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terça-feira, 17 de dezembro de 2024

Nos Bastidores da Obsessão - Estudo

Examinando a Obsessão (Continuação)

Por Leonardo Paixão 



Da mesma forma que as enfermidades orgânicas se manifestam onde há carência, o campo obsessivo se desloca da mente para o departamento somático onde as imperfeições morais do pretérito deixaram marcas profundas no perispírito.

Tabagismo – O fumo, pelos danos que ocasiona ao organismo, é, por isso mesmo, perigo para o corpo e para a mente.

Hábito vicioso, facilita a interferência de mentes desencarnadas também viciadas, que se ligam em intercâmbio obsessivo simples a caminho de dolorosas desarmonias.

 

Para este estudo, façamos primeiro algumas breves observações, lembrando que, ao falarmos sobre cigarro, não estamos nos atendo apenas a uma forma e sim às várias formas de fumo como cigarros eletrônicos, cachimbos de fumo, narguilês, charutos, cigarros de palha, maconha, qualquer forma de utilização de fumo.

 

Breve História do Tabaco

A historiografia nos auxilia no entendimento de como surgem elementos como o tabaco na sociedade.

Vejamos o que resumidamente nos trazem pesquisas a respeito:

 

O hábito de fumar teve diversas significações ao longo da história. No processo de descoberta do continente americano o hábito seria um exotismo apreciado pelos curiosos europeus. Séculos mais tarde, as películas dos primeiros filmes norte-americanos colocavam um pomposo cigarrinho na boca de suas divas e galãs como sinal de seu estilo de vida sofisticado. Hoje em dia, é alvo de grandes disputas judiciais e campanhas que combatem o hábito extremamente nocivo à saúde.


No entanto, quais seriam os primeiros responsáveis por criar esse hábito que ainda atrai milhares de pessoas ao redor do mundo? De acordo com as pesquisas voltadas para o assunto, a descoberta do cigarro deve ser atribuída aos nativos que moravam no continente americano. Alguns indícios arqueológicos apontam que o consumo de cigarro já acontecia há mais de oito mil anos. Os astecas fumavam o tabaco enrolado em folhas de junco ou tubos de cana. Outros povos preferiam a velha, e ainda conhecida, casca do milho.

 

Em um vaso maia do século X, foram encontrados índicos arqueológicos com o desenho de um grupo de indígenas fumando um chumaço de folhas de tabaco enroladas a um tipo de barbante. Aproximadamente cinco séculos mais tarde, quando o navegador Cristóvão Colombo chegou à América, os europeus tomaram gosto pelos hábitos dos nativos encontrados na região das Bahamas. Na ocasião, o navegador Rodrigo de Xerxes experimentou o hábito indígena e, quando retornou à Europa, levou algumas folhas consigo.

Algumas décadas mais tarde, os europeus passaram a reinventar os modos de consumo do tabaco. Já no século XVI apareceram os primeiros charutos, que se restringiam a uma pequena parcela da população que tinha condições de pagar pela cara especiaria. Surpreendentemente, foi o próprio caráter excludente do charuto que abriu caminho para a criação do cigarro. Trabalhadores pobres de Sevilha picavam restos de charuto na rua e enrolavam em papel.

Criando esse “charuto alternativo” teríamos o estabelecimento dos primeiros cigarros de toda a História. Apesar da criatividade empregada e a funcionalidade do novo produto, passaram vários séculos para que o consumo de cigarro se tornasse bastante popular. Segundo algumas estimativas, no final do século XIX, o hábito de mascar tabaco era bem mais popular que o consumo do cigarro. Somente no final desse mesmo século, o cigarro foi popularizado quando James Bonsack criou a máquina de enrolar cigarros.

 

Durante a Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918), os soldados ganhavam carteiras de cigarro nas trincheiras de guerra. Atualmente, segundo algumas estimativas, cerca de um bilhão de pessoas fumam regularmente. A popularização do seu consumo acabou incitando vários problemas de saúde pública que hoje justificam a proibição por lei do uso do cigarro em lugares onde há grande circulação de pessoas.

https://www.historiadomundo.com.br/curiosidades/a-invecao-do-cigarro.htm

 

 

Tendo visto acima a breve história do tabaco e o quanto o seu uso recorrente no século XX, ocasionou diversos problemas de saúde pública, levando não só à proibição de se fumar em locais fechados, mas também a não se ter propagandas como se tinha no século XX, levando a se considerar que fumar era sinônimo de elegância e status social.

Antes de entrarmos na questão espiritual que tal hábito envolve, nunca será demais nos reportarmos ao que nos dizem especialistas em saúde a respeito.

Da obra de um médico e amigo que, inclusive realiza um belo trabalho de atendimento voluntário no Grupo Espírita Semeadores da Paz, Campos dos Goytacazes, RJ, trazemos as seguintes recomendações:

 

(...) Adote um estilo de vida saudável: Uma alimentação equilibrada, rica em frutas, vegetais, grãos integrais e proteínas magras, é fundamental para controlar a pressão arterial. Reduza o consumo de sal, alimentos processados, gorduras saturadas e açúcares adicionados. Além disso, pratique atividade física regularmente e evite o tabagismo e o consumo excessivo de álcool.

(...)

Evite o tabagismo: Fumar danifica os vasos sanguíneos e aumenta o risco de hipertensão e doenças cardiovasculares. Se você fuma, procure ajuda para parar e evite a exposição ao fumo passivo. (MARCELO, Paulo. Saúde ativa para terceira idade: dicas e orientações. Rio de Janeiro, RJ: Autografia, 2023. Cap. 2 – Hipertensão: Monitoramento da pressão arterial e cuidados preventivos. pp. 19 e 20)

 

E atentemos às recomendações da Organização Mundial da Saúde:

 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou nesta terça-feira (2) um conjunto de intervenções contra o tabagismo, incluindo apoio comportamental a ser oferecido por profissionais de saúde, intervenções digitais e tratamentos farmacológicos. Esta é a primeira vez que a entidade apresenta diretrizes para o tratamento contra o tabagismo.

A proposta, segundo a OMS, é ajudar mais de 750 milhões de usuários de tabaco que desejam abandonar o consumo de diversos derivados do tabaco, incluindo os tradicionais cigarros, narguilés, produtos de tabaco sem combustão, charutos, tabaco de enrolar e produtos de tabaco aquecido (HTP).

“Essas diretrizes representam um marco crucial na nossa batalha global contra esses produtos perigosos”, avaliou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus. A estimativa da entidade é que mais de 60% dos 1,25 bilhões de usuários de tabaco em todo o mundo – mais de 750 milhões de pessoas – desejam parar de fumar, mas 70% não têm acesso a serviços eficazes.

Recomendações

De acordo com a OMS, a combinação de farmacoterapia com intervenções comportamentais aumenta significativamente as taxas de sucesso no abandono do tabagismo. “Países são incentivados a fornecer esses tratamentos sem custos ou com custos reduzidos para melhorar a acessibilidade, especialmente em nações de baixa e média renda”.

Dentre as diretrizes, a entidade recomenda o uso de vareniclina, medicamento que tem a função de diminuir o desejo intenso de fumar, além de aliviar crises de abstinência (sintomas mentais e físicos que ocorrem após a interrupção ou diminuição do consumo da nicotina).

Outra recomendação é a terapia de reposição de nicotina (TRN), que pode ser feita, segundo critério clínico, utilizando goma de mascar de nicotina, pastilha de nicotina ou adesivo transdérmico de nicotina.

As diretrizes incluem ainda medicamentos como bupropiona ou cloridrato de bupropiona (antidepressivo) e citisina (fármaco à base de plantas) no tratamento contra o tabagismo.

A OMS também recomenda intervenções comportamentais, incluindo aconselhamento breve com profissionais de saúde, com tempo médio de 30 segundos a três minutos, oferecido como rotina em ambientes de cuidados em saúde, além de apoio comportamental mais intensivo por meio de aconselhamento individual, em grupo ou por telefone.

Dentre as intervenções digitais sugeridas pela entidade estão mensagens de texto, aplicativos para smartphone e programas de internet a serem utilizados como “complementos ou ferramentas de autogestão”.

https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2024-07/oms-lanca-diretrizes-ineditas-para-tratamento-contra-o-tabagismo

 

Tendo explorado até aqui as questões ligadas à saúde do corpo físico e sem que venhamos fazer uma proposta cartesiana de dicotomizar corpo/Espírito, até porque somos seres integrais: Espírito, mente, corpo, e transitamos nas mais diversas esferas da vida (espiritual, social e física) avançando para a sublimação onde um dia estaremos plenos porque vivendo junto ao Criador, tratemos agora das questões da obsessão espiritual ligadas ao tabagismo.

Como, em geral, o processo obsessivo inicia-se de modo sutil, assim também, ocorre no caso do tabagismo. No decorrer do século XX, como vimos acima, haviam muitas propagandas de cigarros unindo elementos como carros do ano e belos homens e mulheres, além de filmes os mais diversos em que os protagonistas apareciam com seus cigarros como símbolo de elegância e de status social, o que levou considerável número de pessoas a aderirem a tal prática prejudicial às suas saúdes. Entre os jovens da época, a busca por aceitação no grupo popular da escola e para serem os “descolados”, propiciou que o consumo do cigarro aumentasse entre esse grupo social. Estudando o campo da obsessão, não nos é difícil perceber que a técnica usada pelos obsessores nesses casos é a de inspirar pensamentos tanto aos colegas quanto ao indivíduo em prova tais como: “Vamos, dê só uma tragada...só um tapa”; “Ah! Que é isso?! Uma vez só não há de me fazer mal, né?” “Aquela garota (ou aquele garoto) vai ficar mais próxima (o) de mim se eu estiver na mesma vibe dele (a)”. Pegando o cigarro e experimentando a primeira vez e vindo a sensação de aceitação de um grupo de colegas ou de uma (um) garota (o) da (o) qual se gosta, está estabelecido o laço espiritual que, mais adiante, levará a consequências terríveis, caso não se afaste a pessoa desse mau hábito.

