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quarta-feira, 13 de agosto de 2025

O Fenômeno Obsessivo à Luz do Espiritismo: Análise do Capítulo III de A Loucura sob Novo Prisma, de Bezerra de Menezes

Por Leonardo Paixão 

Resumo

O presente artigo examina o capítulo “Obsessão” da obra A Loucura sob Novo Prisma (1897), de Adolfo Bezerra de Menezes, à luz de uma perspectiva integrativa entre ciência e espiritualidade. Publicada no final do século XIX, a obra apresenta uma visão inovadora para a época ao compreender determinados quadros de sofrimento psíquico como resultantes da influência persistente de espíritos desencarnados sobre encarnados, em sintonia com os princípios codificados por Allan Kardec. Partindo de sua formação médica e de seu compromisso espírita, Bezerra propõe que a etiologia da “loucura” pode incluir fatores espirituais, fluidos e morais, demandando, portanto, uma terapêutica que una diagnóstico clínico rigoroso, renovação moral e tratamento moral do paciente e do obsessor. A análise ressalta a relevância dessa abordagem frente aos desafios da psiquiatria contemporânea, que, apesar dos avanços neurocientíficos, ainda encontra limites na explicação e no tratamento de transtornos mentais complexos.

Palavras-chave: Obsessão espiritual; Espiritismo; Bezerra de Menezes; Saúde mental integral; Transtornos mentais; Terapia espírita.


1. Introdução: um olhar além do cérebro


No final do século XIX, a medicina mental encontrava-se em pleno processo de consolidação, mas ainda carecia de instrumentos diagnósticos e terapêuticos eficazes. Internações prolongadas, contenções físicas e métodos invasivos eram práticas comuns, muitas vezes incapazes de restaurar a saúde do paciente. Nesse cenário, Adolfo Bezerra de Menezes (1831-1900) — médico respeitado, político atuante e figura proeminente do Espiritismo brasileiro — lança A Loucura sob Novo Prisma (1897), propondo uma interpretação ampliada para a origem e o tratamento das doenças mentais.

O Capítulo III, dedicado à obsessão, rompe com a visão exclusivamente organicista da época ao incluir, no campo etiológico, a influência espiritual de desencarnados sobre encarnados. Baseado nos postulados kardecistas, Bezerra descreve a obsessão como processo de dominação moral e psíquica que se estabelece por afinidade vibratória e pela ação fluídica sobre o perispírito, afetando o corpo e a mente. Ao reconhecer a dimensão espiritual do ser humano, o autor não rejeita a medicina, mas defende uma terapêutica integral que combine cuidados físicos, reforma moral e recursos espirituais, antecipando, em mais de um século, a atual perspectiva biopsicossocial — com a diferença fundamental de incluir, de forma explícita, o componente espiritual.


2. A Obsessão: conceituação espírita-científica


Bezerra de Menezes fundamenta sua análise nos postulados da Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec, particularmente em O Livro dos Médiuns e O Evangelho Segundo o Espiritismo. Ele define a obsessão não como possessão demoníaca, mas como um processo de dominação moral e psíquica exercido por um espírito desencarnado sobre um encarnado. Esta dominação se estabelece através de uma sintonia vibratória negativa, facilitada por:

- Vícios morais do obsedado: O orgulho, o egoísmo, o ódio, a mágoa, a revolta, a avareza e os vícios materiais (especialmente a dependência química em álcool, destacado por Bezerra, o que podemos ampliar para a dependência química em álcool e outras drogas) criam uma “brecha” psíquica, atraindo espíritos afins e enfraquecendo as defesas perispirituais (KARDEC, 1861; 1864).

- Fluidos e perispírito: Bezerra, como Kardec, explica a mecânica da obsessão através da ação dos fluidos espirituais. O espírito obsessor, utilizando seu próprio perispírito (corpo semimaterial), envolve ou se liga ao perispírito do encarnado, influenciando diretamente seu sistema nervoso e, consequentemente, seus pensamentos, emoções e comportamento. Essa ação fluídica pode alterar o funcionamento cerebral, simulando ou agravando patologias orgânicas.

- Graus de obsessão: O autor diferencia a obsessão simples (influência persistente e incômoda, sem perda da autonomia), a fascinação (ilusão e cegueira moral induzidas pelo obsessor, onde a vítima defende seu algoz) e a subjugação (domínio quase completo da vontade e das ações, podendo levar a atos insanos e violentos). Este último grau frequentemente se confundia clinicamente com a loucura patológica.


3. A obsessão como etiologia da “loucura”


O cerne da contribuição de Bezerra no capítulo reside em identificar a obsessão como causa real de muitos casos diagnosticados como loucura incurável ou de origem desconhecida pela medicina de seu tempo (e, em parte, ainda hoje). Ele argumenta que: A ação fluídica constante do obsessor sobre o perispírito e, por reverberação, sobre o cérebro físico, pode produzir sintomas idênticos aos de psicoses, neuroses graves, depressões profundas, epilepsias, histerias e comportamentos violentos ou anti-sociais.

Muitos tratamentos convencionais falhavam porque atacavam apenas o efeito (a disfunção cerebral ou comportamental), ignorando a causa espiritual subjacente — a influência perniciosa do espírito obsessor e a vulnerabilidade moral do paciente.

A obsessão explica casos de resistência ao tratamento, recaídas inexplicáveis e mudanças súbitas de personalidade ou comportamento, especialmente quando associadas a eventos traumáticos ou a ambientes marcados por fortes conflitos morais.


4. Diagnóstico diferencial e terapêutica integral


Bezerra de Menezes não despreza a medicina. Pelo contrário, enfatiza a necessidade do diagnóstico diferencial: o médico deve primeiro esgotar todas as possibilidades de causas orgânicas (lesões cerebrais, infecções, intoxicações, etc.). Somente quando estas são descartadas ou se mostram insuficientes para explicar o quadro, deve-se considerar seriamente a hipótese obsessiva, analisando o histórico moral do paciente, seu ambiente e a natureza específica dos sintomas.

A proposta terapêutica apresentada é integral e multidimensional:


- Tratamento médico: indispensável para cuidar do corpo físico e do sistema nervoso debilitado.

- Tratamento moral/espiritual: o núcleo da cura, incluindo:


- Renovação moral: esforço consciente para superar vícios, cultivar virtudes (humildade, perdão, caridade, amor), modificar pensamentos e atitudes, fechando as portas à sintonia com o obsessor.

- Ação sobre o obsessor: por meio de prece, diálogo fraterno mediúnico (em ambientes sérios e doutrinados) e irradiação de fluidos salutares, esclarecendo o espírito perturbador e promovendo sua reconciliação moral.

- Ambiente saudável: manutenção de um lar e círculos sociais pacíficos e moralmente equilibrados.

- Recursos fluídicos: passes magnéticos e água magnetizada para reequilibrar o perispírito e restaurar as defesas naturais.


5. Atualidade e relevância da obra


Mais de um século após sua publicação, o capítulo sobre obsessão conserva impressionante atualidade:

- Limitações da psiquiatria contemporânea: apesar dos avanços neuroquímicos e farmacológicos, a etiologia de muitos transtornos mentais graves permanece obscura, e os tratamentos frequentemente não produzem cura definitiva.

- Visão integral do ser humano: a abordagem de Bezerra antecipa a visão biopsicossocial moderna, acrescentando a dimensão espiritual como fator essencial.

- Terapêutica holística: a ênfase na reforma íntima, no ambiente saudável e no tratamento moral ressoa com abordagens contemporâneas que valorizam mudanças de estilo de vida e suporte psicossocial.

