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quarta-feira, 15 de abril de 2015


OS ESPÍRITOS E A ALIMENTAÇÃO CARNÍVORA
Por Leonardo Paixão (*)

Artigo publicado também no jornal eletrônico O Rebate:

http://orebate-jorgehessen.blogspot.com.br/2015/04/os-espiritos-e-alimentacao-carnivora.html
 
 

 

“É incrível e vergonhoso que nem os pregadores nem os moralistas jamais elevaram a sua voz contra o bárbaro costume de assassinar e comer animais” – Voltaire.

“Não; mil vezes não, a alimentação carnívora não é necessária. Todos os fatos demonstram que esse é o ABC da Fisiologia” – Dr. Charles Richet, Nobel em Fisiologia.

 

O Espiritismo é uma Doutrina que estimula o raciocínio e, assim, nos coloca a refletir sobre diversas questões na vida e uma delas, de suma importância, é a questão alimentar. Procuraremos neste artigo analisar as instruções dos Espíritos desde a obra de Allan Kardec às obras de médiuns seguros como Chico Xavier.

Como o fundamento da Doutrina Espírita é O Livro dos Espíritos, iniciaremos por este.

Na questão 723 Allan Kardec perguntou:

723. A alimentação animal é, com relação ao homem, contrária à lei da Natureza?

R – “Dada a vossa constituição física, a carne alimenta a carne, do contrário o homem perece. A lei de conservação lhe prescreve, como um dever, que mantenha suas forças e sua saúde, para cumprir a lei do trabalho. Ele, pois, tem que se alimentar conforme o reclame a sua organização”.

 

E continua na questão 724:

724. Será meritório abster-se o homem da alimentação animal, ou de outra qualquer por expiação?

R – “Sim, se praticar essa privação em benefício dos outros. Aos olhos de Deus, porém, só há mortificação, havendo privação séria e útil. Por isso é que qualificamos de hipócritas os que apenas aparentemente se privam de alguma coisa”.

 

Os Espíritos responderam à Kardec de acordo com os conhecimentos da época e não combateram de imediato a alimentação carnívora pelo homem. Nota-se, no entanto, que na questão 724 eles louvam uma privação séria e útil, palavras que estão grifadas no original. Mais adiante veremos o quanto é séria e útil a questão de não se comer carne. Vejamos agora o que diz o espírito Lamennais sobre esta questão:

 

SOBRE A ALIMENTAÇÃO DO HOMEM

(Sociedade de Paris, 4 de julho de 1862 – Médium: sr. A. Didier)

O sacrifício da carne foi severamente condenado pelos grandes filósofos da antiguidade. O Espírito elevado revolta-se à ideia do sangue e, sobretudo, à ideia de que o sangue é agradável à Divindade. E notai bem que aqui não se trata absolutamente de sacrifícios humanos, mas tão-só de animais oferecidos em holocausto. Quando o Cristo veio anunciar a Boa Nova, não ordenou o sacrifício do sangue: ocupou-se unicamente do Espírito. Os grandes sábios da antiguidade igualmente tinham horror a estas espécies de sacrifícios e eles próprios só se alimentavam de frutos e raízes. Na Terra os encarnados têm uma missão a cumprir; têm um Espírito que deve ser nutrido pelo Espírito, e um corpo, que deve ser alimentado pela matéria; mas a natureza da matéria influi sobre a espessura do corpo e, em consequência, sobre as manifestações do Espírito, o que é facilmente compreensível. Os temperamentos fortes para viver como os anacoretas fazem bem, porque o esquecimento da carne leva mais facilmente à meditação e à prece. Mas para viver assim, em geral seria necessária uma natureza mais espiritualizada que a vossa, o que é impossível com as condições terrestre. E como, antes de tudo, a Natureza jamais age com disparate, é impossível ao homem submeter-se impunemente a essas privações. Pode ser-se bom cristão e bom espírita e comer a seu gosto, contanto que seja razoável. É uma questão um tanto leviana para os nossos estudos, mas não menos útil e proveitosa.

Lamennais – Revista Espírita, Dezembro de 1863. Ed. FEB. Tradução de Evandro Noleto Bezerra).