E a obsessão que leva à intensificação de uso de substâncias nocivas ao organismo não prejudica apenas ao próprio indivíduo, mas também às pessoas com quem convive, tanto assim é, que há um comportamento chamado de codependente para pessoas que convivem com pessoas com transtorno de tabagismo (CID F17) bem como para pessoas que convivem com pessoas com transtorno de uso de substâncias (CID F19). Consideramos que, muitos casos de saúde pública como é o tabagismo, são extensões da influência aterradora que Espíritos obsessores promovem entre os seres humanos, não à toa, Allan Kardec, em A Gênese, chamar ao processo obsessivo de um verdadeiro flagelo na humanidade.

O médico Nubor Orlando Facure, neurocirurgião, ex-professor titular da UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas), no seu livro O cérebro e a mente, diz que, entre as doenças espirituais compartilhadas, além da obsessão, está o vampirismo. O que seria isso? E qual a relação com o cigarro?

Diz o neurocirurgião: “O mundo espiritual é povoado por uma população numerosíssima de Espíritos. Contamos com eles como guias e protetores, mas, na maioria das vezes, nós atraímo-los pelos vícios e eles aprisionam-nos pelo prazer. Nesses desvios da conduta humana, a mente do responsável agrega em torno de si elementos fluídicos que, aos poucos, vão construindo miasmas psíquicos com extrema capacidade corrosiva do organismo que a hospeda. Nessa associação, há uma tremenda perda de energia por parte do responsável pelo vício, daí a expressão vampirismo ser muito adequada para definir essa parceria”.

Portanto, quem cultiva o hábito do fumo atrai companhias que fumam espiritualmente junto delas. Se você deseja a companhia dos bons e da saúde, evite os vícios, tanto os físicos (álcool, fumo etc.) como os morais.

 
Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo é editor da Editora EME e especialista em dependência química pela USP-SP-GREA.

https://www.oconsolador.com.br/ano11/524/ca2.html

 

 

Até aqui falamos sobre o tabaco, mas, não podemos deixar de lembrar que logo no início, deixamos claro que essas considerações, notadamente as socio-espirituais, não se resumem apenas ao cigarro em si e falam sobre as várias formas de fumo possíveis, incluindo aí a cannabis (maconha). O Dr. Ronaldo Laranjeira (Psiquiatra), em seu perfil no instagram, tem alertado com informações as mais variadas, fundamentadas em sérias pesquisas, sobre os efeitos nocivos da canabis, especialmente entre os jovens. Em post realizado no dia 29 de novembro deste ano, traz o especialista um resumo do estudo sobre cannabis e transtorno bipolar (para citarmos só um de seus posts a respeito):

 

O estudo “Exposição precoce à cannabis e incidência de transtorno bipolar: resultados de um estudo de coorte de nascimentos de 22 anos no Brasil”, buscou investigar se o uso de cannabis na adolescência está relacionado com o desenvolvimento de transtorno bipolar na vida adulta, controlando por outros fatores como histórico familiar, socioeconômico e uso de outras drogas.

Foram analisados dados de uma coorte de nascimentos no Brasil, acompanhando os participantes desde o nascimento até os 22 anos. A exposição à cannabis foi avaliada aos 18 anos, e o diagnóstico de transtorno bipolar aos 22 anos. Foram controladas diversas variáveis, como status socioeconômico, abuso físico na infância e uso de cocaína.

Resultados:

O uso de cannabis na adolescência foi inicialmente associado a um maior risco de desenvolver transtorno bipolar na vida adulta.

Ao controlar por outras variáveis, incluindo o uso de cocaína, a associação entre cannabis e transtorno bipolares tornou menos evidente.

Quando o uso de cannabis e cocaína foi analisado em conjunto, o risco de desenvolver transtorno bipolar aumentou de maneira relevante, mesmo após o ajuste para outras variáveis.

O abuso físico na infância e o sexo também influenciaram a relação entre o uso de cannabis e o desenvolvimento do transtorno bipolar.

O estudo encontrou uma associação entre o uso de cannabis na adolescência e o desenvolvimento de transtorno bipolar, mas essa asssociação é influenciada por outros fatores, como o uso de cocaína. São necessárias mais pesquisas para esclarecer essa relação complexa.

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/38378931

 

Recomendamos também este outro estudo: O uso de cannabis em jovens está associado à inflamação crônica - https://pubmed.ncbi.nlm.gov/39648682

 

Estas algumas das consequências do tabagismo e das mais variadas formas de fumo, devemos atentar, porém, que o ser humano não está isento de responsabilidade, porque a escolha está em suas mãos e já nos alertam os Espíritos Superiores a esse respeito:

 

459. Influem os Espíritos em nossos pensamentos e em nossos atos?

“Muito mais do que imaginais. Influem a tal ponto, que de ordinário são eles que vos dirigem”. (O Livro dos Espíritos – Parte 2º - Cap. IX)

 

Não há aí interferência em nosso livre-arbítrio, porque tanto os bons quanto os maus Espíritos nos inspiram, mas a decisão de agir par o bem ou para o mal é nossa e caberá a nós arcarmos com as consequências de nossas escolhas

segunda-feira, 27 de maio de 2024

Sobre o Controle Universal do Ensino dos Espíritos

 Por Leonardo Paixão (*)


Um tema que permanece mal entendido no movimento espírita brasileiro e até entre escritores espíritas é este do Controle Universal do Ensino dos Espíritos.

Buscaremos aqui trazer algumas referências para o entendimento da questão e não deixando de pensar a metodologia científica de hoje e como ela pode ser aplicada no caso.

É preciso primeiro se compreender que os Espíritos não sabem tudo. Não falaríamos isso aqui caso observássemos que os espíritas estão bem imbuídos do sentido dessa afirmação, no entanto, não é isso que percebemos nas falas de muitos que dizem, quando para elas se colocam discordâncias e/ou questionamentos: "Mas, o Espírito tal falou"; "Discordar do Espírito tal é desrespeito não só a ele, mas também ao médium".

O que falta a espíritas que assim pensam? Estudo sério e bem meditado da Doutrina Espírita. 

O que Allan Kardec disse com relação às suas observações dos Espíritos?


Um dos primeiros resultados que colhi de minhas observações foi que os Espíritos nada mais sendo do que as almas dos homens, não possuem nem a plena sabedoria, nem a ciência integral (...) Reconhecida desde o princípio, esta verdade me preservou do grave escolho de crer na infalibilidade dos Espíritos e me impediu de formular teorias prematuras, tendo por base o que fora dito por uns ou alguns deles.

O simples fato das comunicações com os Espíritos, dissessem eles o que dissessem, provava a existência do mundo invisível ambiente. Já era um ponto essencial, um imenso campo aberto às nossas explorações, a chave de inúmeros fenômenos até então inexplicados. O segundo ponto, não menos importante, era que aquela comunicação  permitia se conhecesse o estado  desse mundo, seus costumes, se assim nos podemos exprimir. Vi logo que cada Espírito, em virtude de sua posição pessoal e de seus conhecimentos, me desvendava uma face daquele mundo, do mesmo modo que se chega a conhecer o estado de um país, interrogando habitantes seus de todas as classes, não podendo um só, individualmente, informar-nos de tudo. Compete ao observador formar o conjunto, por meio dos documentos colhidos de diferentes lados, colecionados, coordenados e comparados uns com os outros. Conduzi-me, pois, com os Espíritos, como houvera feito com homens. Para mim, eles foram, do menor ao maior, meios de me informar e não reveladores predestinados - grifei (KARDEC, Allan. Obras Póstumas. 26ª ed., Brasília - DF: Federação Espírita Brasileira, 1993. p. 269)


Conforme se pode verificar nas palavras do codificador do Espiritismo, além dele não dar crédito à informação mesmo de alguns Espíritos que poderiam convergir, ele deixa claro que o trabalho de colecionar, coordenar e comparar os documentos (para os dia de hoje essas fontes são textos, gravações em áudio e/ou vídeo, atas, depoimentos) é nosso e devemos fazê-lo e, para isso, temos de nos preparar e se não nos consideramos aptos que deixemos a outros preparados esse trabalho.


Na introdução de O Evangelho segundo o Espiritismo, Allan Kardec faz uma explanação sobre o Controle Universal do Ensino dos Espíritos (CUEE - assim nos referiremos a ele a partir de agora)e este, verdadeiramente, não é fácil de ser feito, porque é preciso se ter um ambiente controlado, onde médiuns não se conheçam e estejam distantes geograficamente e perguntas feitas aos Espíritos Superiores ou outros, porém, sérios e verdadeiros (ver a Escala Espírita, n. 100 e seguintes em O Livro dos Espíritos) sejam respondidas e, depois de analisadas e convergindo e tendo lógica, se terão informações a que se pode dar crédito.

Vejamos o que disse Allan Kardec sobre o ensino dos Espíritos:

Uma só garantis séria existe para o ensino dos Espíritos: a concordância que haja entre as revelações que eles façam espontaneamente, servindo-se de grande número de médiuns estranhos uns aos outros e em vários lugares (KARDEC, 1999)

Allan Kardec fala de revelações espontâneas, mas pode-se também perguntar aos Espíritos como ele próprio o fez. Em O Livro dos Médiuns no item 266 nos orienta o codificador:


Submetendo-se todas as comunicações a um exame escrupuloso, perscrutando-se-lhes e analisando o pensamento e as expressões, como é de uso fazer-se quando se trata de julgar uma obra literária, rejeitando-se, sem hesitação, tudo o que peque contra a lógica e o bom senso, tudo o que desminta o caráter do Espírito que se supõe ser o que se está manifestando, leva-se o desânimo aos Espíritos mentirosos, que acabam por se retirar, uma vez fiquem bem convencidos de que não lograrão iludir. Repetimos: este meio é único, mas é infalível, porque não há comunicação má que resista a uma crítica rigorosa (grifei). Os bons Espíritos nunca se ofendem com esta, pois que eles próprios a aconselham e porque nada têm que temer do exame. Apenas os maus se formalizam e procuram evitá-lo, porque tudo têm a perder. Só com isso provam o que são.

