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segunda-feira, 22 de abril de 2024

Nos Bastidores da Obsessão - Estudo

Estudo do livro Nos Bastidores da Obsessão, do Espírito Manoel Philomeno de Miranda, psicografia de Divaldo Pereira Franco.


Examinando a Obsessão (continuação)

 

Diante dos esforços que se conjugam entre o assistente e o assistido, os Espíritos Superiores interessados no progresso da Humanidade oferecem, também, valiosos recursos que constituem elementos salutares e preciosos.

Sem tal amparo, toda incursão que se intente no ministério da desobsessão será improfícua, senão perigosa, pelos resultados negativos que apresenta.

Um espírito lidador, devidamente preparado para as experiências de socorro aos obsidiados, é dínamo potente que gera energia eletromagnética, que, aplicada mediante os passes, produz distonias e desajustes emocionais no hóspede indesejável, afastando-o de momento e facultando, assim, ao hospedeiro a libertação mental necessária para assepsiar-se moralmente, reeducando a vontade, meditando em oração, num verdadeiro programa evangélico bem disciplinado que, segura e lentamente, edifica uma cidadela moral de defesa em volta dele mesmo.

Por isso o Mestre, diante de determinados perseguidores desencarnados, afirmou: “contra esta casta de Espíritos só a oração e o jejum”, e, após atender às aflições de cada atormentado que O buscava, prescrevia, invariável e incisivo: “Não voltes a pecar para que algo pior não te aconteça”.

 

Comentário de Leonardo Paixão:

É comum haver a interrogação seguinte sobre a atuação dos Espíritos Superiores em casos de obsessão: Os Espíritos Superiores não poderiam evitar esses casos de obsessão, onde vemos até crianças lhes sofrendo as negativas e maldosas importunações?

Primeiro precisamos estar cientes e bem cientes de que estamos em um planeta de provas e expiações, onde predomina o mal e, por isso mesmo, os Espíritos aqui reencarnados, são em sua maioria, conforme a Escala Espírita (O Livro dos Espíritos. n. 100 e seguintes), da terceira ordem, isto é, “Predominância da matéria sobre o espirito. Propensão para o mal. Ignorância, orgulho, egoísmo e todas as paixões que lhes são consequentes.

Tem a intuição de Deus, mas não o compreendem.

Nem todos são essencialmente maus. Em alguns há mais leviandade, irreflexão e malicia do que verdadeira maldade. Uns não fazem o bem nem o mal; mas, pelo simples fato de não fazerem o bem, já denotam a sua inferioridade. Outros, ao contrário, se comprazem no mal e rejubilam quando uma ocasião se lhes depara de praticá-lo. A inteligência pode achar-se neles aliada a maldade ou a malícia; seja, porém, qual for o grau que tenham alcançado de desenvolvimento intelectual, suas ideias são pouco elevadas e mais ou menos abjetos seus sentimentos.

Restritos conhecimentos têm das coisas do mundo espirita e o pouco que sabem se confunde com as ideias e preconceitos da vida corporal. Não nos podem dar mais do que noções errôneas e incompletas; entretanto, nas suas comunicações, mesmo imperfeitas, o observador atento encontra a confirmação das grandes verdades ensinadas pelos Espíritos superiores.

Na linguagem de que usam se lhes revela o caráter. Todo Espirito que, em suas comunicações, trai um mau pensamento, pode ser classificado na terceira ordem. Conseguintemente, todo mau pensamento que nos é sugerido vem de um Espirito desta ordem. Eles veem a felicidade dos bons e esse espetáculo lhes constitui incessante tormento, porque os faz experimentar todas as angústias que a inveja e o ciúme podem causar.

Conservam a lembrança e a percepção dos sofrimentos da vida corpórea e essa impressão é muitas vezes mais penosa do que a realidade. Sofrem, pois, verdadeiramente, pelos males de que padeceram em vida e pelos que ocasionam aos outros. E, como sofrem por longo tempo, julgam que sofrerão para sempre. Deus, para puni-los, quer que assim julguem”. (O Livro dos Espíritos. Escala Espírita. 101. Características Gerais. Terceira Ordem. Espíritos Imperfeitos)

 

Este não é um quadro muito animador do estado evolutivo dos espíritos reencarnados no planeta Terra, no entanto, pensando sobre os flagelos obsessivos que atormentam a humanidade, este quadro nos faz compreender do porquê a obsessão é tão presente no cotidiano dos seres humanos.

Segundo os Espíritos Superiores não estão desatentos a esses casos, porém, a intervenção humana pode ser útil a eles. Vejamos:

 

Em relação a ação dos Espíritos Superiores, vejamos, por oportuno, na Revista Espírita 1865, esta fala de Allan Kardec:

 

Os Espíritos, como se vê, não são nem inativos nem indiferentes com relação aos Espíritos sofredores, que é preciso conduzir ao bem; mas quando a intervenção dos homens pode ser útil, deixam-lhes a iniciativa e o mérito, sob a condição de secundá-los com seus conselhos e seus encorajamentos.

 

Portanto, os Espíritos Superiores não estão indiferentes e inativos, trabalham a favor dos Espíritos sofredores tentando conduzi-los ao caminho do bem. Deixando a nós, encarnados, uma participação nesse nobre trabalho. (NETO, Paulo. Obsessão, processo de cura de casos graves. Belo Horizonte, MG: Edição do autor, 2020. Conclusão)

 

Agora iremos tentar adentrar no processo de como “Um Espírito lidador, devidamente preparado para as experiências de socorro aos obsidiados, é dínamo potente que gera energia eletromagnética, que, aplicada mediante os passes, produz distonias e desajustes emocionais no hóspede indesejável, afastando-o de momento...”.

Estudando as técnicas de desobsessão nos deparamos com um texto do escritor e pesquisador Carlos Bernardo Loureiro, “Uma Inusitada Técnica de Desobsessão”, em que descreve experiências do Dr. Carl Wickland nesse campo e que estão descritas também em livro que o Dr. Wickland deixou a respeito – Trinta anos entre os Mortos. Leiamos a parte inicial do texto de Bernardo:

A revista alemã Zeitschruffuer Metapsysche Forshung, do ano de 1932, veicula uma matéria de autoria do Dr. Carl A. Wickland, psiquiatra norte-americano autor do livro Thirty Years Among the Dead (Trinta Anos entre os Mortos), trabalho muito citado como um clássico da literatura psíquica, editado em 1924 e reeditado, na década de 1970, pela Spiritualist Press de Londres.

Na citada revista alemã, o Dr. Wickland relata um caso intrigante de obsessão, em que uma menina (que apresentava uma aparência senil) via-se pertinazmente assediada por uma velha senhora desencarnada em 1870. “Para nós – elucida o Dr. Wickland, no preâmbulo do artigo – já não existe mais a pergunta: haverá realmente uma continuação da vida do Espírito depois da morte? O que devemos fazer para despertar a Humanidade do seu sono de letargia e convencê-la de que a vida além-túmulo é um fato. Mais ainda: que a alma dos desencarnados muitas vezes intervêm nos acontecimentos de nossa vida         corpórea.” 

Eis os trâmites do caso referido: O médico Dr. S. levou para uma sessão de cura (desobsessão) no National Psychical Institut, dirigido pelo Dr. Carl Wickland, uma menina de 12 nos, cujo sofrimento tivera resistido a   todos os   tratamentos regulares da ciência oficial. Havia três anos que essa jovem era inválida, tendo perdido por completo o domínio sobre os seus membros. Às vezes, passava vários dias em surdez e absoluto mutismo, do qual ninguém conseguia demovê-la, e apresentava a aparência de uma velha... O Dr. Wickland, ao constatar que se tratava de um singular processo obsessivo, empreendeu, em vão, todos os meios persuasivos para conseguir manifestação do Espírito. Recorreu, então, ao método extremo – choques elétricos na paciente, “forçando” o afastamento do obsessor, que se “incorporou” na médium, sua esposa, a Sra. Wickland. (grifo       nosso)

Seguem-se as perguntas e respostas, como acontece em sessões espíritas de doutrinação. O Espírito, após demorado trabalho de persuasão, admite a realidade da vida espiritual e conta sua história. Fizera parte de uma seita religiosa, onde prevaleciam a superstição e um profundo fanatismo religioso. Arrepende-se e pede ao Dr. Wickland que dissesse à menina que nunca mais iria perturbá-la. Em seguida, despede-se dizendo que ia embora com esta gente (Espíritos)         que      se       achava ao        seu       redor...

