DESAPARECIMENTO DAS REUNIÕES DE DESOBSESSÃO NAS CASAS ESPÍRITAS?
Artigo publicado no jornal O Rebate: http://orebate-jorgehessen.blogspot.com.br/2014/05/desaparecimento-das-reunioes-de.html
Allan Kardec, o edificador da Era do Espírito, trouxe-nos a advertência de que os Espíritos são as almas dos homens e mulheres que deixaram este mundo e que permanecem na dimensão espiritual tal como estavam em seus sentimentos e emoções, logo, se uma criatura ao deixar o corpo físico com raiva, ódio, sentimento de vingança do outro, tal ser se ligará aquele (a) por quem sente tais coisas. Em “A Gênese”, no capítulo XIV, item 45, Kardec assim define obsessão:
“Chama-se obsessão à ação persistente que um Espírito mau exerce sobre um indivíduo. Apresenta caracteres muito diferentes, que vão desde a simples influência moral, sem perceptíveis sinais exteriores, até a perturbação completa do organismo e das faculdades mentais. Ela oblitera todas as faculdades mediúnicas. Na mediunidade audiente e psicográfica, traduz-se pela obstinação de um Espírito em querer manifestar-se, com exclusão de qualquer outro”.
No item 46 esclarece Kardec: “(...) a obsessão decorre sempre de uma imperfeição moral, que dá ascendência a um Espírito mau”.
O que fazer para evitar tal influência perniciosa? A primeira coisa é cuidar de nossas atitudes que se formam a partir do que desejamos. Emmanuel nos alerta para o seguinte fato: “Desejando, sentes. Sentindo, mentalizas. Mentalizando, ages” (Pensamento e Vida). Nos casos de obsessão, a renovação moral do obsidiado é fator decisivo para o seu reequilíbrio. Atentemos para o que nos orienta o Espírito Adolfo Bezerra de Menezes sobre o caso específico de obsessões sexuais e que servirá para os demais casos:
“(...) E até obsessões sexuais, quando o atuante invisível, que tanto poderá ser um Espírito denominado “masculino” como um denominado “feminino”, dominar um homem como uma mulher – valendo-se das tendências dos caracteres inclinados aos arrastamentos primitivos, às complexidades do sexo – induzi-la-á a quedas deploráveis perante si mesma, o próximo e a sociedade, tais como o adultério, a prostituição, a desonra irreparável, pelo simples prazer de, através das vibrações materializadas da sua presa, que lhe concede clima vibratório propício, dar livre curso a apetites inferiores dos quais abusou no estado humano e os quais, degradantemente, conserva como desencarnado, em vista da inferioridade de princípios que gostosamente retém consigo, o que lhe estimula a mente, inibindo-a do desejo de progresso e iluminação espiritual. Geralmente exercida tão-só através da telepatia ou da sugestão mental, é bem certo que o obsessor estabelece uma oculta infiltração vibratória perniciosa, sobre o sistema nervoso do obsidiado, contaminando-lhe a mente, o períspirito, os pensamentos, até ao completo domínio das ações. Tais casos se apresentam dificilmente curáveis, não somente por aprazerem as vítimas conservá-los, como por ser ignorada de todos essa mesma infiltração estranha, e mais particularmente porque o tratamento seria antes moral, com a reeducação mental do enfermo através de princípios elevados, que lhe faltaram, não raro, desde a infância.
Refutará o leitor, lembrando que, assim sendo, ninguém terá responsabilidades nos erros que sob tais influências cometer.
Acrescentaremos que a responsabilidade permanecerá também com o próprio obsidiado, visto que não só não houve a verdadeira alteração mental como também nenhum homem ou mulher será jamais influenciado ou obsidiado por entidades dessa categoria, se a estas não oferecer campo mental propício à penetração do mal, pois a obsessão, de qualquer natureza, nada mais é que duas forças simpáticas que se chocam e se conjugam numa permuta de afinidades” (PEREIRA, Yvonne. Dramas da Obsessão. Pelo Espírito Bezerra de Menezes. 4. ed. 3. reimpressão. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2010. P. 28-29 – grifos nossos).
