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quarta-feira, 13 de agosto de 2025

O Fenômeno Obsessivo à Luz do Espiritismo: Análise do Capítulo III de A Loucura sob Novo Prisma, de Bezerra de Menezes

Por Leonardo Paixão 

Resumo

O presente artigo examina o capítulo “Obsessão” da obra A Loucura sob Novo Prisma (1897), de Adolfo Bezerra de Menezes, à luz de uma perspectiva integrativa entre ciência e espiritualidade. Publicada no final do século XIX, a obra apresenta uma visão inovadora para a época ao compreender determinados quadros de sofrimento psíquico como resultantes da influência persistente de espíritos desencarnados sobre encarnados, em sintonia com os princípios codificados por Allan Kardec. Partindo de sua formação médica e de seu compromisso espírita, Bezerra propõe que a etiologia da “loucura” pode incluir fatores espirituais, fluidos e morais, demandando, portanto, uma terapêutica que una diagnóstico clínico rigoroso, renovação moral e tratamento moral do paciente e do obsessor. A análise ressalta a relevância dessa abordagem frente aos desafios da psiquiatria contemporânea, que, apesar dos avanços neurocientíficos, ainda encontra limites na explicação e no tratamento de transtornos mentais complexos.

Palavras-chave: Obsessão espiritual; Espiritismo; Bezerra de Menezes; Saúde mental integral; Transtornos mentais; Terapia espírita.


1. Introdução: um olhar além do cérebro


No final do século XIX, a medicina mental encontrava-se em pleno processo de consolidação, mas ainda carecia de instrumentos diagnósticos e terapêuticos eficazes. Internações prolongadas, contenções físicas e métodos invasivos eram práticas comuns, muitas vezes incapazes de restaurar a saúde do paciente. Nesse cenário, Adolfo Bezerra de Menezes (1831-1900) — médico respeitado, político atuante e figura proeminente do Espiritismo brasileiro — lança A Loucura sob Novo Prisma (1897), propondo uma interpretação ampliada para a origem e o tratamento das doenças mentais.

O Capítulo III, dedicado à obsessão, rompe com a visão exclusivamente organicista da época ao incluir, no campo etiológico, a influência espiritual de desencarnados sobre encarnados. Baseado nos postulados kardecistas, Bezerra descreve a obsessão como processo de dominação moral e psíquica que se estabelece por afinidade vibratória e pela ação fluídica sobre o perispírito, afetando o corpo e a mente. Ao reconhecer a dimensão espiritual do ser humano, o autor não rejeita a medicina, mas defende uma terapêutica integral que combine cuidados físicos, reforma moral e recursos espirituais, antecipando, em mais de um século, a atual perspectiva biopsicossocial — com a diferença fundamental de incluir, de forma explícita, o componente espiritual.


2. A Obsessão: conceituação espírita-científica


Bezerra de Menezes fundamenta sua análise nos postulados da Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec, particularmente em O Livro dos Médiuns e O Evangelho Segundo o Espiritismo. Ele define a obsessão não como possessão demoníaca, mas como um processo de dominação moral e psíquica exercido por um espírito desencarnado sobre um encarnado. Esta dominação se estabelece através de uma sintonia vibratória negativa, facilitada por:

- Vícios morais do obsedado: O orgulho, o egoísmo, o ódio, a mágoa, a revolta, a avareza e os vícios materiais (especialmente a dependência química em álcool, destacado por Bezerra, o que podemos ampliar para a dependência química em álcool e outras drogas) criam uma “brecha” psíquica, atraindo espíritos afins e enfraquecendo as defesas perispirituais (KARDEC, 1861; 1864).

- Fluidos e perispírito: Bezerra, como Kardec, explica a mecânica da obsessão através da ação dos fluidos espirituais. O espírito obsessor, utilizando seu próprio perispírito (corpo semimaterial), envolve ou se liga ao perispírito do encarnado, influenciando diretamente seu sistema nervoso e, consequentemente, seus pensamentos, emoções e comportamento. Essa ação fluídica pode alterar o funcionamento cerebral, simulando ou agravando patologias orgânicas.

