Translate

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

A PSICOMETRIA POR ALFRED ERNY

Do livro de Alfred Erny - O Psiquismo Experimental 
Cap. IV A psicometria. – Resumo dos trabalhos do Dr. Buchanan e de W. Denton 

Falemos agora da psicometria, curiosa faculdade psíquica descoberta pelo Dr. Buchanan, que fundou uma escola de medicina em Cincinnati (Estados Unidos). 

Conversando um dia com um cliente, o bispo Simpson, o doutor soube que o bispo, toda vez que tocava num metal, mesmo à noite, quando ignorava que o fazia, sentia a influência desse corpo e descobria a natureza dele. Em seguida a essa observação, o doutor começou uma série de experiências. 

Colocou metais diversos nas mãos de pessoas de grande sensibilidade e constatou que muitas possuíam o poder de adivinhar pelo tato tal ou tal substância, envolvida em papel e imperceptível à vista. 

Continuando nessa ordem de idéias, o Dr. Buchanan imaginou que os sensitivos poderiam ser afetados do mesmo modo pelo contato de seres vivos. Pessoas de temperamento muito impressionáveis poderiam, colocando a mão sobre a cabeça ou sobre o corpo, experimentar uma sensação correspondente à vida íntima. Muitas vezes, mesmo o contato era dispensável. 

Poderosos sensitivos, achando-se diante de pessoas doentes, reconheciam a moléstia e podiam indicar-lhe a sede. 

Eis um gênero de psicometria que prestaria grande auxílio aos nossos médicos, quando seus diagnósticos não correspondessem à sua esperança. (i)

Dois anos depois de haver feito as suas primeiras descobertas, o Dr. Buchanan encontrou indivíduos tão sensitivos que podiam reconhecer a influência comunicada a uma carta por aquele que a tinha escrito, quando se colocava essa carta sobre a fronte do psicômetra. Às vezes, este último podia ainda indicar o caráter e os hábitos daquele que havia escrito a carta. 

Entre aqueles que mais se têm ocupado de psicometria, deve-se citar em primeiro lugar o eminente geólogo William Denton. 

Encontrou em sua mulher, em sua irmã e num dos seus filhos os mais poderosos exemplos de poder psicométrico, e durante mais de vinte anos fez experiências nas melhores condições. 

Continuando suas pesquisas em numerosas viagens, e achando-se em contato com muitas pessoas que possuíam mais ou menos o dom psicométrico, William Denton publicou os resultados de suas experiências em três volumes intitulados: A Alma das Coisas. Vou dar alguns extratos desse curiosíssimo livro. 

A irmã de Denton, Sra. Uridge, foi a primeira pessoa sobre a qual tentou experiências. 

Sendo muito impressionável, essa senhora dentro em pouco se achou em estado de ver e descrever as pessoas que haviam escrito as cartas que se lhe colocavam fechadas sobre a fronte, dizendo mesmo muitas vezes a cor dos cabelos e dos olhos. 

Denton concluiu daí que, se a imagem daquele que escreve uma carta pode gravar-se nela (psiquicamente) durante o pouco tempo em que o papel se lhe acha sob a influência, era justo supor que os rochedos guardavam a impressão de tudo quanto os havia rodeado. Foi assim levado a pensar que o geólogo poderia obter indicações sobre o passado e fez experiências com fósseis, minerais, espécimes arqueológicos. Denton descobriu que o psicômetra, sem saber em que consistia o espécime que se colocava, embrulhado, na mão ou sobre a fronte, via o objeto e tudo o que havia acontecido na sua vizinhança. 

Esta visão passava às vezes com a rapidez do raio e outras vezes tão lentamente e tão distintamente que era possível descrevê-la como uma vista panorâmica. 

A psicometria prestará ao geólogo um auxílio imenso. Há períodos inteiros do passado que ignoramos. A fauna e a flora da Terra durante o período cretáceo nos são quase desconhecidas. Que sabemos do começo da vida? É provável que não só nos fósseis devamos procurá-la, mas também em impressões que o psicômetra pode descobrir. 

Formas pequenas ou demasiado inconsistentes para deixarem impressão sobre os rochedos poderão ser percebidas, e períodos que nos parecem estéreis, vazios, mostrar-nos-ão miríades de seres que viveram sem deixar traços visíveis. Tipos de animais, de pássaros e de peixes, de que não temos a menor idéia, serão por assim dizer reconstituídos e poderemos julgar do conjunto da criação orgânica desde a mônada até o homem. 

Muitas vezes, viajando de carruagem, a Sra. Denton dizia a seu marido: “... há chumbo ou cobre nos arredores ...”, e o Sr. Denton verificou a exatidão da informação. 

O psicômetra – diz ele – pode seguir o curso dos veios de um metal no interior da terra, como nós seguimos o curso de um rio à superfície desta. 

Mas – acrescenta Denton – como poderemos saber se as narrativas dos psicômetras são exatas? Comparando as revelações de um às de outro, como fazemos em astronomia. 

Mesmo para o historiador, a psicometria será útil, pois a História – diz Voltaire – é uma enorme mentira. 

A biografia de todas as nações se acha escrita algures e o psicômetra poderá lê-la. Os ocultistas dizem que todos os acontecimentos passados e presentes estão impressos na luz astral e que os videntes podem lê-los como em um livro. 

O psicômetra é, em suma, uma espécie de vidente, ou antes um indivíduo que tem, acordado, as faculdades e as percepções que o sonâmbulo só possui quando adormecido. 

Em lugar de milhares de anos, o psicômetra pode fazer-nos remontar a milhões de anos. Saberemos o que se passava nas épocas primárias, secundárias, etc.; a espada de um César ou de um conquistador muito poderá dizer-nos sobre o seu caráter. A psicometria, em diversos casos, poderá servir para a descoberta dos criminosos. Os restos de um indivíduo assassinado podem contar a sua história, pois se acham impregnados da influência dele. 

