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segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Nossa relação com o trabalho


 Por Leonardo Paixão 

13/11/2022

Campos dos Goytacazes, RJ


- A necessidade do trabalho é lei da natureza?

R: - O trabalho é lei da natureza, por isso que constitui uma necessidade, e a civilização obriga o homem a trabalhar mais, porque lhe aumenta as necessidades e os gozos.

(Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. Questão 674).

Segundo os Espíritos Superiores o trabalho é lei da natureza e isso vemos nas construções e no movimento por busca de alimentos que os mais diversos animais fazem.

Porém, a partir do momento em que o ser humano avançou e produziu cultura o trabalho não só aumentou como se modificou e cultura na definição do antropólogo  Edward Burnett Taylor é: "...o complexo no qual estão incluídos conhecimentos, crenças, artes, moral, leis, costumes e quaisquer outras aptidões e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade" (A Ciência da Cultura ,1871).


A construção da cultura pelos mais diversos povos traz diferenças significativas entre o modo de vida dos povos das mais diversas nações. Na questão do trabalho, qual é a relação de poder estabelecida e que leva ao homem a essa necessidade: trabalhar?

O primeiro pensamento para respondermos à questão acima é o de que a natureza em si mesma é o primeiro poder que o ser humano necessita enfrentar para produzir para si. Por exemplo: para plantar, é preciso que se tenha solo fértil bem como o aprendizado das estações e das fases da lua a fim de que se possa ter uma boa colheita; este é só um dos vários exemplos que podemos dar. 

Avancemos. Porém, a partir do momento que há uma farta produção - continuando nosso pensamento sobre plantação/colheita -, passa-se a ter uma comunidade onde, diante de uma considerável colheita, esta comunidade pode iniciar o processo de negociação com outras comunidades e trocarem produtos e será aqui que se iniciará a relação de poder dentro da própria comunidade, porque enquanto alguns administram, outros plantam, colhem, aram a terra e recebem uma parte da colheita ou de outros produtos pelo serviço realizado. 

A vida em comunidade em que todos possuíam os recursos necessários à sua sobrevivência vai desfazendo-se diante de necessidades outras que surgem e uma destas é a busca pelo aumento de bens e consequentemente, a possibilidade de adquirir mais coisas. Por isso, os Espíritos Superiores afirmaram: "... a civilização obriga o homem a trabalhar mais, porque lhe aumenta as necessidades e os gozos".

No livro Identidade e Diferença, de Martin Heidegger, ele afirma: 

 "(...) O que agora é vai sendo caracterizado pela dominação da essência da técnica moderna, dominação que se apresenta já em todas as esferas da vida, através de múltiplos sinais que podem ser nomeados: funcionalização, perfeição, automatização, burocratização, informação" (Heidegger, Martin. Identidade e Diferença. Petrópolis, RJ:  Vozes, 2018. p. 32). 


Heidegger está a dizer do "ente perpassado pela essência da técnica", isto é, da transformação que se faz nos seres a partir da tecnologia. Se perpassar pode significar tanto seguir junto em uma direção quanto passar longe de, temos que, diante do fator técnica há um afastamento do ser humano da natureza devido ao aumento da tecnologia e um seguir junto em direção a avanços que a tecnologia traz favorecendo maior interação com outros seres humanos. Podemos então dizer - aqui, nesta reflexão sobre técnica, - que o poder que se faz para o homem agora não é mais a natureza e sim a tecnologia que se não usada, é fator de exclusão da vida em sociedade, pois sem o seu uso não se tem possibilidades para melhores condições de vida e trabalho, no sentido estrito de velocidade de circulação de informação e de comunicação.

O trabalho traz, como vimos, desenvolvimento à sociedade, no século XXI em que estamos há muitas considerações feitas e se fazendo em torno do trabalho.

A formatação da sociedade e os avanços da tecnologia da informação e da comunicação favorecem rapidez bem como fluidez ao trabalho, por outro lado o sistema capitalista nos obriga a produzir sempre e isso tem levado a que muitas pessoas estejam passando pelo transtorno de Burnout, a exaustão física e mental. Penso que, ao invéa de nos revoltarmos contra o trabalho, devemos fazer a seguinte pergunta: Como deverá ser a jornada de trabalho para o futuro que já chegou? Como sairmos de um sistema que leva ao consumismo? Segundo o filósofo Gilles Lipovetsky, o minimalismo é uma reação a tal sistema, no entanto, para ele é algo muito tímido. E será que a solução. é outro sistema  e não o sistema capitalista ou é a renovação do ser humano em não se considerar apenas um complexo celular, um ser fisiológico e, sim um ser espiritual que sobrevive à morte e assim compreender que o sentido da vida é não ficar a buscar preencher o vazio que se sente com coisas e sim elevar o seu desejo ao nível de buscar sua evolução, seu progresso espiritual, com isso, trazendo modificações à vida social.

(*) Leonardo Paixão é escritor e orador espírita. No campo profissional é Psicanalista; no acadêmico é Mestrando em Teologia; Bacharelando em Filosofia; Bacharelando em Administração; é Teólogo (FATE - SP); Especialista em Antropologia Teológica e da Religião (FAINTE - PE).