- Compreensão das relações humanas: o conceito de sintonia vibratória explica padrões relacionais destrutivos e dinâmicas repetitivas de sofrimento, com possível origem espiritual.


6. Considerações finais


O Capítulo III de A Loucura sob Novo Prisma representa uma contribuição pioneira e corajosa para o entendimento das doenças mentais. Bezerra de Menezes, com sua dupla autoridade de médico e espírita, propõe um modelo etiológico e terapêutico que integra ciência e espiritualidade de forma racional. Ao identificar a obsessão espiritual como causa relevante de transtornos psíquicos, desafia o reducionismo materialista e oferece um caminho de cura pela autotransformação moral e ação fraterna — tanto para o obsediado quanto para o obsessor.


7. Referências


BEZERRA DE MENEZES, Adolfo. A Loucura sob Novo Prisma. 14. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2009.

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 91. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008.

KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Trad. Guillon Ribeiro. 61. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2021.

KARDEC, Allan. Revista Espírita - Jornal de Estudos Psicológicos, ano 1864. São Paulo: Edicel.

PUGLIESI, Adilton. A Obsessão: Instalação e Cura.  6. ed. Salvador, BA: Livraria Espírita Alvorada Editora, 2004.


segunda-feira, 28 de julho de 2025

O Espírito em suas relações: A Loucura sob a Luz da Imortalidade

Por Leonardo Paixão


Resumo

O presente artigo analisa o capítulo II – “Do Espírito em suas relações” – da obra A Loucura sob Novo Prisma, de Adolfo Bezerra de Menezes, à luz da Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec. Buscamos demonstrar a importância da concepção espiritual do ser humano no entendimento das enfermidades mentais, rompendo com o paradigma exclusivamente materialista. A proposta de Bezerra de Menezes inaugura uma verdadeira revolução epistemológica ao inserir o Espírito como agente ativo na gênese e na terapêutica da loucura.


Introdução


A medicina do século XIX, ainda fortemente influenciada pelo materialismo científico, via a loucura como uma disfunção puramente orgânica, restrita ao sistema nervoso. Surge então, em 1898, a obra A Loucura sob Novo Prisma, em que o médico e espírita Adolfo Bezerra de Menezes apresenta uma leitura inovadora: a de que, por trás das perturbações mentais, há uma alma imortal em sofrimento. No capítulo II, intitulado “Do Espírito em suas relações”, ele delineia as formas como o Espírito interage com o mundo e consigo mesmo, trazendo à luz a dimensão ética, psíquica e espiritual das doenças mentais.


O Espírito como Ser Relacional


Bezerra de Menezes parte do princípio fundamental da Doutrina Espírita: o Espírito é o ser inteligente da criação, pré-existente ao corpo e sobrevivente à morte física. Ao tratar das “relações do Espírito”, o autor nos convida a enxergar o ser humano como um ente em constante interação com outras almas, encarnadas ou desencarnadas, e com o ambiente moral e fluídico que o cerca. Essa visão relacional rompe com o reducionismo neurológico e afirma que a sanidade – ou a loucura – está intrinsecamente ligada ao modo como o Espírito se posiciona frente à vida, ao outro e a si mesmo.

A loucura, para Bezerra, não é apenas um distúrbio do cérebro, mas um conflito da alma. Ela pode ser gerada por processos obsessivos, por desequilíbrios morais, por frustrações do desejo, por culpa inconsciente ou por traumas que não encontraram elaboração psíquica. A mente não é um produto do cérebro, mas sua expressão no campo material. O Espírito é, pois, o centro organizador da experiência mental.


Influências Espirituais e Interações Invisíveis


Uma das contribuições mais ousadas de Bezerra está na descrição das influências espirituais que agem sobre o encarnado. Ele afirma que as relações espirituais se dão em dois planos: o visível e o invisível. Espíritos afins, simpáticos ou antipáticos, se ligam a nós por laços vibratórios, potencializando tendências, ampliando conflitos ou inspirando renovação.

Essas influências, segundo a codificação kardequiana (cf. O Livro dos Médiuns, cap. XXIII), não são exceção, mas regra da vida humana. Todos estamos em constante intercâmbio com o mundo espiritual. Quando esse intercâmbio se dá de forma desequilibrada, em sintonia com entidades perturbadas ou vingativas, pode resultar em estados que a psiquiatria rotula como psicose, mania ou esquizofrenia. Bezerra, porém, propõe um olhar ampliado: nesses casos, a terapêutica precisa envolver não só o corpo, mas o Espírito, através da prece, do passe, da  transformação moral e da caridade.


A Loucura como Desarmonia do Espírito


O capítulo em questão destaca que a loucura é muitas vezes uma “desarmonia da alma” que se reflete no corpo perispiritual e, por consequência, no cérebro físico. Essa desarmonia pode ter origem em existências anteriores, como também pode ser fruto de más escolhas na atual encarnação. O Espírito, ao romper com as leis divinas que regem o bem viver, experimenta uma cisão interna que, não raro, se manifesta como sofrimento psíquico.

Bezerra antecipa, de certo modo, conceitos que viriam a ser retomados pela psicologia profunda (Psicanálise,  de Freud; Psicologia Analítica, de Carl Gustav Jung), como o inconsciente e a repressão. No entanto, sua leitura é espiritual: o inconsciente é também um acervo de experiências vividas em outras encarnações, onde culpas, dores e desejos frustrados se acumulam e podem explodir na forma de doenças mentais. O Espírito não é um mero espectador de sua loucura, mas partícipe ativo de seu drama existencial.


Terapêutica Espírita: Cuidar do Espírito para Curar a Mente


Ao compreender a loucura como um fenômeno espiritual, Bezerra propõe também um novo paradigma terapêutico. Não basta medicar o cérebro: é preciso iluminar a alma. A terapêutica espírita, nesse sentido, inclui a evangelização, a assistência espiritual, o passe magnético, a água magnetizada, mas sobretudo a escuta fraterna e o acolhimento amoroso.

Esse cuidado integral do ser humano dialoga com as propostas mais avançadas da medicina integrativa atual, mas vai além: reconhece a reencarnação como chave para a compreensão do sofrimento e vê na Lei de Causa e Efeito não um castigo, mas uma oportunidade de aprendizado e regeneração.


Considerações Finais


Bezerra de Menezes, no capítulo “Do Espírito em suas relações”, nos oferece um mapa para o entendimento profundo da loucura e da saúde mental, onde o Espírito é o protagonista de sua jornada. Seu pensamento permanece atual e necessário, em um mundo onde o sofrimento psíquico cresce e a medicalização ainda predomina.

Ao trazermos essa reflexão ao movimento espírita, ampliamos nossa responsabilidade na escuta e acolhimento dos que padecem. A caridade, ensina o Cristo, não é apenas dar o pão, mas oferecer o olhar que reconhece a alma no outro. E isso é, talvez, o primeiro passo para toda cura.


Referências

BEZERRA DE MENEZES, Adolfo. A Loucura sob Novo Prisma. 14. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2009.

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 91. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008.

KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Trad. Guillon Ribeiro. 61. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2021.

XAVIER, Francisco Cândido. Nos Domínios da Mediunidade, pelo Espírito André Luiz. 35. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2014.

FRANCO, Divaldo Pereira. Transtornos Psiquiátricos e Obsessivos, pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda. Salvador: LEAL, 2017.

terça-feira, 22 de julho de 2025

Existe no Homem um Princípio Espiritual?: Uma Reflexão à Luz da Obra A Loucura sob Novo Prisma, de Bezerra de Menezes

Por Leonardo Paixão


Introdução

A questão acerca da existência de um princípio espiritual no ser humano perpassa toda a história do pensamento ocidental. Entre o logos filosófico grego, as tradições religiosas e os avanços da ciência moderna, essa indagação se revela central para compreender a natureza humana, suas enfermidades e seu destino. Em A Loucura sob Novo Prisma, Adolfo Bezerra de Menezes oferece uma leitura ousada e profunda, que propõe uma reinterpretação da loucura sob a ótica espírita, ao mesmo tempo em que denuncia os limites do reducionismo materialista na medicina mental.