“O peixe – diz Denton – nada sabe do oceano aéreo em que anda o pássaro, e nós – apesar de todos os nossos famosos conhecimentos – quase nada sabemos do oceano do éter que nos cerca. Acredito que a psicometria não passa de um exercício das faculdades da alma e que é independente do corpo. O psicômetra vê, sem auxílio dos olhos materiais, quer o passado, quer o presente, tanto o que se acha próximo como o que está afastado; ouve sons que os ouvidos físicos não percebem e viaja sem ser pelos meios ordinários de locomoção. Entretanto, as numerosas dificuldades que encontramos em nossas experiências provaram-me que nos temos aproximado de um terreno desconhecido, mas que apenas o temos costeado.” 

Vê o psicômetra os objetos como nós os vemos? “Não inteiramente do mesmo modo – diz a Sra. Denton –. Em certos casos os objetos passam diante do observador com a rapidez do raio; só muito tempo depois eu soube que, por um esforço poderoso da vontade, era possível fixar esses quadros, os quais são reais como tudo o que vemos diariamente. Outras vezes os objetos parecem fixos, mas apenas certas partes deles são visíveis. Por momentos o psicômetra se acha transportado ao espaço e, movendo-se mais velozmente do que o vento, voa e sente-se desprendido de todo laço terrestre. 

É provável que este último efeito seja produzido por um desprendimento do corpo psíquico, que habitualmente só se verifica no sono ou no estado letárgico. 

Na sua mocidade, a Sra. Denton acreditava que se poderiam obter esses resultados comprimindo as pálpebras sobre os olhos, segundo lhe dizia sua mãe. Mais tarde verificou que a explicação era pueril e que esse gênero de efeitos bem se podia aproximar do que Aristóteles chamava ação interior do sentido da visão. 

Por uma sucessão de coincidências e experiências, o Sr. Denton e sua esposa foram levados a pensar que existia algum laço entre essas singulares visões e as realidades da vida exterior. Às vezes percebe-se como que o fac-símile de uma coisa familiar, porém o objeto pode também ser de todo diferente do que se viu ou conheceu. 

Nenhum anatomista sabe o que é o órgão visual ao redor, e bem embaraçado se veria para explicá-lo. 

É o sexto sentido, de que nos falam alguns ocultistas elevados, sentido que começa a desenvolver-se entre certos privilegiados das novas gerações. 

Haverá mesmo um sétimo sentido, que se desenvolverá em futuras raças. 

Voltemos à Sra. Denton. Entusiasmada com a descoberta do Dr. Buchanan, ela quis fazer experiências de acordo com as suas indicações. Uma tarde, no seu quarto, e na obscuridade, tomou ao acaso uma carta, entre muitas que se achavam em uma gaveta, e colocou-a sobre a fronte. Imediatamente viu o rosto e o busto da pessoa que a escrevera e mesmo o aposento em que se realizara esta operação. Depois, riscando um fósforo, verificou a exatidão da experiência. 

Embora praticáveis em pleno dia, estas experiências se tornam muito mais fáceis na obscuridade. O psicômetra pode desenvolver então inteiramente a sua visão interna, e as suas descrições são mais nítidas. Não são simples produtos de sua fantasia ou criação da sua imaginação. 

Eis um exemplo: Em 1872, o Sr. Denton colocou nas mãos de seu filho (de 12 anos de idade) um pedaço de cimento proveniente da casa de Salústio, em Pompéia. As descrições desse menino foram tanto mais surpreendentes quanto nada conhecia de Pompéia (nem por leitura, nem por qualquer outro modo) e, entretanto, o que disse dos seus habitantes, dos seus armazéns, das suas festas, da vida diária, do teatro, etc., era perfeitamente exato, segundo se reconheceu posteriormente. As experiências foram feitas com grandes intervalos, para evitar tanto quanto possível a transmissão dos pensamentos. 

No caso que passo a referir nem mesmo esta explicação poderá servir, pois a experiência teve por objeto um fóssil da ilha de Cuba. Colocado sobre a fronte da Sra. Denton, ela descreveu muito exatamente onde fora encontrado o fóssil, de que era (da época terciária), o que o cercava, a parte da ilha onde o tinham apanhado. 

O Sr. Denton nada sabia desse fóssil, que lhe fora dado como proveniente de Calabaial, o que indicava uma cidade hispano-americana, porém não uma cidade da ilha de Cuba, de preferência a qualquer outro lugar da América. 

Escrevendo a amigos seus, depois da experiência, o Sr. Denton obteve esclarecimentos que concordavam absolutamente com as descrições de sua esposa. 

De outra feita, no meio de mais de duzentos espécimes de todas as espécies, embrulhados em papel, o Sr. Denton tomou um ao acaso e colocou-o sobre a fronte de sua esposa, ignorando de qual se tratava. Mais tarde, abrindo o papel, o Sr. Denton leu sobre o espécime: Mosaico moderno – Roma. 

A descrição da Sra. Denton versara sobre o templo donde fora tirado esse mosaico. 

Reconheceu que não se tratava de pintura, porém de cores impressas nos materiais. 

É necessária a influência magnética para o fenômeno de psicometria? 

De modo algum – responde o Sr. Denton –; Esta influência nunca deve ser aceita pelo psicômetra, exceto em casos muito raros. 

Deve o olhar do psicômetra ser dirigido para o espaço ou para algum objeto donde pareceu emanarem as visões? Não – diz ainda o Sr. Denton –; o psicômetra não precisa de olhar os objetos. Em 90 casos sobre 100, vê muito mais do que pode descrever; ele não precisa de evocar visões; elas lhe chegam em multidão e como que dotadas de vida e movimento. 

O valor dessas visões depende sobretudo da habilidade do psicômetra em distinguir a natureza das duas influências ou da sua origem, de modo a se tornar ativo para uma influência e passivo para outras. 

A fim de provar que esses fenômenos não são pessoais ao Dr. Buchanan ou à família Denton, vou contar um caso referido pela Sra. Hardinge-Britten, esposa de um doutor inglês. 

Por volta de 1882, uma reunião de despedida se realizara na casa do coronel Kate, muito conhecido em Filadélfia. Um dos visitantes pediulhe permissão para apresentar um amigo que ninguém conhecia. 

