As pesquisas James Hervey Hyslop com a médium Leonora
E. de Piper
James Hyslop
Extraído da obra
Pesquisas sobre mediunidade
de Gabriel Delanne
Últimas notícias do outro mundo (1)
Cinco cidadãos americanos, todos falecidos — um dos
quais é o antigo médium chamado Stainton Moses, enquanto os outros quatro
ocultam seus verdadeiros nomes sob os pseudônimos Rector, Imperator, Doctor e
Prudens — fundaram, lá em cima, uma sociedade cujo objetivo principal é
demonstrar a seus compatriotas vivos a realidade da vida futura. E, já há
vários anos, eles prosseguem com essa demonstração, cujo sucesso é cada vez
mais evidente à medida em que, de certo modo, agem à moda `americana'. Quero
dizer que, em vez de deter-se em provas teóricas da imortalidade da alma, como
as enfadonhamente inventadas por velhos professores de filosofia, eles
descobriram uma prova eminentemente prática, que consiste em pôr os vivos em
contato direto com parentes ou amigos mortos. A sociedade que esses
propagandistas de além-túmulo formaram, passa a ser, assim, uma espécie de
agência de comunicação entre a Terra e o céu. Se, por exemplo, um leitor do Le
Temps desejar livrar-se das suas dúvidas a respeito da sobrevivência da alma
após a morte, basta ir a Nova Iorque, perguntar o endereço (universalmente
conhecido) da sra. Piper, e pedir a essa senhora que o ponha em contato, por
intermédio de Rector ou de Prudens, com um tio, ou um avô, ou um colega de
escola, com a condição de que a pessoa evocada desse modo esteja morta, e tenha
morrido há vários anos. Isto porque a experiência provou que os mortos aceitam
com mais boa vontade os convites da sra. Piper, e dos seus celestes associados,
quando estes deixaram a Terra há mais tempo. Em seguida, nosso leitor poderia
fazer aos seus mortos quantas perguntas quisesse. Pela mão da sra. Piper,
Rector e Prudens lhe transmitiriam as respostas. E, como certamente essas
respostas seriam exatas, pelo menos grande parte delas, nosso leitor seria
forçado a concluir, após tê-las verificado, que a vida futura realmente existe,
já que os mortos que ele conhece continuam, não apenas a viver, mas a
lembrar-se da sua vida terrena.
Mas, que não se pense que se trata de uma brincadeira!
As comunicações etéreo-terrestres da Sra. Piper, que já tive a oportunidade de
assinalar, são, ao contrário, tão sérias e convincentes que forneceram matéria
para um alentado volume que está prestes a ser publicado pela Sociedade de
Pesquisas Psíquicas americana. E, enquanto se aguarda sua publicação, um sábio
médico americano, o dr. James Hervey Hyslop, nos põe a par, na Harper's
Magazine, de experiências recentemente feitas por ele, com uma extraordinária
abundância de verificações, de contraprovas, e de vinte outras precauções
científicas.
Tendo tomado conhecimento das respostas obtidas de
além-túmulo pelo Sr. Hodgson, o dr. Hyslop inicialmente pensou que elas podiam
explicar-se de um modo natural — ou pelo menos quase natural — pelo que chamam
de telepatia. Achou que a Sra. Piper, em vez de interrogar verdadeiros mortos,
limitava-se a ler no cérebro do Sr. Hodgson, e dar-lhe como vindas do céu
informações que ela obtinha dele próprio. A telepatia, que há apenas vinte anos
passava por uma tola quimera, hoje parece ser algo admitido por sábios, até
pelos menos romanescos. Atualmente, já se admite reconhecer que certas pessoas
têm o dom de adivinhar, de perto ou de longe, as idéias e os sentimentos de
outras pessoas; chega-se até a reconhecer, se não me engano, que os agonizantes
têm o dom de anunciar, à distancia, sua morte às pessoas que lhes são caras.
