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segunda-feira, 9 de julho de 2018

SÍNTESE DOS PRINCÍPIOS DOUTRINÁRIOS DO ESPIRITISMO

O Universo inteiro, no mínimo e no máximo, está sujeito a uma evolução constante e progressiva.

Há evolução para o Princípio material; há evolução para o Princípio psíquico.

A base da evolução, a Alma é um simples elemento de vida, uma inteligência em germe. É a força difusa que associa e mantém as moléculas minerais numa forma definida.

No cimo da evolução, a Alma é um Princípio vivo, consciente e livre, guardando apenas, da sua associação à matéria, o mínimo orgânico necessário à conservação da sua individualidade.

No curso da sua evolução progressiva, a Alma passa por organismos cada vez mais aperfeiçoados, numa série imensa de encarnações e desencarnações.

A memória dos estados precedentes fica mais ou menos latente, durante cada encarnação, para reaparecer após a morte, tanto mais extensa quanto mais evoluído for o indivíduo.

A Alma conserva intacta a sua individualidade, mercê da sua união indissolúvel com o organismo fluídico, chamado CORPO ASTRAL ou PERISPÍRITO, que evolui com ela.

O PERISPÍRITO é o Princípio intermediário entre a matéria e o Espírito, cuja finalidade é tríplice:

- Manter indestrutível e intacta a individualidade;
- Servir de substrato ao corpo físico durante a encarnação;
- Constituir o laço de união entre o Espírito e o corpo físico, para a transmissão recíproca das sensações de um e das ordens do outro.

Na morte natural o Espírito abandona o corpo por este lhe ser inútil à sua evolução.

No nascimento, o Espírito toma posse de um organismo novo para dar continuidade ao seu progresso.

Durante as fases da vida espiritual, o Espírito pode manifestar-se, em certas condições, cujo estudo é o objeto do Espiritismo experimental.

Dr. Gustave Geley
Médico e antigo Diretor do Instituto Metapsíquico de Paris.

Desencarnou em 1943 em acidente aéreo.

quinta-feira, 5 de julho de 2018

PSICANÁLISE E ESPIRITISMO

Por Leonardo Paixão (*)

A Psicanálise é uma ciência surgida no século XX, especialmente com a edição do livro de Freud "A  Interpretação dos Sonhos" que saiu em 1900. Obviamente, o fundador da Psicanálise, Sigmund Freud, escreveu antes do ano 1900 artigos e livros como o de parceria com o Dr. Joseph Breuer - Estudos sobre a Histeria (**) - onde iniciou seus estudos sobre o inconsciente a partir de experiências em uma paciente histérica, Anna O. (Berta Parpenhheimme) através da hipnose. Com estas experiências, Freud utilizou a hipnose em sua forma catártica. Aqui foi Freud adentrando mais intensamente no mundo do inconsciente.

Teorias sobre o inconsciente haviam surgido já, tanto nas obras do alemão Franz Hartmman,  quanto na do francês Pierre Janet em sua célebre obra "O Automatismo Psicológico", obras estas utilizadas por cientistas dos mais diversos campos para explicar os fenômenos mediúnicos e assim tombar a teoria espírita.

Allan Kardec em seu tempo não teve acesso às teorias do inconsciente, na Introdução de "O Livro dos Espíritos" é que ele fala sobre teorias que nos remetem a fenômenos que se poderiam dizer do inconsciente, como a teoria reflexiva e a sonambúlica. Na primeira, o médium seria um reflexo das ideias dos assistentes e na sonambúlica, o médium poderia haurir seus conhecimentos a quilômetros de distância. Kardec contradita estas teorias com argumentos que estas duas teorias não dão respostas, como o fato de se o médium é um reflexo dos conhecimentos dos assistentes, como ele pode falar em idioma que todos os presentes desconhecem? E como ele poderia haurir conhecimentos a quilômetros de distância, até em outros planetas quando há explicação muito mais prática e que, segundo Kardec, fala à razão, que é a comunicação dos Espíritos e também porque o sonâmbulo falando por ele mesmo, ora daria palavras cultas e ora grosseiras, obscenas mesmo? 