No fim da reunião, esse cavalheiro disse que trouxera o seu amigo a fim de obter (se possível fosse um) a descrição psicométrica de um pequeno embrulho que tirou do bolso. Embora houvesse cerca de 60 pessoas presentes, seguiu-se a esse pedido um silêncio completo, até o momento em que a senhora a quem era oferecida aquela festa íntima lançou mão do embrulho. 

Ignorava-se que aquela senhora fosse psicômetra, pois desde muitos anos não exercitava esse dom. Movida por um impulso repentino, declarou que se sentia transportada a milhares de anos atrás, sobre as margens do Nilo, e descreveu bandos de egípcios inclinando-se diante de uma pedra alta e volumosa, cuja ponta era dirigida para o céu. Durante três quartos de hora falou de várias épocas, em que outras nações se haviam reunido aos egípcios para levantar da terra a elevada pedra, em cuja base se encontravam diversas medalhas semelhantes àquela que estava no embrulho. Disse em seguida que essa pedra fora transportada para fora do Egito e que se achava atualmente em uma doca. 

O cavalheiro informou então às pessoas presentes que o embrulho continha uma medalha, que mostrou, e que fora encontrada com muitas outras no Egito, debaixo da agulha de Cleópatra; que o Governo dos Estados Unidos acabava de comprá-la. Essa agulha se encontrava naquele momento em uma doca de Nova Iorque. 

O que mais espantou os assistentes não foi apenas a exatidão das descrições, porém o fato surpreendente de que a história do país, dos habitantes, do monólito, etc., estivesse também gravada nessa medalha de um modo por assim dizer oculto. Essa narrativa é garantida de modo absoluto pela Sra. Hardinge-Britten, que a publicou. 

Desde então, muitos psicômetras surgiram, tanto na Inglaterra como na América, e, como diz W. Denton: 

“A psicometria pode alargar o domínio de todas as ciências, porém os sábios a receberão a princípio com desconfiança, se não com hostilidade. 

Uma pedra das ruas ou dos muros de Jerusalém é como que uma biblioteca com a história do povo judeu. Os acontecimentos mais ignorados, dos tempos pré-históricos, podem ser por nós conhecidos e, para vê-los, basta abrirmos os nossos olhos psíquicos. Um pedaço de uma coluna de Babilônia pode pôr-nos ao corrente do que era a Assíria há 4.000 anos.” 

No seu curioso livro, Denton relata suas numerosas experiências, algumas das quais são realmente espantosas. 

Evidentemente, a psicometria é uma nova mina aberta aos pesquisadores, porém estou convencido de que os adeptos da rotina nos hão de falar em visões, auto-sugestões, transporte de pensamentos, enfim dedilharão toda a lira científica, de preferência a confessar que existem coisas que eles ignoram. 

 i Em Londres há diversos, que prestam grandes serviços.

segunda-feira, 9 de julho de 2018

SÍNTESE DOS PRINCÍPIOS DOUTRINÁRIOS DO ESPIRITISMO

O Universo inteiro, no mínimo e no máximo, está sujeito a uma evolução constante e progressiva.

Há evolução para o Princípio material; há evolução para o Princípio psíquico.

A base da evolução, a Alma é um simples elemento de vida, uma inteligência em germe. É a força difusa que associa e mantém as moléculas minerais numa forma definida.

No cimo da evolução, a Alma é um Princípio vivo, consciente e livre, guardando apenas, da sua associação à matéria, o mínimo orgânico necessário à conservação da sua individualidade.

No curso da sua evolução progressiva, a Alma passa por organismos cada vez mais aperfeiçoados, numa série imensa de encarnações e desencarnações.

A memória dos estados precedentes fica mais ou menos latente, durante cada encarnação, para reaparecer após a morte, tanto mais extensa quanto mais evoluído for o indivíduo.

A Alma conserva intacta a sua individualidade, mercê da sua união indissolúvel com o organismo fluídico, chamado CORPO ASTRAL ou PERISPÍRITO, que evolui com ela.

O PERISPÍRITO é o Princípio intermediário entre a matéria e o Espírito, cuja finalidade é tríplice:

- Manter indestrutível e intacta a individualidade;
- Servir de substrato ao corpo físico durante a encarnação;
- Constituir o laço de união entre o Espírito e o corpo físico, para a transmissão recíproca das sensações de um e das ordens do outro.

Na morte natural o Espírito abandona o corpo por este lhe ser inútil à sua evolução.

No nascimento, o Espírito toma posse de um organismo novo para dar continuidade ao seu progresso.

Durante as fases da vida espiritual, o Espírito pode manifestar-se, em certas condições, cujo estudo é o objeto do Espiritismo experimental.

Dr. Gustave Geley
Médico e antigo Diretor do Instituto Metapsíquico de Paris.

Desencarnou em 1943 em acidente aéreo.

quinta-feira, 5 de julho de 2018

PSICANÁLISE E ESPIRITISMO

Por Leonardo Paixão (*)

A Psicanálise é uma ciência surgida no século XX, especialmente com a edição do livro de Freud "A  Interpretação dos Sonhos" que saiu em 1900. Obviamente, o fundador da Psicanálise, Sigmund Freud, escreveu antes do ano 1900 artigos e livros como o de parceria com o Dr. Joseph Breuer - Estudos sobre a Histeria (**) - onde iniciou seus estudos sobre o inconsciente a partir de experiências em uma paciente histérica, Anna O. (Berta Parpenhheimme) através da hipnose. Com estas experiências, Freud utilizou a hipnose em sua forma catártica. Aqui foi Freud adentrando mais intensamente no mundo do inconsciente.

Teorias sobre o inconsciente haviam surgido já, tanto nas obras do alemão Franz Hartmman,  quanto na do francês Pierre Janet em sua célebre obra "O Automatismo Psicológico", obras estas utilizadas por cientistas dos mais diversos campos para explicar os fenômenos mediúnicos e assim tombar a teoria espírita.