Neste artigo, com base no Capítulo I da obra, analisamos os fundamentos espirituais da consciência humana, explorando dimensões ontológicas, clínicas e doutrinárias do ser, à luz do pensamento espírita e da filosofia da mente.


I. A Ontologia do Espírito: Entre a Filosofia e a Revelação


A pergunta “existe no homem um princípio espiritual?” é, antes de tudo, uma indagação ontológica. O que é o ser humano em sua essência? Para os antigos filósofos gregos, como Platão, o corpo era apenas uma prisão temporária da alma, cuja origem transcendia o mundo sensível. Aristóteles, embora mais imanentista, reconhecia uma alma como princípio de vida e intelecção.

No pensamento moderno, René Descartes divide substancialmente o ser em duas naturezas: a res extensa (corpo) e a res cogitans (mente ou alma). A subjetividade consciente é, assim, irredutível à matéria. Ainda que tal dualismo cartesiano tenha sido criticado ao longo do tempo, a experiência direta do pensamento e da consciência aponta para algo que não se reduz à estrutura cerebral.

O Espiritismo, por sua vez, sintetiza essas tradições ao afirmar que o espírito é o princípio inteligente do ser humano, anterior e superior ao corpo físico. 

Bezerra de Menezes apoia-se nessa concepção ao afirmar que a inteligência humana não pode emergir espontaneamente da matéria. O espírito é a sede da razão, da moral e da identidade pessoal.


II. Ciência, Espiritualismo e Evidências Empíricas


Ao apresentar sua tese, Bezerra dialoga com importantes pesquisadores espiritualistas do século XIX. William Crookes, respeitado físico britânico, conduziu experimentos com médiuns sob rigorosas condições, concluindo que a inteligência manifestada nos fenômenos era de origem extrafísica. Cesare Lombroso, inicialmente cético, rendeu-se às evidências após observar manifestações mediúnicas com a médium Eusápia Paladino.

Esses relatos — longe de serem apenas anedóticos — foram documentados em periódicos científicos e constituíram um movimento real de interseção entre ciência e espiritualidade. Embora a ciência atual muitas vezes descarte tais experiências por não se adequarem aos seus paradigmas naturalistas, elas continuam a ser uma provocação epistemológica diante da complexidade da consciência.

O Espiritismo não nega a ciência, mas a amplia. Como observa Kardec, "o espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos e de suas relações com o mundo corporal".


III. Loucura, Psiquiatria e o Reducionismo Materialista


Bezerra denuncia o erro metodológico de confundir o cérebro com a mente. Embora o cérebro seja o órgão de manifestação da consciência, ele não a produz. Quando os médicos da época diagnosticavam a loucura exclusivamente como lesão cerebral, desconsideravam a possibilidade de que distúrbios psíquicos pudessem ter origem espiritual, moral ou mesmo obsessiva.

Essa crítica permanece atual. A psiquiatria contemporânea, em muitos casos, continua a tratar os transtornos mentais com base quase exclusiva em fármacos e modelos neuroquímicos, ignorando a subjetividade do paciente e sua dimensão espiritual. Isso gera, muitas vezes, um tratamento sintomático e não transformador.

A loucura, segundo Bezerra, pode advir tanto de lesões orgânicas quanto de causas espirituais. Ele distingue entre loucura por perturbação cerebral e loucura moral — esta última relacionada a paixões desenfreadas, desequilíbrios do caráter e, sobretudo, influências espirituais obsessivas.


IV. A Obsessão como Etiologia Espiritual do Sofrimento Psíquico


No contexto espírita, a obsessão é uma das causas principais de perturbações mentais. Trata-se da influência persistente de um espírito desencarnado sobre um encarnado, podendo gerar desde ideias fixas até desorganizações mais graves da consciência. Kardec define obsessão como:


"O domínio que alguns Espíritos podem adquirir sobre certas pessoas. Jamais se dá sem o concurso da vontade, seja por fraqueza moral, seja por desejo do mal." (O Livro dos Médiuns, cap. XXIII - Da Obsessão)


Bezerra compreende que muitos pacientes considerados "loucos" pela medicina materialista, na verdade, estão sob ação obsessiva. Essa influência não se trata de alucinação endógena, mas de um intercâmbio real e patológico entre o desencarnado e o encarnado, estabelecido por sintonia fluídica e moral.


V. Perispírito e Terapêutica Integral


O perispírito — corpo semimaterial que liga o espírito ao corpo físico — desempenha papel central nesse processo. As lesões e impressões perispirituais podem repercutir no corpo físico ou gerar distúrbios funcionais sem causa anatômica visível. Por isso, tratar o corpo sem tratar o espírito e seu envoltório intermediário é tratar apenas metade da doença.

Bezerra defende uma terapêutica integral, que inclui:

- Preces e passes magnéticos;

- Transformação moral e evangelização;

- Desobsessão;

- Acompanhamento médico, quando necessário;

- Apoio fraterno e escuta compassiva.


Esse modelo biopsicoespiritual é o que se poderia chamar de uma medicina da alma, capaz de restaurar não apenas o equilíbrio neuroquímico, mas o sentido da existência.


Conclusão


A existência de um princípio espiritual no homem não é apenas uma crença religiosa: é uma hipótese ontológica, filosófica e clínica com grande poder explicativo. Negar o espírito é amputar a complexidade humana, reduzindo a consciência a um epifenômeno material. Bezerra de Menezes, com lucidez e coragem, nos mostra que é possível articular ciência e espiritualidade sem dogmatismos.


Ao resgatar a dimensão espiritual do ser humano, especialmente no campo da saúde mental, abrimos caminho para um cuidado mais profundo, humano e libertador. Que essa visão mais ampla do homem — corpo, mente e espírito — inspire não apenas médicos, mas todos aqueles comprometidos com o bem-estar integral do ser.


Referências


BEZERRA DE MENEZES, Adolfo. A Loucura sob Novo Prisma. 14. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2009.


KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 91. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008


KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 2. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2013.


DESCARTES, René. Meditações Metafísicas. Ed. Martins Fontes, 2016.


LOMBROSO, Cesare. Hipnotismo e Espiritismo. Ed. Lake, 1999.


CROOKES, William. Fatos Espíritas. Ed. Lake, 1990.


FREIRE, Gabriel Delanne. O Espiritismo Perante a Ciência. Rio de Janeito Editora do Conhecimento, 2009.


MOREIRA-ALMEIDA, Alexander. Ciência e Espiritualidade. Ed. FEAL.


terça-feira, 15 de julho de 2025

A Loucura sob Novo Prisma: A Introdução da Psicopatologia Espírita em Bezerra de Menezes

Por Leonardo Paixão

Observação: a partir de hoje, Deixaremos aqui artigo semanal que estuda a série de vídeos que fizemos e continuaremos a fazer sobre o livro A Loucura sob Novo Prisma, de Adolfo Bezerra de Menezes 


Resumo:

O presente artigo busca destacar os pontos principais da introdução da obra A Loucura sob Novo Prisma, de Adolfo Bezerra de Menezes, a partir de análise interpretativa de vídeo doutrinário. A obra representa um marco na abordagem espírita da loucura, propondo uma explicação que ultrapassa os limites do cérebro e alcança o espírito. A dualidade corpo-espírito, a distinção entre loucura orgânica e obsessiva, bem como a proposta de terapêutica espiritual, são os eixos centrais analisados.