"O Livro dos Espíritos", saído a 18 de Abril de 1857 e tendo em sua 2. edição sua roupagem definitiva em 1860, avançou em suas pesquisas e  em 15 de Janeiro de 1861 dava a público "O Livro dos Médiuns", onde na Segunda Parte, nos capítulos XIX, XX e XXI, tratará "Do papel dos médiuns nas comunicações espíritas"; "Da influência do médium"; "Da influência do meio". Há quem sem maiores conhecimentos sobre o conceito de inconsciente na Psicanálise, afirme que antes de Freud, Kardec já havia estudado o inconsciente, esta porém, é uma afirmação completamente infundada, basta a observação quanto à diferença do objeto estudado por um e por outro. Enquanto Kardec pesquisou até que ponto os conhecimentos atuais ou anteriores (de existências passadas) influenciavam as comunicações espíritas e também a moral, o caráter do médium, Freud pesquisou a influência do inconsciente no próprio indivíduo, derivando daí conflitos, complexos, neurose-obsessiva, histeria, fobias, etc...
Para Kardec o objeto estudado não é, no caso dos fenômenos mediúnicos, o sujeito em si e sim o que poderão os conhecimentos do indivíduo em tal ou ou qual assunto, afetar, interferir, mesclar-se às comunicações mediúnicas que por ele surjam. Aqui não se tem movimento intenso em busca dos processos inconscientes quanto ao sujeito em si mesmo.

Freud ao pesquisar o inconsciente trouxe vários conceitos como o recalque, a censura, a repressão, o Id, o Ego e o Super Ego,  o ato falho, o chiste, complexo de Édipo, narcisismo, diferenciou neurose, psicose, perversão.

O espírita que em não conhecendo as teorias psicanalíticas poderá cair em erro e é o que frequentemente acontece, ao se referir aos conceitos freudianos. Daremos aqui em resumo o significado das expressões por nós aqui postas e que são próprias à psicanalise.

Recalque - um desprazer que se teve.

Censura - o Ego.

Repressão - Super-Ego (é como um "pai" a dizer: "não faça isso", "não pode fazer isso").

Id - "Seria essa parte ligada aos nossos instintos. De maneira simplificada, ele é simplesmente voltado ao prazer, à libido, às nossas paixões e impulsos primitivos. Se nosso cérebro fosse composto apenas por este reservatório de energia da psique, seríamos basicamente, selvagens!".

Super-Ego - "é a parte da psique que te controla e regula a partir de todos os padrões e normas sociais vigentes. Por isso, ele é desenvolvido de acordo com as noções de moral da sociedade e época em que vivemos.

Ego - "é a divisão que fica no meio de tudo isso, tentando nos equilibrar e criando harmonia em nossa personalidade sempre. Ele tenta suprir as exigências do Id de forma moral e "barrar" tudo aquilo que não seria aceito pelas normas e padrões que nos são impostos, ou seja, tudo aquilo que o Superego nos traz. Sendo assim, o Ego é a nossa personalidade desenvolvida em si e também a nossa parte racional".

Atos falhos - erros em nossos diálogos ou memórias que parecem dizer aquilo que sempre desejamos, mas nunca tivemos coragem de admitir ou liberdade para, de fato, poder expressar.

Chiste - vulgarmente se diz: "brincando que se diz muitas coisas que se quer dizer". Em Psicanálise investiga-se o que nas anedotas, brincadeiras, enfim, nos chistes, se quer dizer e que não está dito claramente.

Complexo de Édipo - baseado no mito grego de Édipo onde se fala do apaixonamento do filho em sua primeira infância pela mãe e da filha por seu pai, obviamente que neste espaço não podemos dissertar sobre este conceito central da Psicanálise.

Narcisismo - o sujeito tem a si mesmo por objeto de desejo em uma condição exacerbada.

Inconsciente - para a Psicanálise, o inconsciente é constituído na primeira infância e o que é desprazer vai para o inconsciente.

 "(...) o inconsciente é um saber no qual o sujeito pode se decifrar. É a definição de sujeito que aqui dou. Do sujeito tal como o constitui o inconsciente".
Jacques Lacan (Seminário).

Colocando aqui estes conceitos da Psicanálise, desejamos expressar a total diferença entre o objeto de estudo de Kardec e o de Freud, assim como também esperamos contribuir aos interessados em aprofundarem-se nestes temas da psique humana, que busquem ampliar seus conhecimentos no ramo e também aos espíritas que, a partir destes conhecimentos, possam perceberem-se como seres singulares e vivenciar o autoconhecimento enquanto seres de desejo e assim também não estarem a culpabilizar obsessões e obsessores por conflitos surgidos nos agrupamentos que frequentam, esquecendo-se da fala própria aos espíritas: "Só há obsessores porque há obsidiados".

Que em nos conhecendo possamos dignificar a obra a que nos propomos: nossa renovação moral.

Campos, RJ, 24/11/2017.

(*) Leonardo Paixão é trabalhador espírita em Campos dos Goytacazes, RJ, Dirigente do Grupo Espírita Semeadores da Paz. Profissionalmente é Psicanalista.

(**) Parte destes estudos foram reproduzidos no livro "A Personalidade Humana", de Frederic Myers (estudioso dos fenômenos psíquicos).