Allan Kardec em seu tempo não teve acesso às teorias do inconsciente, na Introdução de "O Livro dos Espíritos" é que ele fala sobre teorias que nos remetem a fenômenos que se poderiam dizer do inconsciente, como a teoria reflexiva e a sonambúlica. Na primeira, o médium seria um reflexo das ideias dos assistentes e na sonambúlica, o médium poderia haurir seus conhecimentos a quilômetros de distância. Kardec contradita estas teorias com argumentos que estas duas teorias não dão respostas, como o fato de se o médium é um reflexo dos conhecimentos dos assistentes, como ele pode falar em idioma que todos os presentes desconhecem? E como ele poderia haurir conhecimentos a quilômetros de distância, até em outros planetas quando há explicação muito mais prática e que, segundo Kardec, fala à razão, que é a comunicação dos Espíritos e também porque o sonâmbulo falando por ele mesmo, ora daria palavras cultas e ora grosseiras, obscenas mesmo? 

"O Livro dos Espíritos", saído a 18 de Abril de 1857 e tendo em sua 2. edição sua roupagem definitiva em 1860, avançou em suas pesquisas e  em 15 de Janeiro de 1861 dava a público "O Livro dos Médiuns", onde na Segunda Parte, nos capítulos XIX, XX e XXI, tratará "Do papel dos médiuns nas comunicações espíritas"; "Da influência do médium"; "Da influência do meio". Há quem sem maiores conhecimentos sobre o conceito de inconsciente na Psicanálise, afirme que antes de Freud, Kardec já havia estudado o inconsciente, esta porém, é uma afirmação completamente infundada, basta a observação quanto à diferença do objeto estudado por um e por outro. Enquanto Kardec pesquisou até que ponto os conhecimentos atuais ou anteriores (de existências passadas) influenciavam as comunicações espíritas e também a moral, o caráter do médium, Freud pesquisou a influência do inconsciente no próprio indivíduo, derivando daí conflitos, complexos, neurose-obsessiva, histeria, fobias, etc...
Para Kardec o objeto estudado não é, no caso dos fenômenos mediúnicos, o sujeito em si e sim o que poderão os conhecimentos do indivíduo em tal ou ou qual assunto, afetar, interferir, mesclar-se às comunicações mediúnicas que por ele surjam. Aqui não se tem movimento intenso em busca dos processos inconscientes quanto ao sujeito em si mesmo.

Freud ao pesquisar o inconsciente trouxe vários conceitos como o recalque, a censura, a repressão, o Id, o Ego e o Super Ego,  o ato falho, o chiste, complexo de Édipo, narcisismo, diferenciou neurose, psicose, perversão.

O espírita que em não conhecendo as teorias psicanalíticas poderá cair em erro e é o que frequentemente acontece, ao se referir aos conceitos freudianos. Daremos aqui em resumo o significado das expressões por nós aqui postas e que são próprias à psicanalise.

Recalque - um desprazer que se teve.

Censura - o Ego.

Repressão - Super-Ego (é como um "pai" a dizer: "não faça isso", "não pode fazer isso").

Id - "Seria essa parte ligada aos nossos instintos. De maneira simplificada, ele é simplesmente voltado ao prazer, à libido, às nossas paixões e impulsos primitivos. Se nosso cérebro fosse composto apenas por este reservatório de energia da psique, seríamos basicamente, selvagens!".

Super-Ego - "é a parte da psique que te controla e regula a partir de todos os padrões e normas sociais vigentes. Por isso, ele é desenvolvido de acordo com as noções de moral da sociedade e época em que vivemos.

Ego - "é a divisão que fica no meio de tudo isso, tentando nos equilibrar e criando harmonia em nossa personalidade sempre. Ele tenta suprir as exigências do Id de forma moral e "barrar" tudo aquilo que não seria aceito pelas normas e padrões que nos são impostos, ou seja, tudo aquilo que o Superego nos traz. Sendo assim, o Ego é a nossa personalidade desenvolvida em si e também a nossa parte racional".

Atos falhos - erros em nossos diálogos ou memórias que parecem dizer aquilo que sempre desejamos, mas nunca tivemos coragem de admitir ou liberdade para, de fato, poder expressar.

Chiste - vulgarmente se diz: "brincando que se diz muitas coisas que se quer dizer". Em Psicanálise investiga-se o que nas anedotas, brincadeiras, enfim, nos chistes, se quer dizer e que não está dito claramente.

Complexo de Édipo - baseado no mito grego de Édipo onde se fala do apaixonamento do filho em sua primeira infância pela mãe e da filha por seu pai, obviamente que neste espaço não podemos dissertar sobre este conceito central da Psicanálise.

Narcisismo - o sujeito tem a si mesmo por objeto de desejo em uma condição exacerbada.

Inconsciente - para a Psicanálise, o inconsciente é constituído na primeira infância e o que é desprazer vai para o inconsciente.

 "(...) o inconsciente é um saber no qual o sujeito pode se decifrar. É a definição de sujeito que aqui dou. Do sujeito tal como o constitui o inconsciente".
Jacques Lacan (Seminário).

Colocando aqui estes conceitos da Psicanálise, desejamos expressar a total diferença entre o objeto de estudo de Kardec e o de Freud, assim como também esperamos contribuir aos interessados em aprofundarem-se nestes temas da psique humana, que busquem ampliar seus conhecimentos no ramo e também aos espíritas que, a partir destes conhecimentos, possam perceberem-se como seres singulares e vivenciar o autoconhecimento enquanto seres de desejo e assim também não estarem a culpabilizar obsessões e obsessores por conflitos surgidos nos agrupamentos que frequentam, esquecendo-se da fala própria aos espíritas: "Só há obsessores porque há obsidiados".

Que em nos conhecendo possamos dignificar a obra a que nos propomos: nossa renovação moral.

Campos, RJ, 24/11/2017.

(*) Leonardo Paixão é trabalhador espírita em Campos dos Goytacazes, RJ, Dirigente do Grupo Espírita Semeadores da Paz. Profissionalmente é Psicanalista.

