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sexta-feira, 24 de agosto de 2018

A PSICOMETRIA POR ALFRED ERNY

Do livro de Alfred Erny - O Psiquismo Experimental 
Cap. IV A psicometria. – Resumo dos trabalhos do Dr. Buchanan e de W. Denton 

Falemos agora da psicometria, curiosa faculdade psíquica descoberta pelo Dr. Buchanan, que fundou uma escola de medicina em Cincinnati (Estados Unidos). 

Conversando um dia com um cliente, o bispo Simpson, o doutor soube que o bispo, toda vez que tocava num metal, mesmo à noite, quando ignorava que o fazia, sentia a influência desse corpo e descobria a natureza dele. Em seguida a essa observação, o doutor começou uma série de experiências. 

Colocou metais diversos nas mãos de pessoas de grande sensibilidade e constatou que muitas possuíam o poder de adivinhar pelo tato tal ou tal substância, envolvida em papel e imperceptível à vista. 

Continuando nessa ordem de idéias, o Dr. Buchanan imaginou que os sensitivos poderiam ser afetados do mesmo modo pelo contato de seres vivos. Pessoas de temperamento muito impressionáveis poderiam, colocando a mão sobre a cabeça ou sobre o corpo, experimentar uma sensação correspondente à vida íntima. Muitas vezes, mesmo o contato era dispensável. 

Poderosos sensitivos, achando-se diante de pessoas doentes, reconheciam a moléstia e podiam indicar-lhe a sede. 

Eis um gênero de psicometria que prestaria grande auxílio aos nossos médicos, quando seus diagnósticos não correspondessem à sua esperança. (i)

Dois anos depois de haver feito as suas primeiras descobertas, o Dr. Buchanan encontrou indivíduos tão sensitivos que podiam reconhecer a influência comunicada a uma carta por aquele que a tinha escrito, quando se colocava essa carta sobre a fronte do psicômetra. Às vezes, este último podia ainda indicar o caráter e os hábitos daquele que havia escrito a carta. 

Entre aqueles que mais se têm ocupado de psicometria, deve-se citar em primeiro lugar o eminente geólogo William Denton. 

Encontrou em sua mulher, em sua irmã e num dos seus filhos os mais poderosos exemplos de poder psicométrico, e durante mais de vinte anos fez experiências nas melhores condições. 

Continuando suas pesquisas em numerosas viagens, e achando-se em contato com muitas pessoas que possuíam mais ou menos o dom psicométrico, William Denton publicou os resultados de suas experiências em três volumes intitulados: A Alma das Coisas. Vou dar alguns extratos desse curiosíssimo livro. 

A irmã de Denton, Sra. Uridge, foi a primeira pessoa sobre a qual tentou experiências. 

Sendo muito impressionável, essa senhora dentro em pouco se achou em estado de ver e descrever as pessoas que haviam escrito as cartas que se lhe colocavam fechadas sobre a fronte, dizendo mesmo muitas vezes a cor dos cabelos e dos olhos. 

Denton concluiu daí que, se a imagem daquele que escreve uma carta pode gravar-se nela (psiquicamente) durante o pouco tempo em que o papel se lhe acha sob a influência, era justo supor que os rochedos guardavam a impressão de tudo quanto os havia rodeado. Foi assim levado a pensar que o geólogo poderia obter indicações sobre o passado e fez experiências com fósseis, minerais, espécimes arqueológicos. Denton descobriu que o psicômetra, sem saber em que consistia o espécime que se colocava, embrulhado, na mão ou sobre a fronte, via o objeto e tudo o que havia acontecido na sua vizinhança. 

Esta visão passava às vezes com a rapidez do raio e outras vezes tão lentamente e tão distintamente que era possível descrevê-la como uma vista panorâmica. 

A psicometria prestará ao geólogo um auxílio imenso. Há períodos inteiros do passado que ignoramos. A fauna e a flora da Terra durante o período cretáceo nos são quase desconhecidas. Que sabemos do começo da vida? É provável que não só nos fósseis devamos procurá-la, mas também em impressões que o psicômetra pode descobrir. 

Formas pequenas ou demasiado inconsistentes para deixarem impressão sobre os rochedos poderão ser percebidas, e períodos que nos parecem estéreis, vazios, mostrar-nos-ão miríades de seres que viveram sem deixar traços visíveis. Tipos de animais, de pássaros e de peixes, de que não temos a menor idéia, serão por assim dizer reconstituídos e poderemos julgar do conjunto da criação orgânica desde a mônada até o homem. 

Muitas vezes, viajando de carruagem, a Sra. Denton dizia a seu marido: “... há chumbo ou cobre nos arredores ...”, e o Sr. Denton verificou a exatidão da informação. 

O psicômetra – diz ele – pode seguir o curso dos veios de um metal no interior da terra, como nós seguimos o curso de um rio à superfície desta. 

Mas – acrescenta Denton – como poderemos saber se as narrativas dos psicômetras são exatas? Comparando as revelações de um às de outro, como fazemos em astronomia. 