- Graus de obsessão: O autor diferencia a obsessão simples (influência persistente e incômoda, sem perda da autonomia), a fascinação (ilusão e cegueira moral induzidas pelo obsessor, onde a vítima defende seu algoz) e a subjugação (domínio quase completo da vontade e das ações, podendo levar a atos insanos e violentos). Este último grau frequentemente se confundia clinicamente com a loucura patológica.


3. A obsessão como etiologia da “loucura”


O cerne da contribuição de Bezerra no capítulo reside em identificar a obsessão como causa real de muitos casos diagnosticados como loucura incurável ou de origem desconhecida pela medicina de seu tempo (e, em parte, ainda hoje). Ele argumenta que: A ação fluídica constante do obsessor sobre o perispírito e, por reverberação, sobre o cérebro físico, pode produzir sintomas idênticos aos de psicoses, neuroses graves, depressões profundas, epilepsias, histerias e comportamentos violentos ou anti-sociais.

Muitos tratamentos convencionais falhavam porque atacavam apenas o efeito (a disfunção cerebral ou comportamental), ignorando a causa espiritual subjacente — a influência perniciosa do espírito obsessor e a vulnerabilidade moral do paciente.

A obsessão explica casos de resistência ao tratamento, recaídas inexplicáveis e mudanças súbitas de personalidade ou comportamento, especialmente quando associadas a eventos traumáticos ou a ambientes marcados por fortes conflitos morais.


4. Diagnóstico diferencial e terapêutica integral


Bezerra de Menezes não despreza a medicina. Pelo contrário, enfatiza a necessidade do diagnóstico diferencial: o médico deve primeiro esgotar todas as possibilidades de causas orgânicas (lesões cerebrais, infecções, intoxicações, etc.). Somente quando estas são descartadas ou se mostram insuficientes para explicar o quadro, deve-se considerar seriamente a hipótese obsessiva, analisando o histórico moral do paciente, seu ambiente e a natureza específica dos sintomas.

A proposta terapêutica apresentada é integral e multidimensional:


- Tratamento médico: indispensável para cuidar do corpo físico e do sistema nervoso debilitado.

- Tratamento moral/espiritual: o núcleo da cura, incluindo:


- Renovação moral: esforço consciente para superar vícios, cultivar virtudes (humildade, perdão, caridade, amor), modificar pensamentos e atitudes, fechando as portas à sintonia com o obsessor.

- Ação sobre o obsessor: por meio de prece, diálogo fraterno mediúnico (em ambientes sérios e doutrinados) e irradiação de fluidos salutares, esclarecendo o espírito perturbador e promovendo sua reconciliação moral.

- Ambiente saudável: manutenção de um lar e círculos sociais pacíficos e moralmente equilibrados.

- Recursos fluídicos: passes magnéticos e água magnetizada para reequilibrar o perispírito e restaurar as defesas naturais.


5. Atualidade e relevância da obra


Mais de um século após sua publicação, o capítulo sobre obsessão conserva impressionante atualidade:

- Limitações da psiquiatria contemporânea: apesar dos avanços neuroquímicos e farmacológicos, a etiologia de muitos transtornos mentais graves permanece obscura, e os tratamentos frequentemente não produzem cura definitiva.

- Visão integral do ser humano: a abordagem de Bezerra antecipa a visão biopsicossocial moderna, acrescentando a dimensão espiritual como fator essencial.

- Terapêutica holística: a ênfase na reforma íntima, no ambiente saudável e no tratamento moral ressoa com abordagens contemporâneas que valorizam mudanças de estilo de vida e suporte psicossocial.

- Compreensão das relações humanas: o conceito de sintonia vibratória explica padrões relacionais destrutivos e dinâmicas repetitivas de sofrimento, com possível origem espiritual.


