“Que sucede
ao Espírito de uma criança que morre pequenina?
- Recomeça
outra existência” (O Livro dos Espíritos, cap. 5, pergunta 199 – a).
Este é um tema que merece aprofundamento
através do estudo das obras básicas e subsidiárias. Pairam no Movimento
Espírita muitas dúvidas a respeito. Recorramos à algumas fontes, da vasta
bibliografia espírita a respeito do assunto.
“Vale lembrar aqui que, certa vez em que fui
arrebatada em Espírito pelos Instrutores espirituais, visitando o mundo
invisível imediato à Terra, tive ocasião de ver um ambiente como que hospitalar, um recolhimento
transitório, onde Espíritos de crianças desencarnadas prematuramente aguardavam
nova encarnação. Mantinham o aspecto espiritual da idade em que haviam desencarnado.
Existia no agrupamento uma espécie de seleção de sexo.
Alguns conservavam ainda impressões da
enfermidade que vitimara seus pequeninos corpos carnais, e arrastariam tais
tendências para o novo corpo; outros se mantinham despreocupados, distraídos,
alegrezinhos e nenhum demonstrava sofrimento.
Havia motivos de distrações e brincadeiras
para todos: bonecas, carrinhos, bolas, livros e até latas, onde meninos
pequeninos batiam com pequenos bastões, à guisa de tambores. Eram as
reminiscências das brincadeiras que fizeram quando encarnados. O local era
ameno e protetor, muito iluminado, sem ser superior, todos eram tratados com
zelo e devotado amor por ilustres damas espirituais, que se diriam governantas
maternais (guias espirituais femininos) de alto nível moral.
Uma gentil menina, aparentando quatro a cinco
anos de idade, tinha o pescoço agasalhado por uma gargantilha de penas, e
tossia, às vezes, com insistência. Explicava, então, que desencarnara de uma
angina aguda, e que as reminiscências desse mal acompanha – la - iam na
reencarnação próxima, afligindo-a nos primeiros anos de existência. Outra
menina, de cor preta,, muito elegantezinha e espevitada, dizia que tivera um
ataque de vermes, e por isso desencarnara. Um menino, regulando um a dois anos
de idade, e que batia numa lata com um bastãozinho, distribuía beijinhos, e até
eu mesma fui agraciada com essa honra, sentindo em meus lábios espirituais a
umidade dos lábios dele. E todas essas gentis entidades revelavam inteligência
e muita lucidez.
Fui informada, por uma daquelas damas
espirituais que patrocinavam a instituição, que, dali, aquelas entidadezinhas
voltariam à reencarnação, sem atingirem propriamente a espiritualidade; que
muitas delas poderiam carregar, para o novo corpo físico, complexos mentais e
vibratórios da enfermidade que as fizera desencarnar anteriormente, segundo o
grau de depressão das vibrações que lhes caracterizara anteriormente, segundo o
grau de depressão das vibrações que lhes fossem próprias, ou do estado mental
pouco evoluído para superar as incômodas impressões; que nem todas as crianças
falecidas são Espíritos adiantados que viveram a última existência terrena, e
que esse fato é até muito raro; que comumente, elas desencarnaram devido à
insuficiência orgânica, falta de assistência médica adequada, acidentes de
várias naturezas, etc; e que, mais frequentemente, vieram completar o
tempo de existência prematuramente
interrompida na encarnação anterior, por um suicídio, um acidente não previsto
por lei, e muito próprio de planetas como a Terra, etc; enfim, por vários
fatores que o homem ainda não compreendeu.
Disse-me ainda, a dama espiritual, que, muitas
vezes, o que acontece é que a morte de uma criança demarca o final de um ciclo
de encarnações terrenas punitivas, ou expiatórias, e que, de ali em diante,
reencarnarão, sim, mas com lúcidos desejos e predispostos ao bem, a fim de
continuarem progredindo não mais através de provações, mas de realizações
beneméritas no vasto campo da moral, da justiça, da ciência, do amor, etc.