Daí em diante, a menina (Jennie Brown) começou a transmudar a sua feição física; ressurge na plenitude e no frescor de seus 12 anos, transbordando de alegria.

(...)

O trabalho do Dr. Carl Wickland — embora utilizasse o estranho método do choque elétrico (uso da eletricidade estática) para “deslocar” o Espírito obsessor — é notável. Os resultados que obteve, no campo de desobsessão, foram surpreendentes, livrando um sem-número de pacientes da tristíssima clausura em manicômios e sanatórios psiquiátricos, onde iriam, inevitavelmente, se encharcar de barbitúricos. (http://www.telma.org.br/artigos/uma-inusitada-tecnica-de-desobsessao)

 

Trouxemos essa breve citação do texto de Carlos Bernardo Loureiro para que observemos que, desde a esfera física o uso de eletrochoque para deslocar Espíritos obsessores foi usado e temos na literatura espírita observações a respeito. O articulista Leonardo Marmo Moreira nos traz a seguinte contribuição:

 

Na (...) obra de Manoel Philomeno de Miranda, pela mediunidade de Divaldo Franco, “Loucura e Obsessão”, há um interessante estudo sobre a correlação entre Eletrochoque e Choque Anímico, o qual foi desenvolvido pelo Doutor Bezerra de Menezes. De fato, no Capítulo 11, intitulado “Técnicas de Libertação”, o admirável médico, juntamente com sua equipe espiritual, explica a Manoel P. Miranda que o chamado “Choque Anímico” seria semelhante ao “Choque Elétrico” (também conhecido como “Eletrochoque”), o qual foi amplamente utilizado como psicoterapia no passado e ainda hoje é empregado em alguns tipos de tratamento psiquiátrico.

(...)

 

Segundo Doutor Bezerra de Menezes, o Eletrochoque desacoplaria o obsessor do obsidiado, ou seja, geraria uma desvinculação perispiritual entre o Espírito desencarnado, no caso o vampirizador, e o Espírito encarnado, o qual, nesta situação, trata-se do ser vampirizado. Portanto, haveria uma separação brusca dos respectivos corpos espirituais, interrompendo drástica, porém paliativamente, a simbiose perispírito-a-perispírito. Ressalta-se que tais casos constituem, de fato, processos obsessivos propriamente ditos, e não apenas leves influências espirituais negativas, sendo que a maioria destas situações de parasitose espiritual pode ser classificada como fascinação ou subjugação, em concordância com a Codificação Kardequiana. Do ponto de vista do corpo material, o Eletrochoque equilibraria quimicamente as sinapses nervosas, gerando um status mais saudável de distribuição de neurotransmissores, o que, juntamente com o afastamento do obsessor, responderia pela melhora temporária dos sintomas. Assim, por um determinado intervalo de tempo, o paciente adquiriria uma calma profunda ou até mesmo um quadro de prostração.

(...)

Por outro lado, o processo obsessivo pode ser eliminado ou minimizado pela mudança de atitude do obsidiado, se o mesmo modificar sua conduta moral, de maneira que a eventual ascendência do Espírito perturbador seja atenuada. Realmente, do ponto de vista do obsidiado, a ocorrência do “Choque Anímico” com o seu respectivo obsessor também seria uma oportunidade valiosa de autocura, uma vez que o obsessor poderia dar uma “trégua” em seu processo de simbiose espiritual durante certo tempo. Isto permitiria uma reforma moral por parte do Espírito encarnado, fomentando o início de um mecanismo preliminar de “imunização espiritual” do encarnado em relação ao desencarnado, em função da sua mudança de faixa vibratória para melhora do habitante da crosta terrestre.

Algo semelhante ao Eletrochoque provavelmente também ocorreria, pelo menos parcialmente, no tratamento de passes aplicados a encarnados obsidiados. A vibração dos passistas (encarnados e desencarnados) – juntamente com o esforço do recebedor dos passes – geraria uma espécie de “choque fluídico” no Espírito desencarnado, o qual, mesmo que em menor intensidade, pode ser altamente eficiente.

Todavia, é bom que se destaque que, por mais eficaz que o tratamento seja, a médio e longo prazos a cura definitiva somente ocorrerá a partir de uma melhoria comportamental geral por parte do obsidiado. Isso fica evidente, por exemplo, na obra “Missionários da Luz” (André Luiz/Chico Xavier). Nesta obra, no capítulo 19 intitulado “Passes”, o autor espiritual narra um “caso de décima vez”, que consiste em uma situação em que um mesmo indivíduo retorna ao centro espírita para o tratamento de passes, após receber e desperdiçar as intervenções fluídicas completas por dez (10) vezes consecutivas. O orientador espiritual do trabalho de passes recomenda então que o paciente receba uma limpeza psíquica mínima, pois, somente sofrendo as consequências de sua intemperança espiritual, poderia despertar para uma mudança espiritual mais efetiva. 

(...)

A analogia entre Eletrochoque e Choque Anímico para uma compreensão do fenômeno da obsessão e de alguns procedimentos de tratamento desobsessivo, elaborada pelo Doutor Bezerra de Menezes (“Loucura e Obsessão”), são informações interessantes para o nosso estudo mais amplo abrangendo relevantes tópicos espíritas, tais como propriedades do Perispírito, as interações e comunicações espirituais e mediúnicas, o poder de cura e autocura, as interações fluídico-ectoplásmicas, a ação das chamadas “barreiras magnéticas”, a interação espírito-perispírito-corpo físico, entre outros. (MOREIRA, Leonardo Marmo. Eletrochoque, Choque Anímico e Desobsessão. Revista Eletrônica O Consolador. Crônicas e Artigos. Ano 5 - N° 229 - 2 de outubro de 2011)

 

Apesar dos textos acima transcritos, o Miranda usa o termo “energia eletromagnética”, o que vem a ser diferente de eletrochoque. Para buscarmos uma compreensão melhor da diferença entre o uso de eletrochoque feita, conforme pudemos ver no texto de Carlos Bernardo Loureiro sobre os métodos do Dr. Carl Wickland, vamos trazer aqui sobre diferenças e semelhanças entre Eletroconvulsoterapia (ECT) e Estimulação Magnética Transcraniana (EMT).

 

EMT e ECT: técnicas de neuromodulação

Os transtornos mentais resistentes ao tratamento trazem grande sofrimento ao paciente, tanto pela condição clínica, como pela falta de esperança por não verem resposta suficiente nos medicamentos usados. Felizmente, outras formas de terapias podem ser indicadas a esses indivíduos, como a Neuromodulação.

A neuromodulação é o ato de reorganizar as transmissões de informações do sistema nervoso. Dentre as técnicas de neuromodulação, estão a Eletroconvulsoterapia (ECT) e a Estimulação Magnética Transcraniana (EMT).

                              ECT e EMT: diferenças e semelhanças

Os dois procedimentos:

·         são considerados não invasivos;

·         possuem eficácia bem estabelecida para certos transtornos mentais;

·         são aprovados por diversos órgãos reguladores;

·         são disponíveis clinicamente.



Na ECT, eletrodos são colocados sobre o couro cabeludo do(a) paciente e, por meio de uma corrente elétrica entre eles, uma convulsão controlada é induzida no cérebro.

Já a EMT utiliza-se de bobinas que produzem um campo eletromagnético em uma região do cérebro, autogerando uma corrente elétrica que estimula aquela região.

Pelo estado convulsivo, a ECT necessita de anestesia e relaxantes musculares para evitar danos físicos e cognitivos (essa técnica possui um pouco mais de efeitos colaterais), e a EMT não precisa de anestesia, e os efeitos colaterais geralmente são mais leves e menos frequentes a cada nova sessão.


Entretanto, mesmo sem precisar de anestesia na EMT e com o paciente acordado, as duas devem ser cuidadosamente monitoradas por uma equipe médica. (RECCO, Kelen Chancellier Cechinel. Estimulação Magnética Transcraniana (EMT) ou Eletroconvulsoterapia (ECT)? - https://www.injq.com.br/single-post/estimulacao-magnetica-transcraniana-emt-ou-eletroconvulsoterapia-ect)

 

Podemos perceber que a Estimulação Magnética Transcraniana é menos agressiva, se assim podemos nos exprimir. Logo, os Espíritos lidadores no campo da desobsessão, possuindo capacidade mental muito mais crescida do que a dos encarnados se utilizarão de técnicas que não venham a promover maiores desordens ao organismo do enfermo (obsedado), para tanto, tal como realizam os magnetizadores a modificação das propriedades da água com a força do pensamento a manipular os fluidos, do mesmo modo os Espíritos Bons o fazem na aplicação de passes nos obsedados.