Eis aqui o conselho que a tal respeito nos deu São Luís:

“Qualquer que seja a confiança legítima que vos inspirem os Espíritos que presidem aos vossos trabalhos, uma recomendação há que nunca será demais repetir e que deveríeis ter presente sempre na vossa lembrança, quando vos entregais aos vossos estudos: é a de pesar e meditar, é a de submeter ao cadinho da razão mais severa todas as comunicações que receberdes; é a de não deixardes de pedir as explicações necessárias a formardes opinião segura, desde que um ponto vos pareça suspeito, duvidoso ou obscuro.” - grifei (KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 81ª ed.- Brasília, DF: Federação Espírita Brasileira, 2020. pp. 279-280)


Não vemos tais ocorrências no movimento espírita brasileiro, pelo contrário, o que vemos é a aceitação do que ditam os Espíritos tidos por Mentores, Protetores, Guias, sem maior exame. Médiuns como Chico Xavier e Divaldo Pereira Franco tem uma moral inatacável, é fato, no entanto, o que os Espíritos por eles escreveram é a opinião, a visão deles e não a verdade inquestionável, pois como pudemos ler no que Kardec trouxe de suas observações é que cada Espírito desvenda uma parte do mundo invisível, o que, claro, não quer dizer que tudo quanto este ou aquele Espírito disser é verdade só porque ele é bom. As orientações do Espírito São Luís que trouxemos acima deixa claro a nosso necessidade de realizar o pensar crítico com relação às mensagens que trazem os Espíritos sejam estes quais sejam e venham, pelos médiuns que vierem. Há, porém, uma análise histórica sobre isso:


O protagonismo dos médiuns brasileiros


A presença do Espiritismo no Brasil foi reforçada em 1907 pela fundação do Colégio Allan Kardec, em Sacramento, Minas Gerais, por iniciativa do médium Eurípedes Barsanulfo. Dotado de múltiplas possibilidades medianímicas, Eurípedes tornou-se um ícone do Espiritismo em terras mineiras, de onde seus alunos se espalharam por várias regiões do país levando consigo suas ideias e a sua maneira particular de praticar o Espiritismo, fortemente ancorada na ação mediúnica e no uso da “corrente magnética”, uma prática derivada do “magnetismo animal” de Mesmer. Disso resultou uma enorme quantidade de instituições que adotam o seu nome e o seu modo de atuação como inspiração para as suas atividades.

Na década de 1930 o Espiritismo receberia um impulso ainda maior a partir do trabalho desenvolvido por outro médium extraordinário, o também mineiro Chico Xavier, que publicou em 1932 um livro constituído de 60 poemas cuja autoria era a atribuída a 14 poetas brasileiros e portugueses já falecidos, o Parnaso de Além Túmulo. Castro Alves, Guerra Junqueiro, Augusto dos Anjos, retornavam pelas suas mãos com a mesma poesia, seguidos depois por Humberto de Campos com a riqueza das suas crônicas, trazendo agora uma visão mais espiritual da vida, com o mesmo estilo, o mesmo vocabulário 16.

Emerge nos anos 1950 a figura de Divaldo Franco, um médium baiano com uma fala eloquente e um trabalho social expressivo junto a uma comunidade pobre na periferia da cidade de Salvador. Com sua oratória brilhante, ele leva a mensagem espírita para todo o Brasil e, gradativamente, também para o exterior, alcançando os cinco continentes e estimulando a formação de grupos inspirados no modelo brasileiro de Espiritismo.

Ao mesmo tempo em que Chico Xavier se destaca pela psicografia, Divaldo se destaca pela oratória. A FEB, que se propunha a dar continuidade ao trabalho estruturante de Allan Kardec, procura se ancorar no brilho desses expoentes, que passam a falar, cada um em seu campo, em nome do Espiritismo. Com isso o protagonismo se transfere da instituição para a figura dos médiuns. Se com Kardec, na França, o nome dos médiuns sequer era citado, aqui eles se tornaram os porta-vozes do pensamento espírita, falando diretamente ao povo.


16. Rocha, Alexandre Caroli. A Poesia Transcendente de Parnaso de Além Túmulo, pag. 15. Diss. Mestrado, Unicamp, São  Paulo/SP, 2001

(MORAES, Elias Inácio de. O Processo Mediúnico: Possibilidades e Limites na Produção do Conhecimento Espírita. – Goiânia: Aephus, 2023. p. 26)


Vemos assim, que no decorrer da história do Espiritismo no Brasil trouxe a irrestrita confiança em médiuns e Espíritos e a falta de criticidade se fez nos adeptos da Doutrina Espírita, notadamente em relação às comunicações dos Espíritos, o que deu margem a muitas mistificações e ainda dá bem como fez com que muitos médiuns não trabalhassem a questão do ego ferido quando suas comunicações são questionadas. Mas, estaria tal estado de coisas presente somente por questões históricas? A História investiga o passado para explicar o presente, mas também ela está a se fazer, a ser construída no momento atual, portanto, cabe aos dirigentes espíritas, ao nosso ver, em especial, trabalharem para que os membros dos Grupos/Casas que dirigem construam pensamento crítico. Do contrário se permanecerá na mesma e com reforço de dirigentes espíritas, ainda que tenham formação educacional em nível superior. Um exemplo encontramos aqui:


Em várias oportunidades pude notar que alguns médiuns confirmam o que outros estão vendo. Isto é para autoconfiança?

 Um dos critérios recomendados pelo grande estudioso, Kardec, é a universalidade ou pluralidade de fontes mediúnicas ´para valorizarmos uma informação (DI BERNARDI, 2011)


Esta foi a resposta dada pelo Dr, Ricardo Di Bernardi sobre dúvidas a respeito do que ele relatou de ocorrências em uma reunião de desobsessão no Instituto de Cultura Espírita de Florianópolis (ICEF). Nela está dito do critério da universalidade que Kardec expôs, no entanto, como já vimos, tal feito não é simples assim, até porque, pelos estudos da obra de Kardec, especialmente o cap. 23 - Da Obsessão, de O Livro dos Médiuns, sabemos que todo um grupo pode estar sob influência obsessiva, logo, não são os relatos de médiuns confirmando uns aos outros em uma reunião em grupo específico, a metodologia utilizada para o CUEE, pelo exposto, o que ocorreu na equipe mediúnica então presidida pelo Di Bernardi, foram confirmações de visões entre os médiuns e não o Controle Universal do Ensino dos Espíritos.


No início deste texto, colocamos que faríamos referência a metodologia científica atual. No caso da comunicação dos Espíritos, não sabemos de trabalho de revisão por pares, método esse adotado como critério para a publicação de trabalhos acadêmicos. Na revisão por pares cega simples, os autores não sabem quem são os revisores, mas estes sabem quem são os autores. Na revisão duplamente cega, nem os autores nem os revisores sabem os nomes uns dos outros.. Uma forma de (re) construirmos a criticidade no movimento espírita brasileiro, talvez, possa ser essa, em que uma comunicação mediúnica recebida seja psicograficamente, psicofonicamente (e gravada), psicopictograficamente, possa ser enviada a quem esteja apto/a a fazer tal análise sem que essa pessoa saiba o nome ou os nomes dos médiuns e da instituição em que as comunicações mediúnicas possam ter sido recebidas e que o ou os médiuns também não saibam para quem as mensagens por eles intercambiadas foram direcionadas.


Referências:

DI BERNARDI, Ricardo. Desobsessão; estudo prático. Santo André, SP: EBM Editora, 2011. p. 107

KARDEC, Allan. Obras Póstumas. 26ª ed., Brasília - DF: Federação Espírita Brasileira, 1993. p. 269

KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 116ª ed. Rio de Janeiro, RJ: Federação Espírita Brasileira, 1999. p. 31

KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 81ª ed.- Brasília, DF: Federação Espírita Brasileira, 2020. pp. 279-280

MORAES, Elias Inácio de. O Processo Mediúnico: Possibilidades e Limites na Produção do Conhecimento Espírita. – Goiânia: Aephus, 2023. p. 26



(*) Leonardo Paixão é Orador, Escritor, Pesquisador, Magnetizador, médium espírita, presidente e Fundador do Grupo Espírita Semeadores da Paz, Campos dos Goytacazes, RJ. Como escritor espírita tem dois livros editados pela Editora Virtual O Consolador (EVOC): Reflexões Doutrinárias e Novas Reflexões Doutrinárias, onde estão presentes algumas reflexões filosóficas fundamentadas nas pesquisas que realizou. Participou como conferencista do Encontro de Grupos Espíritas de Campos, RJ e Região em suas 6 edições. Escreveu artigos diversos no jornal online O Rebate. Participou de live com o escritor e pesquisador Guilherme Velho falando sobre o tema “Obsessão”. Escreve artigos para o blog gesemeadoresdapaz.blogspot.com


sábado, 11 de maio de 2024

Nos Bastidores da Obsessão - Estudo

Estudo do livro Nos Bastidores da Obsessão, do Espírito Manoel Philomeno de Miranda, psicografia de Divaldo Pereira Franco.


Examinando a Obsessão (continuação)


Quando, você escute nos recessos da mente uma ideia torturante que teima por se fixar, interrompendo o curso dos pensamentos; quando constante, imperiosa, atuante força psíquica interferindo nos processos mentais; quando verifique a vontade sendo dominada por outra vontade que parece dominar; quando experimente inquietação crescente, na intimidade mental, sem motivos reais; quando sinta o impacto do desalinho espiritual em franco desenvolvimento, acautele-se, porque você se encontra em processo imperioso e ultriz de obsessão pertinaz.

Transmissão mental de cérebro a cérebro, a obsessão é síndrome alarmante que denuncia enfermidade grave de erradicação difícil.

A princípio se manifesta como inspiração sutil, depois intempestivamente, para com o tempo fazer-se interferência da mente obsessora na mente encarnada, com vigor que alcança o clímax na possessão lamentável.

Ideia negativa que se fixa, campo mental que se enfraquece, dando ensejo a ideias negativas que virão.

 

O Miranda traz nestes parágrafos o modus operandi de como uma obsessão se inicia. E, por mais que em estudos anteriores tenhamos abordado igualmente sobre a técnica da obsessão, citando e transcrevendo trechos do cap. 13 – Pequeno Estudo sobre Técnica da Obsessão, de meu livro Novas Reflexões Doutrinárias, considero importante abordar aqui, inicialmente, os conceitos de obsessão. Para tanto irei transcrever o item 01 da 1ª Parte do livro A Obsessão: Instalação e Cura, organizado por Adilton Pugliese, deixando nossos comentários.