Mesmo para o historiador, a psicometria será útil, pois a História – diz Voltaire – é uma enorme mentira. 

A biografia de todas as nações se acha escrita algures e o psicômetra poderá lê-la. Os ocultistas dizem que todos os acontecimentos passados e presentes estão impressos na luz astral e que os videntes podem lê-los como em um livro. 

O psicômetra é, em suma, uma espécie de vidente, ou antes um indivíduo que tem, acordado, as faculdades e as percepções que o sonâmbulo só possui quando adormecido. 

Em lugar de milhares de anos, o psicômetra pode fazer-nos remontar a milhões de anos. Saberemos o que se passava nas épocas primárias, secundárias, etc.; a espada de um César ou de um conquistador muito poderá dizer-nos sobre o seu caráter. A psicometria, em diversos casos, poderá servir para a descoberta dos criminosos. Os restos de um indivíduo assassinado podem contar a sua história, pois se acham impregnados da influência dele. 

“O peixe – diz Denton – nada sabe do oceano aéreo em que anda o pássaro, e nós – apesar de todos os nossos famosos conhecimentos – quase nada sabemos do oceano do éter que nos cerca. Acredito que a psicometria não passa de um exercício das faculdades da alma e que é independente do corpo. O psicômetra vê, sem auxílio dos olhos materiais, quer o passado, quer o presente, tanto o que se acha próximo como o que está afastado; ouve sons que os ouvidos físicos não percebem e viaja sem ser pelos meios ordinários de locomoção. Entretanto, as numerosas dificuldades que encontramos em nossas experiências provaram-me que nos temos aproximado de um terreno desconhecido, mas que apenas o temos costeado.” 

Vê o psicômetra os objetos como nós os vemos? “Não inteiramente do mesmo modo – diz a Sra. Denton –. Em certos casos os objetos passam diante do observador com a rapidez do raio; só muito tempo depois eu soube que, por um esforço poderoso da vontade, era possível fixar esses quadros, os quais são reais como tudo o que vemos diariamente. Outras vezes os objetos parecem fixos, mas apenas certas partes deles são visíveis. Por momentos o psicômetra se acha transportado ao espaço e, movendo-se mais velozmente do que o vento, voa e sente-se desprendido de todo laço terrestre. 

É provável que este último efeito seja produzido por um desprendimento do corpo psíquico, que habitualmente só se verifica no sono ou no estado letárgico. 

Na sua mocidade, a Sra. Denton acreditava que se poderiam obter esses resultados comprimindo as pálpebras sobre os olhos, segundo lhe dizia sua mãe. Mais tarde verificou que a explicação era pueril e que esse gênero de efeitos bem se podia aproximar do que Aristóteles chamava ação interior do sentido da visão. 

Por uma sucessão de coincidências e experiências, o Sr. Denton e sua esposa foram levados a pensar que existia algum laço entre essas singulares visões e as realidades da vida exterior. Às vezes percebe-se como que o fac-símile de uma coisa familiar, porém o objeto pode também ser de todo diferente do que se viu ou conheceu. 

Nenhum anatomista sabe o que é o órgão visual ao redor, e bem embaraçado se veria para explicá-lo. 

É o sexto sentido, de que nos falam alguns ocultistas elevados, sentido que começa a desenvolver-se entre certos privilegiados das novas gerações. 

Haverá mesmo um sétimo sentido, que se desenvolverá em futuras raças. 

Voltemos à Sra. Denton. Entusiasmada com a descoberta do Dr. Buchanan, ela quis fazer experiências de acordo com as suas indicações. Uma tarde, no seu quarto, e na obscuridade, tomou ao acaso uma carta, entre muitas que se achavam em uma gaveta, e colocou-a sobre a fronte. Imediatamente viu o rosto e o busto da pessoa que a escrevera e mesmo o aposento em que se realizara esta operação. Depois, riscando um fósforo, verificou a exatidão da experiência. 

Embora praticáveis em pleno dia, estas experiências se tornam muito mais fáceis na obscuridade. O psicômetra pode desenvolver então inteiramente a sua visão interna, e as suas descrições são mais nítidas. Não são simples produtos de sua fantasia ou criação da sua imaginação. 

Eis um exemplo: Em 1872, o Sr. Denton colocou nas mãos de seu filho (de 12 anos de idade) um pedaço de cimento proveniente da casa de Salústio, em Pompéia. As descrições desse menino foram tanto mais surpreendentes quanto nada conhecia de Pompéia (nem por leitura, nem por qualquer outro modo) e, entretanto, o que disse dos seus habitantes, dos seus armazéns, das suas festas, da vida diária, do teatro, etc., era perfeitamente exato, segundo se reconheceu posteriormente. As experiências foram feitas com grandes intervalos, para evitar tanto quanto possível a transmissão dos pensamentos. 

No caso que passo a referir nem mesmo esta explicação poderá servir, pois a experiência teve por objeto um fóssil da ilha de Cuba. Colocado sobre a fronte da Sra. Denton, ela descreveu muito exatamente onde fora encontrado o fóssil, de que era (da época terciária), o que o cercava, a parte da ilha onde o tinham apanhado. 