Os desajustes emocionais que observamos nos Espíritos obsessores que se manifestam nas reuniões de desobsessão no Grupo Espírita Semeadores da Paz, Campos dos Goytacazes, RJ, são:

 - Agitação, frustração e mau humor em níveis exagerados (os médiuns precisam de os controlar para que não batam na mesa de forma violenta ou agridam dirigente e doutrinadores com tapas e/ou mordidas, gargalhadas estridentes também são controladas);

 - Sensação de sobrecarga, como se estivesse perdendo o controle;

 - Falta de vontade de estar com Espíritos desencarnados de seus familiares e amigos;

 - Dificuldade em relaxar e sossegar a mente;

 - Sensação de solidão, baixa autoestima.

 

Muitos ao incorporarem nos médiuns reclamam logo de início do porque foram retirados de onde estavam e que aquele lugar não é para eles. Aqui podemos supor que os Espíritos lidadores no campo da desobsessão aplicaram passes com recursos de eletromagnetismo (e até mesmo do eletrochoque, já que há Espíritos obsessores que, por vezes, reclamam de que estão a se lhes dar choques) que os desacoplaram dos obsedados e, então, seus desajustes emocionais vem à tona.

Esperamos ter contribuído mais uma vez para o aprofundamento no estudo de casos de obsessão e as técnicas de desobsessão.

 



 

domingo, 31 de março de 2024

Tipos de Obsessão e breves comentários sobre Obsessão Fortuita

Por Leonardo Paixão 

23/02/2024

Campos dos Goytacazes,  RJ


Allan Kardec classificou no cap. 23 de O Livro dos Médiuns, três tipos de obsessão:


- obsessão simples;

- obsessão por fascinação;

- obsessão por subjugação;


Como o próprio Kardec deixa claro em suas obras que ele não disse a última palavra e, portanto, as pesquisas e estudos espíritas trariam novas informações e não é diferente no estudo da obsessão.


Nas obras do Espírito Manoel Philomeno de Miranda, psicografadas por Divaldo Pereira Franco temos estudos deste Espírito a nos trazerem novas nomenclaturas para novos casos de obsessão observados. No livro Nos Bastidores da Obsessão, o Miranda traz em suas páginas iniciais sobre "obsessões especiais". No livro Antologia Espiritual, de Espíritos Diversos, o Miranda participa com a mensagem "Obsessões Intermitentes". Por não ser nosso objetivo neste texto o estudo destes tipos outros de obsessão, só citaremos as obras em que estão e o/a leitor/a interessado/a pode recorrer a elas para seus estudos/pesquisas.

Outros processos obsessivos como o vampirismo, obsessão por encomenda (feitiços, trabalhos feitos), auto-obsessão, obsessão em crianças, obsessões simuladas e doenças fictícias, ação dos obsessores durante o sono, alergia e obsessão, foram revelados após estudos como os de Albert de Rocha no livro Exteriorização da Sensibilidade, onde ele irá estudar os processos do Voodu; Herculano Pires  tem um excelente estudo sobre "parasitose espiritual", que é o seu livro Vampirismo;  no seu livro A Obsessão e seus Mistérios, Carlos Bernardo Loureiro analisa diversos processos obsessivos. E nós, nesse singelo texto, trazemos a nossa contribuição, buscando entender o que é a "obsessão fortuita", expressão que ouvimos em 1999 de Carlos Bernardo Loureiro em entrevista que ele deu ao Alamar Régis Carvalho no então programa Espiritismo via satélite, falando sobre obsessão.

Muitas "obsessões fortuitas" ocorrem devido aos maus hábitos.

As obsessões fortuitas são as que ocorrem de forma repentina, inesperada, sem planejamento nem previsão, isto é, são as que se desencadeiam devido à afinidade de gostos, de interesses entre desencarnados e encarnados. E também por fraqueza moral de encarnados.

Importante também observarmos estas orientações de Allan Kardec: 

"(...) Seria errôneo, pois acreditar-se que os Espíritos  só exercem sua influência por meio de comunicações escritas ou verbais. Essa influência é permanente (grifei) e mesmo os que não se ocupam com os Espíritos, ou neles não creem, estão expostos a sofrê-la, como os outros e mesmo mais do que os outros, porque não têm como contrabalançá-la.

As causas da obsessão variam de acordo com o caráter do Espírito. Às vezes é uma vingança que ele exerce sobre a pessoa que o magoou nesta vida ou em existências anteriores (grifei). Muitas vezes, é o simples desejo de fazer o mal (grifei), como o Espírito sofre, quer fazer que os outros também sofram, encontra uma espécie de prazer em atormentá-los, em humilhá-los, e a impaciência que a vítima demonstra o exacerba mais ainda, porque é esse o objetivo que o obsessor tem em vista, enquanto a paciência acaba por cansá-lo. Ao irritar-se e mostrar-se despeitado, o perseguido faz exatamente o que o perseguidor deseja. Esses Espíritos agem, não raras vezes, por ódio e por inveja do bem, o que os leva a lançarem suas vistas malfazejas sobre as pessoas mais honestas. Um deles se apegou como "sarna" a uma honrada família do nosso conhecimento, à qual, aliás, não teve a satisfação de enganar. Interrogado acerca do motivo por que se agarrara a pessoas tão distintas, em vez de apegar-se a homens maus como ele, respondeu: estes não me causam inveja (grifo do original). Outros são guiados por um sentimento de covardia, que os induz a se aproveitarem da fraqueza moral de certos indivíduos, que eles sabem, incapazes de lhes resistirem. Um destes últimos, que subjugava um rapaz de inteligência muito curta, interrogado sobre os motivos dessa escolha, respondeu: Tenho grande necessidade de atormentar alguém. Uma pessoa criteriosa me repeliria; ligo-me a um idiota, que não me opõe nenhuma resistência (grifo do original)" (KARDEC. O Livro dos Médiuns).


A melhor defesa para que não se adentre em processos obsessivos é: 


- oração;

- conhecimento dos processos obsessivos, as técnicas usadas pelos obsessores;

- a conduta moral enobrecida.

sexta-feira, 22 de março de 2024

Uma Revisão Acadêmica Abrangente da Pesquisa em Reencarnação

 Resenha originalmente em inglês, tradução livre de Leonardo Paixão (*)


Uma Revisão Acadêmica Abrangente da Pesquisa em Reencarnação


Lucam Justo de Moraes e Alexander Moreira-Almeida 

Universidade Federal de Juiz de Fora 


Uma Revisão de Sinais de Reencarnação: Explorando Crenças, Casos e Teoria, por James G. Matlock. Rowman & Littlefield, 2019., pp. xxi + 385. $ 39,00 (brochura). ISBN 9781538124796 

As crenças em vidas passadas foram difundidas ao longo da história e em diferentes culturas ao redor do mundo e ainda prevalecem hoje em dia. Além da crença na reencarnação ser muito popular entre as tradições religiosas/espirituais orientais (Hinduísmo, Budismo, Jainismo e Sikhismo), a sua expressão também é significativa no Ocidente. A crença na reencarnação foi relatada por 20% da população em geral na Europa Oriental, 27% na Europa Ocidental, 33% nos EUA e 37% no Brasil (DataFolha, 2007; Inglehart et al., 2004; Gallup, 2003). Além disso, a crença na reencarnação tem sido associada à visão de mundo das pessoas, impactando sua saúde mental (Davidson et al., 2005), bem como suas capacidades de superar doenças e eventos estressantes da vida (Peres, 2012), e resiliência psicológica e virtudes humanas ( Linley e Joseph, 2004). Por outro lado, a crença em vidas passadas pode estar associada a lutas psicológicas, sentimentos de culpa e um sentimento de passividade em relação à vida (Stauner et al., 2016). Contudo, vale ressaltar que as últimas cinco décadas foram marcadas não apenas por estudos e investigações sobre a crença na reencarnação, mas, que um novo campo científico foi desenvolvido para investigar possíveis evidências empíricas da verdade factual da reencarnação. Trata-se principalmente de reivindicações de memórias de vidas passadas.