Esclareceram, as dignas preceptoras
espirituais, que aquela ambientação do mundo invisível é subdividida em
falanges nacionais, próprias de cada país, e que é a isso que os antigos
devotos religiosos denominavam “limbo”, local indefinido, segundo a crença
deles, onde permanecem almas infantis que não haviam recebido o batismo quando
existindo na Terra. A verdade espiritual era então deturpada: tais Espíritos
ficam, com efeito, separados dos demais libertos, não atingem a espiritualidade
propriamente dita, mas não é pelo fato de terem deixado de ser batizados nesta
ou naquela religião que assim permanecem, e sim porque seus perispíritos já
estão preparados para a reencarnação; voltarão com presteza à vida terrena, e
por isso não foram desambientados das condições humanas que, ainda ontem,
experimentaram” (PEREIRA, Yvonne A. Cânticos do Coração, vol. II. Rio de
Janeiro: CELD, 1994. pp. 14-17).
Estas informações de D. Yvonne Pereira
concordam com o que também nos informa André Luiz:
“Hilário, que acompanhava a conversação com
extremo interesse, considerou:
- Antigamente, na Terra, conforme a teologia
clássica, supúnhamos que os inocentes, depois da morte, permaneciam recolhidos
ao descanso do limbo, sem a glória do Céu e sem o tormento do inferno, e, nos
últimos tempos, com as novas concepções do Espiritualismo, acreditávamos que o
menino desencarnado retomasse, de imediato, a sua personalidade de adulto...
- Em muitas situações, é o que acontece –
esclareceu Blandina afetuosa -; quando o Espírito já alcançou elevada classe
evolutiva, assumindo o comando mental de si mesmo, adquire o poder de
facilmente desprender-se das imposições da forma, superando as dificuldades da
desencarnação prematura. Conhecemos grandes almas que renasceram na Terra
por brevíssimo prazo, simplesmente com o
objetivo de acordar corações queridos para a aquisição de valores morais,
recobrando, logo após o serviço levado a efeito, a respectiva apresentação que
lhes era costumeira. Contudo, para a grande maioria das crianças que
desencarnam, o caminho não é o mesmo. Almas ainda encarceradas no automatismo
inconsciente, acham-se relativamente longe do autogoverno. Jazem conduzidas
pela Natureza, à maneira das criancinhas no colo maternal. Não sabem desatar os
laços que as aprisionam aos rígidos princípios que orientam o mundo das formas
e, por isso, exigem tempo para se renovarem no justo desenvolvimento. É por
esse motivo que não podemos prescindir dos períodos de recuperação para quem se
afasta do veículo físico, na fase infantil, de vez que, depois do conflito
biológico da reencarnação ou da desencarnação, para quantos se acham nos
primeiros degraus da conquista do poder mental, o tempo deve funcionar como
elemento indispensável de restauração. E a variação desse tempo dependerá da
aplicação pessoal do aprendiz à aquisição de luz interior, através do próprio
aperfeiçoamento moral.
(...)
O nosso educandário guarda mais de duas mil
crianças, mas, sob os meus cuidados, permanecem apenas doze. Somos um grande
conjunto de lares, nos quais muitas almas femininas se reajustam para a
venerável missão da maternidade e conosco multidões de meninos encontram abrigo
para o desenvolvimento que lhes é necessário, salientando-se que quase todos se
destinam ao retorno à Terra para a reintegração no aprendizado que lhes compete”
(XAVIER, Francisco C. Entre a Terra e o Céu. Pelo Espírito André Luiz. 17. ed.
Brasília, DF: Federação Espírita Brasileira. Cap. IX – No Lar da Bênção, pp.
64-65. Cap. XI – Novos Apontamentos, p. 68).
“- Você sabe, minha querida, que nem todas as
crianças, não importando a idade, podem retomar de imediato as lembranças de
sua última romagem terrestre. Algumas – quase a maioria das que abrigamos aqui
-, por se encontrarem em tratamento vigoroso, devem, sem muita demora, retornar
ao Plano Físico, para a continuidade de seus resgates e ajustamentos cármicos,
limitando-se a manifestações simples, por impossibilidade evolutiva, já que,
nesses casos, a mente ainda não granjeou segurança e lucidez suficientes para a
própria gerência dos potenciais em expansão. E existem casos mais raros, como o
seu, que assumem quase prontamente as conquistas levadas a efeito desde muito”
(PAIXÃO, Wagner Gomes da. Na Bênção do Lar. Pelo Espírito Jacqueline Fernandes.