Introdução

O médico, político e expoente do Espiritismo no Brasil, Adolfo Bezerra de Menezes, legou à posteridade uma das obras mais importantes sobre a saúde mental à luz da Doutrina Espírita: A Loucura sob Novo Prisma. Trata-se de um estudo que propõe uma ampliação de horizontes na compreensão dos chamados distúrbios mentais, sugerindo que, ao lado das causas orgânicas, há causas espirituais ignoradas pela medicina materialista.

Neste artigo, com base no segundo episódio de uma série audiovisual dedicada à obra, abordaremos os principais aspectos da introdução do livro, que já delineiam a originalidade e profundidade de sua proposta.


A proposta de uma nova leitura da loucura

Desde as primeiras páginas de sua obra, Bezerra de Menezes revela seu objetivo: apresentar a loucura a partir de um novo prisma — o prisma espiritual. Recusando-se a limitar a análise aos aspectos puramente neurológicos e cerebrais, ele propõe que muitos casos de insanidade mental possuem origens no espírito imortal e não apenas em lesões físicas.

Essa proposta é coerente com a Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec, que reconhece o ser humano como composto por três elementos essenciais: corpo, perispírito e espírito. Nesse tripé, o espírito é o centro da consciência, vontade e moralidade. Assim, os desequilíbrios do espírito refletem-se no corpo — ou mesmo sem atingirem o corpo, podem se expressar em distúrbios psíquicos.


Corpo e espírito: a dualidade essencial

Um dos pilares da obra é a distinção entre corpo e espírito. Bezerra argumenta que o ser humano verdadeiro é o espírito, que utiliza o corpo físico como instrumento de manifestação no mundo. Tal visão permite considerar que certos estados de loucura não decorrem de qualquer alteração fisiológica, mas sim de desequilíbrios espirituais, às vezes agravados por processos obsessivos, isto é, pela influência de inteligências desencarnadas.

Ao propor esse entendimento, Bezerra não nega a importância dos conhecimentos médicos e científicos de sua época, mas os complementa, ampliando sua eficácia por meio de um olhar integral sobre o ser humano.


Loucura orgânica e loucura obsessiva

No vídeo analisado, eu introduzo um dos grandes méritos da obra: a classificação entre loucura orgânica e loucura obsessiva.

Loucura orgânica: tem causas materiais, como lesões, traumatismos ou alterações químicas no cérebro.

Loucura obsessiva: decorre da atuação persistente de espíritos desencarnados que influenciam negativamente o encarnado, muitas vezes sem qualquer lesão detectável.

Essa diferenciação é pioneira, pois antecipa, em certo sentido, abordagens mais modernas da psicopatologia que reconhecem fatores subjetivos e espirituais na gênese dos transtornos mentais.


A medicina da alma

O vídeo também valoriza o perfil de Bezerra de Menezes como médico, conhecedor das ciências da saúde de seu tempo, mas que, ao integrar os princípios espíritas, ousou propor uma medicina da alma.

Essa proposta, longe de negar os avanços científicos, busca complementá-los com terapêuticas espirituais, como o passe, a oração, a reforma moral e o tratamento desobsessivo, conforme as diretrizes das obras da Codificação.


Considerações finais

A introdução da obra A Loucura sob Novo Prisma já nos oferece elementos valiosos para uma verdadeira revolução no entendimento da loucura. Bezerra de Menezes abre caminho para uma psicologia e uma psiquiatria que não se limitem ao cérebro, mas incluam o espírito como centro da vida consciente e moral.

Estudos como o apresentado no vídeo analisado têm grande relevância para tornar acessíveis esses conteúdos à comunidade espírita e ao público em geral, aproximando ciência e espiritualidade em uma visão integradora do ser humano.


Referências:

BEZERRA DE MENEZES, Adolfo. A Loucura sob Novo Prisma. Rio de Janeiro: FEB, 2009.

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro: FEB, 2008.

KARDEC, Allan. A Gênese. Rio de Janeiro: FEB, 2009.

Vídeo: Episódio 2 – Estudo do livro A Loucura sob Novo Prisma, de Bezerra de Menezes. Disponível em: https://youtu.be/M0h0I9-pYxk?si=D-C_I4Ivcges1SvJ

sábado, 22 de março de 2025

Relatório e Estatísticas dos experimentos realizados em Curso de Magnetismo

 

Grupo Espírita Semeadores da Paz

Rua Dr. Luiz Carlos de Barros Viana, 56. Altos. Pq. Imperial. Campos dos Goytacazes, RJ

 

Curso de Passe Magnético (II Parte)

Data: 13/04/2024

 

 

No dia 13 de abril do ano 2024, foi realizado curso de Passe Magnético no Grupo Espírita Semeadores da Paz, coordenado pelo dirigente deste, Leonardo Paixão.

Como a Doutrina Espírita está assim definida por Allan Kardec:

 

O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática ele consiste nas relações que se estabelecem entre nós e os Espíritos; como filosofia compreende todas as consequências morais que dimanam dessas mesmas relações (Kardec, Allan. O que é o Espiritismo. Preâmbulo. 49. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2004. p. 50)

 

Em nossos cursos de Magnetismo, temos, desde o ano 2018, realizado as mais diversas experiências, tais como: magnetização de água; psicometria; magnetização de humanos; magnetização à distância; hipnose; sugestão pós-hipnótica; clarividência. Desse modo, estamos realizando o que Allan Kardec chamou em O Livro dos Médiuns de Espiritismo Experimental.

 

Trazemos aqui um relatório e dados estatísticos dos experimentos realizados no ano 2024.

 

 

Relatório e Estatísticas dos Experimentos Realizados

 

Passe a Distância 


06 pessoas no salão

04 pessoas na cabine de passe

Total de 10 participantes.

 

O orientador pediu para que as 06 pessoas que estavam no salão se concentrassem em apenas 01 pessoa específica – foi anotado o nome da pessoa em um papel e colocado também em voz baixa (inaudível) aos que estavam na sala de passe o nome da pessoa especifica a receber o passe à distância, já que o salão estava na penumbra para se possibilitar melhor concentração.

 

As 04 pessoas que estavam na sala de passe relataram as seguintes percepções ao fim do experimento, retornando e expondo sobre no salão:

 

J: Tinha alguém lá, mas não sei quem era; calor no corpo, mão aquecida até o antebraço, formigando...

 

M: Tinha a presença e eu estava desdobrado, em pé, ao lado do ventilador.

 

C: Celina e um homem e uma mulher ao lado esquerdo; ouvi passos como se um dos do salão estivesse caminhando por todos.

 

R. C: Vi Alberto e Dr. Young, deram passes em mim. Alberto em movimentos rápidos e Dr. Young em movimentos lentos e depois deram passe em M. E uma pessoa me olhou (não identificada).

 

Conclusão: difícil perceber se a C. (que foi a pessoa especificada para receber o passe à distância), realmente o percebeu.

Uma importante observação que a C. colocou depois dos relatos: “Ouvi um sopro”. E a R. (que estava no salão) disse que quando dá o passe à distância mentaliza que está a soprar. Tal sopro só a C. ouviu, os demais não, isso traz evidência da percepção de C. E B. colocou que se visualizou a andar até a sala de passe e C. relata, conforme está acima, de que ouviu passos como se uma pessoa do salão estivesse a caminhar por todos, o que é evidência de que C. teve percepção de pessoas atuando sobre ela.

 

Experiência da água magnetizada

 

Os participantes foram convidados a irem todos para a sala de passe e o orientador chamou 05 participantes para realizarem a magnetização da água.