 

Obsessão: Conceito

1 - “Impertinência, perseguição, preocupação com determinada ideia, que domina doentiamente o espírito, e resultante ou não de sentimentos recalcados, ideia fixa, mania” (Dicionário Aurélio)

 

Comentário de Leonardo Paixão:

 

Aqui temos uma definição no campo da psicopatologia. Nesse campo, temos que “nas primeiras iniciativas de se estudar os transtornos mentais, entre 1894 e 1895, a neurose obsessiva foi isolada por Freud de outros sintomas psiquiátricos. Naquele momento, Freud compreendeu-a como um quadro psiquiátrico autônomo e independente, pertencente a família das psiconeuroses. Na época, os médicos consideravam que era uma degeneração e que o quadro era incurável”.

 

(...) atualmente, na Psicanálise, fala-se em uma estrutura mental obsessiva ou em traços obsessivos de personalidade (...)

Segundo a psiquiatra e psicanalista Suzana Grunspun, esse é um dos transtornos mais prevalentes na população e considera-se que sua variabilidade clínica e diversidade de sintomas são fatores complicadores de diagnóstico. Isso preocupa a Organização Mundial de Saúde (OMS), pois o TOC é considerado uma doença incapacitante.

(...)

No DSM V, o TOC é descrito pela presença de obsessões, compreendidas como pensamentos repetitivos e persistentes, imagens ou impulsos e/ou compulsões que são comportamentos com rituais repetitivos ou atos mentais, nos quais a pessoa se vê obrigada a fazer em resposta a uma obsessão. (Blog de Psicanálise.  São Paulo. 01 de setembro. Disponível em  https://www.sbpsp.org.br/blog/transtorno-obsessivo-compulsivo-rituais-manias-e-aprisionamento/#:~:text=coment%C3%A1rios%20e%20d%C3%BAvidas.-,Transtorno%20Obsessivo%2Dcompulsivo%3A%20rituais%2C%20manias%20e%20aprisionamento.,constante%20luta%20contra%20esses%20pensamentos. Acesso em 07/05/2024)

 


Colocamos sobre o TOC para se ver que, no campo da Medicina, da Psicanálise e da Psicologia, estuda-se e trata-se o transtorno obsessivo, dentro de uma conceituação própria. Agora iniciaremos a ver os conceitos espíritas de obsessão propostos por Allan Kardec.

 

2 – “Domínio que alguns Espíritos logram adquirir sobre certas pessoas. Nunca é praticada senão pelos Espíritos inferiores, que procuram dominar” (O Livro dos Médiuns – cap. 23/237 - 61ªed. /FEB – página 306)

 

Comentário:

As observações e estudos de Allan Kardec sobre os fenômenos mediúnicos, o levou ao estudo do complexo e delicado campo da obsessão realizado pelos Espíritos desencarnados sobre os encarnados, com isso, trazendo um novo olhar aos quadros psicopatológicos. E, no decorrer dos anos de pesquisa e observação de tal fenômeno, Kardec irá perceber características diversas e as classificará bem como ampliará seu conceito de obsessão, como veremos.

 

3 – “É a ação persistente que um Espírito mau exerce sobre um indivíduo. Apresenta caracteres muito diversos, desde a simples influência moral, sem perceptíveis sinais exteriores até a perturbação completa do organismo e das faculdades mentais” (O Evangelho segundo o Espiritismo – cap. 28/item 81 - 110ª ed./FEB – página 431)

 

Comentário:

Aqui, Allan Kardec nos traz maior desenvolvimento do conceito, diferenciando obsessão simples da que altera as faculdades mentais. Em O Livro dos Médiuns, no cap. 23 Da Obsessão, há todo um estudo sobre obsessão simples, obsessão por fascinação e obsessão por subjugação, o que nos propomos fazer aqui é uma breve análise do desenvolvimento do conceito de obsessão dado por Allan Kardec em suas mais diversas obras.

 

4 – “(...) a alma ficar na dependência de outro Espírito, de modo ase achar subjugada ou obsidiada, ao ponto de a sua vontade vir a achar-se, de certa maneira, paralisada (O Livro dos Espíritos – cap. 09/questão 474 - 76ª ed./FEB – página 250)

 

Comentário:

A definição aqui colocada é, na verdade, uma pergunta que Kardec fez aos Espíritos Superiores e ela é um desenvolvimento da questão 199 de O Livro dos Espíritos em sua 1ª edição que continha 501 perguntas. Vamos colocar aqui para comparação as perguntas e respectivas repostas das duas edições de O Livro dos Espíritos, a da primeira no ano 1857 e a da edição definitiva que foi no ano de 1860.

 

199. Haverá possessos segundo a ideia comumente associada a esta palavra?

“Não, visto que dois Espíritos não podem habitar simultaneamente o mesmo corpo. Os assim chamados eram epilépticos ou loucos, mais necessitados de médicos que de exorcismo” (O Livro dos Espíritos – Edição Histórica)  

 

474. Desde que não há possessão propriamente dita, isto é, coabitação de dois Espíritos no mesmo corpo, pode a alma ficar na dependência de outro Espírito de modo a se achar subjugada ou obsidiada ao ponto de a sua vontade vir a achar-se, de certa maneira paralisada?

“Sem dúvida e são esses os verdadeiros possessos. Mas, é preciso saibas que essa dominação não se efetua nunca sem que aquele que a sofre o consinta, quer por sua fraqueza quer por desejá-la. Muitos epilépticos ou loucos, que mais necessitam de médico que de exorcismos, têm sido tomados por possessos” (O Livro dos Espíritos – cap. 09/questão 474 - 76ª ed./FEB – página 250)

 

5 – “Domínio que os maus Espíritos assumem sobre certas pessoas, com o objetivo de as escravizar e submeter à vontade deles, pelo prazer que experimentam em fazer o mal. Quando um Espírito bom ou mau quer atuar sobre um indivíduo, envolve-o, por assim dizer, no seu perispírito, como se fora um manto” (Obras Póstumas – cap. 7/item 56 - 26ª ed./FEB – páginas 67/68)

 

Comentário:

Se o Espírito tem no perispírito uma como que vestimenta, o Espírito obsessor como que se põe como uma peça a mais da veste do Espírito, dificultando assim, quando da obsessão por subjugação e por fascinação, os movimentos corporais (subjugação física) e a clareza dos raciocínios (subjugação moral e/ou também, a fascinação), já na obsessão simples, o obsedado mantém a lucidez, no entanto, tem pensamentos fixos e imagens mentais lhes surgem, fortalecendo tais pensamentos.

Irritabilidade, episódios depressivos, tristeza, vazio existencial, desequilíbrio emocional em que há constantes mudanças de humor e reações desproporcionais a imprevistos e acontecimentos negativos do dia a dia, são sinais e sintomas do processo da obsessão simples.

 

Tendo feito esse breve estudo do desenvolvimento do conceito de obsessão em Allan Kardec e, percebendo que no campo dos estudos psiquiátricos, psicanalíticos e psicológicos sobre o TOC dizem da ideia fixa acompanhada por imagens, podendo chegar à compulsão (comportamento com rituais repetitivos ou atos mentais), não temos como deixar de  observar a semelhança do processo de instalação do TOC, estudado pelas Ciências Psicológicas e do processo de instalação da obsessão por Espíritos, estudado pelo Espiritismo.

Inicia-se com uma ideia que persiste, até que fixada, leve ao comportamento patológico.

Afirma Miranda: “Ideia negativa que se fixa, campo mental que se enfraquece, dando ensejo a ideias negativas que virão”.

Um tipo de obsessão que não podemos esquecer e que pesquisadores espíritas como o Dr. Inácio Ferreira e Carlos Bernardo Loureiro e outros estudaram e escreveram sobre é a auto-obsessão. A este respeito esclarece Carlos Bernardo Loureiro:

 

A auto-obsessão decorre de um processo de polarização mental. É a polarização mental que conduz o indivíduo a um estado de condicionamento mental, ou seja, é uma auto-sugestão. Basta uma criatura credenciar uma determinada coisa, fixando a sua atenção sobre a mesma com persistência, para condicionar o seu pensamento, levando-a ao processo auto-obsessivo.

A verdade é que, segundo o psiquiatra espírita Alberto Calvo, quando a criatura fixa o pensamento numa determinada direção, faz com que todas as coisas da sua vida, todas as atividades intelectuais, sociais, esportivas, etc., sejam conduzidas àquela direção. Esse direcionamento, pela prevalência absoluta, para uma polarização da mente, gerando um condicionamento. Todo condicionamento é uma ideia fixa, e toda ideia fixa, sem dúvida, leva a criatura à exaustão das energias biopsíquicas. Há um desgaste muito grande do fluido bio-magnético e, ao mesmo tempo, a criatura, em face da polarização mental, passa a executar atividades que envolvem determinados centros cerebrais, em muito maior intensidade do que seria adequado, para a função psicológica. (LOUREIRO, Carlos Bernardo. A Obsessão e seus Mistérios. São Paulo: Editora Mnemio Tulio, 1997. Cap. Nos Labirintos da Auto-Obsessão. p. 82)

 

Comentário:

Vemos tal fenômeno, por exemplo (há outros casos como no TOC, no TAG, no TDAH em que o fenômeno ocorre e em outras áreas como Sexo, Dependência Química), ocorrer em pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), neste caso o hiperfoco acarreta consequências prejudiciais às interações sociais e mesmo com relação a saúde da pessoa autista. O que é o hiperfoco? O hiperfoco “é um fenômeno que reflete a completa absorção de uma pessoa em uma tarefa, a um ponto em que a pessoa parece ignorar completamente ou ‘desligar-se’ de todo o resto”.

 

As conexões que se estabelecem a partir do hiperfoco dos autistas podem não ser funcionais e há o risco de provocarem o isolamento do indivíduo por um grupo.

‌Os interesses específicos – por galáxias, plantas ou dinossauros, por exemplo – podem acabar não sendo bem comunicados com os outros e sendo usados fora de contexto, diz Joana. “Então, como resultado, essas crianças acabam ficando isoladas, brincando mais sozinhas. Porque é muito difícil você abrir mão daquele seu hiperfoco em detrimento da relação com o outro”, afirma a neuropsicóloga. (Autismo e Realidade. Hiperfoco no Autismo. 18/09/2023. Disponível em: https://autismoerealidade.org.br/2023/09/18/hiperfoco-no-autismo/#:~:text=No%20caso%20do%20autismo%2C%20o,do%20indiv%C3%ADduo%20por%20um%20grupo. ) Acesso em 11/05/2024

 

Como podemos depreender, o hiperfoco no autista é um investimento libidinal de tal modo que a pessoa não se ocupa nem se preocupa com outra coisa, não é este o exato processo da auto-obsessão? Há diversos estudos sobre as características no TEA e, pensamos que os estudos espíritas sobre a polarização mental ou auto-obsessão podem auxiliar no melhor entendimento do comportamento hiperfocal.