Relatos de crianças que reivindicaram memórias de vidas passadas foram publicados esporadicamente, pelo menos desde o final do século XIX (Fielding, 1898; Hearn, 1897; Stevenson, 2000). Embora um corpo de investigação considerável tenha sido construído no último meio século (Daher et al., 2017), esta quantidade substancial de evidências não é bem conhecida fora do campo da parapsicologia. Existem alguns livros que fornecem uma boa visão geral da pesquisa sobre reencarnação para o público em geral e alguns livros acadêmicos dedicados à análise de certos aspectos dos estudos sobre reencarnação, ou de estudos desenvolvidos por um grupo de pesquisa. Sinais de Reencarnação: Explorando Crenças, Casos e Teoria é, até onde sabemos, a primeira revisão acadêmica abrangente do campo de investigações de memórias de vidas passadas. Seu principal objetivo é abordar “a natureza da evidência da reencarnação, a questão de quão boa é essa evidência e, se for satisfatória, qual a melhor forma de interpretá-la” (p. xix). 

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1 Endereço para correspondência: Núcleo de Pesquisa em Espiritualidade e Saúde (NUPES), Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Juiz de Fora/MG Brazil, ljmpsico@gmail.com ou alex.ma@medicina.ufjf.br. Este trabalho foi financiado pela bolsa 89/18 da Fundação Bial.

James G. Matlock tem formação em antropologia e parapsicologia e um antigo interesse na pesquisa sobre reencarnação. Seu primeiro artigo sobre parapsicologia foi uma resenha de livro sobre o tema (Matlock, 1986) e sua tese de mestrado em antropologia foi sobre crenças de reencarnação em sociedades tribais (Matlock, 1993). Depois disso, mudou seus interesses para outros temas, mas desde o início da década atual voltou a se concentrar nos estudos de reencarnação. Desde 2011 ele desenvolveu e ministra um curso de pós-graduação sobre reencarnação e este livro é em grande parte o produto deste curso. Atualmente, ele é pesquisador da Fundação Parapsicologia e contribuiu com vários artigos sobre reencarnação para a Enciclopédia Psi. Matlock também escreveu recentemente, em parceria com o principal pesquisador de reencarnação, Erlendur Haraldsson, o popular livro I Saw a Light and Came Here: Children’s Experience of Reincarnation (Haraldsson & Matlock, 2017). [Em tradução livre: Eu vi uma luz e vim para cá: a experiência da reencarnação infantil]

Toda essa experiência no tema está refletida neste livro acadêmico, baseado em cerca de 900 referências. Apesar de nos interessarmos pela pesquisa sobre reencarnação há mais de duas décadas, fomos constante e positivamente surpreendidos pelas referências a livros e artigos relevantes que desconhecemos. Matlock integra evidências fornecidas por estudos de diferentes áreas, como parapsicologia, psicologia, antropologia, psiquiatria e história. Como esperado, ele deu especial atenção à seminal e volumosa contribuição científica de Ian Stevenson, professor de psiquiatria da Universidade da Virgínia que basicamente fundou o campo de investigação acadêmica de evidências empíricas sugestivas de reencarnação e ainda é o pesquisador mais prolífico que este campo já teve (Daher et al., 2017).

Matlock começa Sinais de Reencarnação relatando um caso recente, inédito e resolvido do tipo reencarnação que ele investigou. Trata-se de Rylann O'Bannion's, uma menina de Bartlesville, Oklahoma, que nasceu em 2008. Quando tinha entre dois e três anos de idade, Rylann começou a reivindicar uma suposta vida passada. Mais tarde, seu caso foi associado a uma personalidade anterior chamada Jennifer Schultz, uma garota de Kenner, Louisiana, que nasceu em 1971 e morreu provavelmente eletrocutada em 1982 enquanto falava ao telefone durante a queda do avião Pan Am 759. Este caso é baseado nas próprias memórias e comportamentos incomuns da criança, a maioria deles verificados através de entrevistas com Rylann, relatos de testemunhas em primeira mão, análise documental e relatos dos pais de Jennifer. Com base no caso de Rylann, o autor começa a apresentar o campo das investigações de memórias de vidas passadas, proporcionando uma boa amostra da emocionante, desafiadora e complexa investigação científica de tais casos. Antes de apresentar e discutir as evidências empíricas fornecidas pelos estudos sobre reencarnação, Matlock primeiro fornece uma contextualização muito boa, fornecendo uma análise intercultural da crença na reencarnação e discutindo métodos de pesquisa, suas críticas e estruturas interpretativas. Seguindo Edward Tylor, um dos fundadores da antropologia moderna, Matlock afirma que as crenças sobre a reencarnação têm base empírica, ou seja, baseiam-se principalmente em experiências que sugerem isso.

A fim de fornecer uma análise e interpretação abrangentes da evidência empírica relacionada com casos de reencarnação, é essencial lidar não apenas com características isoladas, mas com o que Matlock descreve como “síndrome do renascimento”. Este seria composto por duas categorias do que ele chamou de “sinais de reencarnação”. Os “sinais principais” são reivindicações espontâneas de memória de vidas anteriores (memórias autobiográficas verbais, espaciais e de identificação), identificação comportamental com a pessoa anterior (traços de personalidade, comportamentos incomuns e habilidades) e marcas de nascença e outros sinais físicos.

Os “sinais secundários” são sinais de agência desencarnada (sonhos de anúncio de renascimento, ou aparições, e memórias de intervalo do período entre a morte e a nova vida), padrões universais e quase universais (por exemplo, predominância de homens e mortes violentas, idade em que as crianças começam e param de falar sobre vidas anteriores) e impactos psicológicos de memórias de vidas passadas (por exemplo, fobias e inconformidade de gênero). O livro fornece uma revisão bastante abrangente destes “sinais secundários” que são frequentemente ignorados na literatura académica, por exemplo, as semelhanças e diferenças transculturais, e a existência de declarações verificadas sobre factos alegadamente observados durante os períodos de intervalo. Outro ponto inovador interessante é a análise das semelhanças entre relatos de experiências de quase morte (EQMs) e períodos de intermissão em casos de reencarnação.

Dado que a evidência mais robusta vem de crianças, existem poucos estudos de adultos que reivindicam memórias de vidas passadas, tanto casos espontâneos como induzidos (geralmente por hipnose de regressão). Há um capítulo que preenche esta lacuna, revendo as evidências disponíveis e conclui que a natureza probatória dos relatórios publicados ainda é muito pobre. No entanto, também é importante compreender quem são os adultos que reivindicam estas memórias e quais são as características dessas afirmações. Há também alguma discussão sobre revelações feitas por xamãs, sensitivos e médiuns que alegam acessar  vidas passadas de supostos consultores.

No final do livro, Matlock afirma: “Sem razões válidas para rejeitar a reencarnação a priori, as questões de sua ocorrência devem ser resolvidas pelas evidências” (p. 271). Depois de fornecer uma revisão bastante abrangente e equilibrada da evidência empírica relacionada com a reencarnação, ele conclui: “Agora não hesito em declarar que acredito que a reencarnação é a única interpretação intelectualmente defensável dos dados” (p. 270). Ao defender a realidade da sobrevivência pós-morte pessoal, o autor coloca adequadamente a evidência fornecida pelos casos de reencarnação no contexto mais amplo de várias outras evidências empíricas sugestivas de sobrevivência, tais como EQM, aparições de crise, mediunidade e lucidez terminal. Finalmente, Matlock propõe um “modelo teórico do processo de reencarnação” (p. 271), que ele chama de “teoria processual da alma”. Com base nos dados empíricos e ideias de autores como Frederic Myers, William James e Ian Stevenson, seu modelo argumenta que “o fluxo de consciência que anima um corpo durante a vida continua na morte e persiste durante a morte, até que se torne associado a (possua) outro corpo… O fluxo de consciência é composto de estratos subliminares e supraliminares… Uma vez de posse de seu novo corpo, a mente reencarnante o personaliza adicionando efeitos comportamentais e físicos através de operações psicocinéticas em seu genoma, cérebro e fisiologia subjacente” ( pág. 259). Este modelo é proposto por razões heurísticas para estimular novas pesquisas e desenvolvimentos. Matlock também defende a persistência da consciência pessoal/individual, mas contra a existência de carma retributivo ou jurídico, corpos astrais e dualismo cartesiano. Em vez disso, ele propõe carma processual, um fluxo de consciência (um eu contínuo sem corpo astral) e um dualismo de propriedades idealista. No entanto, não consideramos convincentes os argumentos que ele apresentou contra o primeiro e em apoio ao segundo. Parece que ainda não temos base empírica para decidir, uma vez que, por exemplo, os conceitos de ego cartesiano e corpo astral também podem acomodar as evidências disponíveis.

