os dias acompanhado por aquelas imagens inquietantes e guardava a estranha sensação de trazer a mente invadida por pensamentos que não me pertenciam, pressionando-me as paredes do cérebro para evadir-se. De certa forma me perturbavam, dificultando-me o trabalho diurno, causando-me uma íntima inquietude e a inexplicável impressão de não estar completamente desperto e integrado ao nosso mundo” (Esclarecimentos Necessários, p. 12).
 
É estranha essa declaração, pois, Espíritos esclarecidos não perturbam a vida cotidiana do médium e deixam agradáveis vibrações e seu trabalho é realizado em dia e horários pré-estabelecidos, sendo que, como diz o Espírito Odilon Fernandes no livro “Mediunidade e Doutrina” psicografia de Carlos Antônio Baccelli e Prefácio de Emmanuel por Chico Xavier, os Espíritos podem de forma natural e espontânea dar mensagens fora deste contexto, mas não é a regra e em o fazendo não perturbarão ao médium.
 
“Uma entidade que não pertence a este mundo esteve presente junto a mim, inspirando-me no seu relato. Responde pelo nome de Adamastor e sentia a força de sua presença, impondo-me o seu pensamento e dirigindo ativamente o trabalho” (Idem – grifo meu).
 
Os Bons Espíritos não impõem seus pensamentos, eles os projetam e o médium os filtrará de acordo com a sua capacidade, sendo mais ou menos fiel ao pensamento do Espírito. Aconselhamos sobre este assunto de trabalhos literários pelas vias psicográficas a leitura do capítulo “O amigo Beletrista”, na obra “Devassando o Invisível”, de Yvonne Pereira.
Vejamos aqui resposta de Yvonne sobre psicografia, é de muito esclarecimento o que ele nos transmite:
 
RIE- Como e quando começou a psicografar?

Resposta de Yvonne Pereira:
 
Aos doze anos de idade eu já escrevia impulsionada pelos espíritos, sem, contudo, ter verdadeira noção do fenômeno. Sou criada em ambiente espírita desde o berço e por isso o fato nunca me impressionou. Sentia indomável impulso no braço e atordoamento, sem, no entanto, se verificar o transe, e isso fora mesmo de sessões práticas. Desejava parar de escrever e não conseguia. O fenômeno parece que se processava pela psicografia mecânica. E via o espírito comunicante, que se nomeava Roberto, afirmando ter vivido na Espanha, pelo século XIX. Nunca procurei desenvolver a mediunidade ou a provoquei. Apresentou-me ela, naturalmente, desde a infância. Apenas procurei imprimir-lhe o rumo conveniente, educando-me na moral evangélica e nas disciplinas recomendadas pela doutrina espírita. E comecei a psicografar livros ainda em minha juventude, recebendo o primeiro convite ao trabalho e as necessárias instruções do espírito Camilo Castelo Branco, que desde minha infância se revelou um grande amigo espiritual. Qualquer entidade que conceda uma obra psicografada convida o médium (não ordena) e fornece instruções. Sem esse convite será difícil, senão impossível, conseguir-se alguma coisa autêntica. Pelo menos é o que acontece comigo. (grifamos)
Fonte: Pelos caminhos da Mediunidade Serena/ Yvonne do Amaral Pereira – 1ª Ed., 1ª reimp. – São Paulo, SP: Lachâtre, 2007, pag.24-26.
 
No Prefácio/Apresentação – que tem por título “A História de um Ícaro” – escrito supostamente pelo Espírito Bezerra de Menezes, há considerações duvidosas:
 
“(...) aproximando o curso dos fatos desta e da outra vida, unindo causas e efeitos, entretece a verdadeira sucessão da História, em sua lógica impreterível, quando vista sobre o prisma do espírito” (p. 20)
 
Perguntamos: Se o Carlos Vítor Mussa Tavares, o Carlinhos (filho de Clóvis Tavares), foi a reencarnação de Santos Dumont, conforme revelação de Chico Xavier a Clóvis Tavares, qual a necessidade deste livro? Os fatos já não teriam dito muito?
 