(**) Parte destes estudos foram reproduzidos no livro "A Personalidade Humana", de Frederic Myers (estudioso dos fenômenos psíquicos). 

quarta-feira, 13 de junho de 2018

SUGESTÃO MENTAL

Hernâni Guimarães Andrade
Revista de Espiritismo nr. 31 - Abril/JunhoOutubro 1996
«A acção do pensamento de um indivíduo sobre o outro é ainda um fenómeno inexplicável, mas o nosso pensamento comunica-se pela palavra, pelos gestos, isto é, pelo som, pela luz. Quem sabe se as modificações da nossa alma não podem tornar-se sensíveis por outros meios? A que se prende este sentimento inerente à natureza humana, que nos faz desejar que um amigo ausente se ocupe connosco?». (1)
Praticamente não há diferença essencial entre as expressões telepatia, sugestão mental, transmissão de pensamento, e outras mais. Todas elas sugerem a possibilidade de influência directa de uma mente sobre outra, sem a intervenção dos meios normais e físicos de comunicação. Esta influência poderá dar-se de dois modos:
  1. uma mente projecta um pensamento direccionado, de maneira a provocar uma influência em outra ou várias mentes capazes de receber passivamente o pensamento enviado;
  2. uma mente capta de uma outra mente um dado pensamento, sem que, necessariamente, haja intenção ou esforço para sua transmissão por parte do emissor.
De qualquer forma, na telepatia, ambas as operações devem ocorrer, pois sempre há o emissor e o receptor. Mas quando se particulariza a expressão "sugestão mental", deve observar-se uma ligeira diferença. Deve pensar-se na possibilidade de uma mente mais poderosa impor activamente o seu pensamento a uma outra que se submete passivamente àquela influência. Naturalmente é indispensável acrescentar que estamos a referir-nos, ainda, à transmissão sob forma telepática, isto é, sem o emprego dos meios normais de comunicação.
A palavra telepatia foi inventada por F. W. H. Myers, em 1882. Naquela ocasião, Myers, Edmund Gurney, Henri Sidgwick, e o professor W. F. Barret investigaram as possibilidades da transmissão do pensamento. A significação dada por eles era: "uma coincidência entre os pensamentos de duas pessoas, que requer uma explicação causal". Foi definida como "transmissão de pensamento independentemente dos reconhecidos canais dos sentidos". Etimologicamente, a palavra telepatia é formada pela fusão de dois vocábulos gregos: telê = ao longe; pathós = influência. Todavia não se conhecem os mecanismos da transmissão telepática. Não se sabe que espécie de onda, ou partícula elementar, responde pela comunicação entre as duas mentes — ou cérebros — das pessoas implicadas numa operação telepática. Foi justamente o interesse em conhecer os processos envolvidos em tal fenómeno que deu origem às investigações em torno da "sugestão mental". Em boa parte, a possibilidade de tal investigação resultou dos fenómenos telepáticos observados durante a hipnose. Outra fonte de pesquisa foram as ocorrências de avisos de morte, comunicações telepáticas espontâneas em casos dramáticos ou mesmo banais, mas com significância para certas pessoas.
Vamos, inicialmente, focalizar a área concernente aos fenómenos telepáticos ligados à hipnose e assinalados inicialmente pelos magnetizadores e hipnotizadores. Estes fenómenos dependiam do estado de rapport descoberto pelos mesmeristas, durante o qual podiam assinalar-se a transmissão de pensamentos, emoções, sintomas mórbidos, etc. Ainda, actualmente, em grupos espiritualistas, nas clínicas onde se acolhem práticas mesméricas, ou algo equivalente, podem registar-se fenómenos do tipo telepático, durante os quais os médiuns — ou sensitivos — "captam" os sintomas dos pacientes em tratamento. Mas observou-se, também, que havia possibilidade de o hipnotizador "enviar" ordens mentais a determinado paciente, levando-o a cumprir sugestões mentais assim transmitidas. Algumas dessas sugestões mentais eram captadas pelo paciente situado a grande distância do hipnotizador.
Paracelso (1493-1541) já escrevera: "Pelo mágico poder da vontade, uma pessoa deste lado do oceano pode fazer uma pessoa no outro lado ouvir o que é dito neste lugar... o corpo etérico de um homem pode conhecer o que outro homem pensa, à distância de 100 milhas ou mais". (2) Ele teria afirmado: "É possível que meu espírito, sem o auxílio do meu corpo e por meio de uma ardente vontade exclusivamente, e sem uma espada, possa perfurar e ferir outras pessoas. É também possível que eu consiga trazer o espírito de meu adversário para dentro de uma imagem e então envolvê-lo ou estropiá-lo ao meu belo prazer" (3)
A acção da mente à distância, seja sobre outra mente seja sobre a matéria, sempre foi admitida em todos os tempos e lugares. Encontra-se esta crença ao longo da história e entre todos os povos, selvagens ou civilizados. Deve, portanto, existir uma razão para semelhante ideia assim tão generalizada. Alguns investigadores procuraram certificar-se da realidade da "sugestão mental", e obtiveram resultados que a confirmaram.