 

Em seu comunicado, Lamennais, no corpo dele, deixa claro a repugnância do Espírito elevado à ideia do sangue, fala dos grandes filósofos e sábios da antiguidade que se alimentavam de frutos e raízes e diz fazer bem quem não se alimenta de carne, pois isto favorece a meditação e a prece. Ressalta os pontos positivos de se deixar a alimentação carnívora. Dá o que pensar.

O Espírito Bernard Palissy, questionado por Kardec sobre a alimentação em Júpiter (Planeta que habita), disse: “Qual é a base da alimentação dos habitantes? É animal e vegetal como aqui? R – “Puramente vegetal; o homem é o protetor dos animais” (Revista Espírita, Abril de 1858).

 

Tal informação corrobora Lamennais ao dizer que “o Espírito elevado revolta-se à ideia do sangue”. E nem se objete que assim é em Júpiter por já ser um plano evoluído, isto é sinal de que devemos imitá-lo.

 

No livro “Nosso Lar”, o Espírito André Luiz, no capítulo 9, Problema de Alimentação relata:

“Rezam os anais que a colônia, há um século, lutava com extremas dificuldades para adaptar os habitantes às leis da simplicidade. Muitos recém-chegados ao “Nosso Lar” duplicavam exigências. Queriam mesas lautas, bebidas excitantes, dilatando velhos vícios terrenos”.

No livro “Os Mensageiros”, ao final do cap. 42 – Evangelho no ambiente rural, André Luiz transcreve a fala de Aniceto: “Concordamos que as criaturas inferiores têm suportado o peso das iniquidades imensas. Continuemos em auxílio delas, mas não nos percamos em vãs contendas”.

 

São bem significativas estas duas passagens em André Luiz, pois além de estarem em acordo com o que instruem Lamennais e Bernard Palissy, nos faz refletir mais amplamente na resposta que os Espíritos deram a Kardec na questão  86 de O Livro dos Espíritos:

86. O mundo corporal poderia deixar de existir, ou nunca ter existido, sem que isso alterasse a essência do mundo espírita?

R – “Decerto. Eles são independentes; contudo, é incessante a correlação entre ambos, porquanto um sobre o outro incessantemente reagem”.

 

Considerando que a Colônia espiritual “Nosso Lar”, foi fundada no século XVI por portugueses (ver o capítulo 8 – Organização e Serviços), preciso é se considerar que os recém-desencarnados que para lá aportavam levavam consigo seus vícios e hábitos alimentares e a cozinha portuguesa/brasileira do século XVI usava dos seguintes animais: Capivaras, antas, tatus, pacas, cutia, porcos, veados, coelhos, tamanduá, quati, ratos, macacos, gambás (conforme o livro Delícias do Descobrimento – A Gastronomia Brasileira no século XVI, de Sheila Moura Hue com a colaboração de Angelo Augusto e Ronaldo Menegaz. Ed. Zahar); temos assim que a alimentação carnívora era bem cultivada, logo, em desencarnando o espírito levava consigo este hábito, além do de bebidas alcoólicas como o vinho tão apreciado pelos portugueses, depreendendo-se daí que a exigência de “mesas lautas, bebidas excitantes” dos habitantes da Colônia nesta época se referem a este tipo de alimentação, quando não permaneciam na Terra vinculados aos seus em regime de vampirização no quesito alimentar. Mundo espiritual e material “um sobre o outro incessantemente reagem”.

Em “Missionários da Luz”, o Instrutor Alexandre esclarece:

“(...) e nós outros, quando nas esferas da carne? Nossas mesas não se mantinham à custa das vísceras dos touros e das aves? A pretexto de buscar recursos proteicos, exterminávamos frangos e carneiros, leitões e cabritos incontáveis. Sugávamos os tecidos musculares, roíamos os ossos. Não contentes em matar os pobres seres que nos pediam roteiros de progresso e valores educativos, para melhor atenderem a Obra do Pai, dilatávamos os requintes da exploração milenária e infligíamos a muitos deles determinadas moléstias para que nos servissem ao paladar, com a máxima eficiência. O suíno comum era localizado por nós, em regime de ceva, e o pobre animal, muita vez à custa de resíduos, devia criar para nosso uso certas reservas de gordura, até que se prostrasse, de todo, ao peso de banhas doentias e abundantes. Colocávamos gansos nas engordadeiras para que hipertrofiassem o fígado, de modo a obtermos pastas substanciosas destinadas a quitutes que ficaram famosos, despreocupados das faltas cometidas com a suposta vantagem de enriquecer valores culinários. Em nada nos doía o quadro comovente das vacas-mães, em direção ao matadouro, para que nossas panelas transpirassem agradavelmente. Encarecíamos, com toda a responsabilidade da ciência, a necessidade de proteínas e gorduras diversas, mas esquecíamos de que a nossa inteligência, tão fértil na descoberta de comodidade e conforto, teria recursos de encontrar novos elementos e meios de incentivar os suprimentos proteicos ao organismo, sem recorrer às indústrias da morte. Esquecíamo-nos de que o aumento de laticínios para enriquecimento da alimentação constitui elevada tarefa, porque tempos virão, para a Humanidade terrestre, em que o estábulo, como o Lar, será também sagrado.