6. Considerações finais


O Capítulo III de A Loucura sob Novo Prisma representa uma contribuição pioneira e corajosa para o entendimento das doenças mentais. Bezerra de Menezes, com sua dupla autoridade de médico e espírita, propõe um modelo etiológico e terapêutico que integra ciência e espiritualidade de forma racional. Ao identificar a obsessão espiritual como causa relevante de transtornos psíquicos, desafia o reducionismo materialista e oferece um caminho de cura pela autotransformação moral e ação fraterna — tanto para o obsediado quanto para o obsessor.


7. Referências


BEZERRA DE MENEZES, Adolfo. A Loucura sob Novo Prisma. 14. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2009.

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 91. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008.

KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Trad. Guillon Ribeiro. 61. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2021.

KARDEC, Allan. Revista Espírita - Jornal de Estudos Psicológicos, ano 1864. São Paulo: Edicel.

PUGLIESI, Adilton. A Obsessão: Instalação e Cura.  6. ed. Salvador, BA: Livraria Espírita Alvorada Editora, 2004.


segunda-feira, 28 de julho de 2025

O Espírito em suas relações: A Loucura sob a Luz da Imortalidade

Por Leonardo Paixão


Resumo

O presente artigo analisa o capítulo II – “Do Espírito em suas relações” – da obra A Loucura sob Novo Prisma, de Adolfo Bezerra de Menezes, à luz da Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec. Buscamos demonstrar a importância da concepção espiritual do ser humano no entendimento das enfermidades mentais, rompendo com o paradigma exclusivamente materialista. A proposta de Bezerra de Menezes inaugura uma verdadeira revolução epistemológica ao inserir o Espírito como agente ativo na gênese e na terapêutica da loucura.


Introdução


A medicina do século XIX, ainda fortemente influenciada pelo materialismo científico, via a loucura como uma disfunção puramente orgânica, restrita ao sistema nervoso. Surge então, em 1898, a obra A Loucura sob Novo Prisma, em que o médico e espírita Adolfo Bezerra de Menezes apresenta uma leitura inovadora: a de que, por trás das perturbações mentais, há uma alma imortal em sofrimento. No capítulo II, intitulado “Do Espírito em suas relações”, ele delineia as formas como o Espírito interage com o mundo e consigo mesmo, trazendo à luz a dimensão ética, psíquica e espiritual das doenças mentais.


O Espírito como Ser Relacional


Bezerra de Menezes parte do princípio fundamental da Doutrina Espírita: o Espírito é o ser inteligente da criação, pré-existente ao corpo e sobrevivente à morte física. Ao tratar das “relações do Espírito”, o autor nos convida a enxergar o ser humano como um ente em constante interação com outras almas, encarnadas ou desencarnadas, e com o ambiente moral e fluídico que o cerca. Essa visão relacional rompe com o reducionismo neurológico e afirma que a sanidade – ou a loucura – está intrinsecamente ligada ao modo como o Espírito se posiciona frente à vida, ao outro e a si mesmo.

A loucura, para Bezerra, não é apenas um distúrbio do cérebro, mas um conflito da alma. Ela pode ser gerada por processos obsessivos, por desequilíbrios morais, por frustrações do desejo, por culpa inconsciente ou por traumas que não encontraram elaboração psíquica. A mente não é um produto do cérebro, mas sua expressão no campo material. O Espírito é, pois, o centro organizador da experiência mental.


Influências Espirituais e Interações Invisíveis


Uma das contribuições mais ousadas de Bezerra está na descrição das influências espirituais que agem sobre o encarnado. Ele afirma que as relações espirituais se dão em dois planos: o visível e o invisível. Espíritos afins, simpáticos ou antipáticos, se ligam a nós por laços vibratórios, potencializando tendências, ampliando conflitos ou inspirando renovação.

Essas influências, segundo a codificação kardequiana (cf. O Livro dos Médiuns, cap. XXIII), não são exceção, mas regra da vida humana. Todos estamos em constante intercâmbio com o mundo espiritual. Quando esse intercâmbio se dá de forma desequilibrada, em sintonia com entidades perturbadas ou vingativas, pode resultar em estados que a psiquiatria rotula como psicose, mania ou esquizofrenia. Bezerra, porém, propõe um olhar ampliado: nesses casos, a terapêutica precisa envolver não só o corpo, mas o Espírito, através da prece, do passe, da  transformação moral e da caridade.