O dr. Hyslop, pelo menos, não via inconvenientes em
reconhecer tudo isso e, ao tomar conhecimento do resultado das experiências do
Sr. Hodgson, prometeu a si mesmo que pesquisaria a que ponto essas experiências
poderiam ser explicadas pela telepatia. Planejou, então, não fazer suas
perguntas diretamente a Sra. Piper, mas por intermédio do Sr. Hodgson, porque
assim a Sra. Piper certamente não poderia ler no cérebro do seu questionador
respostas que este ignorava por completo. E, para cercar-se de mais garantias,
o dr. Hyslop também resolveu só fazer perguntas cuja resposta ele mesmo
ignorava. Por exemplo, mandou chamar seu pai e interrogou-o quanto a detalhes
referentes aos anos que lhe haviam precedido o nascimento: perguntou ao pai de
que doença tinha morrido um dos seus irmãos que falecera com quinze anos de
idade; ou perguntou-lhe que objetos tinha no seu quarto de estudante, que roupa
havia usado no seu casamento. Fez, assim, umas 200 perguntas ao pai. Depois
escrupulosamente, verificou a exatidão das respostas, percorrendo os Estados
Unidos de ponta a ponta para chegar a conhecer um mínimo detalhe da história da
sua família, e finalmente calculou que, das 200 perguntas dirigidas ao pai,
tinha obtido 152 respostas absolutamente exatas, 16 inexatas, e 32 duvidosas,
por não ter conseguido verificá-las. Decididamente, não bastava a telepatia para
explicar as experiências da sra. Piper. E foi assim que também o dr. Hyslop
viu-se forçado a adotar a hipótese da vida futura.
Quereis agora alguns exemplos mais precisos do seu
método e do resultado que dele obteve? Eis aqui dois ou três, tomados ao acaso:
Um dia, o sr. Hyslop pergunta ao seu pai que remédios lhe levou da farmácia
durante sua última enfermidade. — Arsênico e estricnina! — responde o venerável
defunto. Ora, o sr. Hyslop só havia levado arsênico. Feita a verificação,
porém, soube que seu pai também tinha tomado estricnina. Outro dia, o pai do
sr. Hyslop descreveu-lhe um boné que sua mulher bordou para ele, e um canivete que
usou para limpar as unhas. O sr. Hyslop crê num erro, pois nunca viu aqueles
objetos, mas, feita a verificação, encontra o boné e o canivete na casa da sua
madrasta, a segunda esposa do seu pai. Em mais outro dia, o falecido sr. Hyslop
diz ao filho que, no curso de uma viagem a Ohio, encontrou um professor e falou
com ele sobre um dos seus filhos. O sr. Hyslop vai a Ohio, descobre o
professor, e obtém dele a confirmação do relato do pai.
O sr. Hyslop interrogou ainda tios, primos. Perguntou
a eles também coisas que ignorava, e lhe deram respostas que, em sua maioria,
foram julgadas exatas. Com essas diversas respostas, ele encheu quinze colunas
da Harper's Magazine. E, a não ser que se ponha em dúvida sua veracidade e a
dos numerosos colegas que assistiram às suas experiências, somos forçados a
admitir que a mais intensa telepatia não basta para explicar revelações tão singulares.
O sr. Hyslop, aliás, digna-se a expor-nos os motivos que o fizeram renunciar à
hipótese da telepatia. Os próprios erros, no seu entender, acabam de excluir a
possibilidade dessa hipótese: porque seu pai se enganou várias vezes quanto a
ponto que ele, sr. Hyslop, conhecia perfeitamente, e a respeito do quais,
conseqüentemente, a médium tinha toda chance de informar-se. Seu pai falou-lhe
um dia de uma flauta que um dos seus irmãos mais jovens teria tentado tocar.
Ora o sr. Hyslop se lembrava de que ele tinha tocado violino, e não flauta.
Enfim, a telepatia é inconciliável com a maneira como as pessoas interrogadas
se interrompem sem cessar em suas respostas para tratar de outros assuntos, ou
para retificar respostas anteriores, ou para ceder a palavra a outras pessoas.
Certamente, não, a telepatia não é suficiente para
explicar alguns fatos que o professor americano assinala. Mas, supondo-se que
esses fatos sejam exatos, que outra hipótese conseguirá explicá-los? O sr.
Hyslop — timidamente, na verdade — propõe a hipótese da vida futura. Lamento
apenas que ele não tenha interrogado mais detalhadamente seus indulgentes
interlocutores sobre o caráter dessa vida futura, após ter obtido a prova da
sua realidade. E não sabendo, por eles mesmos, que passam a ser almas depois da
morte, não posso deixar de recear que, segundo o resultado das suas pesquisas,
a sorte dessas almas não seja muito mais agradável lá em cima do que neste
mundo. Porque o fato é que elas têm um semblante muito triste, sofrendo
interrogatórios assim, que não deixam de ser-lhes meio humilhantes.