(...)

Em todos os setores da Criação, deus, nosso Pai, colocou os superiores e os inferiores para o trabalho de evolução, através da colaboração e do amor, da administração e da obediência. Atrever-nos-íamos a declarar, porventura, que fomos bons para os seres que nos eram inferiores? Não lhes devastávamos a vida, personificando diabólicas figuras em seus caminhos? Claro que não desejamos criar um princípio de falsa proteção aos irracionais, obrigados, como nós outros, a cooperar com a melhor parte de suas forças e possibilidades no engrandecimento e na harmonia da vida, nem sugerimos a perigosa conservação dos elementos reconhecidamente daninhos. Todavia, devemos esclarecer que, no capítulo da indiferença para com a sorte dos animais, da qual participamos no quadro das atividades humanas, nenhum de nós poderia em sã consciência, atirar a primeira pedra. Os seres inferiores e necessitados do Planeta não nos encaram como superiores generosos e inteligentes, mas como verdugos cruéis.  Confiam na tempestade furiosa que perturba as forças da Natureza, mas fogem, desesperados, à aproximação do homem de qualquer condição, excetuando-se os animais domésticos que, por confiar em nossas palavras e atitudes, aceitam o cutelo no matadouro, quase sempre com lágrimas de aflição, incapazes de discernir como raciocínio embrionário onde começa a nossa perversidade e onde termina a nossa compreensão. Se não protegemos nem educamos aqueles que o Pai nos confiou, como germens frágeis de racionalidade nos pesados vasos do instinto; se abusamos largamente de sua incapacidade de defesa e conservação, como exigir o amparo de superiores benevolentes e sábios, cujas instruções mais simples são para nós difíceis de suportar, pela nossa lastimável condição de infratores de auxílios mútuos? Na qualidade de médico, você não pode ignorar que o embriologista, contemplando o feto humano em seus primeiros dias, a distância do veículo carnal, não poderá afirmar, com certeza, se tem sob os olhos o gérmen de um homem ou de um cavalo. O médico legista encontra dificuldades para determinar se a mancha de sangue encontrada eventualmente provém de um homem, dum cão ou dum macaco. O animal possui igualmente o seu sistema endocrínico, suas reservas de hormônios, seus processos particulares de reprodução em cada espécie e, por isso mesmo, tem sido auxiliar precioso e fiel da Ciência na descoberta dos mais eficientes serviços de cura das moléstias humanas, colaborando ativamente na defesa da Civilização. Entretanto...”

As colocações de Alexandre sobre o fato de que “esquecíamos de que a nossa inteligência, tão fértil na descoberta de comodidade e conforto, teria recursos de encontrar novos elementos e meios de incentivar os suprimentos proteicos ao organismo, sem recorrer às indústrias da morte. Esquecíamo-nos de que o aumento de laticínios para enriquecimento da alimentação constitui elevada tarefa, porque tempos virão, para a Humanidade terrestre, em que o estábulo, como o Lar, será também sagrado”, são de molde a nos fazer pensar a respeito de nossos hábitos alimentares. Corroborando esta fala de Alexandre, temos no livro “O Consolador”, a instrução do Benfeitor Emmanuel:

129 – É um erro alimentar-se o homem com a carne dos irracionais?

R – A ingestão das vísceras dos animais é um erro de enormes consequências, do qual derivaram numerosos vícios da nutrição humana. É de lastimar semelhante situação, mesmo porque, se o estado de materialidade da criatura exige a cooperação de determinadas vitaminas, esses valores nutritivos podem ser encontrados nos produtos de origem vegetal, sem a necessidade absoluta dos matadouros e frigoríficos.