 

E na sociedade, haveria um fenômeno auto-obsessivo coletivo? Pensamos que sim, que há essa possibilidade. Em poucas palavras, façamos uma retrospectiva de uma situação de nossa sociedade brasileira.

Desde as eleições últimas à Presidência da República no Brasil, o fenômeno da polarização política trouxe até os dias atuais (2024), o fenômeno da auto-obsessão coletiva em que, nas redes sociais, podemos observar uma multidão de pessoas a fazerem comentários sobre assuntos diversos e neles inserem sua ideologia política. Autores como Freud, por exemplo, estudaram esse fenômeno nas massas. O seu livro Psicologia das Massas traz o olhar psicanalítico sobre.

quarta-feira, 24 de abril de 2024

Sugestão Pós-Hipnótica: Uma Investigação dos Recônditos da Mente Humana e sua relação com os processos obsessivos

Leonardo Paixão (*)

 

Resumo

A sugestão pós-hipnótica (SPH), um fenômeno enigmático que transcende os limites da consciência ordinária, convida-nos a desvendar os mistérios da mente humana e explorar os mecanismos subjacentes à influência e à mudança de comportamento. Adentraremos os meandros da hipnose, observando procedimentos e estudos científicos a respeito, aplicação de sugestão pós-hipnótica em sujets e desbravando as aplicações promissoras dessa técnica em diversos campos do conhecimento e suas implicações no processo obsessivo. Para tanto, trouxemos citações de fontes diversas desde os estudos de Freud sobre hipnose e atividades inconscientes bem como os mais recentes artigos com revisões bibliográficas sobre o assunto e as diversas teorias para explicar o fenômeno SPH.

Palavras-chave: Sugestão pós-hipnótica; mente humana; hipnose; processo obsessivo.

 

Transe Hipnótico: A Porta de Entrada para a SPH

A hipnose, um estado alterado de consciência, abre as portas para um universo de possibilidades. Caracterizada por um aumento da receptividade à sugestão, a hipnose permite que indivíduos experimentem um leque de fenômenos fascinantes, como intensificação do foco, relaxamento profundo, alterações na percepção sensorial e, claro, a tão intrigante suscetibilidade à SPH.

Imagine-se em um estado de profunda calma e relaxamento, onde sua atenção se concentra unicamente na voz do hipnotizador. Nesse estado hipnótico, sua mente se torna mais receptiva a sugestões, abrindo caminho para a SPH. É como se estivesse em um palco pronto para receber e interpretar as instruções do diretor.

Segundo Lapponi (1961), há dois tipos de hipnotismo, o espontâneo e o provocado. Neste artigo nos fixaremos no segundo.

 

Quem estuda Hipnotismo distingue nele duas variedades, indicada uma com o nome de “Hipnotismo espontâneo”, e a outra com a denominação de “Hipnotismo provocado” ou “artificial”.

Naquele, os fenômenos com os quais o Hipnotismo se entrosa surgem sem causa apreciável e independentemente de quem quer que seja. No artificial, os mesmos fenômenos emergem depois de estímulo proveniente de determinada causa mais ou menos conhecida e mais ou menos dependente da vontade de alguém.

(...)

Os fenômenos objetivos e sensíveis, com os quais o Hipnotismo se revela, podem ser reduzidos a três: “Letargia”, “Catalepsia” e “Sonambulismo” ¹. Estes três fenômenos, suscitados pelo Hipnotismo, em certos casos se encontram reunidos, pois se sucedem um ao outro, formando constantemente uma série de fatos coligados entre si, e outras vezes se encontram separados na modalidade em que o estado hipnótico se revela apenas com o letargo, com a catalepsia ou com o sonambulismo (LAPPONI, José. Hipnotismo e Espiritismo. 3. ed. Brasília, DF: Federação Espírita Brasileira, 1961. Capítulo II – Os fatos próprios do Hipnotismo. pp. 55 e 56)

 

 

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1 Letargia e Catalepsia são conceitos associados à tese da emancipação da alma e que com o passar do tempo foram ganhando novos sentidos até caírem em desuso na Medicina e na Psicologia.

No espiritismo e no mesmerismo, sonambulismo magnético, artificial, provocado ou induzido seria um estado de emancipação da alma provocado pela ação que um magnetizador exerce sobre outra pessoa, por meio do fluido magnético, onde a lucidez da alma é mais desenvolvida, ou seja, ela vê as coisas com mais precisão e nitidez. Nessa condição o corpo agindo sob o impulso da vontade da alma, dá-se a subjugação corporal à alma. O esquecimento absoluto no momento do despertar seria um dos sinais característicos do verdadeiro sono mesmérico, porque a independência da alma e do corpo é mais completa do que no sonho.

 

 

Ser ou Não Ser: Desvendando os Enigmas da SPH

A SPH, qual um enigma envolto em brumas, tem sido objeto de intenso debate e investigação científica ao longo dos anos. Diversas teorias foram propostas para explicar seus mecanismos subjacentes, cada uma lançando luz sobre diferentes aspectos desse fenômeno complexo:

 

Teoria da Dissociação: Uma Mente Dividida?

Essa teoria sugere que a hipnose cria uma dissociação na mente, permitindo que a parte "hipnotizada" aceite sugestões sem interferência da mente consciente. Imagine uma mente em duas partes: um racional e crítica, a outra receptiva e aberta à sugestão. Durante a hipnose, a parte receptiva assume o controle, possibilitando a SPH.

Para um melhor entendimento dessa teoria trazemos o seguinte:

Uma representação inconsciente é, portanto, aquela que não percebemos, mas cuja existência admitimos, com base em outros indícios e evidências.

Todavia, se não dispuséssemos de outros dados além daqueles que conhecemos sobre a memória e sobre as experiências de associação que ocorrem por meio de elos inconscientes intermediários, poderíamos considerar o presente artigo como um mero trabalho descritivo ou classificatório e, aliás, assaz desinteressante. Contudo, evoquemos o conhecido experimento da “sugestão pós-hipnótica”, que nos ensina muito mais sobre nosso tema e nos mostra a necessidade de insistirmos na distinção entre consciente e inconsciente.

Nesse experimento, tal como Bernheim o realiza, uma pessoa é colocada m estado hipnótico e posteriormente despertada. Enquanto se encontra em estado hipnótico e sob a influência do médico, ela recebe a incumbência de realizar certa ação em determinado horário, por exemplo, meia hora mais tarde. Após despertar, tudo parece indicar que ela voltou à plena consciência e ao estado de espírito normal, sem guardar recordação alguma do estado hipnótico. Porém, chega o horário combinado, impõe-se à psique o impulso de executar o que antes foi ordenado, e o ato é executado conscientemente, sem que a pessoa saiba porque o faz. É praticamente impossível descrever esse fenômeno de outro modo a não ser dizendo que aquela intenção estava disponível de forma latente ou inconsciente na psique e que se tornou consciente assim que o momento determinado chegou. Mas a intenção de executar o ato não aparece na consciência em sua totalidade, só parece a representação do ato a ser executado. Todas as outras ideias associadas a essa representação – a incumbência recebida, a influência do médico, a lembrança do estado hipnótico – permanecem inconscientes.

Contudo, podemos aprender ainda mais com um experimento desse tipo. Ele nos leva de uma visão puramente descritiva para uma visão dinâmica do fenômeno. A representação psíquica da ação que havia sido ordenada não apenas se tornou, em determinado momento, objeto da consciência, como também se tornou ativa, e este é o aspecto que mais chama a atenção: tão logo a consciência percebeu sua presença, a representação foi transformada em ação. Entretanto, como aquilo que realmente impulsionou a ação foi a ordem emitida pelo médico, não temos como deixar de concluir que a própria representação psíquica da ordem também se tinha tornado ativa.

Porém, enquanto a consequência dessa ordem – ou seja, a representação da ação a ser executada – se revelou à consciência, a representação da ordem recebida não surge na consciência; permaneceu inconsciente, portanto, continuou ao mesmo tempo ativa e inconsciente (FREUD, Sigmund. Escritos sobre a Psicologia do Inconsciente. Rio de Janeiro: Imago, 2004. Alguns Comentários sobre o Conceito de Inconsciente na Psicanálise. p. 84)  

 

 

Teoria da Expectativa: Aprendizagem e Comportamento

Essa teoria propõe que a SPH é resultado das expectativas do indivíduo sobre a hipnose e sua crença na efetividade das sugestões recebidas. É como se a mente se auto programe para aceitar e responder às sugestões.

Estudos da Neuropsicopedagogia sobre sugestionabilidade nos trazem elementos para uma compreensão nova dos processos de sugestão e sugestão pós-hipnótica.

 

De que forma o cérebro processa e incorpora as sugestões – sejam elas deliberadas ou não – e a partir delas modifica a cognição e o comportamento, ainda é motivo de muita especulação, mas algumas hipóteses parecem bastante pertinentes. Uma delas diz respeito à possibilidade de que a sugestionabilidade seja um produto do aprendizado baseado na expectativa, em que pistas ambientais de qualquer natureza sejam condicionadas e integradas para modificar comportamentos (De Pascalis, Chiaradia, & Carotenuto, 2002).

O aprendizado baseado na expectativa é importante para o estabelecimento de algum grau de autonomia na regulação das necessidades vitais para um ser vivo por meio do desenvolvimento da capacidade de ajustar comportamentos a pistas ambientais, reconhecidas através deste tipo de aprendizado. A expectativa gera um estado de saliência a certos estímulos, normalmente os inéditos, para os quais a atenção é dirigida, a fim de que sejam ampliadas as condições para se aprender mais sobre eles (Shiner et al., 2015).