 

- Terminada a magnetização foi pedido para que os participantes que ficaram na outra sala se apesentassem e que as águas magnetizadas (copos específicos) fossem entregues aleatoriamente aos demais participantes.

- O que foi posto na água?

R. C: gosto amargo; J: mentalizou saúde (na mão esquerda) na magnetização de J. feita com a mão direita, C. sentiu gosto doce (foram dois copos magnetizados); C: visualizou Capim Limão (a vovó magnetizou por ela).

L: primeiro sentiu suavidade e no final cica; R: visualizou/mentalizou ao magnetizar  a água, suco de uva.

M: nada sentiu. A. C. magnetizou a água, mentalizou o remédio necessário para quem fosse tomar. 

A. L.: sentiu uma coisa doce, não conseguiu distinguir o que era. P: magnetizou a água mentalizando menta e lavanda e enquanto formulava a magnetização, pensou em a pessoa sentir algo bom.

 

Estatísticas

Quanto ao experimento com o passe à distância, houve 8, 33% de acertos.

 

O cálculo é feito na seguinte base: Número de acertos/número total de tentativas x 100%, logo, como se teve 2 acertos, temos que (2/24) x 100% = 8, 33%

 

Quanto ao experimento com a água magnetizada:

(5/6) x 100% = 83, 33% de resultados.

O cálculo foi feito na seguinte base: número total de pessoas ativas (magnetizadores) com resultados/número total de pessoas ativas x 100%

 

terça-feira, 17 de dezembro de 2024

Nos Bastidores da Obsessão - Estudo

Examinando a Obsessão (Continuação)

Por Leonardo Paixão 



Da mesma forma que as enfermidades orgânicas se manifestam onde há carência, o campo obsessivo se desloca da mente para o departamento somático onde as imperfeições morais do pretérito deixaram marcas profundas no perispírito.

Tabagismo – O fumo, pelos danos que ocasiona ao organismo, é, por isso mesmo, perigo para o corpo e para a mente.

Hábito vicioso, facilita a interferência de mentes desencarnadas também viciadas, que se ligam em intercâmbio obsessivo simples a caminho de dolorosas desarmonias.

 

Para este estudo, façamos primeiro algumas breves observações, lembrando que, ao falarmos sobre cigarro, não estamos nos atendo apenas a uma forma e sim às várias formas de fumo como cigarros eletrônicos, cachimbos de fumo, narguilês, charutos, cigarros de palha, maconha, qualquer forma de utilização de fumo.

 

Breve História do Tabaco

A historiografia nos auxilia no entendimento de como surgem elementos como o tabaco na sociedade.

Vejamos o que resumidamente nos trazem pesquisas a respeito:

 

O hábito de fumar teve diversas significações ao longo da história. No processo de descoberta do continente americano o hábito seria um exotismo apreciado pelos curiosos europeus. Séculos mais tarde, as películas dos primeiros filmes norte-americanos colocavam um pomposo cigarrinho na boca de suas divas e galãs como sinal de seu estilo de vida sofisticado. Hoje em dia, é alvo de grandes disputas judiciais e campanhas que combatem o hábito extremamente nocivo à saúde.


No entanto, quais seriam os primeiros responsáveis por criar esse hábito que ainda atrai milhares de pessoas ao redor do mundo? De acordo com as pesquisas voltadas para o assunto, a descoberta do cigarro deve ser atribuída aos nativos que moravam no continente americano. Alguns indícios arqueológicos apontam que o consumo de cigarro já acontecia há mais de oito mil anos. Os astecas fumavam o tabaco enrolado em folhas de junco ou tubos de cana. Outros povos preferiam a velha, e ainda conhecida, casca do milho.

 

Em um vaso maia do século X, foram encontrados índicos arqueológicos com o desenho de um grupo de indígenas fumando um chumaço de folhas de tabaco enroladas a um tipo de barbante. Aproximadamente cinco séculos mais tarde, quando o navegador Cristóvão Colombo chegou à América, os europeus tomaram gosto pelos hábitos dos nativos encontrados na região das Bahamas. Na ocasião, o navegador Rodrigo de Xerxes experimentou o hábito indígena e, quando retornou à Europa, levou algumas folhas consigo.

Algumas décadas mais tarde, os europeus passaram a reinventar os modos de consumo do tabaco. Já no século XVI apareceram os primeiros charutos, que se restringiam a uma pequena parcela da população que tinha condições de pagar pela cara especiaria. Surpreendentemente, foi o próprio caráter excludente do charuto que abriu caminho para a criação do cigarro. Trabalhadores pobres de Sevilha picavam restos de charuto na rua e enrolavam em papel.

Criando esse “charuto alternativo” teríamos o estabelecimento dos primeiros cigarros de toda a História. Apesar da criatividade empregada e a funcionalidade do novo produto, passaram vários séculos para que o consumo de cigarro se tornasse bastante popular. Segundo algumas estimativas, no final do século XIX, o hábito de mascar tabaco era bem mais popular que o consumo do cigarro. Somente no final desse mesmo século, o cigarro foi popularizado quando James Bonsack criou a máquina de enrolar cigarros.

 

Durante a Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918), os soldados ganhavam carteiras de cigarro nas trincheiras de guerra. Atualmente, segundo algumas estimativas, cerca de um bilhão de pessoas fumam regularmente. A popularização do seu consumo acabou incitando vários problemas de saúde pública que hoje justificam a proibição por lei do uso do cigarro em lugares onde há grande circulação de pessoas.

https://www.historiadomundo.com.br/curiosidades/a-invecao-do-cigarro.htm

 

 

Tendo visto acima a breve história do tabaco e o quanto o seu uso recorrente no século XX, ocasionou diversos problemas de saúde pública, levando não só à proibição de se fumar em locais fechados, mas também a não se ter propagandas como se tinha no século XX, levando a se considerar que fumar era sinônimo de elegância e status social.

Antes de entrarmos na questão espiritual que tal hábito envolve, nunca será demais nos reportarmos ao que nos dizem especialistas em saúde a respeito.

Da obra de um médico e amigo que, inclusive realiza um belo trabalho de atendimento voluntário no Grupo Espírita Semeadores da Paz, Campos dos Goytacazes, RJ, trazemos as seguintes recomendações:

 

(...) Adote um estilo de vida saudável: Uma alimentação equilibrada, rica em frutas, vegetais, grãos integrais e proteínas magras, é fundamental para controlar a pressão arterial. Reduza o consumo de sal, alimentos processados, gorduras saturadas e açúcares adicionados. Além disso, pratique atividade física regularmente e evite o tabagismo e o consumo excessivo de álcool.

(...)

Evite o tabagismo: Fumar danifica os vasos sanguíneos e aumenta o risco de hipertensão e doenças cardiovasculares. Se você fuma, procure ajuda para parar e evite a exposição ao fumo passivo. (MARCELO, Paulo. Saúde ativa para terceira idade: dicas e orientações. Rio de Janeiro, RJ: Autografia, 2023. Cap. 2 – Hipertensão: Monitoramento da pressão arterial e cuidados preventivos. pp. 19 e 20)

 

E atentemos às recomendações da Organização Mundial da Saúde:

 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou nesta terça-feira (2) um conjunto de intervenções contra o tabagismo, incluindo apoio comportamental a ser oferecido por profissionais de saúde, intervenções digitais e tratamentos farmacológicos. Esta é a primeira vez que a entidade apresenta diretrizes para o tratamento contra o tabagismo.