Alguns aspectos históricos apresentados também são problemáticos. Não é correto atribuir as opiniões de Kardec sobre mediunidade a um único médium (uma afirmação baseada no controverso artigo de Aksakof baseado em uma investigação histórica pobre, ou seja, uma entrevista com apenas uma pessoa que era hostil a Kardec) (Aksakof, 1875; Moreira-Almeida, 2009).

Também não é correto afirmar que, de acordo com a “versão mais amplamente aceita da teoria quântica… a consciência… é fundamental na criação da realidade física” (p. 236). Embora existam físicos importantes que defenderam esta posição, é questionável afirmar que esta é a versão mais amplamente aceita da teoria quântica. No entanto, estes problemas estão relacionados apenas com aspectos colaterais dos propósitos principais do livro e não comprometem as suas muitas boas qualidades.

Embora o fenômeno das memórias de vidas passadas ainda seja um campo científico largamente inexplorado, e até mesmo negligenciado pela comunidade acadêmica dominante, o trabalho de Matlock reforça-o como um fenômeno atual, relevante e mundial que merece maior atenção. Além disso, como apontado por Stevenson (2000), o grande significado empírico dos casos do tipo reencarnação deve ser considerado ainda mais no que diz respeito às suas possíveis implicações no desenvolvimento da personalidade, na saúde, na aprendizagem, nos relacionamentos e nos aspectos religiosos/espirituais, mesmo naquelas pessoas que nunca reivindiquem qualquer memória de vidas passadas. Contudo, alguns desafios precisam ser superados. Existem poucos grupos de pesquisa atualmente investigando tais casos em todo o mundo, com exceções da Divisão de Estudos Perceptivos da Universidade da Virgínia (EUA), Erlendur Haraldsson do Departamento de Psicologia da Universidade da Islândia, Ohkado Masayuki da Universidade Chubu em Japão, e o Centro de Pesquisa em Espiritualidade e Saúde da Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF (Brasil). Além disso, considerando os aspectos transculturais de tais casos, a barreira linguística pode ser considerada uma grande limitação. Consequentemente, seria importante que novos investigadores fossem treinados e preparados para realizar investigações tão desafiadoras em todo o mundo. Por fim, considerando a diminuição de estudos científicos relacionados às memórias de vidas passadas após a morte de Ian Stevenson, esperamos que Sinais de Reencarnação seja uma forma importante de divulgar, chamar a atenção e estimular o interesse de uma nova geração de pesquisadores pelo  emocionante e desafiador campo científico dos fenômenos de reencarnação.


Referências 

Aksakof, A. (1875). Research on the historical origin of the reincarnation speculations of French spiritualists. The Spiritualist Newspaper, 13, 74-75. Retrieved from http://www.iapsop.com/archive/materials/ spiritualist/index.html 

Daher, J. C. Jr., Damiano, R. F., Lucchetti, A. L., Moreira-Almeida, A., & Lucchetti, G. (2017). Research on experiences related to the possibility of consciousness beyond the brain: A bibliometric analysis of global scientific output. Journal of Nervous and Mental Disease, 205, 37-47. https://doi.org/10.1097/ nmd.0000000000000625 DataFolha (2007). DataFolha: Instituto de pesquisas. Retrieved from http://media.folha.uol.com.br/datafolha/2013/05/02/religiao_03052007.pdf 

Davidson, J.R., Connor, K. M., & Lee, L.C. (2005). Beliefs in karma and reincarnation among survivors of violent trauma: A community survey. Social Psychiatry and Psychiatric Epidemiology, 40, 120-125. https:// doi.org/10.1007/s00127-005-0857-6 

Fielding H. H. (1898). The soul of a people. Macmillan. Gallup, G. (2003). The Gallup poll: Public opinion. Scholarly Resources. 

Haraldsson, E., & Matlock, J.G. (2017). I saw a light and came here: Children´s experiences of reincarnation. White Crow Books. https://doi.org/10.31275/2018/1318  

Hearn, L. (1897), Gleanings in buddha-fields: Studies of hand and soul in the far east. Houghton Mifflin. https://doi.org/10.4324/9781315788746 

Inglehart, R., Basanez, M., Diez-Medrano, J., Halman, L., & Luijkx, R. (2004). Human beliefs and values: A cross-cultural sourcebook based on the 1999-2002 values survey. Siglo Veintiuno Editores. 

Linley, P. A., & Joseph, S. (2004). Positive change following trauma and adversity: A review. Journal of Traumatic Stress, 17, 11-21. https://doi.org/10.1080/15325020490890741

Matlock, J. G. (1986). [Review of the book The Search for Yesterday, by D. S. Rogo]. Journal of the Society for Psychical Research, 53, 229-232. 

Matlock, J. G. (1993). A cross-cultural study of reincarnation ideologies and their social correlates. (Unpublished M.A. thesis), Hunter College, City University of New York. 

Moreira-Almeida, A. (2009). Aksakof’s paper on Kardec. Psypioneer, 5, 29-32. Retrieved from http://www. iapsop.com/psypioneer/psypioneer_v5_n1_jan_2009.pdf 

Numbers, R. L. (Ed.). (2009). Galileo goes to jail and other myths about science and religion. Harvard University Press. https://doi.org/10.2307/j.ctvjghtcb.3 Peres, J. F. P. (2012). Should psychotherapy consider reincarnation? Journal of Nervous and Mental Disease, 200, 174-78. https://doi.org/10.1097/nmd.0b013e3182439836 

Stauner, N., Exline, J. J., & Pargament, K. I. (2016). Religious and spiritual struggles as concerns for health and well-being. Journal of Religion and Health, 14, 48-75. https://doi.org/10.5752/p.21755841.2016v14n41p48 

Stevenson, I. (2000). The phenomenon of claimed memories of previous lives: Possible interpretations and importance. Medical Hypotheses, 54, 652-659. https://doi.org/10.1054/mehy.1999.0920


(*) Leonardo Paixão é Orador, Escritor, Pesquisador, Magnetizador, médium espírita, presidente e Fundador do Grupo Espírita Semeadores da Paz, Campos dos Goytacazes, RJ. Como escritor espírita tem dois livros editados pela Editora Virtual O Consolador (EVOC): Reflexões Doutrinárias e Novas Reflexões Doutrinárias, onde estão presentes algumas reflexões filosóficas fundamentadas nas pesquisas que realizou.

Profissionalmente é Psicanalista tendo feito sua formação pela Sociedade Brasileira de Psicanálise Integrativa - SP e a continua (porque a formação do Psicanalista não para) com participação em Seminários e Cursos dados pelas Sociedade Psicanalítica Online (SPO), pelo canal Psicanálise Descolada, aulas com Jorge Forbes, Luc Ferry, Gilles Lipovetsky  pelo Instituto de Psicanálise Lacaniana (IPLA), aula Manejo Clínico na Prática com Maria Homem  e pela Clínica Jorge Jaber - RJ, onde fez Curso de Extensão em Dependência Química. Professor em Curso Livre de Psicanálise.

É também Mestre em Teologia - FAINTE/PE; Especialista em Antropologia Teológica e da Religião - FAINTE/PE; Bacharel em Teologia - FATE/SP e FAINTE/PE; Superior Sequencial em Gestão Eclesiástica e Ministério Pastoral - FAAEC/PR; Graduando em Filosofia - FAINTE/PE; Graduando em Administração - FAAEC/PR

Teve o trabalho O Teatro e o Lúdico Fazendo Educação Ambiental apresentado no Livro de Resumos do II Congresso Acadêmico dos Institutos Superiores da Fundação de Apoio à Escola Técnica do Estado do Rio de Janeiro/ [organizadores] Solange Silva Saramão, Luciana Aparecida Rodrigues, Cláudio Luiz de Melo. Visconde do Rio Branco, MG: Suprema, 2008. p. 85

É escritor e poeta e tem deixado textos sobre os mais diversos assuntos nas mídias sociais, além de lives, igualmente sobre assuntos diversos, embasado sempre em leituras de artigos e revistas científicas, além de livros, especialmente no grupo Psicanálise, Filosofia e Afins, no Facebook

quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Transtornos Psiquiátricos e Obsessivos

 

Por Leonardo Paixão

29/02/2024

Campos dos Goytacazes, RJ

 

 

Neste texto, iremos tecer algumas reflexões sobre dois parágrafos que constam da Apresentação do livro Transtornos Psiquiátricos e Obsessivos, do Espírito Manoel Philomeno de Miranda, psicografia de Divaldo Pereira Franco.