A capacidade de aprender deu muito mais flexibilidade comportamental aos seres vivos que, em princípio, regularam a estabilidade de seu meio interno através da homeostase, passando, então, a fazê-lo através da alostase. A diferença entre os conceitos de homeostase e alostase é que, apesar de ambos se referirem à manutenção ou à regulação do meio interno, a homeostase envolve sistemas fisiológicos de baixo nível, que têm como referência pontos fixos de regulação (por exemplo, a temperatura corporal adequada, em torno de 36º C, ou o pH do sangue, ou níveis glicêmicos fisiológicos, os quais são controlados autonomamente) e a alostase abrange mudanças proativas, coordenadas por múltiplos sistemas, cujas referências são mais individuais, justamente por se basearem no aprendizado (por exemplo, o desejo de consumir alimentos calóricos difere de pessoa para pessoa, em função de fatores que vão além do estado nutricional).

O aprendizado baseado nas expectativas fundamenta-se no reconhecimento de pistas ambientais, compreendendo estímulos ambientais inicialmente desprovidos de carga afetiva/motivacional que, por se associarem a estímulos naturalmente carregados afetiva e motivacionalmente (como alimentos, água, oportunidades de acasalamento e predadores), acabam recebendo esta carga pelos centros de processamento de recompensas e punições do cérebro (Keiflin & Janak, 2015; Ruff & Fehr, 2014). Pistas geram expectativas sobre o mundo e as coisas e têm um papel definitivo na maneira como navegamos por ele, na medida em que elas têm um caráter representacional do tipo “pista – desfecho” (Volkow, Wang, Tomasi, & Baler, 2013). Por exemplo, aprendemos que logotipos da indústria de alimentos (que funcionam como pistas) sinalizam oportunidades de saciar nossa fome (expectativa) e tal aprendizado pode até mesmo fazer com que tenhamos desejo por determinados alimentos diante da exposição àquele logotipo. Portanto, pistas como esta “dirigem” nossa cognição e motivação e, por conseguinte, moldam nosso comportamento diante de necessidades específicas. A hipnose, o efeito placebo, a sugestão e a propaganda operariam de forma semelhante, recrutando sistemas cerebrais envolvidos na formação de expectativas e representações “pista-desfecho”. Mais exemplos deste tipo de representação: “se usar aquela marca de roupas, terei mais sucesso em minha vida profissional”, “se fizer aquela dieta, perderei muito mais peso”, “se consumir o produto que aquela celebridade consome, serei como ela”.

O aprendizado baseado em expectativas explica por que o efeito placebo não se restringe a substâncias inertes, mas também a substâncias ativas, na medida em que, ao darmos um ansiolítico a alguém a quem informamos que estamos dando um ansiolítico, os efeitos ansiolíticos experimentados podem ser superiores aos sentidos por outra pessoa tomando o mesmo agente sem ter sido informada de sua composição (Parris, 2016). Em outras palavras, a expectativa da ansiólise pode ampliar sua experiência subjetiva. Assim, a sugestão a respeito do efeito de uma substância (uma pista sobre como esta substância vai agir) parece ajustar a cognição para que aquele efeito se cumpra, produzindo o fenômeno placebo. Analogamente, sugestões funcionam como pistas, gerando expectativas sobre desfechos, as quais acabam por influenciar a mente a alcançá-los.

Estudos de neuroimagem realizados com indivíduos, utilizando placebo para controle de dor, mostram redução da atividade de áreas cerebrais da matriz da dor, como a ínsula, o cíngulo anterior, o tálamo, o córtex somatossensorial e a amígdala (Fomberstein, Qadri, & Ramani, 2013). Além disso, observa-se aumento da atividade do córtex pré-frontal dorsolateral, uma região cuja atividade parece crucial para a existência do efeito placebo, já que ela mantém e atualiza as expectativas que o dirigem (Parris, 2016).

Da mesma forma, na sugestão hipnótica parece haver a criação de um estado de expectativa que acaba por moderar o desempenho cognitivo, melhorando-o ou piorando-o, na dependência do tipo de sugestão (Raz & Shapiro, 2002). Por exemplo, existem relatos de eliminação do efeito Stroop (em que existe competição cognitiva entre a leitura do nome de uma cor escrito em outra cor e a identificação da cor em que a palavra está escrita) após a sugestão hipnótica de que as palavras do teste são símbolos sem significado (Raz, Kirsch, Pollard, & NitkinKaner, 2006).

A moderação da sugestão (hipnótica ou não) sobre a cognição parece criar um estado mental altamente atento, em que pensamentos e sensações competitivos são eliminados. Este estado sobrepujaria processos executivos habituais, interferindo em processos psicológicos automáticos e inconscientes (permitindo o “desligamento” temporário do efeito Stroop, de heurísticas e até mesmo de fenômenos sinestésicos, também considerados automáticos e incontroláveis), modificando a percepção (possibilitando a percepção de cores onde elas não existem ou, ao contrário, impedindo sua percepção), criando fenômenos de passividade motora e até mesmo de dor. (KRASINSKI, Kamilla e TONELI, Hélio. Neuropsicologia da Sugestionabilidade e Tomadas de Decisão Social. Pluralidades em Saúde Mental, Curitiba, v. 7, n. 1, p. 43-62, jan./jun. 2018)

 

Teoria Neurobiológica: Desvendando os Segredos do Cérebro

Estudos recentes com neuroimagem lançam luz sobre os mecanismos neurais da SPH. Áreas do cérebro relacionadas à atenção, processamento de linguagem e controle motor se ativam durante a SPH, sugerindo que a mente se reorganiza para responder às sugestões recebidas. É como se o cérebro criasse novos circuitos para executar as instruções hipnóticas.

 

Estudos recentes sugerem que a hipnose está associada à redução da atividade da rede de modo padrão (DMN), uma rede de estado de repouso que medeia o processamento autorreferencial e o resgate de memórias episódicas (SPIEGEL et al., 2010). Essa rede foi descrita por Raichle et al. (2001) como um grupo de regiões cerebrais cujas atividades, consistentemente, diminuem durante a maioria das atividades cognitivas “demandantes”. 

Nessa mesma linha, a “hipnotizabilidade” seria o grau de resposta do indivíduo à sugestão durante a hipnose (GREEN et al., 2005), a qual seria uma característica altamente estável e mensurável (PICCIONE et al, 1989; SPIEGEL & SPIEGEL, 2004; SPIEGEL et al., 2010). A alta hipnotizabilidade estaria associada com maior conexão funcional entre a rede de saliência (SN), a qual possui um papel importante no monitoramento e modulação do sistema nervoso autônomo a partir de estímulos internos e externos, e a rede de controle executivo (ECN), a qual é fundamental para tarefas que envolvem atenção focada e memória de trabalho (SPIEGEL et al, 2010; JIANG et al., 2017).

Apesar dos diferentes marcos teóricos, parece claro que a hipnose pode gerar mudanças cognitivas e comportamentais. Algo que evidencia, com bastante consistência, a capacidade da hipnose de alterar percepções da realidade são os vários estudos científicos envolvendo hipnose e o teste stroop, um dos fenômenos mais robustos da psicofisiologia (SPIEGEL et al, 2010), em que a sugestão conseguia reduzir (ou até mesmo eliminar) os efeitos do teste (RAZ et al., 2002, 2005, 2006, 2007; LIFSHITZ et al., 2013). Outro estudo demonstrou que a hipnose poderia modificar a resposta ao efeito McGurk (uma ilusão auditiva criada ao se apresentar fluxos visuais e auditivos incongruentes), o qual, também, é tão robusto que as pessoas, normalmente, não conseguem evitar a ilusão mesmo que estejam conscientes da discrepância audiovisual (MCGURK & MACDONALD, 1976; FOX et al, 2016). Nesse caso, uma simples sugestão para aumentar a acuidade auditiva reduziu, consideravelmente, a percepção de fala ilusória e melhorou a capacidade de identificar os áudios corretos na tarefa (DÉRY et al, 2014).

O maior respaldo científico da hipnose, historicamente, é no controle da dor, onde evidências já apontaram que a hipnose poderia ser mais eficiente em modulá-la do que a própria morfina (KARGEL, 1987). Porém, muitos autores apontam que a hipnose, também, foi a primeira forma ocidental de psicoterapia (ELLENBERGER, 1970). A hipnose pode ajudar a modificar processos cognitivos, substituindo atividades mentais indesejadas (como ocorre em vários transtornos, como a depressão) por processos cognitivos mais saudáveis (YAPKO, 2013). Várias pesquisas têm fornecido evidências da eficácia da hipnose clínica como coadjuvante no tratamento da dor crônica e aguda, ansiedade e sintomas relacionados à ansiedade em doenças crônicas graves e em cuidados paliativos (ASTIN et al, 2003; VARGA & KEKECS, 2014; SATSANGI et al, 2017). (MAFRA, Lucas Xavier. Hipnose e Meditação: um comparativo de processos neurobiológicos. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2022)

 

 

Fatores que Influenciam a SPH: Uma Sinfonia de Variáveis

A suscetibilidade à SPH é como uma melodia complexa, composta por diversos instrumentos que influenciam sua intensidade. Personalidade, motivação, profundidade da hipnose e características da sugestão são alguns dos maestros dessa sinfonia:

 

Personalidade

Indivíduos com alta capacidade de absorção, imaginação vívida e abertura a novas experiências, como os artistas, tendem a ser mais suscetíveis à SPH. É como se sua mente fosse uma tela em branco, pronta para receber e dar vida às sugestões.

 

Motivação

A crença na efetividade da hipnose e a motivação para seguir as sugestões são como o vento que impulsiona o navio. Quanto maior a motivação, mais eficaz a SPH. Imagine um paciente com fobia de aranhas que, motivado a superar seu medo, se torna mais receptivo à sugestão de se aproximar de uma aranha durante a hipnose.

 

Profundidade da Hipnose

Um estado hipnótico mais profundo, como um mergulho nas profundezas do oceano, leva a uma maior suscetibilidade à SPH. É como se a mente se tornasse mais receptiva e aberta à influência.

 

Características da Sugestão: A Mensagem Perfeita

Sugestões claras, específicas, positivas e contextualizadas, como instruções precisas em um mapa, aumentam a efetividade da SPH. Quanto mais clara e bem elaborada a sugestão, maior o impacto na mente.

 

Experiências de Sugestão Pós-Hipnótica

No Grupo Espírita Semeadores da Paz, Campos dos Goytacazes, RJ, foram realizados cursos de Magnetismo em que houve a realização de experiências com sujeitos hipnotizados.

Relataremos aqui três casos de Sugestão Pós-Hipnótica (SPH).