Um investigador à procura dos factos

O doutor Julian Ochorowicz (1850 - 1918), psicólogo e filósofo polaco, lente de Psicologia e Filosofia na Universidade de Lemberg, co-director desde 1907 do Institut Général Psychologique de Paris, foi um dos mais ilustres e competentes investigadores da "sugestão mental". A sua obra, A Sugestão Mental, é um clássico da literatura parapsicológica. Nela o doutor Ochorowicz faz extenso e minucioso relato das suas investigações acerca dos fenómenos de telepatia. O seu trabalho divide-se em diversas secções conforme as diferentes modalidades de telepatia por ele encontradas em sua extensa experiência pessoal. Vamos enumerar algumas delas: Sugestão mental aparente; sugestão mental provável; sugestão mental verdadeira; simpatismo orgânico; simpatismo e contágio; transmissão dos estados emotivos; transmissão das ideias; transmissão directa da vontade; acção da vontade e a questão da "relação"; acção sem que o sonâmbulo saiba, ou contra a sua vontade; sugestão mental a prazo; sugestão mental à distância. Infelizmente é impossível tratar de todas estas modalidades em tão curto espaço, mas faremos o possível para expor pelo menos alguns exemplos interessantes.
Ochorowicz, no cap. I do seu livro, confessa que inicialmente não acreditava na "sugestão mental". Em 1867, em Lublin, pela primeira vez Ochorowicz experimentou verificar a sugestão mental com um rapaz de 17 anos, assaz difícil de adormecer, mas que manifestava, depois de hipnotizado, certos fenómenos curiosos. Ele reconhecia, por exemplo, qualquer pessoa de suas relações que apenas lhe tocasse nas costas com um só dedo. Deste modo ele conseguiu, certa ocasião, distinguir sucessivamente 15 pessoas, algumas das quais haviam entrado na sala depois de estar ele adormecido. Certa ocasião, aconteceu-lhe identificar uma senhora que penetrava na sala sem que ele soubesse e a qual vira pela primeira vez alguns dias antes. Estes factos, porém, não convenceram Ochorowicz; nem outros mais evidentes ainda, ocorridos com o mesmo sonâmbulo. Ele buscava factos realmente inexplicáveis. Seu cepticismo era muito acentuado e sua exigência neste sentido muito grande. Ochorowicz procurou investigar mais outros casos e terminou por encontrá-los.
O primeiro caso que ele classificou de "sugestão mental verdadeira" ocorreu ocasionalmente com uma sua paciente.

Sugestão mental verdadeira

Em 25 de Janeiro de 1886, J. Ochorowicz comunicou à Sociedade de Psicologia Fisiológica de Lemberg um relato de suas observações e experiências de "sugestão mental à distância" levadas a efeito com a srª. M., de 27 anos de idade. Em Agosto de 1886, foram publicados alguns excertos dessas experiências.
A srª. M. era cliente do doutor Ochorowicz. Tratava-se de uma mulher jovem, aparentemente forte, bem constituída e de saúde perfeita. Porém, esta senhora sofria, há algum tempo, de uma histero-epilepsia, agravada, mais tarde, por acessos de mania de suicídio.
Uma noite, após tê-la assistido durante um dos seus ataques e declarando-se ela melhor, a seu próprio pedido o doutor Ochorowicz resolveu retirar-se. Ficara apenas uma amiga da srª. M. Apesar de vê-la bem disposta, o doutor Ochorowicz desceu lentamente as escadas (ela morava no terceiro andar), detendo-se várias vezes com o ouvido à escuta, perturbado por um mau pressentimento. Chegado ao portão deteve-se mais uma vez. De repente, a janela abriu-se com ruído, e ele viu o corpo da srª. M. inclinar-se para fora. Ele precipitou-se para o lugar onde ela devia cair. Maquinalmente, concentrou a sua vontade no intuito de opor-se à sua queda. A doente, já inclinada, deteve-se e recuou lentamente por sacudidelas.
A mesma manobra repetiu-se cinco vezes seguidas. Finalmente a doente, como que fatigada, imobilizou-se, encostando-se no parapeito da janela.
Ela não poderia ter visto o doutor Ochorowicz, porque era noite e ele achava-se na parte não iluminada. Naquele momento, a amiga que ficara com a srª. M. acudiu e agarrou-a pelos braços, lutando para afastá-la dali. O doutor Ochorowicz subiu as escadas rapidamente e encontrou a doente num acesso de loucura. Depois de muita luta, foi conduzida ao leito e posta em estado sonambúlico. Uma vez em sonambulismo ela revelou que era seu intuito atirar-se mesmo pela janela, mas que naquele momento, cada vez que tentara fazê-lo, uma força a "reerguera por baixo". Não suspeitava que o médico ainda estivesse presente. Aproveitara, então, a ocasião para tentar o suicídio: "Entretanto pareceu-me por momentos que estáveis ao meu lado ou por detrás de mim e que não queríeis que eu caísse" — disse ela ao doutor Ochorowicz.
Este incidente levou o médico a experimentar com a srª. M. a "sugestão mental à distância". Ele costumava adormecê-la de dois em dois dias. Era a rotina do seu tratamento. Durante esses momentos ele observava-a e tomava notas em seu memorial.
Dia 2 de Dezembro de 1885, Ochorowicz tinha a sua paciente adormecida. Ele encontrava-se a certa distância da sua cama e fingia tomar notas em seu caderno. Porém, interiormente, concentrava sua vontade sobre uma ordem mental dada: "erga a mão direita" — 1º minuto: acção nula; 2º minuto: uma agitação na mão direita; 3º minuto: a agitação aumenta, a doente franze as sobrancelhas e ergue a mão direita!
Animado por este sucesso, o médico deu-lhe outra ordem mental: "Levante-se lentamente com dificuldade e vá até ele, com a mão estendida"!
E assim, sucessivamente, Ochorowicz conseguiu que sua paciente obedecesse, com êxito, a várias ordens mentais. Em algumas ocasiões as ordens mentais não eram atendidas imediatamente, e a paciente parecia embaraçar-se ao cumpri-las. Todas as ordens mentais eram dadas silenciosamente e sem gestos.
Ochorowicz relatou ao todo 14 sessões levadas a efeito de 2 de Dezembro de 1885 a 5 de Fevereiro de 1886, durante as quais ele fez um número enorme de experiências de sugestão mental, com grande êxito e com a mesma srª. M.
Ochorowicz teve a oportunidade de registar outros casos semelhantes ocorridos com diversas pacientes tratadas por ele em sua clínica normal. Naquela época, estava muito em voga o hipnotismo, e grande número de psiquiatras usava-o correntemente e com êxito no tratamento das moléstias nervosas. Hoje em dia, infelizmente, generalizou-se o uso de drogas...