No primeiro parágrafo observa Miranda:

 “Os avanços das doutrinas que estudam a mente e as emoções têm contribuído de maneira expressiva para decifrar problemas psiquiátricos e os de comportamento, oferecendo terapias valiosas que os diminuem ou que libertam os pacientes das aflições de angústia e de desespero que os alienam”.

(Miranda, 2017. Transtornos Psiquiátricos e Obsessivos)

 

É preciso considerar que não se tratam transtornos psiquiátricos ou mentais bem como as questões emocionais e os conflitos existenciais com o uso exclusivo de medicamentos. A Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu, em 22 de janeiro de 1998, que “saúde é um estado dinâmico de completo bem-estar físico, mental, espiritual e social, e não meramente a ausência de doença ou enfermidade”.

Houve um avanço na definição de saúde ao se inserir o espiritual, no entanto, falta o se chegar a uma compreensão de que o ser humano é um ser de tríplice aspecto, pois que ele não é uma dicotomia corpo e mente.

O Espiritismo traz a seguinte concepção, somos quando encarnados: Espírito, perispírito e corpo físico. O Espírito é o Ser, a Essência, criada pela Suprema Vontade – Deus. O perispírito é o corpo intermediário que favorecerá a ligação do Espírito, que é incorpóreo, com o corpo físico. Esse corpo intermediário será o canal de comunicação entre o Espírito e o corpo. O corpo físico é movimentado pelo Espírito através do perispírito que, recebendo, ou melhor, sendo o veículo do Espírito, leva para o corpo físico as suas impressões. As dores morais sentidas pelo Espírito em sua romagem terrena fazem, por assim dizer, abalos, traumas no perispírito e estes são somatizados, isto é, o corpo físico dá os sinais que visibilizarão o desequilíbrio do Espírito, causa primeira de toda desordem.

E o Miranda apontará no segundo parágrafo:

“(...) muitos conflitos gerados pela tecnologia e pelas comunicações virtuais, assim como pelos fatores defluentes do processo da evolução, expressando-se na hereditariedade e nas enfermidades infectocontagiosas, o número de portadores de transtornos mentais e psicológicos prossegue com estatística ampliada”.

A tecnologia trouxe excelente auxílio, diminuindo consideravelmente as distâncias para a comunicação entre os povos, no entanto, para a vida pessoal, ao passo que facilitou o acesso à informação e à comunicação, trouxe isolamento social, comportamentos padronizados, crimes cibernéticos, traições virtuais, pornografia em massa, fake News, bullying cibernético, fatores esses que tem acarretado o desencadear de depressões, ansiedades, desagregação familiar, estresse constante, suicídios, dependência de tela, desinformação, deseducação, processos de vampirismo.

O filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, no ano 2010, escreveu o livro Sociedade do Cansaço que, segundo Walmar Andrade:

“(...) é um breve ensaio sobre os efeitos provocados na mente das pessoas pelas mudanças sociais, culturais e econômicas do século 21.

Para Byung-Chul Han, uma das principais causas para a piora generalizada na saúde mental das pessoas é o excesso de positividade.

A mudança de uma sociedade disciplinar para a atual sociedade de desempenho, em que todos precisam “performar no seu máximo”, seria a principal razão para a explosão de doenças neuronais como depressão, transtorno de déficit de atenção com síndrome de hiperatividade (TDAH), transtorno de personalidade limítrofe (borderline) e Síndrome de Burnout (SB).

Enquanto na antiga sociedade disciplinar as pessoas precisavam enfrentar mais regras, sujeições e proibições, na atual sociedade de desempenho muitos profissionais tornaram-se empresários de si mesmos.

O homem depressivo é aquele animal laborans que explora a si mesmo e, quiçá deliberadamente, sem qualquer coação estranha. É agressor e vítima ao mesmo tempo”.

Byung-Chul Han, em Sociedade do Cansaço (2015)

https://walmarandrade.com.br/sociedade-do-cansaco/ - acesso em 01/01/2024

 

Podemos ver assim que Miranda ao falar sobre “conflitos gerados pela tecnologia” está plenamente de acordo com os estudos, tais o que aqui citamos, como os do filósofo sul-coreano Byung-Chul Han.

Dentre os aspectos obsessivos que podemos relacionar com os transtornos e comportamentos que são efeitos do uso indiscriminado de aparelhos tecnológicos, temos o vampirismo. Aqui abordaremos o vampirismo endógeno ou autovampirismo, já que no uso excessivo de celulares, tablets, notebooks, etc., estamos sós e ocorre em nosso cérebro os seguintes processos:

“Através do uso de telefones celulares, computadores ou televisores, as pessoas podem aprender, se divertir e interagir uns com os outros. No entanto, nem tudo nesta dinâmica de uso é positivo. Estar na frente das telas por longos períodos de tempo pode ter efeitos nocivos à saúde.

O uso da tela pode afetar os ritmos circadianos

Os ritmos circadianos do nosso corpo – mudanças físicas, mentais e comportamentais que seguem um ciclo de 24 horas e respondem principalmente à luz e à escuridão – são afetados pela exposição às telas dos aparelhos eletrônicos. 

Dados do Instituto Nacional de Ciências Médicas Gerais (Nigms, na sigla em inglês), dos Estados Unidos, indicam que a luz dos dispositivos durante a noite pode confundir os relógios biológicos. Como resultado, ela pode causar distúrbios do sono e levar a outras condições médicas crônicas, tais como obesidade, diabetes ou depressão.

Além disso, o tempo de tela pode substituir o tempo gasto com exercícios, este, sim, benéfico para o sono. A informação está publicada no artigo intitulado “Aumento do tempo de tela como causa de diminuição da saúde física, saúde psicológica e padrões de sono: uma revisão da literatura”, de 2022, publicado na revista científica médica Cureus.

As telas afetam o sistema de recompensa do cérebro

Por outro lado, o tempo de tela dessensibiliza o sistema de recompensa do cérebro, de acordo com um artigo informativo de Victoria Dunckley, psiquiatra e autora do livro “Reset Your Child's Brain” (“Redefina o Cérebro do seu Filho”, em tradução livre), publicado no site da Universidade do Estado de Nova York, nos Estados Unidos. 

Como relata o material, os jogos eletrônicos e redes sociais fazem com que algumas crianças fiquem "viciadas" nos dispositivos e liberam muita dopamina (um neurotransmissor que gera uma sensação de bem-estar). "Mas quando os caminhos de recompensa são usados em excesso, eles se tornam menos responsivos e é necessário cada vez mais estímulo para experimentar o prazer".

A exposição excessiva na tela afeta o desenvolvimento cognitivo

Passar muito tempo diante de uma tela afeta o desenvolvimento cerebral e aumenta o risco de distúrbios cognitivos, emocionais e comportamentais em adolescentes e jovens adultos. 

É o que explica o artigo “Demência digital na geração da Internet: o tempo excessivo de tela durante o desenvolvimento do cérebro aumentará o risco de doença de Alzheimer e demências relacionadas na vida adulta”, publicado no Journal of Integrative Neuroscience em 2022.

Segundo o estudo, o tempo de tela excessivo "afeta negativamente a atenção e a concentração, a aprendizagem e a memória, a regulação emocional e o funcionamento social, a saúde física, e o desenvolvimento de distúrbios mentais e de uso de substâncias".

A exposição precoce à tela aumenta o risco de Alzheimer

Um artigo publicado no Journal of Integrative Neuroscience vai pelo mesmo caminho e também adverte: "Se os circuitos neurais subjacentes às habilidades cognitivo-comportamentais essenciais para a inteligência geral e adaptabilidade durante toda a vida são subdesenvolvidos ou anormalmente desenvolvidos antes da idade adulta”, diz o documento. 

A investigação científica continua e diz que “é provável que essas mudanças persistam na idade adulta precoce e média e sejam mais vulneráveis à neurodegeneração acelerada na idade adulta tardia, o que aumentará o risco de leve comprometimento cognitivo e doença de Alzheimer precoce e demências relacionadas".