Falamos antes do processo obsessivo o definindo e mostrando a importância da conduta digna, pois que este é um verdadeiro flagelo na Humanidade, devido a pulular na Terra os maus Espíritos, em consequência da inferioridade moral de seus habitantes (A Gênese, cap. XIV, item 46).
A Doutrina Espírita nos traz recursos para se lidar com este flagelo que assola a Humanidade: o esclarecimento espiritual ao obsidiado, mostrando a ele a necessidade de reforma moral e a doutrinação do desencarnado em reuniões especializadas, com médiuns e dirigentes moralizados e instruídos nos Códigos da Doutrina.
Este recurso (desobsessão) deveria estar sendo preocupação dos agrupamentos espíritas, no entanto, o que se vê são médiuns invigilantes e dirigentes de casas igualmente invigilantes mais preocupados com a realização de sessões de tratamento de saúde, não desmerecemos os que as realizam pautados na seriedade e na fidelidade aos princípios espíritas que esposaram, porém, vemos, infelizmente, uma gama de casas a só se dedicarem a este aspecto, esquecendo que os doentes necessitam de esclarecimento e que os espíritos que porventura nestes mesmos doentes atuem, necessitam de atendimento em reuniões próprias, mas a preocupação não é esta, o que importa é casa cheia sem nenhuma preocupação com qualidade. Vemos médiuns, como nos disse um amigo, deixando de ser eles mesmos para se tronarem um produto mediúnico, seja com a preocupação em vender livros quanto com o elogio e o aplauso que lhes enaltecem a personalidade, esquecendo-se de que Kardec em O Livro dos Médiuns, cap. XX – Influência Moral dos Médiuns chama a atenção: “Já tivemos de lamentar, várias vezes, os elogios feitos a alguns médiuns, com a intenção de encorajá-los”. Prefere-se, conforme escrevi em artigo intitulado Movimento Espírita em Campos dos Goytacazes, RJ – Uma Análise, seguir com os modismos e inovações que têm enfestado Casas Espíritas:
“(...) tais o uso de jalecos pelos médiuns passistas, luzes amarelas, azuis, vermelhas e outras mais que tem que ficar acesas durante as reuniões públicas de esclarecimento (para que?) não há um motivo racional para isto, não estamos falando de uma luz que se acende na hora do passe para facilitar a concentração da assistência (isto quando à noite e quando a reunião é de dia? Já refletimos sobre isto?), mas de luzes acesas durante a explanação do orador (a), meditações e relaxamentos conduzidos por Espíritos que, sem uma análise sucinta, já se percebe o seu nenhum conteúdo, a dependência psicológica em que ficam muitos por conta de médiuns que acima da Doutrina colocam a sua personalidade e adoram os elogios que se lhes façam, ainda que se ocultem numa falsa humildade. Aí sim, quando há apoio para esse pseudo-espiritismo, não mais se é ortodoxo, dogmático, retrógrado.
É preciso ter coragem para denunciar este estado de coisas abertamente, mostrando o equívoco em que se encontram muitas Casas compostas de pessoas de boa-vontade, mas de fraca ou nenhuma instrução doutrinária”.
Recordemos mais uma vez D. Yvonne Pereira.
Vejamos o que diz D. Yvonne Pereira sobre o tema obsessão:
“Temos para nós que esse difícil aprendizado, essa importante ciência de averiguar obsessões, obsessores e obsidiados deveria constituir especialidade entre os praticantes do Espiritismo, isto é, médiuns, presidentes de mesa, médiuns denominados passistas, etc. Assim como existem médicos pediatras, oculistas, neurologistas, etc, etc., também deveriam existir espíritas especializados nos casos de tratamento de obsessões, visto que a estes será necessária uma dedicação absoluta a tal particularidade da Doutrina, para levar a bom termo o mandato” (Recordações da Mediunidade. 6. Edição, 1989, FEB. Capítulo 10 – O Complexo Obsessão. p.175).