Belo Horizonte: Fonte Viva, 2003. p. 23).
Compreendendo, através destes preciosos
esclarecimentos que nos trouxe a Espiritualidade, cabe-nos esclarecer a
respeito de manifestação de crianças em reuniões mediúnicas. Acompanhemos,
ainda, as palavras dos estudiosos e pesquisadores:
“154. Qual é, na outra vida, o estado
intelectual da criança morta com pouca idade?
O desenvolvimento incompleto dos órgãos não
permitiria ao Espírito manifestar-se completamente. Separado desse invólucro,
suas faculdades são o que eram antes da encarnação. Nada tendo feito o Espírito
senão passar alguns instantes na vida, suas faculdades não se puderam modificar”.
NOTA – Nas comunicações espirituais, o
Espírito de uma criança pode, portanto, falar como o de um adulto, pois poderá
ser um Espírito muito adiantado. Se este usa, às vezes, a linguagem infantil é
para não tirar à mãe o encanto que se liga à afeição de um ser frágil e delicado,
dotado das graças da inocência (Revista Espírita, 1858, “Mãe, estou aqui”).
(KARDEC, Allan. O que é o Espiritismo. Cap.
III – Solução de Alguns Problemas pela Doutrina Espírita. questão 154. Edição
Edicel).
“São esses Espíritos, pois, que possivelmente
se comunicam em nossas sessões experimentais, ou são percebidos pela vidência,
com aparência infantil, e que se mostram, frequentemente, tais como eram ao
desencarnar, assim consolando fortemente os pais atingidos no coração por sua
ausência carnal. Esses Espíritos, porém, são adultos. As circunstâncias
temporárias é que os levam a se conservarem infantis” (PEREIRA, Yvonne A. Cânticos
do Coração, vol. II. Rio de Janeiro: CELD, 1994. pp. 17).
“Em determinadas circunstâncias, a criança
desencarnada poderá se comunicar com os familiares que buscam o Centro Espírita
ou médiuns, para dar notícias, reconforto espiritual aos seus afetos e prova de
sua sobrevivência, sob a tutela de espíritos superiores. Somente aqueles que já
perderam um ente querido e recebem a dádiva de uma comunicação espiritual,
podem avaliar como é grande a Misericórdia Divina na concessão deste benefício.
Entretanto, estas comunicações exigem aptidão
do médium, condições adequadas, merecimento de ambas as partes e estarão sempre
resguardadas por espíritos que conduzem as crianças às reuniões mediúnicas. É
importante enfatizar que a criança, mesmo estando em sofrimento no mundo
espiritual, recolhida em hospitais ou lares que as protegem, nunca se
apresentará em reuniões mediúnicas perturbadas, aflitas ou perdidas,
necessitadas de esclarecimento ou doutrinação como ocorre com um espírito
adulto.
Existem médiuns “videntes” que, habitualmente,
veem espíritos de crianças em reuniões mediúnicas. Segundo eles, estes
espíritos, não raras vezes, dão conselhos como mentores ou guias. Sabemos que
as leis morais que regem o mundo dos espíritos são mais rígidas e mais sábias
que as humanas. Aqui em nosso mundo, são estabelecidas regras e condições pela
faixa etária de seus habitantes, delimitando o ingresso em escolas, assembleias
religiosas, casas de lazer e entretenimento, hospitais e até mesmo para a
frequência em nossas reuniões mediúnicas. O bom senso nos indica que no mundo
espiritual não será diferente e as crianças, cujos espíritos estejam, ainda, na
forma perispiritual infantil, não poderão estar participando de reuniões mediúnicas
na condição de guias ou sofredores.