REDAÇÃO NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL

Publicado em 24 de fevereiro de 2023, 16:45 BRT

 

O Professor José Herculano Pires, filósofo, jornalista, escritor e pesquisador espírita na década de 70 tinha já a dimensão do que estímulos sensoriais e psíquicos em excesso trariam de efeitos no comportamento humano. Atentemos:

 

“Se compreendermos que o vampirismo não é mais do que exacerbação mórbida de tendências, naturais do organismo, mantidas e em equilíbrio e, portanto, em condições normais na vida rotineira, não estranharemos a expressão autovampirismo. As tendências orgânicas e psíquicas de cada criatura humana resultam de complexos processos filogenéticos espirituais e vitais que determinam a condição natural de equilíbrio entre a afetividade, a volição ou vontade, a dinâmica consciente – inconsciente, e a razão. O menor desequilíbrio em qualquer ponto de uma dessas áreas da constituição psicossomática pode desencadear processos anormais nas manifestações compulsórias do ser”. (PIRES, José Herculano. Vampirismo. São Paulo: Editora Paideia, 2011)

 

Os Transtornos de tela trazem consequências como apontam os estudiosos do assunto:

“Farias (2018), expressa em seu trabalho que há uma alienação do corpo diante do vício em telas. Aponta uma diminuição da lubrificação ocular, dores na coluna vertebral e doenças decorrentes da redução da mobilidade, o que tem contribuído para o aumento do sedentarismo. 

Manno; Rosa (2018), afirmam que os indivíduos que mantém uma relação psicótica com a internet, em sua maioria, apresentam acentuada fragilidade pessoal, tais como, baixa autoestima, dificuldade em lidar com a frustração, entre outras, e a internet surge como uma forma de evitar os medos e as ansiedades do mundo real e proporcionar prazer.

Os sintomas de que um indivíduo está acometido dessa dependência são caracterizados por ansiedade, mudanças de humor, agitação e manter-se por horas conectado, indiferente aos danos sofridos nas áreas psicológicas, social e física (TERROSO; ARGIMON, 2016)”

IN: SILVA, Braian Bruno da; LEITE, Cássia Soares; COSTA, Ederson Ribeiro. Dependência de tela - A patologia do século XXI:  uma revisão narrativa. Unisalesiano.

 

Recursos a serem usados para o auxílio a pessoas dependentes de telas:

- Psicoterapia, pois por trás da dependência, comumente há carências pessoais e baixa autoestima, mas também pode haver conflitos familiares, bullying, luto pela morte de um ente querido ou mudança de país;

- Apoio familiar, os familiares devem buscar grupos de apoio par que possam assim irem aprendendo a lidar com a situação.

No campo espírita os recursos são:

- Orientar a pessoa para desenvolver o hábito diário da prece e também se orar por ela, lembrando que “Em todos os casos de obsessão, a prece é o mais poderoso auxiliar para agir contra o Espírito obsessor” (KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo » Capítulo XXVIII - Coletânea de preces espíritas » V - Preces pelos doentes e pelos obsidiados » Pelos obsidiados, item 81). Obviamente falamos aqui da prece sincera e não das lidas e/ou decoradas cujo coração está longe.

- Tratamento por passes magnéticos. Lembrando que:

“Nos casos de obsessão grave, o obsidiado se acha como que envolvido e impregnado de um fluido pernicioso, que neutraliza a ação dos fluidos salutares e os repele. É desse fluido que importa desembaraçá-lo. Ora, um fluido mau não pode ser eliminado por outro fluido mau. Mediante ação idêntica à do médium curador nos casos de enfermidade, cumpre se elimine o fluido mau com o auxílio de um fluido melhor, que produz, de certo modo, o efeito de um reativo. Esta a ação mecânica, mas que não basta; necessário, sobretudo, é que se atue sobre o ser inteligente, ao qual importa se possa falar com autoridade, que só existe onde há superioridade moral. Quanto maior for esta, tanto maior será igualmente a autoridade”.

(KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo » Capítulo XXVIII - Coletânea de preces espíritas » V - Preces pelos doentes e pelos obsidiados » pelos obsidiados, item 81)

- Reuniões mediúnicas de desobsessão, pois, ainda que seja um processo de autovampirismo, Espíritos ociosos podem se aproximar para exacerbar o comportamento dependente. Não podemos nos esquecer de que há no Mundo dos Espíritos os jovens que desencarnaram com tal dependência e que podem estar a influenciar outros jovens que foram ou não de seu círculo de amizades virtuais.

- E fica essa advertência e orientação do Professor José Herculano Pires para quando nos dirigirmos a pessoas obsedadas por processos de vampirismo:

“(...) Mais do que estimulações morais, deve-se recorrer ao esclarecimento racional do problema. A criatura humana é sempre mais sensível às explicações lógicas do que às exortações puramente morais e geralmente piegas, desvalorizadas pela ação corrosiva da hipocrisia de pregadores que fazem o contrário do que ensinam. A vítima de vampirismo e os seus algozes necessitam de estímulo racional, pois a prática vampiresca se funda sempre nos processos sensoriais e afetivos. São sempre criaturas que alegam carência de amor, de afetividade, como crianças mimadas que passam pelos traumatismos do abandono. Por isso mesmo são também inconstantes, inseguras, fugindo ao tratamento sempre que possível”.

(PIRES, José Herculano. Vampirismo. São Paulo: Editora Paideia, 2011)

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Nos Bastidores da Obsessão - Estudo

Estudo do livro Nos Bastidores da Obsessão, do Espírito Manoel Philomeno de Miranda, psicografia de Divaldo Pereira Franco.


Examinando a Obsessão (continuação)


Nem sempre, porém, os resultados são imediatos. Para a maioria dos Espíritos, o tempo conforme se conta na Terra, tem pouca significação. Demoram-se, obstinados, com tenacidade incomparável nos propósitos a que se entregam anos a fio, sem que algo de positivo se consiga fazer, prosseguindo a tarefa insana, em muitos casos, até mesmo depois da morte... Isto porque do paciente depende a maioria dos resultados nos tratamentos da obsessão... Iniciado o programa de recuperação, deve este esforçar-se de imediato para a modificação radical do comportamento, exercitando-se na prática das virtudes cristãs, e, principalmente, moralizando-se. A moralização do enfermo deve ter caráter primário, considerando-se que, através de uma renovação íntima bem encetada, ele demonstra para o seu desafeto a eficiência das diretrizes que lhe oferecem como normativa de felicidade.

Merece considerar, neste particular, que o desgaste orgânico e psíquico do médium enfermo, mesmo depois do afastamento do Espírito malévolo, ocasiona um refazimento mais demorado, sendo necessária, às vezes, compreensivelmente, assistência médica prolongada.

 

Comentário de Leonardo Paixão:

 

A compreensão de que não se está a tratar com seres outros e sim, seres humanos, só que na condição de desencarnados, isto é, não mais habitando um corpo material, porém, permanecendo com a sua individualidade e personalidade, logo, com pensamento, memória, emoções, sentimentos, tais quais os tinham na esfera física e permanecem tendo, é que fará com que se perceba que os obsessores são seres humanos feridos em seus valores mais íntimos e que, do mesmo modo, que nós, os encarnados podemos carregar profundas mágoas a gerarem raiva e até mesmo ódios em nós, os Espíritos desencarnados que sofreram decepções as mais diversas como traições, acusações por crimes que não cometeram, abandonos quando mais precisavam de ajuda, rejeição de pessoas próximas – parentes ou amigas -, que foram lesados em seus patrimônios ou que até mesmo foram roubados e, tendo ciência da ação criminosa ou ofensiva contra eles ou não no período em que estiveram reencarnados, levam para o além as mágoas vivenciadas ou ao descobrirem toda a trama realizada contra eles agora que estão na esfera espiritual, onde nada há oculto, após a decepção vem a raiva e, é aí que se iniciam muitos processos obsessivos que facilmente se instalam até pelo fato de, a maioria dos Espíritos reencarnados na Terra, não terem uma convicção na vida além-túmulo quanto mais conhecimentos sobre o processo obsessivo. Em assim sendo, há para o Espírito desvestido agora de seu corpo físico, imensa possibilidade de acesso à mente do encarnado sugestionando-lhe pensamentos e comportamentos desequilibrados que podem e, não raro, chegam ao ponto de lhes tirar a sanidade mental.