A Loucura como Desarmonia do Espírito


O capítulo em questão destaca que a loucura é muitas vezes uma “desarmonia da alma” que se reflete no corpo perispiritual e, por consequência, no cérebro físico. Essa desarmonia pode ter origem em existências anteriores, como também pode ser fruto de más escolhas na atual encarnação. O Espírito, ao romper com as leis divinas que regem o bem viver, experimenta uma cisão interna que, não raro, se manifesta como sofrimento psíquico.

Bezerra antecipa, de certo modo, conceitos que viriam a ser retomados pela psicologia profunda (Psicanálise,  de Freud; Psicologia Analítica, de Carl Gustav Jung), como o inconsciente e a repressão. No entanto, sua leitura é espiritual: o inconsciente é também um acervo de experiências vividas em outras encarnações, onde culpas, dores e desejos frustrados se acumulam e podem explodir na forma de doenças mentais. O Espírito não é um mero espectador de sua loucura, mas partícipe ativo de seu drama existencial.


Terapêutica Espírita: Cuidar do Espírito para Curar a Mente


Ao compreender a loucura como um fenômeno espiritual, Bezerra propõe também um novo paradigma terapêutico. Não basta medicar o cérebro: é preciso iluminar a alma. A terapêutica espírita, nesse sentido, inclui a evangelização, a assistência espiritual, o passe magnético, a água magnetizada, mas sobretudo a escuta fraterna e o acolhimento amoroso.

Esse cuidado integral do ser humano dialoga com as propostas mais avançadas da medicina integrativa atual, mas vai além: reconhece a reencarnação como chave para a compreensão do sofrimento e vê na Lei de Causa e Efeito não um castigo, mas uma oportunidade de aprendizado e regeneração.


Considerações Finais


Bezerra de Menezes, no capítulo “Do Espírito em suas relações”, nos oferece um mapa para o entendimento profundo da loucura e da saúde mental, onde o Espírito é o protagonista de sua jornada. Seu pensamento permanece atual e necessário, em um mundo onde o sofrimento psíquico cresce e a medicalização ainda predomina.

Ao trazermos essa reflexão ao movimento espírita, ampliamos nossa responsabilidade na escuta e acolhimento dos que padecem. A caridade, ensina o Cristo, não é apenas dar o pão, mas oferecer o olhar que reconhece a alma no outro. E isso é, talvez, o primeiro passo para toda cura.


Referências

BEZERRA DE MENEZES, Adolfo. A Loucura sob Novo Prisma. 14. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2009.

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 91. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008.

KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Trad. Guillon Ribeiro. 61. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2021.

XAVIER, Francisco Cândido. Nos Domínios da Mediunidade, pelo Espírito André Luiz. 35. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2014.

FRANCO, Divaldo Pereira. Transtornos Psiquiátricos e Obsessivos, pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda. Salvador: LEAL, 2017.

terça-feira, 22 de julho de 2025

Existe no Homem um Princípio Espiritual?: Uma Reflexão à Luz da Obra A Loucura sob Novo Prisma, de Bezerra de Menezes

Por Leonardo Paixão


Introdução

A questão acerca da existência de um princípio espiritual no ser humano perpassa toda a história do pensamento ocidental. Entre o logos filosófico grego, as tradições religiosas e os avanços da ciência moderna, essa indagação se revela central para compreender a natureza humana, suas enfermidades e seu destino. Em A Loucura sob Novo Prisma, Adolfo Bezerra de Menezes oferece uma leitura ousada e profunda, que propõe uma reinterpretação da loucura sob a ótica espírita, ao mesmo tempo em que denuncia os limites do reducionismo materialista na medicina mental.


Neste artigo, com base no Capítulo I da obra, analisamos os fundamentos espirituais da consciência humana, explorando dimensões ontológicas, clínicas e doutrinárias do ser, à luz do pensamento espírita e da filosofia da mente.