No livro Cânticos do Coração, volume II, 1ª edição: CELD, 1994 no capítulo VI – O Flagelo do Século, p. 66, diz a devotada médium Yvonne Pereira:
“A obsessão merece dos verdadeiros espíritas as mais acuradas atenções. Ela já se infiltra até mesmo “no seio dos santuários”, isto é, nos templos espíritas pouco vigilantes, promovendo ciúmes entre seus componentes, vaidades, dissensões, mal-entendidos, “reformas doutrinárias“ e demais operosidades que contrariam os postulados da Doutrina, haja vista o que, no momento se passa, quando detectamos agrupamentos espíritas, dantes vistos e reconhecidos como templos, a exercerem o perfeito intercâmbio espiritual, hoje reduzidos a meros clubes onde verificamos de tudo: abusivas e inaceitáveis compras e vendas de “lanches’ e merendas, festas e cânticos, burocracia intransigente, diversões, recreios, mas não a “casa do Senhor”, de onde os Protetores Espirituais se retiram, e onde não mais contemplamos aquelas autênticas atividades próprias do Consolador, que eram o testemunho da presença do Cristo entre nós.
E não se falando da “mania”, ora em exercício, de “modificar”, “renovar” e “atualizar” a Doutrina dos Espíritos, que, pelo visto, deixou de agradar àqueles que acima dela desejam colocar a própria personalidade.
Afirmam os adeptos de tais movimentações que o espiritismo “evoluiu”, e que tudo isso não é senão o “progresso” da Doutrina. Mas tal asserção é insana, pois que a lógica e o bom senso indicam que a evolução do Espiritismo seria, em parte, a vinda de outras revelações do Alto, a comunhão perfeita do consolador com os homens, a pesquisa legítima e séria, e não a deturpação que vemos nos ambientes que devem ser consagrados ao intercâmbio com o Alto, onde consolamos os mais infelizes do que nós, e onde somos consolados e instruídos por aqueles seres angelicais que nos amam e que, há milênios, talvez, se esforçam por nos verem redimidos de tantos erros.
Certamente que muitos núcleos espíritas se conservam afinados com as forças do Alto, movimentando-se normalmente, sem as intromissões indevidas, que só podem desfigurar os ensinamentos que temos todos tido a honra de receber dos códigos doutrinários”.
A falta de estudo que no espírita é um desleixo para com a Sublime Doutrina, promove este estado de coisas, pois preferem médiuns e dirigentes se acomodarem e não desagradarem aos que lhes procuram os préstimos, porém, a doutrina não é feita para agradar, ela é feita para nos mostrar o caminho, nos orientar, daí a necessidade do estudo, tão desprezado por muitos, estes mesmos que preferem se manter guiados por guias cegos, esquecidos da advertência de Jesus no Evangelho: “Ora, se um cego guiar outro cego, ambos cairão na cova” (Mateus, 15;14).
Ilustrando isto contemos um fato pessoal. Uma frequentadora de determinada Casa Espírita relatando-nos uma reunião de tratamento que varou a madrugada assim nos disse: “As pessoas querem a cura, querem o fenômeno, ninguém se preocupa em mudar intimamente”. Ao que retrucamos: “Diminua-se o fenômeno e se faça mais reuniões de estudos”. Ela nos colocou o seguinte: “Ah! Mas, aí não vai vir ninguém”. E contra-argumentamos: “Virá sim. Os que verdadeiramente estarão interessados em se modificar”. Este o quadro que tanto nos entristece de presenciarmos.
Espíritas; amai-vos, eis o primeiro ensinamento; instruí-vos, eis o segundo (1). Unamos as asas do amor e da sabedoria para que possamos voar seguindo pela rota certa, pois que na luz da verdade não se faz necessário tomar nenhum atalho.
26/05/2014 - Campos dos Goytacazes, RJ
Nota: (1) – O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. VI-O Cristo Consolador, item 5.(*) Leonardo Paixão é Orador espírita, articulista, crítico literário, poeta, escreve para o Jornal O Rebate, tem críticas literárias publicadas no site orientacaoespirita.org.br e um artigo publicado em Reformador em Agosto de 2010, A Revelação - uma perspectiva histórica. Participa com um grupo de amigos de ideal do GE Semeadores da Paz em Campos dos Goytacazes, RJ, onde exerce direção de estudos e trabalhos na área mediúnica, atuando como médium psicofônico na desobsessão e como psicógrafo na recepção de mensagens esclarecedoras, poesias e o consolo através das chamadas cartas-consoladoras.
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