A proposta, segundo a OMS, é ajudar mais de 750 milhões de usuários de tabaco que desejam abandonar o consumo de diversos derivados do tabaco, incluindo os tradicionais cigarros, narguilés, produtos de tabaco sem combustão, charutos, tabaco de enrolar e produtos de tabaco aquecido (HTP).

“Essas diretrizes representam um marco crucial na nossa batalha global contra esses produtos perigosos”, avaliou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus. A estimativa da entidade é que mais de 60% dos 1,25 bilhões de usuários de tabaco em todo o mundo – mais de 750 milhões de pessoas – desejam parar de fumar, mas 70% não têm acesso a serviços eficazes.

Recomendações

De acordo com a OMS, a combinação de farmacoterapia com intervenções comportamentais aumenta significativamente as taxas de sucesso no abandono do tabagismo. “Países são incentivados a fornecer esses tratamentos sem custos ou com custos reduzidos para melhorar a acessibilidade, especialmente em nações de baixa e média renda”.

Dentre as diretrizes, a entidade recomenda o uso de vareniclina, medicamento que tem a função de diminuir o desejo intenso de fumar, além de aliviar crises de abstinência (sintomas mentais e físicos que ocorrem após a interrupção ou diminuição do consumo da nicotina).

Outra recomendação é a terapia de reposição de nicotina (TRN), que pode ser feita, segundo critério clínico, utilizando goma de mascar de nicotina, pastilha de nicotina ou adesivo transdérmico de nicotina.

As diretrizes incluem ainda medicamentos como bupropiona ou cloridrato de bupropiona (antidepressivo) e citisina (fármaco à base de plantas) no tratamento contra o tabagismo.

A OMS também recomenda intervenções comportamentais, incluindo aconselhamento breve com profissionais de saúde, com tempo médio de 30 segundos a três minutos, oferecido como rotina em ambientes de cuidados em saúde, além de apoio comportamental mais intensivo por meio de aconselhamento individual, em grupo ou por telefone.

Dentre as intervenções digitais sugeridas pela entidade estão mensagens de texto, aplicativos para smartphone e programas de internet a serem utilizados como “complementos ou ferramentas de autogestão”.

https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2024-07/oms-lanca-diretrizes-ineditas-para-tratamento-contra-o-tabagismo

 

Tendo explorado até aqui as questões ligadas à saúde do corpo físico e sem que venhamos fazer uma proposta cartesiana de dicotomizar corpo/Espírito, até porque somos seres integrais: Espírito, mente, corpo, e transitamos nas mais diversas esferas da vida (espiritual, social e física) avançando para a sublimação onde um dia estaremos plenos porque vivendo junto ao Criador, tratemos agora das questões da obsessão espiritual ligadas ao tabagismo.

Como, em geral, o processo obsessivo inicia-se de modo sutil, assim também, ocorre no caso do tabagismo. No decorrer do século XX, como vimos acima, haviam muitas propagandas de cigarros unindo elementos como carros do ano e belos homens e mulheres, além de filmes os mais diversos em que os protagonistas apareciam com seus cigarros como símbolo de elegância e de status social, o que levou considerável número de pessoas a aderirem a tal prática prejudicial às suas saúdes. Entre os jovens da época, a busca por aceitação no grupo popular da escola e para serem os “descolados”, propiciou que o consumo do cigarro aumentasse entre esse grupo social. Estudando o campo da obsessão, não nos é difícil perceber que a técnica usada pelos obsessores nesses casos é a de inspirar pensamentos tanto aos colegas quanto ao indivíduo em prova tais como: “Vamos, dê só uma tragada...só um tapa”; “Ah! Que é isso?! Uma vez só não há de me fazer mal, né?” “Aquela garota (ou aquele garoto) vai ficar mais próxima (o) de mim se eu estiver na mesma vibe dele (a)”. Pegando o cigarro e experimentando a primeira vez e vindo a sensação de aceitação de um grupo de colegas ou de uma (um) garota (o) da (o) qual se gosta, está estabelecido o laço espiritual que, mais adiante, levará a consequências terríveis, caso não se afaste a pessoa desse mau hábito.

E a obsessão que leva à intensificação de uso de substâncias nocivas ao organismo não prejudica apenas ao próprio indivíduo, mas também às pessoas com quem convive, tanto assim é, que há um comportamento chamado de codependente para pessoas que convivem com pessoas com transtorno de tabagismo (CID F17) bem como para pessoas que convivem com pessoas com transtorno de uso de substâncias (CID F19). Consideramos que, muitos casos de saúde pública como é o tabagismo, são extensões da influência aterradora que Espíritos obsessores promovem entre os seres humanos, não à toa, Allan Kardec, em A Gênese, chamar ao processo obsessivo de um verdadeiro flagelo na humanidade.

O médico Nubor Orlando Facure, neurocirurgião, ex-professor titular da UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas), no seu livro O cérebro e a mente, diz que, entre as doenças espirituais compartilhadas, além da obsessão, está o vampirismo. O que seria isso? E qual a relação com o cigarro?

Diz o neurocirurgião: “O mundo espiritual é povoado por uma população numerosíssima de Espíritos. Contamos com eles como guias e protetores, mas, na maioria das vezes, nós atraímo-los pelos vícios e eles aprisionam-nos pelo prazer. Nesses desvios da conduta humana, a mente do responsável agrega em torno de si elementos fluídicos que, aos poucos, vão construindo miasmas psíquicos com extrema capacidade corrosiva do organismo que a hospeda. Nessa associação, há uma tremenda perda de energia por parte do responsável pelo vício, daí a expressão vampirismo ser muito adequada para definir essa parceria”.

Portanto, quem cultiva o hábito do fumo atrai companhias que fumam espiritualmente junto delas. Se você deseja a companhia dos bons e da saúde, evite os vícios, tanto os físicos (álcool, fumo etc.) como os morais.

 
Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo é editor da Editora EME e especialista em dependência química pela USP-SP-GREA.

https://www.oconsolador.com.br/ano11/524/ca2.html

 

 

Até aqui falamos sobre o tabaco, mas, não podemos deixar de lembrar que logo no início, deixamos claro que essas considerações, notadamente as socio-espirituais, não se resumem apenas ao cigarro em si e falam sobre as várias formas de fumo possíveis, incluindo aí a cannabis (maconha). O Dr. Ronaldo Laranjeira (Psiquiatra), em seu perfil no instagram, tem alertado com informações as mais variadas, fundamentadas em sérias pesquisas, sobre os efeitos nocivos da canabis, especialmente entre os jovens. Em post realizado no dia 29 de novembro deste ano, traz o especialista um resumo do estudo sobre cannabis e transtorno bipolar (para citarmos só um de seus posts a respeito):

 

O estudo “Exposição precoce à cannabis e incidência de transtorno bipolar: resultados de um estudo de coorte de nascimentos de 22 anos no Brasil”, buscou investigar se o uso de cannabis na adolescência está relacionado com o desenvolvimento de transtorno bipolar na vida adulta, controlando por outros fatores como histórico familiar, socioeconômico e uso de outras drogas.

Foram analisados dados de uma coorte de nascimentos no Brasil, acompanhando os participantes desde o nascimento até os 22 anos. A exposição à cannabis foi avaliada aos 18 anos, e o diagnóstico de transtorno bipolar aos 22 anos. Foram controladas diversas variáveis, como status socioeconômico, abuso físico na infância e uso de cocaína.

Resultados:

O uso de cannabis na adolescência foi inicialmente associado a um maior risco de desenvolver transtorno bipolar na vida adulta.

Ao controlar por outras variáveis, incluindo o uso de cocaína, a associação entre cannabis e transtorno bipolares tornou menos evidente.

Quando o uso de cannabis e cocaína foi analisado em conjunto, o risco de desenvolver transtorno bipolar aumentou de maneira relevante, mesmo após o ajuste para outras variáveis.