O Sr. Denton nada sabia desse fóssil, que lhe fora dado como proveniente de Calabaial, o que indicava uma cidade hispano-americana, porém não uma cidade da ilha de Cuba, de preferência a qualquer outro lugar da América. 

Escrevendo a amigos seus, depois da experiência, o Sr. Denton obteve esclarecimentos que concordavam absolutamente com as descrições de sua esposa. 

De outra feita, no meio de mais de duzentos espécimes de todas as espécies, embrulhados em papel, o Sr. Denton tomou um ao acaso e colocou-o sobre a fronte de sua esposa, ignorando de qual se tratava. Mais tarde, abrindo o papel, o Sr. Denton leu sobre o espécime: Mosaico moderno – Roma. 

A descrição da Sra. Denton versara sobre o templo donde fora tirado esse mosaico. 

Reconheceu que não se tratava de pintura, porém de cores impressas nos materiais. 

É necessária a influência magnética para o fenômeno de psicometria? 

De modo algum – responde o Sr. Denton –; Esta influência nunca deve ser aceita pelo psicômetra, exceto em casos muito raros. 

Deve o olhar do psicômetra ser dirigido para o espaço ou para algum objeto donde pareceu emanarem as visões? Não – diz ainda o Sr. Denton –; o psicômetra não precisa de olhar os objetos. Em 90 casos sobre 100, vê muito mais do que pode descrever; ele não precisa de evocar visões; elas lhe chegam em multidão e como que dotadas de vida e movimento. 

O valor dessas visões depende sobretudo da habilidade do psicômetra em distinguir a natureza das duas influências ou da sua origem, de modo a se tornar ativo para uma influência e passivo para outras. 

A fim de provar que esses fenômenos não são pessoais ao Dr. Buchanan ou à família Denton, vou contar um caso referido pela Sra. Hardinge-Britten, esposa de um doutor inglês. 

Por volta de 1882, uma reunião de despedida se realizara na casa do coronel Kate, muito conhecido em Filadélfia. Um dos visitantes pediulhe permissão para apresentar um amigo que ninguém conhecia. 

No fim da reunião, esse cavalheiro disse que trouxera o seu amigo a fim de obter (se possível fosse um) a descrição psicométrica de um pequeno embrulho que tirou do bolso. Embora houvesse cerca de 60 pessoas presentes, seguiu-se a esse pedido um silêncio completo, até o momento em que a senhora a quem era oferecida aquela festa íntima lançou mão do embrulho. 

Ignorava-se que aquela senhora fosse psicômetra, pois desde muitos anos não exercitava esse dom. Movida por um impulso repentino, declarou que se sentia transportada a milhares de anos atrás, sobre as margens do Nilo, e descreveu bandos de egípcios inclinando-se diante de uma pedra alta e volumosa, cuja ponta era dirigida para o céu. Durante três quartos de hora falou de várias épocas, em que outras nações se haviam reunido aos egípcios para levantar da terra a elevada pedra, em cuja base se encontravam diversas medalhas semelhantes àquela que estava no embrulho. Disse em seguida que essa pedra fora transportada para fora do Egito e que se achava atualmente em uma doca. 

O cavalheiro informou então às pessoas presentes que o embrulho continha uma medalha, que mostrou, e que fora encontrada com muitas outras no Egito, debaixo da agulha de Cleópatra; que o Governo dos Estados Unidos acabava de comprá-la. Essa agulha se encontrava naquele momento em uma doca de Nova Iorque. 

O que mais espantou os assistentes não foi apenas a exatidão das descrições, porém o fato surpreendente de que a história do país, dos habitantes, do monólito, etc., estivesse também gravada nessa medalha de um modo por assim dizer oculto. Essa narrativa é garantida de modo absoluto pela Sra. Hardinge-Britten, que a publicou. 

Desde então, muitos psicômetras surgiram, tanto na Inglaterra como na América, e, como diz W. Denton: 

“A psicometria pode alargar o domínio de todas as ciências, porém os sábios a receberão a princípio com desconfiança, se não com hostilidade. 

Uma pedra das ruas ou dos muros de Jerusalém é como que uma biblioteca com a história do povo judeu. Os acontecimentos mais ignorados, dos tempos pré-históricos, podem ser por nós conhecidos e, para vê-los, basta abrirmos os nossos olhos psíquicos. Um pedaço de uma coluna de Babilônia pode pôr-nos ao corrente do que era a Assíria há 4.000 anos.” 

No seu curioso livro, Denton relata suas numerosas experiências, algumas das quais são realmente espantosas. 

Evidentemente, a psicometria é uma nova mina aberta aos pesquisadores, porém estou convencido de que os adeptos da rotina nos hão de falar em visões, auto-sugestões, transporte de pensamentos, enfim dedilharão toda a lira científica, de preferência a confessar que existem coisas que eles ignoram. 

 i Em Londres há diversos, que prestam grandes serviços.