“Agradeçamos ao esforço de todos por esta contribuição à História, mesmo que os homens da Terra teimem em não lhe reconhecer a inquestionável veracidade” (p. 21 – grifo meu).
 
Esta não é uma expressão condizente para um Espírito Superior, pois este não está preocupado se os homens o aceitarão ou não, sabe que a obra será realizada. Por outra, a “inquestionável veracidade” sobre a História espiritual de Santos-Dumont é a que foi revelada por Chico Xavier, Yvonne Pereira, Newton Boechat, Wallace Rodrigues e César Burnier (adiante falaremos sobre ela), que destoam do que nesta obra está escrito.
 
“(...) De forma que não podemos mais duvidar da possibilidade de regressão (grifei), representando, sem dúvida, o maior dano que o espírito é capaz de se infligir” (Cap. 08 – Na Câmara dos Ovoides, p. 84).
 
Apesar de se estar falando de espíritos em estágio de ovoidização, o autor espiritual fala claramente neste texto que o Espírito pode regredir, afirmativa que vai de encontro às respostas dos Guias da Humanidade em “O Livro dos Espíritos” (vide a questão 193, 194 e o Capítulo V – Considerações sobre a Pluralidades das Existências).
 
“(...) Será, no entanto, recurso defensivo importante para a manutenção de seu equilíbrio. A medicina terrena ainda não se deu conta disso e trata de inibir, com insistência, essas importantes leucorreias, dificultando muitas vezes o trabalho de drenagem dos miasmas pestilentos” (Cap. 10 – A Bênção do Recomeço).
 
É informação dada apenas por um Espírito e um médium, sendo o médium Freire médico, o que será que pensa desta proposta anti-higiênica?
 
“(...) A contração máxima, como a vemos, era já esperada porque Alberto se defrontou com o meio adequado para isso, e a executou convenientemente. Se, no entanto, ele não tivesse sido acomodado no seio uterino, aí sim o processo lhe seria drástico, pois, terminaria, como já vimos, na ovoidização” (Cap. 10, p. 100).
 
Chico Xavier, Yvonne Pereira, Newton Boechat, Wallace Rodrigues e César Burnier, jamais falaram sobre ovoidização no caso de Santos-Dumont. É estranho que cerca de 60 anos após a mensagem que Dumont deu a Chico Xavier, precise se revelar o fato agora, pois, a sua dolorosa reencarnação como Carlinhos (viveu 17 anos tetraplégico), já foi um grande exemplo e um testemunho da reencarnação. Será que verdadeiramente é preciso mais?
 
“(...) Somente entidades de altíssimo quilate evolutivo conseguem manipular à distância o desenvolvimento de sua forma, mantendo-se em relativa liberdade durante o processo” (Cap. 11 – Dias Atribulados, p. 106).
 
Tal informação contrasta com a questão 344 de “O Livro dos Espíritos” e com a questão 51 do item 284 de “O Livro dos Médiuns”. Um exemplo a dar é o de D. Laura, mãe de Lísias em “Nosso Lar”, que não mais precisava reencarnar e em o fazendo deixou aos parentes em “Nosso Lar” muito tristes com a sua “partida”. Outro fato digno de nota é o caso de Espíritos que revelam que iram reencarnar e ao o fazerem, já não mais dão comunicações. Podemos dizer ser este o caso do Espírito Emmanuel, guia de Chico Xavier que, segundo consta está reencarnado desde o ano 2000. Médiuns que dizem receber Emmanuel e até psicografam livros, como é o caso do Wagner Gomes da Paixão em Belo Horizonte, tem sido rechaçado por aqueles que conviveram com Chico de perto, como Eurípedes Humberto Higino dos Reis (filho de coração de Chico), Geraldo Lemos Neto, Nena Galves e outros.
 
“(...) notamos que a mente do facultativo não se mostrava acessível a qualquer tipo de inferência de nosso plano (grifei)” (Cap. 11, p. 110).
 
Este trecho é uma contradição com o que em seguida vai escrito.
 