I. A Ontologia do Espírito: Entre a Filosofia e a Revelação


A pergunta “existe no homem um princípio espiritual?” é, antes de tudo, uma indagação ontológica. O que é o ser humano em sua essência? Para os antigos filósofos gregos, como Platão, o corpo era apenas uma prisão temporária da alma, cuja origem transcendia o mundo sensível. Aristóteles, embora mais imanentista, reconhecia uma alma como princípio de vida e intelecção.

No pensamento moderno, René Descartes divide substancialmente o ser em duas naturezas: a res extensa (corpo) e a res cogitans (mente ou alma). A subjetividade consciente é, assim, irredutível à matéria. Ainda que tal dualismo cartesiano tenha sido criticado ao longo do tempo, a experiência direta do pensamento e da consciência aponta para algo que não se reduz à estrutura cerebral.

O Espiritismo, por sua vez, sintetiza essas tradições ao afirmar que o espírito é o princípio inteligente do ser humano, anterior e superior ao corpo físico. 

Bezerra de Menezes apoia-se nessa concepção ao afirmar que a inteligência humana não pode emergir espontaneamente da matéria. O espírito é a sede da razão, da moral e da identidade pessoal.


II. Ciência, Espiritualismo e Evidências Empíricas


Ao apresentar sua tese, Bezerra dialoga com importantes pesquisadores espiritualistas do século XIX. William Crookes, respeitado físico britânico, conduziu experimentos com médiuns sob rigorosas condições, concluindo que a inteligência manifestada nos fenômenos era de origem extrafísica. Cesare Lombroso, inicialmente cético, rendeu-se às evidências após observar manifestações mediúnicas com a médium Eusápia Paladino.

Esses relatos — longe de serem apenas anedóticos — foram documentados em periódicos científicos e constituíram um movimento real de interseção entre ciência e espiritualidade. Embora a ciência atual muitas vezes descarte tais experiências por não se adequarem aos seus paradigmas naturalistas, elas continuam a ser uma provocação epistemológica diante da complexidade da consciência.

O Espiritismo não nega a ciência, mas a amplia. Como observa Kardec, "o espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos e de suas relações com o mundo corporal".


III. Loucura, Psiquiatria e o Reducionismo Materialista


Bezerra denuncia o erro metodológico de confundir o cérebro com a mente. Embora o cérebro seja o órgão de manifestação da consciência, ele não a produz. Quando os médicos da época diagnosticavam a loucura exclusivamente como lesão cerebral, desconsideravam a possibilidade de que distúrbios psíquicos pudessem ter origem espiritual, moral ou mesmo obsessiva.

Essa crítica permanece atual. A psiquiatria contemporânea, em muitos casos, continua a tratar os transtornos mentais com base quase exclusiva em fármacos e modelos neuroquímicos, ignorando a subjetividade do paciente e sua dimensão espiritual. Isso gera, muitas vezes, um tratamento sintomático e não transformador.

A loucura, segundo Bezerra, pode advir tanto de lesões orgânicas quanto de causas espirituais. Ele distingue entre loucura por perturbação cerebral e loucura moral — esta última relacionada a paixões desenfreadas, desequilíbrios do caráter e, sobretudo, influências espirituais obsessivas.


IV. A Obsessão como Etiologia Espiritual do Sofrimento Psíquico


No contexto espírita, a obsessão é uma das causas principais de perturbações mentais. Trata-se da influência persistente de um espírito desencarnado sobre um encarnado, podendo gerar desde ideias fixas até desorganizações mais graves da consciência. Kardec define obsessão como:


"O domínio que alguns Espíritos podem adquirir sobre certas pessoas. Jamais se dá sem o concurso da vontade, seja por fraqueza moral, seja por desejo do mal." (O Livro dos Médiuns, cap. XXIII - Da Obsessão)


Bezerra compreende que muitos pacientes considerados "loucos" pela medicina materialista, na verdade, estão sob ação obsessiva. Essa influência não se trata de alucinação endógena, mas de um intercâmbio real e patológico entre o desencarnado e o encarnado, estabelecido por sintonia fluídica e moral.