Temos de considerar, porém, a máquina econômica do interesse e da harmonia coletiva, na qual tantos operários fabricam o seu pão cotidiano. Suas peças não podem ser destruídas de um dia para o outro, sem perigos graves. Consolemo-nos com a visão do porvir, sendo justo trabalharmos, dedicadamente, pelo advento dos tempos novos em que os homens terrestres poderão dispensa da alimentação os despojos sangrentos de seus irmãos inferiores.

 

Até aqui a instrução dos Espíritos e a Ciência o que nos diz?

No livro "Nutrição Orientada" do professor Durval Stockler, baseado em comprovações científicas há o seguinte:.

 

"Quando o animal é morto, existem nele muitas toxinas em processo de expulsão do organismo, principalmente pela urina. Essas toxinas permanecem na carne e são ingeridas pelo homem. É evidente que isto não pode ser saudável. Cada quilo de carne bovina contém dois gramas de ácido úrico, o que é uma dose bastante elevada. Quando a carne é cozida, os resíduos se apresentam em forma de caldo que, analisado, se assemelha à urina.

Cada bife de 100 gramas contém mais de um bilhão de germes, e se essa carne não for devidamente esterilizada pelo calor, grandes quantidades de micróbios ativos serão ingeridos. Nos bifes mal passados, nos churrascos sangrentos, é certo que milhões de bactérias vivas entram no organismo dos comedores de carne.

 

(...) A carne prepara em nós, por suas toxinas, um ambiente propício a toda sorte de enfermidade. Entre os que comem carne frequentemente, encontra-se maior número de pessoas com varizes, hemorroidas e arteriosclerose que entre os vegetarianos ou aqueles que comem menos carne e muita verdura. E o mesmo se pode dizer das doenças do fígado, dos rins, do coração e dos problemas da circulação.

Não é novidade para ninguém que a carne contribui em porcentagem elevadíssima para os enfartes do miocárdio, para os derrames, as tromboses, os distúrbios da pressão e de todos os ataques cardíacos".

No livro “Cozinha Vegetariana”, de Mahavidya Laksmi devi dasi (Maris Santos), ed. The Bhaktivedanta Book Trust nos traz as seguintes informações:

“O consumo de carne é um fator importante no desenvolvimento de doenças cardiovasculares, uma das principais causas de morte das cidades industrializadas.

A grande parte dos estudos que comparam as nutrições vegetariana e onívora demonstram que, com a eliminação da carne, especialmente a vermelha, o risco de doença e morte por problemas cardiovasculares é reduzido significativamente.

Num dos maiores estudos epidemiológicos (estudos relacionados com a ciência da saúde coletiva) realizados sobre o tema, pela universidade de Oxford, conclui-se que percentagem de morte por problemas cardiovasculares é aproximadamente 25% menor nos vegetarianos em comparação com os não-vegetarianos, e que a probabilidade da ocorrência do mesmo foro é cerca de 30% menor nos vegetarianos.

Assim, a mudança para uma dieta vegetariana pode causar um impacto muito importante na sua saúde.

Fonte: Cristian Megyes, bioquímico, farmacêutico e investigador independente de nutrição; membro da União Vegetariana Argentina.

E mais:

“Para viver, uma vaca necessita de 1 hectare de terra; em dois anos, o animal alcança o peso adequado para abate, aproximadamente uns 400 kg, dos quais se destinam à alimentação somente 290 kg. Ou seja, em 2 anos um hectare produz 290 kg de “alimento”. Se a mesma área fosse utilizada para o cultivo de grãos e cereais, utilizando um sistema de cultivo biológico, produziria, por exemplo, 6.000 kg de soja, já que o rendimento deste grão por hectare é de 3.000 kg. Se o cultivo fosse de trigo, o mesmo hectare produziria 7.000 kg. Se o cultivo fosse de milho, a produção seria de 12.000kg.

Fonte: União Vegetariana Argentina.  www.uva.org.ar

 (*) Leonardo Paixão é trabalhador espírita em Campos dos Goytacazes, RJ, colaborando no Grupo Espírita Semeadores da Paz.