“(...) Notávamos-lhe a sólida formação moral (grifei), rica de possibilidades para a devida orientação à nossa amiga, porém sua pressa e seu pouco interesse em se envolver com o caso tornavam-no completamente impérvio à nossa atuação” (Cap. 11 – Dias Atribulados, p. 111).
 
Muito estranha esta passagem, pois, justamente esta “sólida formação moral” é que torna o ser humano dócil às vibrações dos Benfeitores Espirituais e seria fácil a eles a inspiração ao médico citado como de “sólida formação moral”. E o médico, se realmente tivesse esta formação seria uma alma sensível e, por isso mesmo, auxiliaria a meretriz que lhe pedia socorro.
 
“Nosso sustento na vida ainda se baseia em inadequado vampirismo, praticado em refinadas expressões, sem nos darmos conta de que exercitamos, na verdade, um regime em oposição à Lei do Amor. Se insistimos neste estranho hábito de ingerir as vísceras de nossos irmãos inferiores, justificados por viciadas e pretensas necessidades biológicas, justo é estarmos, por nossa vez, sujeitos ao roubo exploratório de nossas biomassas doentiamente surrupiadas de outros. O amor e não a morte deve alimentar a nossa vida, se queremos de fato que a felicidade habite nossa alma. A indústria da morte, sustentando nos séculos o vício do vampirismo, deve ser assim banida de nossa sociedade, a fim de que ela se harmonize com as Leis de Deus e a paz se estabeleça em seu seio. Sem dúvida que o homem encontrará diversas maneiras de prover a sua vida física no planeta, de forma eficiente e saudável, que não se baseie no extermínio de seus irmãos menores, maculando o puro amor que lhe consubstancia a alma divina” (Cap. 13 – Doloroso Transe, p. 123).
 
Este parágrafo ressuscita a defesa ferrenha do vegetarianismo que faz o espírito Ramatís no seu livro “Fisiologia da Alma”. Sobre o assunto vejamos o que diz o Espírito Lamennais na Revista Espírita de Dezembro de 1863: “o esquecimento da carne leva mais facilmente à meditação e à prece”. Entretanto, termina dizendo: “Pode ser-se bom cristão e bom espírita e comer a seu gosto contanto que seja razoável. É uma questão um tanto leviana para os nossos estudos, mas não menos útil e proveitosa” (grifos meus).
Lamennais diz que é uma questão leviana, isto é, não tem muita importância; e em que sentido ela é “não menos útil e proveitosa”? No sentido de que nos faz refletir sobre os nossos hábitos alimentícios em relação a como estamos usando os alimentos: com sobriedade ou com exagero? O que importa é o crescimento moral e não o deixar ou não de comer carne.
Já finalizando estes nossos comentários que vão longo, porém, necessários e antes de deixarmos aqui as palavras do confrade Flávio Mussa Tavares, filho de Clóvis Tavares e irmão de Carlos Vítor Mussa Tavares, se faz necessário dizer que a obra de 450 páginas é um repertório de termos médicos e como o espírito Adamastor, conforme orelha do livro “é o pseudônimo de um médico que viveu na França no final do século XIX e se transferiu para o Brasil, onde desencarnou em decorrência do abuso do álcool e do fumo, tendo sido recebido no plano espiritual como suicida (...) Até onde sabemos, seus trabalhos junto a nós têm se desenvolvido no Grupo da Fraternidade Espírita Irmão Vítor, onde já se manifestou através de diversas mensagens de elevado teor, em nome de Bezerra de Menezes (grifei), algumas dirigidas ao Movimento da Fraternidade”.
 