As experiências no Havre

Julian Ochorowicz tomou conhecimento através de uma conferência das experiências de sugestão mental à distância que os doutores Pierre Janet e Gibert haviam feito com a srª. Léonie, no Havre. No mês de Novembro de 1885, o doutor Paul Janet, tio do doutor Pierre Janet, leu perante a Sociedade de Psicologia Fisiológica uma comunicação do seu sobrinho, o doutor Pierre Janet, que era professor de Filosofia no Liceu do Havre. A sua tese levava um título um tanto vago: "Sobre alguns fenómenos de sonambulismo". Porém, o conteúdo da tese encerrava assunto muito grave, pois colidia com a posição fisiologista que já imperava em amplos sectores das escolas psicológicas. O nome da Sociedade de Psicologia Fisiológica faz presumir que o título da tese foi propositadamente vago para lá ter entrada. Entretanto, tratava-se de uma série de observações feitas sobre factos que evidenciavam não só a existência de fenómenos de "sugestão mental" em geral, mas, o que era mais extraordinário, de "sugestão mental à distância de alguns quilómetros e sem que o paciente o soubesse!".
O comunicado de Pierre Janet certamente provocou um impacto na assistência. O auditório, conforme declarou o doutor Ochorowicz, "prestou a isto a maior atenção, não sem uma grande dose de incredulidade. O sr. Janet absteve-se de qualquer teoria; somente relatava os factos, devia crer-se ou não. A comunicação ouvida em silêncio, foi em seguida passada sob silêncio, salvo algumas considerações de um carácter mui geral, formuladas pelo sr. Charcot, nosso presidente".(4)
Ochorowicz já houvera feito inúmeras experiências de "sugestão mental", mas a curta distância, achando-se o paciente sob acção hipnótica, como no caso da srª. M. Em outra ocasião uma nova paciente. A srª. B. estava desperta, mas achava-se a pequena distância e apenas executou algumas ordens mentais em estado de vigília. Porém, os doutores Pierre Janet e Gibert foram bem sucedidos, adormecendo o paciente à distância e dando-lhe ordens mentais que foram obedecidas. O caso interessou vivamente Ochorowicz:
"Eis o que me pareceu estranho" — diz ele — "É este último fenómeno que eu queria verificar desde logo, reconhecendo o seu valor por uma teoria de sugestão e pelo problema do magnetismo em geral. É evidente que uma semelhante constatação seria a morte da teoria exclusiva do hipnotismo contemporâneo, que se gabava de ser o sucessor legítimo do extinto magnetismo animal, e que não deveria de ora em diante ocupar senão um lugar mui modesto ao lado do seu predecessor. (...)". (5)
Interessado em obter pessoalmente, uma confirmação ou negação dos factos relatados pelos doutores Janet e Gibert, Ochorowicz dirigiu-se ao Havre, acompanhado de alguns colegas entre eles o famoso investigador, F. W. H. Myers, que naquela época estava em plena actividade em busca de fenómenos de telepatia. Myers fez constar o episódio do Havre em sua obra clássica Human Personality and its Survival of Bodily Death (6). Os outros observadores eram o professor Paul Janet, doutores Jules Janet e A. T. Myers (irmão de F. W. H. Myers) e o sr. Marillier.
Entre 3 e 9 de Outubro de 1885 puderam estes senhores observar inúmeras vezes a srª. Léonie ser hipnotizada à distância de mais de dois quilómetros e receber ordens mentais como, por exemplo, sair à rua e ir até ao consultório dos doutores Janet e Gibert.
Estes factos colocam a hipnose numa nova categoria de fenómenos e, em parte, restabelece as antigas hipóteses do "magnetismo animal", muito embora não invalidem as hipóteses de Pavlov. Apenas elas sugerem que, ao lado das bases fisiológicas do fenómeno da hipnose, deve cogitar-se da possibilidade de existir algo, ainda não bem conhecido, capaz de provocar a inibição cortical e accionar o paciente, levando-o a obedecer a determinadas ordens telepáticas emanadas do operador.

Conclusão

Mesmer e Puységur redescobriram algo já há muito conhecido dos sacerdotes, sábios, magos e iluminados antigos e que ainda permanece mal conhecido dos cientistas contemporâneos. Os modernos hipnologistas, até agora, apenas tocaram as orlas empíricas dos defeitos e dos fenómenos tangíveis do hipnotismo. Suas leis mais profundas ainda estão para ser desvendadas.
No próximo número iremos falar a respeito das experiências de L. L. Vasiliev, bem como de outras pesquisas que se fazem no sentido de sondar o estranho fenómeno de interconexão que parece achar-se na base da nossa realidade existencial.

Bibliografia

(1) Deleuze - «Histoire Critique», etc., Paris, 1813, t. II, p. 327).
(2) Fodor, N. - Encyclopaedia of Psychic Science, USA: University Books, 1974, p. 384).
(3) Spence, L. - An Encyclopaedia of Occultism, Secaucus, N.J.: The Citadel Press, 1974, p. 315).
(4) Ochorowicz, J. - A Sugestão Mental, trad. J. L. Souza - Rio de Janeiro: H. Garnier, 1903, p. 123).
(5) Opus cit. P. 123).
(6) New Hyde Park, N. Y.: University Books, 1961, pp. 140-142).

Hernâni Guimarães Andrade é Engenheiro

quarta-feira, 14 de março de 2018

FIDELIDADE

" Bem-aventurado aquele servo que o seu senhor, quando vier, achar servindo assim" - Jesus - Mateus, 24: 46.

O servidor e discípulo fiel ao Evangelho do Senhor, não se negará ao serviço havendo esta ou aquela dificuldade no caminho.

Nos círculos do Espiritismo-Cristão, adverte-se sempre que "só leva pedrada a árvore que produz bons frutos". Isto se refere, justamente às dores, padecimentos morais que, não raro, partem com maior intensidade de companheiros mesmo de Ideal.

Manter-se firme no trabalho, mantendo o hábito diário da oração e do trabalho ativo em prol do próximo necessitado, deve ser o roteiro do trabalhador cristão que há de ser o espelho redivivo dos "irmãos do Caminho" - os cristãos de outrora - assim irradiando a Luz e a Presença do Cristo na vida de todos nós. 