Afastam-nas, trazem-nas de volta, esforçam-se por apanhá-las em erro,
tratam-nas como os juízes de instrução tratam os criminosos, e as pobres almas
não opõem resistência, com a paciência e a complacência de pessoas entediadas
que ficam felizes por achar uma forma qualquer de distrair-se um pouco. Não foi
assim que nos acostumaram a imaginar os mortos; e seríamos tentados a pensar
que, se a morte deve tornar-nos iguais aos interlocutores do sr. Hyslop, melhor
seria jamais morrer. Quanto a mim, sei que. se tivesse a oportunidade de
interrogar um morto, há mil assuntos de ordem geral a respeito dos quais me
apressaria a questioná-lo, antes de perguntar-lhe como era o canivete de limpar
suas unhas. Mas, será que os mortos da sra. Piper se recusam a falar sobre
esses assuntos? Talvez tenham por princípio nunca abordá-los em suas conversas
com os vivos, de modo a deixar a estes a doçura e o mérito da livre crença. Aí
está, em suma, uma hipótese bem plausível, e que se acha mesmo quase
justificada por uma das respostas que o sr. Hyslop recebeu de seu pai. 'Deixa
todas as tuas teorias em paz, James! — disse um dia a alma do digno ancião. —
Eu também passei toda minha vida formulando teorias, e que ganhei? Minhas
idéias simplesmente ficaram mais confusas e menos satisfatórias. Há um Deus, um
Deus onisciente e onipotente, e, para conhecê-lo, basta seguirmos o que existe
de melhor no fundo do nosso coração. E, depois disso, que importa se Swedenborg
teve razão ou não, já que o fato é que nós estamos aqui, em pessoa, e mais
vivos do que nunca!' Possa esta resposta do sr. Hyslop pai impedir seu filho e
todos os sábios de formularem a teoria da vida futura, no dia em que sua
existência for definitivamente provada com todo rigor dos métodos científicos.
Possamos continuar a aprender com nosso coração, e não
com a ciência, em que se transformam após a morte as almas que amamos! E que
possamos ter a paciência de esperar até estarmos juntos, para conversar com
eles, em vez de submeter suas palavras a um humilhante sistema de contraprovas
e de verificações. 'James, deixa tuas teorias em paz.' Este sábio conselho é,
talvez, o que de mais precioso o interessante trabalho do sr. Hyslop nos
oferece.
T.
de Wyzewa
Eis, portanto, a existência da alma e a sua
imortalidade afirmadas, e afirmadas por sábios incrédulos. O sr. Wyzewa é de
uma boa fé completa no seu relato das experiências do prof. Hyslop, mas sua
incredulidade o leva a fazer objeções nada razoáveis. Ele se admira que os espíritos
dêem detalhes e que se disponham a responder às nossas perguntas, ao passo que
nada dizem sobre sua existência atual. Aí está uma observação pouco fundada,
porque são justamente os pequenos e numerosos fatos narrados pelo pai do dr.
Hyslop que lhe estabelecem a identidade e que impedem que essas revelações
sejam atribuídas à clarividência ou à telepatia. Quando os sábios tiverem
adquirido certeza experimental da sobrevida, só precisarão interrogar todos os
espíritos que se manifestam sobre seu gênero de vida fluídica e fazer um
catálogo das suas respostas. Então, conhecerão as condições físicas e morais da
existência no além, e ficarão surpresos por constatar que Allan Kardec as
indicou há cinqüenta anos nas suas obras, que serão as pedras angulares da
ciência do mundo invisível.
Deve-se louvar a sabedoria dos espíritos diretores da
sra. Piper. Sabedores de que estão lidando com materialistas que só atribuem
importância aos fatos verificáveis, dão-lhes apenas o alimento que lhes convém.
Eles bem sabem que noções precisas sobre a vida futura não seriam compreendidas
por esses positivistas, cuja mentalidade ainda precisa evoluir antes de ser
capaz de compreender as condições de uma vida na erraticidade.
A todos os que exigem provas de identidade, chamamos a
atenção para o relato do dr. Hyslop e aguardamos uma refutação científica dos
fatos, demonstrando que não se devem a almas que viveram na Terra.
Fim
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