 

Caso 1

O primeiro caso foi com a sra. T. que estava com uma forte dor de cabeça.  Após a indução hipnótica realizada pelo autor deste texto, foi sugestionado à sra. T. que assim que ela despertasse do transe hipnótico, não mais sentiria dor de cabeça. Tendo a sujet saído do transe após os processos utilizados, ela disse que não mais estava a sentir forte dor de cabeça, que havia um incômodo, mas tão leve que era como se nada houvesse. Esta experiência ocorreu no ano 2018.

Este caso diz da possibilidade do uso da hipnose para alívio de dores e profissionais da Medicina, da Odontologia, da Psicologia, da Psicanálise, utilizam quando necessário e, claro, quando habilitados a isso, a hipnose como terapia complementar aos seus métodos.

 

Caso 2

Em um dos Cursos de Magnetismo que realizamos no decorrer dos anos, levamos uma das sujets a estado de transe mais profundo e sugerimos que ela estava "possuída" por um demônio. A experiência revelou-se tão bem sucedida que quando eu pedi que pessoa participante da experiência levasse até mim um copo com água comum e quando eu aspergi um pouco dessa água sobre a pessoa em estado de hipnose e disse que era água benta, tal pessoa sentiu seu corpo queimar e quando fiz com os dedos a forma de uma cruz e lhes coloquei na testa dizendo ser um crucifixo bento, a pessoa se contorcia como a sentir fortes dores. Depois levamos a percipiente R. a um estado de relaxamento profundo e ordenamos por sugestão que ela de nada se lembrasse e, ao ser despertada, até hoje ela afirma convicta que de nada se lembra dessa experiência. Este experimento ocorreu no ano 2016.

 

Caso 3

Como nos dois casos anteriores, essa experiência foi realizada durante Curso de Magnetismo no Grupo Espírita Semeadores da Paz, Campos dos Goytacazes, RJ, na presença de mais de 10 pessoas. Há registros de presença em cadernos próprios a isso.

Após a indução hipnótica e demonstrações de que a sujet, a sra. A. estava sob o controle do hipnotizador, no caso, o autor deste texto, foi dada a sugestão de que saída do transe, a sra. A. após fazer um lanche que estava já posto à mesa, iria beber água. Assim ocorreu. Também é interessante observar a fala da sra. A. ao hipnotizador: “É normal, após a hipnose, ter pensamentos fixos como: preciso beber água, preciso beber água?”. Tais palavras da sujet nos trazem reflexões com relação à hipnose e o processo obsessivo que abordaremos após. Esta experiência ocorreu no dia 13/04/2024.

 

Sugestão Pós-Hipnótica explica ação dos Espíritos Obsessores

 Já discorremos bastante sobre SPH e teorias diversas para explicar o fenômeno. O de que aqui iremos tratar não é uma novidade, entretanto, com os estudos realizados atualmente poderemos ter ideias mais claras e nítidas de como agem os Espíritos obsessores sobre os Espíritos encarnados.

Importante deixarmos claro que aqui não estamos a fazer um estudo da existência ou não dos Espíritos, esta já está pressuposta desde o título desse artigo.

Em meu livro Novas Reflexões Doutrinárias, no capítulo 13 – Pequeno Estudo sobre Técnica da Obsessão, faço a seguinte citação:

 

Geralmente exercida tão só através da telepatia ou da sugestão mental, é bem certo que o obsessor estabelece uma oculta infiltração vibratória perniciosa, sobre o sistema nervoso do obsidiado, contaminando-lhe a mente, o perispírito, os pensamentos, até ao completo domínio das ações. (PEREIRA, Yvonne. Dramas da Obsessão. Pelo Espírito Bezerra de Menezes. 4. ed. 3. reimpressão. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2010. P. 28-29 – grifos nossos).

 

Buscando explicar as palavras do Espírito Adolfo Bezerra de Menezes, colocamos o seguinte:

 

Desses esclarecimentos do Espírito Bezerra de Menezes depreende-se o seguinte:

1 – A contaminação se dá pela impressão de ideias fixas na mente do obsidiado através de imagens mentais;

2 – Pelo perispírito: mantendo o do encarnado em seu mesmo padrão vibratório, para isso, incentivando os pensamentos licenciosos que derivam das imagens mentais, atuando especialmente através do sono, quando o encarnado, desprendido do corpo físico, é atraído para regiões onde dará vazão aos seus apetites sensuais e, em geral, também lhe são impressas palavras a título de senha que, quando acordado, ao ouvi-las ou captar as imagens (pode ser o nome de alguém ou a imagem de uma pessoa ou um objeto) lhe aflorarão os desejos... (PAIXÃO, Leonardo. Novas Reflexões Doutrinárias. Londrina, PR: EVOC, 2017. pp. 99-100)

 

Tanto o Espírito Bezerra de Menezes quanto nós, estávamos a falar de sugestão mental e também de sugestão pós-hipnótica. Apesar do que já escrevemos acima e dos casos de SPH relatados, recorramos aos estudos do Dr. Julien Ochorowicz:

 

O fenômeno que deve agora merecer nossa atenção constitui um caso especial da transmissão da vontade: uma transmissão retardada, a prazo fixo. Na realidade, não é a transmissão que é retardada, mas somente a execução da ordem comandada. É uma sugestão mental a longo prazo.

Já conhecemos bem as sugestões verbais a longo prazo. Elas são hoje coisas banais. Você ordena a um sujeito hipnotizado ou magnetizado que execute um ato qualquer depois que ele despertar: amanhã, depois de amanhã, dentro de dez horas, dentro de alguns meses. Despertado, ele não desconfiará de nada, mas na hora certa se verá obrigado a executar suas ordens, sem saber como nem por que lhe veio essa ideia. O mais frequente é que o sujeito a assimile, por assim dizer, e creia estar agindo por sua própria conta, como para confirmar a tese de Spinoza: “Nós não conhecemos as causas que determinam nossas ações”. 

O Dr. Gibert, no caso, serviu-se da sugestão mental e da sugestão verbal, obtendo resultados bastante satisfatórios.

Não é de se admirar menos, nesta categoria de fatos, já por si extraordinários, que certos sonâmbulos nos quais as transmissões de ordem diretas não funcionem sejam muito suscetíveis de ser influenciados a longo prazo.

Para explicar esse fato é preciso lembrar a distinção que fazemos de duas camadas inconscientes: uma forte, que se manifesta no sonambulismo, a outra fraca, oprimida por aquela, subtraída à nossa investigação direta, mas que pode, em momento propício, reconquistar seu direito de ação. Parece que nesta última camada as transmissões são mais fáceis, sem que nos possam dar uma prova evidente de sua existência. É o domínio das “sensações imperceptíveis” de Leibnitz. Elas não se podem manifestar imediatamente. Mas se lhes dermos o tempo necessário para minar as camadas superiores, elas vão reaparecer na superfície. (OCHOROWICZ, Julien. A Sugestão Mental. Tradução de Alberto Lyra. Edição Eletrônica. p. 151)

 

As observações do Dr. Julien Ochorowicz vêm corroborar as nossas, já que, além da leitura e de textos e de livros os mais diversos sobre a temática obsessão e escrita a respeito que também fazemos, temos a experiência de anos (quase três décadas) no tratamento de obsessões em reuniões especializadas, para além das quais acompanhamos os obsedados e observamos neles sinais e sintomas característicos de pessoa atormentada por processo obsessivo.

A ideia fixa, surgida “espontaneamente”, sem causa visível seja material ou emocional, é o primeiro sintoma que vemos se apresentar na mente da pessoa obsedada. É um processo qual o que ocorre no apaixonamento de um ser humano pelo outro, onde uma pessoa fica a pensar numa outra fixamente. No processo obsessivo pode haver o pensamento em uma outra pessoa que seja comprometida ou o obsedado sendo também comprometido, tal pensamento fixo haverá de favorecer a ação do Espírito obsessor e levar ao descarrilamento moral da pessoa má influenciada. Qual é essa ação do Espírito obsessor? É a sugestão não só de um pensamento, de uma imagem, mas a da ação que trará ao obsedado a satisfação de seu desejo.

Este é um processo lento e se faz através de sugestão pós-hipnótica, especialmente através do sono, quando o obsessor tem então a oportunidade de estar frente a frente com o obsedado e então lhe dar a ordem sugestiva que, após o despertar do encarnado, este ficará agitado, ansioso, nervoso, até a realização da ordem dada.

Recordemos aqui a fala da sra. A. que por nós foi hipnotizada e que depois de realizar o que lhe sugerimos para fazer após de desperta do estado hipnótico: “É normal, após a hipnose, ter pensamentos fixos como: preciso beber água, preciso beber água?”.

Pensamentos fixos, nervosismo, agitação, são sintomas comuns a ocorrerem após o processo de SPH. Vejamos:

 

1) No dia 8 de outubro Gibert fez uma sugestão desse gênero: sem pronunciar palavra, aproximou sua fronte da fronte da Sra. B. durante o seu sono letárgico e se concentrou durante alguns instantes, passando-lhe mentalmente uma ordem. Gibert não contou a ninguém a ordem, mas escreveu-a, colocando o papel num envelope. No dia seguinte fui à casa da Sra. B., pois sabia apenas que ela deveria cumprir a ordem entre 11 e 12 horas. Às 11:30 a mulher ficou agitadíssima, deixou a cozinha e foi até à sala onde apanhou um copo. Perguntou-me se eu a tinha chamado e eu disse que não. Ela saiu e depois voltou várias vezes. Nesse dia ela não fez mais nada, pois adormeceu pela ação a distância de Gibert. Abri o envelope e constatei que Gibert lhe havia ordenado que entre 11 e 12 horas ela oferecesse um copo d’água a cada pessoa presente em sua casa.

2) No dia 10 de outubro combinamos, Gibert e eu, fazer a seguinte sugestão: “Amanhã ao meio-dia feche as portas da casa a chave”. Escrevi a sugestão numa folha de papel e guardei. Gibert fez a sugestão como da maneira precedente, aproximando sua fronte da fronte da Sra. B. No dia seguinte, quando cheguei, ao meio dia menos um quarto, encontrei a casa fechada a chave. Foi a Sra. B. quem a fechou. Quando lhe perguntei por que, ela me respondeu:

– Eu me sentia muito fatigada e não queria que você entrasse para me adormecer.