Que não nos iludamos com departamentos e instituições repletas, façamos o trabalho do Evangelho - este o nosso chamado.

Alberto, guia do médium
(Página recebida pelo médium Leonardo Paixão em reunião de Tratamento Magnético no dia 06/03/2018 no Grupo Espírita Semeadores da Paz, Campos, RJ).

quarta-feira, 7 de março de 2018

ARTIGO: EVANGELHO E DOUTRINA

EVANGELHO E DOUTRINA
Por Leonardo Paixão (*)

"Assim procedemos, porém, ponderando que, num _colar de pérolas_ , cada qual tem valor específico e que, no imenso conjunto de ensinamentos da Boa Nova, cada conceito do Cristo ou de seus colaboradores diretos adapta-se a determinada situação do Espírito, nas estradas da vida" (XAVIER, Francisco Cândido. Caminho, Verdade e Vida. Pelo Espírito Emmanuel. 20. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2001. Prefácio. p. 14).

Deste trecho das justificativas do Espírito Emmanuel para a sua primeira obra de interpretação profunda das passagens evangélicas, citando versículos isolados, vejamos o que nos diz um estudioso das letras evangélicas sobre a expressão "colar de pérolas" usada por Emmanuel.

"Dentre os inúmeros métodos de interpretação encontrados no _Midraxe_ (compêndio de exegese judaica), a harizah (colar em pérolas) ocupa um lugar privilegiado, já que é utilizada pelos mestres hebreus toda vez que desejam ensinar à comunidade um ponto importante da fé de Israel, difícil de ser apreendido pela leitura puramente literal do texto bíblico.
Selecionamos um texto da tradição judaica que descreve a _harizah,_ demonstrando a sua importância como técnica de estudos das Escrituras:
'Quando faziam colares das palavras da Torah aos profetas, e dos Profetas aos Escritos, o fogo flamejava em torno deles e as palavras tornavam-se jubilosas, como quando foram pronunciadas no Sinai: quando pronunciadas pela primeira vez no Sinai, foram dadas entre chamas, como foi dito: a montanha ardia em fogo, até as profundezas do céu. Ben Azai estava sentado e perscrutava a Escritura e o fogo flamejava em torno dele... Rabi Agiba aproximou-se e disse-lhe: Ouvi dizer que perscruta as Escrituras e o fogo flameja em torno de ti? Ele respondeu: Sim. Rabi Agiba perguntou:Acaso estudavas os segredos do carro de Ezequiel (Ez 1)? Ele respondeu: Não. Mas eu estava sentado e fazia um colar das palavras da Torah, passando da Torah aos Profetas e dos Profetas aos Escritos e as palavras mostravam-se alegres, como quando foram transmitidas no Sinai. E eram doces, como quando foram proferidas pela primeira vez, porque, ao serem dadas pela primeira vez, não foram dadas no fogo: E a montanha flamejava?' (Cântico Rabá 1, 10).

A narrativa do "fogo que flamejava" em torno dos Rabis que faziam o colar de versículos da Torah está presente em diversas fontes da tradição judaica, e traduz, sem dúvida, uma forte experiência espiritual vivida por aqueles anciãos que, pela intuição, alcançaram aquilo que faz a Escritura ser una e coerente - seu sentido espiritual" (DIAS, Haroldo Dutra. Parábolas de Jesus: Texto e Contexto. Curitiba: Federação Espírita do Paraná, 2011. p. 17.

Kardec na Introdução de "O Evangelho segundo o Espiritismo", item III - Notícias Históricas deixa claro que:

"Para bem se compreenderem algumas passagens dos Evangelhos, necessário se faz conhecer o valor de muitas palavras neles  frequentemente empregadas e que caracterizam o estado dos costumes e da sociedade judia daquela época. Já não tendo para nós o mesmo sentido, essas palavras foram com frequência mal-interpretadas, causando isso uma espécie de incerteza. A inteligência da significação delas explica, ao demais, o verdadeiro sentido de certas máximas que, à primeira vista, parecem singulares".

No capítulo IV de "O Evangelho segundo o Espiritismo", Kardec esclarece que a reencarnação fazia parte dos dogmas dos judeus sob o nome de ressurreição. Cita, ainda, o Evangelho segundo Mateus (11: 12-15) que diz: "Se quiserdes compreender o que vos digo, ele mesmo é o Elias que há de vir".

E, para se deixar claro que está nesta passagem se tratando de reencarnação mesmo, vejamos as palavras de irmãos da crença judaica: "Pouquíssimas pessoas sabem que a _Reencarnação_ é, antes de tudo, _crença judaica_, e se está no Judaísmo teria que estar no Tanách [Bíblia judaica]" - Avraham Avdam Ben Avraham Corrêa, no Prefácio ao livro "Analisando as Traduções Bíblicas", de Severino Celestino da Silva.

O Rabino Rafael Shammah diz: "Toda pessoa vem ao mundo com uma meta específica que deve alcançar em sua vida. Se o homem não terminar sua missão, voltará em outra encarnação. Como não sabemos exatamente qual a meta de cada um, nos guiamos pelo objetivo comum a todos que é fazer o bem através de Torá [Lei] e Mitsvôt [boas ações]. Esta é a missão que nos cabe a todos os Iehudim [Judeus], e devemos nos esforçar ao máximo para cumpri-la da melhor forma". "Pensamentos", p. 1.

Diante destes esclarecimentos e das palavras de O Espírito da Verdade no Prefácio de "O Evangelho segundo o Espiritismo": "Eu vos digo, em verdade, que são chegados os tempos em que todas as coisas hão de ser restabelecidas no seu verdadeiro sentido, para dissipar as trevas, confundir os orgulhosos e glorificar os justos", é que vemos o quão importante é para o espírita o se debruçar nos estudos das Sagradas Escrituras, no caso a Bíblia Cristã.

Campos dos Goytacazes, 07/03/2018.

(*) Leonardo Paixão é trabalhador espírita em Campos dos Goytacazes, RJ, colaborando com amigos de Ideal no Grupo Espírita Semeadores da Paz.