Um Espírito suicida pode se recuperar e escrever para trazer ensinamentos aos homens, foi o caso de Camilo Castelo Branco através de Yvonne Pereira que, além de outras obras de inegável valor doutrinário, nos legou “Memórias de um Suicida” e de André Luiz que, através de Chico Xavier nos legou a sua lavra de “repórter do Além”.
No caso em pauta, estamos a analisar a linguagem técnica em excesso do referido autor espiritual. Ou o espírito quer dar mostras de seu conhecimento científico, já que ele fora médico ou o médium liberou conhecimentos pela via anímica, para nós sendo mais provável esta última hipótese, pois que os termos são da moderna medicina e, por uma questão de identidade espiritual, o espírito poderia usar dos termos que sabia, diferente com o ocorrido a André Luiz, pois este escreveu pouco depois de sua desencarnação e os conhecimentos que possuía não estavam distantes do conhecimento que se tinha, já não se dá este fato com o espírito Adamastor, que se encontra desencarnado há mais de um século. O fato de ele ter aprendido no Além, diante do que lemos na obra, deixa claro se tratar de um espírito pseudossábio, inclusive enviando mensagens em nome de Bezerra de Menezes, quando vemos o próprio Bezerra – quando se trata de assuntos do Espiritismo e do Movimento Espírita – a irradiar seu pensamento como Espírito Superior que é, a diversos médiuns. Diante disto seria o Prefácio/Apresentação do livro escrito por Bezerra de Menezes ou foi o espírito Adamastor que o escreveu usando o nome do “Médico dos Pobres” (método muito usado pelos espíritos que querem enganar é usurpar o nome de entidades venerandas) e, por isso, dizendo da “inquestionável veracidade” da obra?
Ao final da obra o médium Freire coloca a mensagem que Santos-Dumont deu por Chico Xavier e em nota diz:
 
“(...) Ela (a mensagem) nos mostra que Santos Dumont já havia se recuperado, embora tivessem decorrido apenas 16 anos de sua trágica morte, tempo considerado curto, tendo em vista a habitualmente longa recuperação dos suicidas. O teor de suas palavras nos atesta que ele se movia rumo à aquisição de nobilitantes conquistas, sobremodo distanciadas dos antigos interesses que o motivaram na vida física, comprovando-se as revelações aqui expostas”.
 
Em realidade, as palavras de Santos-Dumont não comprovam as “revelações” desta obra, haja vista que a família do saudoso Professor Clóvis Tavares, onde Santos-Dumont encarnou, sendo o Carlinhos, contesta veementemente as “revelações” desta obra. Por outra, a afirmativa de que Santos-Dumont já havia se recuperado, embora tivessem decorrido apenas 16 anos de sua trágica morte (...)”, contrastam com a revelação de Chico Xavier a Clóvis Tavares “de que Santos Dumont, desde 1936, era um dos mais devotados Amigos Espirituais de nossa Escola Jesus Cristo” (TAVARES, Clóvis. Trinta Anos com Chico Xavier. 7. ed. Araras, SP: IDE, 2008. p. 152).
Se Dumont já era Amigo da Escola Jesus Cristo e “um dos mais devotados”, desde 1936, peca o médium Freire em dizer que Santos Dumont recuperou-se 16 anos depois, antes disto, ele já estava ativo no Mundo Espiritual. Ainda sobre o assunto, vejamos a nota que o Dr. Flávio Mussa Tavares colocou à página 67 do livro “Rocha dos Séculos”, 1ª edição, Campos, RJ: Escola Jesus Cristo, 2008:
 
É importante revelar aqui que o nobre espírito Santos Dumont comunicou-se também pelo mesmo médium, com o pseudônimo de Lill, escrevendo particularmente a Clóvis Tavares. Estas comunicações estão inseridas no livro “A Morte é Simples Mudança”, onde estão também as poesias de Carlos Vítor, o Carlinhos, filho primogênito de Clóvis Tavares. Ele sofreu como Carlinhos, uma expiação voluntária de seu intento contra a vida na pessoa do Pai da Aviação. Acrescento aqui esta nota, pois a literatura espírita mediúnica está produzindo textos que aludem a uma situação espiritual negativa de Santos Dumont que é absolutamente diferente das informações coincidentes que temos através das mediunidades de Chico Xavier, Yvonne Pereira, Wallace Rodrigues, César Burnier e Newton Boechat. Como Allan Kardec ensinou-nos que devemos balizar-nos pela Universalidade do Ensino dos Espíritos, segue-se que qualquer comunicação que sugira a Santos Dumont uma situação espiritual diferente da observada pelos médiuns supracitados seja apócrifa”.