V. Perispírito e Terapêutica Integral


O perispírito — corpo semimaterial que liga o espírito ao corpo físico — desempenha papel central nesse processo. As lesões e impressões perispirituais podem repercutir no corpo físico ou gerar distúrbios funcionais sem causa anatômica visível. Por isso, tratar o corpo sem tratar o espírito e seu envoltório intermediário é tratar apenas metade da doença.

Bezerra defende uma terapêutica integral, que inclui:

- Preces e passes magnéticos;

- Transformação moral e evangelização;

- Desobsessão;

- Acompanhamento médico, quando necessário;

- Apoio fraterno e escuta compassiva.


Esse modelo biopsicoespiritual é o que se poderia chamar de uma medicina da alma, capaz de restaurar não apenas o equilíbrio neuroquímico, mas o sentido da existência.


Conclusão


A existência de um princípio espiritual no homem não é apenas uma crença religiosa: é uma hipótese ontológica, filosófica e clínica com grande poder explicativo. Negar o espírito é amputar a complexidade humana, reduzindo a consciência a um epifenômeno material. Bezerra de Menezes, com lucidez e coragem, nos mostra que é possível articular ciência e espiritualidade sem dogmatismos.


Ao resgatar a dimensão espiritual do ser humano, especialmente no campo da saúde mental, abrimos caminho para um cuidado mais profundo, humano e libertador. Que essa visão mais ampla do homem — corpo, mente e espírito — inspire não apenas médicos, mas todos aqueles comprometidos com o bem-estar integral do ser.


Referências


BEZERRA DE MENEZES, Adolfo. A Loucura sob Novo Prisma. 14. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2009.


KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 91. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008


KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 2. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2013.


DESCARTES, René. Meditações Metafísicas. Ed. Martins Fontes, 2016.


LOMBROSO, Cesare. Hipnotismo e Espiritismo. Ed. Lake, 1999.


CROOKES, William. Fatos Espíritas. Ed. Lake, 1990.


FREIRE, Gabriel Delanne. O Espiritismo Perante a Ciência. Rio de Janeito Editora do Conhecimento, 2009.


MOREIRA-ALMEIDA, Alexander. Ciência e Espiritualidade. Ed. FEAL.


terça-feira, 15 de julho de 2025

A Loucura sob Novo Prisma: A Introdução da Psicopatologia Espírita em Bezerra de Menezes

Por Leonardo Paixão

Observação: a partir de hoje, Deixaremos aqui artigo semanal que estuda a série de vídeos que fizemos e continuaremos a fazer sobre o livro A Loucura sob Novo Prisma, de Adolfo Bezerra de Menezes 


Resumo:

O presente artigo busca destacar os pontos principais da introdução da obra A Loucura sob Novo Prisma, de Adolfo Bezerra de Menezes, a partir de análise interpretativa de vídeo doutrinário. A obra representa um marco na abordagem espírita da loucura, propondo uma explicação que ultrapassa os limites do cérebro e alcança o espírito. A dualidade corpo-espírito, a distinção entre loucura orgânica e obsessiva, bem como a proposta de terapêutica espiritual, são os eixos centrais analisados.


Introdução

O médico, político e expoente do Espiritismo no Brasil, Adolfo Bezerra de Menezes, legou à posteridade uma das obras mais importantes sobre a saúde mental à luz da Doutrina Espírita: A Loucura sob Novo Prisma. Trata-se de um estudo que propõe uma ampliação de horizontes na compreensão dos chamados distúrbios mentais, sugerindo que, ao lado das causas orgânicas, há causas espirituais ignoradas pela medicina materialista.

Neste artigo, com base no segundo episódio de uma série audiovisual dedicada à obra, abordaremos os principais aspectos da introdução do livro, que já delineiam a originalidade e profundidade de sua proposta.


A proposta de uma nova leitura da loucura

Desde as primeiras páginas de sua obra, Bezerra de Menezes revela seu objetivo: apresentar a loucura a partir de um novo prisma — o prisma espiritual. Recusando-se a limitar a análise aos aspectos puramente neurológicos e cerebrais, ele propõe que muitos casos de insanidade mental possuem origens no espírito imortal e não apenas em lesões físicas.