O Espírito, conforme colocamos acima, sendo um ser humano desencarnado e tendo as potencialidades próprias como pensamento, memória, sentimentos, emoções, mantém as qualidades e defeitos que mostrava ter na Terra, logo, voltando à vida espiritual retorna à liberdade de ações que estavam antes tolhidas pela influência da matéria. Agora ele pode percorrer o espaço com a velocidade do pensamento, barreiras físicas (paredes, muros, a água, o fogo, ventanias) não são impedimentos para a sua movimentação, assim como não há mais para o Espírito as necessidades fisiológicas como sede, fome, sono – há  aqueles casos em que por um processo psicológico o Espírito acha que tem essas necessidades, são casos de Espíritos muito ligados a esfera física e outros que são hipnotizados por obsessores no Além – fica-se livre para agir o Espírito onde desejar se houver para com ele sintonia, isto é, afinidades de gostos devido ao patamar moral em que o encarnado se encontre.

O tempo já não tem para o Espírito o mesmo valor quando encarnado, porque já não mais necessita de dormir e nem de realizar as atividades próprias da vida na Terra como trabalhar, ir a compromissos em família, enfim, ter uma organização de agenda. Por isso, os Espíritos que desejam vingança, não é difícil que esperem os seus algozes reencarnarem para então darem início, seja desde criança ou em idade mais avançada à perturbação sobre o seu inimigo agora reencarnado.

Vejamos o que nos esclarece Allan Kardec a esse respeito:

 

“(...) O Espírito mau espera que o outro, a quem ele quer mal, esteja preso ao seu corpo e, assim, menos livre, para mais facilmente o atormentar, ferir nos seus interesses, ou nas suas mais caras afeições. Nesse fato reside a causa da maioria dos casos de obsessão, sobretudo dos que apresentam certa gravidade, quais os de subjugação e possessão. O obsidiado e o possesso são, pois, quase sempre vítimas de uma vingança, cujo motivo se encontra em existência anterior, e à qual o que a sofre deu lugar pelo seu proceder”. (KARDEC. Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Cap. X – Bem aventurados os que são misericordiosos, item 6)

 

E aqui surge uma pergunta muito natural: Como o Espírito obsessor encontra/reconhece o seu inimigo reencarnado? Como ele pode ter acesso a esse conhecimento? Atentemos nessas colocações do Espírito Adolfo Bezerra de Menezes:

(...) Aterrorizado ante as vinditas atrozes movidas pelos Espíritos de seus antigos amos de Lisboa, o Espírito João-José preferiu ocultar-se numa encarnação de formas femininas, esperançado de que, assim disfarçado, não pudesse ser reconhecido. Enganou-se, porém, visto que sua própria organização psíquica atraiçoou-o, modelando traços fisionômicos e anormalidades físicas idênticos aos que arrastara na época citada. Encontrou-se, de outro modo, enredado em complexos físicos oriundos da mudança de sexo, anormalidades sexuais e mentais fáceis de fornecerem, pista de reconhecimento a um obsessor...’ (PEREIRA, Yvonne A. Dramas da Obsessão. Pelo Espírito Adolfo Bezerra de Menezes. 4. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2010. p. 156)

 

Para que não fiquemos somente na literatura mediúnica, mas aprofundemos nossos estudos, já que o Espiritismo é por definição do próprio Allan Kardec “uma ciência de observação e uma doutrina filosófica” (O que é o Espiritismo. Preâmbulo), recorramos a relatos de experiências científicas que nos trazem sobre uma possível descoberta do perispírito.

“Na respeitadíssima Universidade de Kirov do Cazaquistão, em Alma-Ata, biologistas, bioquímicos e biofísicos reuniram-se em torno de um imenso microscópio eletrônico. O equipamento dos Kirlians fizera um longo trajeto. Agora estava preso àquele sofisticado e intricado instrumento eletrônico. Olhando pelo ocular do microscópio eletrônico, os cientistas viram na silenciosa descarga de alta frequência alguma coisa outrora reservada apenas aos clarividentes. Viram o "duplo" vivo de um organismo vivo em movimento.

Fizeram-se inúmeras experiências com plantas, animais e seres humanos vivos utilizando o efeito kirliano. Que era esse "duplo"? "Uma espécie de constelação elementar, semelhante ao plasma, feita de elétrons e prótons ionizados, excitados, e possivelmente de outras partículas", disseram eles. "Ao mesmo tempo, porém, o corpo energético não é apenas formado de partículas. Não é um sistema caótico. É, por si mesmo, todo um organismo unificado." Atua como unidade, dizem eles e, como unidade, emite os próprios campos eletromagnéticos e à base de campos biológicos.

Em 1968, os Drs. V. Empuxem, V. Grishchenko, N. Vorobev, N. Shouiski, N. Fedorova e F. Gibadulin anunciaram o seu descobrimento: todas as coisas vivas - plantas, animais e seres humanos – possuem não só um corpo físico, constituído de átomos e moléculas, mas também um corpo energético equivalente, a que dão o nome de "Corpo do Plasma Biológico". (75-60-198)

As implicações são tremendas:

Num trabalho científico volumoso como um livro, publicado pela Universidade do Cazaquistão, "A essência biológica do efeito de Kirlian", (Alma-Ata, 1968), eles descreveram as pesquisas levadas a efeito com o "corpo energético" vivo.

"A bioluminescência visível nas fotografias de Kirlian é causada pelo bioplasma e não pelo estado elétrico do organismo", dizem eles. Um dos traços mais característicos desse corpo energético colorido e vibrante, que existe em todas as coisas vivas, é "a sua organização espacial específica". Possui forma. No interior do corpo energético, afirmam os cientistas, os processos têm o seu próprio movimento labiríntico, absolutamente diverso do padrão de energia no corpo físico. O corpo bioplasmático também é polarizado.

"O plasma biológico do corpo energético é específico de cada organismo, de cada tecido e, possivelmente, de cada biomolécula", afiançam eles. "A especificidade determina a forma do organismo."

Nos últimos anos, inúmeros cientistas de muitos países têm pressuposto a existência de uma espécie de matriz, uma espécie de padrão organizador invisível, inerente aos seres vivos. Na União Soviética, por exemplo, o Dr. Alexandre Studitsky, do Instituto de Morfologia Animal de Moscou, picou um tecido muscular em pedacinhos e enfiou-os na ferida feita no corpo de um rato. A partir desses pedacinhos, o corpo reconstituiu um músculo inteiramente novo, como se existisse um padrão organizador”. (OSTRANDER, Sheila e SCHROEDER, Lynn. Experiências Psíquicas Além da Cortina de Ferro. Editora Pensamento. p. 350-351)

 

Por essas pesquisas podemos ver como a ciência tem tal qual o Espiritismo, revelado aspectos do ser que transcendem a organização fisiológica. E, por que não afirmamos que “a ciência está confirmando o Espiritismo”? Porque, pensamos ser essa uma afirmação que não se coaduna com o que Allan Kardec expôs:   

“Definamos primeiro o sentido da palavra revelação. Revelar, do latim revelāre, cuja raiz, vēlum, véu, significa literalmente sair de sob o véu — e, figuradamente, descobrir, dar a conhecer uma coisa secreta ou desconhecida. em sua acepção vulgar mais genérica, essa palavra se emprega a respeito de qualquer coisa ignota que é divulgada, de qualquer ideia nova que nos põe ao corrente do que não sabíamos.

Deste ponto de vista, todas as ciências que nos fazem conhecer os mistérios da natureza são revelações e pode dizer-se que há para a humanidade uma revelação incessante. A Astronomia revelou o mundo astral, que não conhecíamos; a Geologia revelou a formação da terra; a Química, a lei das afinidades; a Fisiologia, as funções do organismo etc.; Copérnico, Galileu, Newton, Laplace, Lavoisier foram reveladores”. (KARDEC, Allan. A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo. 53. ed. Brasília: FEB, 2013. Cap. I – Caráter da Revelação Espírita. p. 17, item 2)

Com essas transcrições e a nossa observação, podemos assim compreender a influência que o pensamento do Espírito exerce sobre o seu corpo antes de reencarnar, desse modo, deixando sejam sinais, manchas, traços fisionômicos, deficiências físicas, que venham a colaborar para que o seu cobrador que se encontra no Mundo dos Espíritos se recorde dele ao se lhe olhar a nova aparência. Além disso, há também o que Kardec chamou de afinidade fluídica e que possibilita a influência maior de um Espírito sobre um médium, lembrando que toda pessoa obsedada é médium, sendo que atormentado.