Ela estava muito agitada, vagueava pelo jardim e eu a vi colher uma rosa e ir até à caixa de correspondência colocada perto da porta. Eram atos sem importância, mas é curioso notar que eram precisamente os atos que havíamos cogitado fazê-la cumprir na véspera. Decidimos, só depois, que ela fizesse outro, o de fechar a porta, mas o pensamento dos primeiros ocupou o espírito de Gibert e exerceu sua influência. (OCHOROWICZ, Julien. A Sugestão Mental. Tradução de Alberto Lyra. Edição Eletrônica. pp. 152-153)

 

Percebemos por essas experiências relatadas pelo Dr. Julien Ochorowicz que os sintomas apresentados pela sra. B. não diferem daqueles observados em pessoas obsedadas, em um nível de obsessão simples, onde elas não estão sem lucidez. Nos casos de obsessão simples, a pessoa obsedada está com a capacidade de discernimento do móvel de suas ações. Portanto, ela pode refletir sobre os desejos que lhe assomam à mente. Diferente dos processos de obsessão por fascinação e por subjugação, em que a vontade do obsedado é completamente tolhida pela ação obsessiva. Logo, o poder de resistência às sugestões mentais maléficas está diretamente ligado à força de vontade do Espírito encarnado em não lhes atender bem como em relação ao seu nível de moralidade. Quanto mais moralizado for o encarnado, maior resistência oporá ao Espírito malfeitor, quanto menos moralizado, menor resistência terá. Vejamos um exemplo de atuação obsessória por subjugação:

Um de nossos filhos, moço de grande inteligência e de coração bem formado, foi subitamente tomado de alienação mental.

Os mais notáveis médicos do Rio de Janeiro fizeram o diagnóstico: loucura; e como loucura o trataram sem que obtivessem o mínimo resultado.

Notávamos nós um singular fenômeno: quando o doente, passado o acesso e entrando no período lúcido, ficava calmo, manifestava perfeita consciência, memória completa e razão clara, de conversar criteriosamente sobre qualquer assunto, mesmo literário ou científico, pois que estudava Medicina, quando foi assaltado. Mais de uma vez, afirmou-nos que bem conhecia estar praticando o mal, durante os acessos, mas que era arrastado por uma força superior à sua vontade, a que em vão tentava resistir (MENEZES, Adolfo Bezerra de. A Loucura sob Novo Prisma: estudo psíquico-fisiológico. 14. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2009. p. 166)

Tal como os experimentadores da hipnose e da sugestão verbal e mental se apossam, por assim dizer, da vontade de seus sujets, também os Espíritos obsessores se apoderam da vontade de seus influenciados. Quantos crimes que vemos nos noticiários – feminicídios, infanticídios, estupros, homicídios, latrocínios, etc. – são oriundos da influência malsã desses seres invisíveis que se aproveitam do desconhecimento da realidade espiritual bem como da baixa moralidade (que pode estar oculta à sociedade) dos seres que atormentam? Não à toa deixou-nos essa advertência o Dr. Carl Wickland:

Os hábitos, os desejos e as inclinações encontram-se arraigados na alma e acompanham o indivíduo depois de sua liberação do corpo físico, até que chega o momento em que são eliminados pela vontade.

Os espíritos de muitos criminosos, de certos assassinos e daqueles que executam uma vingança ou buscam uma maneira de executá-la, permanecem indefinidamente na esfera terrestre e procuram com frequência prosseguir em suas antigas atividades, levando adiante seus projetos malignos, apossando com este objetivo dos corpos dos mortais que se mostrem sensíveis a sua influência.

Se se realizasse uma investigação, descobrir-se-ia que muitos casos de repugnantes assassinatos são obras de pessoas inocentes, que se encontram sob o domínio de espíritos desencarnados, que se apossaram completamente do assassino. (WICKLAND, Carl. Trinta anos entre os mortos. Capítulo VI – Os Espíritos e o Crime. Edição Eletrônica, sem data)

 

Conclusão

Os estudos sobre hipnose e sugestão pós-hipnótica (SPH) tem aberto um campo novo às interpretações do fenômeno, auxiliando na percepção de elementos antes não verificados – até por falta de tecnologia para tal – nos processos que, durante o chamado “transe hipnótico”, ocorrem no cérebro.

Como o fenômeno da hipnose e da SPH ainda trazem possibilidades interpretativas, apesar das pesquisas realizadas, há a necessidade de novas experiências e investigações do fenômeno. Uma revisão acadêmica abrangente da literatura e da pesquisa em hipnose é também muito necessária para que se tenha um maior desenvolvimento e impulso às pesquisas nesse campo.

Sobre o fenômeno obsessivo para a sua compreensão tanto de espíritas quanto de acadêmicos que estudam o assunto faz-se necessário uma revisita às obras de pesquisadores como Allan Kardec, Gabriel Delanne, Camille Flammarion, Gustave Geley, Albert De Rochas, Ernesto Bozzano, Friedrich Zöllner, Carl A. Wickland, Alfred Erny, Epes Sargent, Julien Ochorowicz, Alexander Aksakof, Adolfo Bezerra de Menezes, Inácio Ferreira, José Herculano Pires, Carlos Bernardo Loureiro, Hermínio Miranda e recorrer às obras dos pesquisadores atuais sobre o assunto como as obras de Paulo da Silva  Neto Sobrinho, Ricardo Di Bernardi, Astolfo Olegário de Oliveira Filho, Jorge Hessen, José Passini, Nubor Orlando Facure, Léia da Hora, Leonardo Paixão, Guilherme Velho,  Eurípedes Kühl, Ricardo Baesso de Oliveira, Humberto Vasconcelos. Citamos esses vários nomes por vermos que, em sua maioria, são desconhecidos do grande público e que possam ser consultados.

As experimentações feitas em espaços espíritas e espiritualistas precisam ser divulgadas, pois tal como aqui deixamos material para o público, se há de convir que os resultados dos experimentos feitos não só trarão ânimo para o surgimento de novos pesquisadores como trará subsídios aos estudiosos.

 

Referências:

LAPPONI, José. Hipnotismo e Espiritismo. 3. ed. Brasília, DF: Federação Espírita Brasileira, 1961. Capítulo II – Os fatos próprios do Hipnotismo. pp. 55 e 56

FREUD, Sigmund. Escritos sobre a Psicologia do Inconsciente. Rio de Janeiro: Imago, 2004. Alguns Comentários sobre o Conceito de Inconsciente na Psicanálise. p. 84

KRASINSKI, Kamilla e TONELI, Hélio. Neuropsicologia da Sugestionabilidade e Tomadas de Decisão Social. Pluralidades em Saúde Mental, Curitiba, v. 7, n. 1, p. 43-62, jan./jun. 2018

MAFRA, Lucas Xavier. Hipnose e Meditação: um comparativo de processos neurobiológicos. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2022

PEREIRA, Yvonne. Dramas da Obsessão. Pelo Espírito Bezerra de Menezes. 4. ed. 3. reimpressão. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2010. P. 28-29 – grifos nossos

PAIXÃO, Leonardo. Novas Reflexões Doutrinárias. Londrina, PR: EVOC, 2017. pp. 99-100

OCHOROWICZ, Julien. A Sugestão Mental. Tradução de Alberto Lyra. Edição Eletrônica. p. 151

OCHOROWICZ, Julien. A Sugestão Mental. Tradução de Alberto Lyra. Edição Eletrônica. pp. 152-153

MENEZES, Adolfo Bezerra de. A Loucura sob Novo Prisma: estudo psíquico-fisiológico. 14. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2009. p. 166

WICKLAND, Carl. Trinta anos entre os mortos. Capítulo VI – Os Espíritos e o Crime. Edição Eletrônica, sem data

 

(*) Leonardo Paixão é Orador, Escritor, Pesquisador, Magnetizador, médium espírita, presidente e Fundador do Grupo Espírita Semeadores da Paz, Campos dos Goytacazes, RJ. Como escritor espírita tem dois livros editados pela Editora Virtual O Consolador (EVOC): Reflexões Doutrinárias e Novas Reflexões Doutrinárias, onde estão presentes algumas reflexões filosóficas fundamentadas nas pesquisas que realizou. Participou como conferencista do Encontro de Grupos Espíritas de Campos, RJ e Região em suas 6 edições. Escreveu artigos diversos no jornal online O Rebate. Participou de live com o escritor e pesquisador Guilherme Velho falando sobre o tema “Obsessão”. Escreve artigos para o blog gesemeadoresdapaz.blogspot.com

 

Profissionalmente é Psicanalista tendo feito sua formação pela Sociedade Brasileira de Psicanálise Integrativa – SP - onde fez cursos também sobre hipnose - e a continua (porque a formação do Psicanalista não para) com participação em Seminários e Cursos dados pelas Sociedade Psicanalítica Online (SPO), pelo canal Psicanálise Descolada, aulas com Jorge Forbes, Luc Ferry, Gilles Lipovetsky  pelo Instituto de Psicanálise Lacaniana (IPLA), aula Manejo Clínico na Prática com Maria Homem  e pela Clínica Jorge Jaber - RJ, onde fez Curso de Extensão em Dependência Química. Professor em Curso Livre de Psicanálise.

 

É também Mestre em Teologia - FAINTE/PE; Especialista em Antropologia Teológica e da Religião - FAINTE/PE; Bacharel em Teologia - FATE/SP e FAINTE/PE; Superior Sequencial em Gestão Eclesiástica e Ministério Pastoral - FAAEC/PR; Graduando em Filosofia - FAINTE/PE; Graduando em Administração - FAAEC/PR

 

Teve o trabalho O Teatro e o Lúdico Fazendo Educação Ambiental apresentado no Livro de Resumos do II Congresso Acadêmico dos Institutos Superiores da Fundação de Apoio à Escola Técnica do Estado do Rio de Janeiro/ [organizadores] Solange Silva Saramão, Luciana Aparecida Rodrigues, Cláudio Luiz de Melo. Visconde do Rio Branco, MG: Suprema, 2008. p. 85

 

É escritor e poeta e tem deixado textos sobre os mais diversos assuntos nas mídias sociais, além de lives, igualmente sobre assuntos diversos, embasado sempre em leituras de artigos e revistas científicas, além de livros, especialmente no grupo Psicanálise, Filosofia e Afins, no Facebook