Todo os espíritos desencarnados podem
manifestar-se quando as leis da comunicação mediúnica permitem a ocorrência do
fenômeno sob a permissão dos Espíritos Superiores. Todavia, determinados
espíritos apresentando-se na forma infantil, têm como objetivo sua
identificação aos pais e familiares, retomando a seguir sua condição de adulto
se já possuem as características necessárias, isto é, governo mental e evolução
espiritual.
(...)
Em algumas seitas onde predomina o sincretismo
religioso, os espíritos se apresentam como crianças pois estão, como os
participantes, condicionados pelas crenças primitivas. Geralmente são
comunicações anímicas” (RAMOS, Lucy Dias. Mediunidade e Nós. Solidum, 2011.
Barra Bonita, SP. pp. 40-41).
Crianças no Plano Espiritual
1 – Como encarar a manifestação de uma criança
apavorada, que se diz num lugar escuro, onde apanha muito?
Há três possibilidades: trata-se de uma
mistificação do Espírito, com a intenção de envolver o grupo; uma fantasia
anímica do médium, que guarda afinidade com crianças, ou um desajuste do
comunicante, que regrediu a um comportamento infantil, como acontece, não raro
com doentes mentais.
2 – E quando se trate de Espírito imaturo,
desencarnado na infância, não seria interessante o esclarecimento que poderia
receber?
Seria totalmente ocioso. Geralmente o adulto
recém-desencarnado, sem nenhuma noção sobre a vida espiritual, enfrenta
dificuldades de adaptação em virtude de seus comprometimentos com os vícios, as
paixões, as ambições do mundo. A criança não tem esse problema.
3 – Por quê?
Ao reencarnar o Espírito adormece e somente
começará a acordar para a vida física a partir dos sete anos, quando se
completa a reencarnação. Até então não detém o comando de sua existência, nem a
possibilidade de envolvimento com as seduções da vida física. Embora possa
trazer tendências inferiores cultivadas em existências pretéritas, elas ainda
não se manifestaram e nem o comprometeram, razão pela qual a criança é
considerada o símbolo da inocência.
4 – E o que acontece com as crianças
recém-desencarnadas?
São imediatamente recolhidas por familiares ou
mentores, que lhes darão ampla assistência. Se são Espíritos evoluídos, retomam
a personalidade anterior. Se de mediana evolução, conservam a condição
infantil, que será superada com o tempo, como ocorre com as crianças na Terra.
Podem, também, retornar à reencarnação.
5 – Isso significa que crianças nunca se manifestam
em reuniões mediúnicas?
Pode acontecer, mas em caráter de exceção. Um
Espírito evoluído que desencarnou em tenra infância, atendendo à sua
programação evolutiva, já reintegrado na vida espiritual, poderá manifestar-se
como criança, com o propósito de consolar seus pais.
6 – Como deve o doutrinador agir quando
lidando com suposta manifestação de criança?
Conversar normalmente, mas com a sutileza de
quem sabe que está lidando com uma das três situações a que nos referimos,
dispondo-se a abordar o assunto com o grupo, após a reunião, para os
esclarecimentos necessários.
7 – Há grupos espíritas que se dizem
especializados em doutrinar crianças desencarnadas. Como situá-los?
Provavelmente estão sendo envolvidos por
Espíritos mistificadores, que exploram a ingenuidade dos participantes. As
pessoas emocionam-se quando um Espírito situa-se como uma criança que estava
sendo judiada num antro escuro da espiritualidade, sem considerar o absurdo de
semelhante ideia.
E onde estavam os mentores e familiares
desencarnados, a permitir que isso acontecesse com um inocente?
8 – Além dos argumentos apresentados, que mais
se poderia dizer para os que têm dificuldade em aceitar que crianças desencarnadas
não precisam de reuniões mediúnicas para receber ajuda?
É significativo considerar que não há uma
única manifestação de criança nas obras de Allan Kardec, principalmente em O
Livro dos Médiuns, o grande manual de intercâmbio com o Além, nem nos livros de
André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier, onde temos a mais clara e
objetiva visão do relacionamento entre o plano físico e espiritual.
Pinga Fogo – Richard Simonetti
(*) - Leonardo Paixão é trabalhador espírita
em Campos dos Goytacazes, RJ, colaborando no Grupo Espírita Semeadores da Paz.