Essa proposta é coerente com a Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec, que reconhece o ser humano como composto por três elementos essenciais: corpo, perispírito e espírito. Nesse tripé, o espírito é o centro da consciência, vontade e moralidade. Assim, os desequilíbrios do espírito refletem-se no corpo — ou mesmo sem atingirem o corpo, podem se expressar em distúrbios psíquicos.


Corpo e espírito: a dualidade essencial

Um dos pilares da obra é a distinção entre corpo e espírito. Bezerra argumenta que o ser humano verdadeiro é o espírito, que utiliza o corpo físico como instrumento de manifestação no mundo. Tal visão permite considerar que certos estados de loucura não decorrem de qualquer alteração fisiológica, mas sim de desequilíbrios espirituais, às vezes agravados por processos obsessivos, isto é, pela influência de inteligências desencarnadas.

Ao propor esse entendimento, Bezerra não nega a importância dos conhecimentos médicos e científicos de sua época, mas os complementa, ampliando sua eficácia por meio de um olhar integral sobre o ser humano.


Loucura orgânica e loucura obsessiva

No vídeo analisado, eu introduzo um dos grandes méritos da obra: a classificação entre loucura orgânica e loucura obsessiva.

Loucura orgânica: tem causas materiais, como lesões, traumatismos ou alterações químicas no cérebro.

Loucura obsessiva: decorre da atuação persistente de espíritos desencarnados que influenciam negativamente o encarnado, muitas vezes sem qualquer lesão detectável.

Essa diferenciação é pioneira, pois antecipa, em certo sentido, abordagens mais modernas da psicopatologia que reconhecem fatores subjetivos e espirituais na gênese dos transtornos mentais.


A medicina da alma

O vídeo também valoriza o perfil de Bezerra de Menezes como médico, conhecedor das ciências da saúde de seu tempo, mas que, ao integrar os princípios espíritas, ousou propor uma medicina da alma.

Essa proposta, longe de negar os avanços científicos, busca complementá-los com terapêuticas espirituais, como o passe, a oração, a reforma moral e o tratamento desobsessivo, conforme as diretrizes das obras da Codificação.


Considerações finais

A introdução da obra A Loucura sob Novo Prisma já nos oferece elementos valiosos para uma verdadeira revolução no entendimento da loucura. Bezerra de Menezes abre caminho para uma psicologia e uma psiquiatria que não se limitem ao cérebro, mas incluam o espírito como centro da vida consciente e moral.

Estudos como o apresentado no vídeo analisado têm grande relevância para tornar acessíveis esses conteúdos à comunidade espírita e ao público em geral, aproximando ciência e espiritualidade em uma visão integradora do ser humano.


Referências:

BEZERRA DE MENEZES, Adolfo. A Loucura sob Novo Prisma. Rio de Janeiro: FEB, 2009.

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro: FEB, 2008.

KARDEC, Allan. A Gênese. Rio de Janeiro: FEB, 2009.

Vídeo: Episódio 2 – Estudo do livro A Loucura sob Novo Prisma, de Bezerra de Menezes. Disponível em: https://youtu.be/M0h0I9-pYxk?si=D-C_I4Ivcges1SvJ

sábado, 22 de março de 2025

Relatório e Estatísticas dos experimentos realizados em Curso de Magnetismo

 

Grupo Espírita Semeadores da Paz

Rua Dr. Luiz Carlos de Barros Viana, 56. Altos. Pq. Imperial. Campos dos Goytacazes, RJ

 

Curso de Passe Magnético (II Parte)

Data: 13/04/2024

 

 

No dia 13 de abril do ano 2024, foi realizado curso de Passe Magnético no Grupo Espírita Semeadores da Paz, coordenado pelo dirigente deste, Leonardo Paixão.