O abuso físico na infância e o sexo também influenciaram a relação entre o uso de cannabis e o desenvolvimento do transtorno bipolar.

O estudo encontrou uma associação entre o uso de cannabis na adolescência e o desenvolvimento de transtorno bipolar, mas essa asssociação é influenciada por outros fatores, como o uso de cocaína. São necessárias mais pesquisas para esclarecer essa relação complexa.

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/38378931

 

Recomendamos também este outro estudo: O uso de cannabis em jovens está associado à inflamação crônica - https://pubmed.ncbi.nlm.gov/39648682

 

Estas algumas das consequências do tabagismo e das mais variadas formas de fumo, devemos atentar, porém, que o ser humano não está isento de responsabilidade, porque a escolha está em suas mãos e já nos alertam os Espíritos Superiores a esse respeito:

 

459. Influem os Espíritos em nossos pensamentos e em nossos atos?

“Muito mais do que imaginais. Influem a tal ponto, que de ordinário são eles que vos dirigem”. (O Livro dos Espíritos – Parte 2º - Cap. IX)

 

Não há aí interferência em nosso livre-arbítrio, porque tanto os bons quanto os maus Espíritos nos inspiram, mas a decisão de agir par o bem ou para o mal é nossa e caberá a nós arcarmos com as consequências de nossas escolhas

segunda-feira, 27 de maio de 2024

Sobre o Controle Universal do Ensino dos Espíritos

 Por Leonardo Paixão (*)


Um tema que permanece mal entendido no movimento espírita brasileiro e até entre escritores espíritas é este do Controle Universal do Ensino dos Espíritos.

Buscaremos aqui trazer algumas referências para o entendimento da questão e não deixando de pensar a metodologia científica de hoje e como ela pode ser aplicada no caso.

É preciso primeiro se compreender que os Espíritos não sabem tudo. Não falaríamos isso aqui caso observássemos que os espíritas estão bem imbuídos do sentido dessa afirmação, no entanto, não é isso que percebemos nas falas de muitos que dizem, quando para elas se colocam discordâncias e/ou questionamentos: "Mas, o Espírito tal falou"; "Discordar do Espírito tal é desrespeito não só a ele, mas também ao médium".

O que falta a espíritas que assim pensam? Estudo sério e bem meditado da Doutrina Espírita. 

O que Allan Kardec disse com relação às suas observações dos Espíritos?


Um dos primeiros resultados que colhi de minhas observações foi que os Espíritos nada mais sendo do que as almas dos homens, não possuem nem a plena sabedoria, nem a ciência integral (...) Reconhecida desde o princípio, esta verdade me preservou do grave escolho de crer na infalibilidade dos Espíritos e me impediu de formular teorias prematuras, tendo por base o que fora dito por uns ou alguns deles.

O simples fato das comunicações com os Espíritos, dissessem eles o que dissessem, provava a existência do mundo invisível ambiente. Já era um ponto essencial, um imenso campo aberto às nossas explorações, a chave de inúmeros fenômenos até então inexplicados. O segundo ponto, não menos importante, era que aquela comunicação  permitia se conhecesse o estado  desse mundo, seus costumes, se assim nos podemos exprimir. Vi logo que cada Espírito, em virtude de sua posição pessoal e de seus conhecimentos, me desvendava uma face daquele mundo, do mesmo modo que se chega a conhecer o estado de um país, interrogando habitantes seus de todas as classes, não podendo um só, individualmente, informar-nos de tudo. Compete ao observador formar o conjunto, por meio dos documentos colhidos de diferentes lados, colecionados, coordenados e comparados uns com os outros. Conduzi-me, pois, com os Espíritos, como houvera feito com homens. Para mim, eles foram, do menor ao maior, meios de me informar e não reveladores predestinados - grifei (KARDEC, Allan. Obras Póstumas. 26ª ed., Brasília - DF: Federação Espírita Brasileira, 1993. p. 269)


Conforme se pode verificar nas palavras do codificador do Espiritismo, além dele não dar crédito à informação mesmo de alguns Espíritos que poderiam convergir, ele deixa claro que o trabalho de colecionar, coordenar e comparar os documentos (para os dia de hoje essas fontes são textos, gravações em áudio e/ou vídeo, atas, depoimentos) é nosso e devemos fazê-lo e, para isso, temos de nos preparar e se não nos consideramos aptos que deixemos a outros preparados esse trabalho.


Na introdução de O Evangelho segundo o Espiritismo, Allan Kardec faz uma explanação sobre o Controle Universal do Ensino dos Espíritos (CUEE - assim nos referiremos a ele a partir de agora)e este, verdadeiramente, não é fácil de ser feito, porque é preciso se ter um ambiente controlado, onde médiuns não se conheçam e estejam distantes geograficamente e perguntas feitas aos Espíritos Superiores ou outros, porém, sérios e verdadeiros (ver a Escala Espírita, n. 100 e seguintes em O Livro dos Espíritos) sejam respondidas e, depois de analisadas e convergindo e tendo lógica, se terão informações a que se pode dar crédito.

Vejamos o que disse Allan Kardec sobre o ensino dos Espíritos:

Uma só garantis séria existe para o ensino dos Espíritos: a concordância que haja entre as revelações que eles façam espontaneamente, servindo-se de grande número de médiuns estranhos uns aos outros e em vários lugares (KARDEC, 1999)

Allan Kardec fala de revelações espontâneas, mas pode-se também perguntar aos Espíritos como ele próprio o fez. Em O Livro dos Médiuns no item 266 nos orienta o codificador:


Submetendo-se todas as comunicações a um exame escrupuloso, perscrutando-se-lhes e analisando o pensamento e as expressões, como é de uso fazer-se quando se trata de julgar uma obra literária, rejeitando-se, sem hesitação, tudo o que peque contra a lógica e o bom senso, tudo o que desminta o caráter do Espírito que se supõe ser o que se está manifestando, leva-se o desânimo aos Espíritos mentirosos, que acabam por se retirar, uma vez fiquem bem convencidos de que não lograrão iludir. Repetimos: este meio é único, mas é infalível, porque não há comunicação má que resista a uma crítica rigorosa (grifei). Os bons Espíritos nunca se ofendem com esta, pois que eles próprios a aconselham e porque nada têm que temer do exame. Apenas os maus se formalizam e procuram evitá-lo, porque tudo têm a perder. Só com isso provam o que são.

Eis aqui o conselho que a tal respeito nos deu São Luís:

“Qualquer que seja a confiança legítima que vos inspirem os Espíritos que presidem aos vossos trabalhos, uma recomendação há que nunca será demais repetir e que deveríeis ter presente sempre na vossa lembrança, quando vos entregais aos vossos estudos: é a de pesar e meditar, é a de submeter ao cadinho da razão mais severa todas as comunicações que receberdes; é a de não deixardes de pedir as explicações necessárias a formardes opinião segura, desde que um ponto vos pareça suspeito, duvidoso ou obscuro.” - grifei (KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 81ª ed.- Brasília, DF: Federação Espírita Brasileira, 2020. pp. 279-280)


Não vemos tais ocorrências no movimento espírita brasileiro, pelo contrário, o que vemos é a aceitação do que ditam os Espíritos tidos por Mentores, Protetores, Guias, sem maior exame. Médiuns como Chico Xavier e Divaldo Pereira Franco tem uma moral inatacável, é fato, no entanto, o que os Espíritos por eles escreveram é a opinião, a visão deles e não a verdade inquestionável, pois como pudemos ler no que Kardec trouxe de suas observações é que cada Espírito desvenda uma parte do mundo invisível, o que, claro, não quer dizer que tudo quanto este ou aquele Espírito disser é verdade só porque ele é bom. As orientações do Espírito São Luís que trouxemos acima deixa claro a nosso necessidade de realizar o pensar crítico com relação às mensagens que trazem os Espíritos sejam estes quais sejam e venham, pelos médiuns que vierem. Há, porém, uma análise histórica sobre isso:


O protagonismo dos médiuns brasileiros


A presença do Espiritismo no Brasil foi reforçada em 1907 pela fundação do Colégio Allan Kardec, em Sacramento, Minas Gerais, por iniciativa do médium Eurípedes Barsanulfo. Dotado de múltiplas possibilidades medianímicas, Eurípedes tornou-se um ícone do Espiritismo em terras mineiras, de onde seus alunos se espalharam por várias regiões do país levando consigo suas ideias e a sua maneira particular de praticar o Espiritismo, fortemente ancorada na ação mediúnica e no uso da “corrente magnética”, uma prática derivada do “magnetismo animal” de Mesmer. Disso resultou uma enorme quantidade de instituições que adotam o seu nome e o seu modo de atuação como inspiração para as suas atividades.

Na década de 1930 o Espiritismo receberia um impulso ainda maior a partir do trabalho desenvolvido por outro médium extraordinário, o também mineiro Chico Xavier, que publicou em 1932 um livro constituído de 60 poemas cuja autoria era a atribuída a 14 poetas brasileiros e portugueses já falecidos, o Parnaso de Além Túmulo. Castro Alves, Guerra Junqueiro, Augusto dos Anjos, retornavam pelas suas mãos com a mesma poesia, seguidos depois por Humberto de Campos com a riqueza das suas crônicas, trazendo agora uma visão mais espiritual da vida, com o mesmo estilo, o mesmo vocabulário 16.

Emerge nos anos 1950 a figura de Divaldo Franco, um médium baiano com uma fala eloquente e um trabalho social expressivo junto a uma comunidade pobre na periferia da cidade de Salvador. Com sua oratória brilhante, ele leva a mensagem espírita para todo o Brasil e, gradativamente, também para o exterior, alcançando os cinco continentes e estimulando a formação de grupos inspirados no modelo brasileiro de Espiritismo.

Ao mesmo tempo em que Chico Xavier se destaca pela psicografia, Divaldo se destaca pela oratória. A FEB, que se propunha a dar continuidade ao trabalho estruturante de Allan Kardec, procura se ancorar no brilho desses expoentes, que passam a falar, cada um em seu campo, em nome do Espiritismo. Com isso o protagonismo se transfere da instituição para a figura dos médiuns. Se com Kardec, na França, o nome dos médiuns sequer era citado, aqui eles se tornaram os porta-vozes do pensamento espírita, falando diretamente ao povo.


16. Rocha, Alexandre Caroli. A Poesia Transcendente de Parnaso de Além Túmulo, pag. 15. Diss. Mestrado, Unicamp, São  Paulo/SP, 2001

(MORAES, Elias Inácio de. O Processo Mediúnico: Possibilidades e Limites na Produção do Conhecimento Espírita. – Goiânia: Aephus, 2023. p. 26)


Vemos assim, que no decorrer da história do Espiritismo no Brasil trouxe a irrestrita confiança em médiuns e Espíritos e a falta de criticidade se fez nos adeptos da Doutrina Espírita, notadamente em relação às comunicações dos Espíritos, o que deu margem a muitas mistificações e ainda dá bem como fez com que muitos médiuns não trabalhassem a questão do ego ferido quando suas comunicações são questionadas. Mas, estaria tal estado de coisas presente somente por questões históricas? A História investiga o passado para explicar o presente, mas também ela está a se fazer, a ser construída no momento atual, portanto, cabe aos dirigentes espíritas, ao nosso ver, em especial, trabalharem para que os membros dos Grupos/Casas que dirigem construam pensamento crítico. Do contrário se permanecerá na mesma e com reforço de dirigentes espíritas, ainda que tenham formação educacional em nível superior. Um exemplo encontramos aqui:


Em várias oportunidades pude notar que alguns médiuns confirmam o que outros estão vendo. Isto é para autoconfiança?

 Um dos critérios recomendados pelo grande estudioso, Kardec, é a universalidade ou pluralidade de fontes mediúnicas ´para valorizarmos uma informação (DI BERNARDI, 2011)


Esta foi a resposta dada pelo Dr, Ricardo Di Bernardi sobre dúvidas a respeito do que ele relatou de ocorrências em uma reunião de desobsessão no Instituto de Cultura Espírita de Florianópolis (ICEF). Nela está dito do critério da universalidade que Kardec expôs, no entanto, como já vimos, tal feito não é simples assim, até porque, pelos estudos da obra de Kardec, especialmente o cap. 23 - Da Obsessão, de O Livro dos Médiuns, sabemos que todo um grupo pode estar sob influência obsessiva, logo, não são os relatos de médiuns confirmando uns aos outros em uma reunião em grupo específico, a metodologia utilizada para o CUEE, pelo exposto, o que ocorreu na equipe mediúnica então presidida pelo Di Bernardi, foram confirmações de visões entre os médiuns e não o Controle Universal do Ensino dos Espíritos.


No início deste texto, colocamos que faríamos referência a metodologia científica atual. No caso da comunicação dos Espíritos, não sabemos de trabalho de revisão por pares, método esse adotado como critério para a publicação de trabalhos acadêmicos. Na revisão por pares cega simples, os autores não sabem quem são os revisores, mas estes sabem quem são os autores. Na revisão duplamente cega, nem os autores nem os revisores sabem os nomes uns dos outros.. Uma forma de (re) construirmos a criticidade no movimento espírita brasileiro, talvez, possa ser essa, em que uma comunicação mediúnica recebida seja psicograficamente, psicofonicamente (e gravada), psicopictograficamente, possa ser enviada a quem esteja apto/a a fazer tal análise sem que essa pessoa saiba o nome ou os nomes dos médiuns e da instituição em que as comunicações mediúnicas possam ter sido recebidas e que o ou os médiuns também não saibam para quem as mensagens por eles intercambiadas foram direcionadas.


Referências:

DI BERNARDI, Ricardo. Desobsessão; estudo prático. Santo André, SP: EBM Editora, 2011. p. 107

KARDEC, Allan. Obras Póstumas. 26ª ed., Brasília - DF: Federação Espírita Brasileira, 1993. p. 269

KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 116ª ed. Rio de Janeiro, RJ: Federação Espírita Brasileira, 1999. p. 31

KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 81ª ed.- Brasília, DF: Federação Espírita Brasileira, 2020. pp. 279-280

MORAES, Elias Inácio de. O Processo Mediúnico: Possibilidades e Limites na Produção do Conhecimento Espírita. – Goiânia: Aephus, 2023. p. 26



(*) Leonardo Paixão é Orador, Escritor, Pesquisador, Magnetizador, médium espírita, presidente e Fundador do Grupo Espírita Semeadores da Paz, Campos dos Goytacazes, RJ. Como escritor espírita tem dois livros editados pela Editora Virtual O Consolador (EVOC): Reflexões Doutrinárias e Novas Reflexões Doutrinárias, onde estão presentes algumas reflexões filosóficas fundamentadas nas pesquisas que realizou. Participou como conferencista do Encontro de Grupos Espíritas de Campos, RJ e Região em suas 6 edições. Escreveu artigos diversos no jornal online O Rebate. Participou de live com o escritor e pesquisador Guilherme Velho falando sobre o tema “Obsessão”. Escreve artigos para o blog gesemeadoresdapaz.blogspot.com