Como a Doutrina Espírita está assim definida por Allan Kardec:

 

O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática ele consiste nas relações que se estabelecem entre nós e os Espíritos; como filosofia compreende todas as consequências morais que dimanam dessas mesmas relações (Kardec, Allan. O que é o Espiritismo. Preâmbulo. 49. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2004. p. 50)

 

Em nossos cursos de Magnetismo, temos, desde o ano 2018, realizado as mais diversas experiências, tais como: magnetização de água; psicometria; magnetização de humanos; magnetização à distância; hipnose; sugestão pós-hipnótica; clarividência. Desse modo, estamos realizando o que Allan Kardec chamou em O Livro dos Médiuns de Espiritismo Experimental.

 

Trazemos aqui um relatório e dados estatísticos dos experimentos realizados no ano 2024.

 

 

Relatório e Estatísticas dos Experimentos Realizados

 

Passe a Distância 


06 pessoas no salão

04 pessoas na cabine de passe

Total de 10 participantes.

 

O orientador pediu para que as 06 pessoas que estavam no salão se concentrassem em apenas 01 pessoa específica – foi anotado o nome da pessoa em um papel e colocado também em voz baixa (inaudível) aos que estavam na sala de passe o nome da pessoa especifica a receber o passe à distância, já que o salão estava na penumbra para se possibilitar melhor concentração.

 

As 04 pessoas que estavam na sala de passe relataram as seguintes percepções ao fim do experimento, retornando e expondo sobre no salão:

 

J: Tinha alguém lá, mas não sei quem era; calor no corpo, mão aquecida até o antebraço, formigando...

 

M: Tinha a presença e eu estava desdobrado, em pé, ao lado do ventilador.

 

C: Celina e um homem e uma mulher ao lado esquerdo; ouvi passos como se um dos do salão estivesse caminhando por todos.

 

R. C: Vi Alberto e Dr. Young, deram passes em mim. Alberto em movimentos rápidos e Dr. Young em movimentos lentos e depois deram passe em M. E uma pessoa me olhou (não identificada).

 

Conclusão: difícil perceber se a C. (que foi a pessoa especificada para receber o passe à distância), realmente o percebeu.

Uma importante observação que a C. colocou depois dos relatos: “Ouvi um sopro”. E a R. (que estava no salão) disse que quando dá o passe à distância mentaliza que está a soprar. Tal sopro só a C. ouviu, os demais não, isso traz evidência da percepção de C. E B. colocou que se visualizou a andar até a sala de passe e C. relata, conforme está acima, de que ouviu passos como se uma pessoa do salão estivesse a caminhar por todos, o que é evidência de que C. teve percepção de pessoas atuando sobre ela.

 

Experiência da água magnetizada

 

Os participantes foram convidados a irem todos para a sala de passe e o orientador chamou 05 participantes para realizarem a magnetização da água.

 

- Terminada a magnetização foi pedido para que os participantes que ficaram na outra sala se apesentassem e que as águas magnetizadas (copos específicos) fossem entregues aleatoriamente aos demais participantes.

- O que foi posto na água?

R. C: gosto amargo; J: mentalizou saúde (na mão esquerda) na magnetização de J. feita com a mão direita, C. sentiu gosto doce (foram dois copos magnetizados); C: visualizou Capim Limão (a vovó magnetizou por ela).

L: primeiro sentiu suavidade e no final cica; R: visualizou/mentalizou ao magnetizar  a água, suco de uva.

M: nada sentiu. A. C. magnetizou a água, mentalizou o remédio necessário para quem fosse tomar. 

A. L.: sentiu uma coisa doce, não conseguiu distinguir o que era. P: magnetizou a água mentalizando menta e lavanda e enquanto formulava a magnetização, pensou em a pessoa sentir algo bom.

 

Estatísticas

Quanto ao experimento com o passe à distância, houve 8, 33% de acertos.

 

O cálculo é feito na seguinte base: Número de acertos/número total de tentativas x 100%, logo, como se teve 2 acertos, temos que (2/24) x 100% = 8, 33%

 

Quanto ao experimento com a água magnetizada:

(5/6) x 100% = 83, 33% de resultados.

O cálculo foi feito na seguinte base: número total de pessoas ativas (magnetizadores) com resultados/número total de pessoas ativas x 100%