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sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015


As pesquisas James Hervey Hyslop com a médium Leonora E. de Piper

James Hyslop
 

Extraído da obra

 Pesquisas sobre mediunidade
de Gabriel Delanne

 

Últimas notícias do outro mundo (1)

 

Cinco cidadãos americanos, todos falecidos — um dos quais é o antigo médium chamado Stainton Moses, enquanto os outros quatro ocultam seus verdadeiros nomes sob os pseudônimos Rector, Imperator, Doctor e Prudens — fundaram, lá em cima, uma sociedade cujo objetivo principal é demonstrar a seus compatriotas vivos a realidade da vida futura. E, já há vários anos, eles prosseguem com essa demonstração, cujo sucesso é cada vez mais evidente à medida em que, de certo modo, agem à moda `americana'. Quero dizer que, em vez de deter-se em provas teóricas da imortalidade da alma, como as enfadonhamente inventadas por velhos professores de filosofia, eles descobriram uma prova eminentemente prática, que consiste em pôr os vivos em contato direto com parentes ou amigos mortos. A sociedade que esses propagandistas de além-túmulo formaram, passa a ser, assim, uma espécie de agência de comunicação entre a Terra e o céu. Se, por exemplo, um leitor do Le Temps desejar livrar-se das suas dúvidas a respeito da sobrevivência da alma após a morte, basta ir a Nova Iorque, perguntar o endereço (universalmente conhecido) da sra. Piper, e pedir a essa senhora que o ponha em contato, por intermédio de Rector ou de Prudens, com um tio, ou um avô, ou um colega de escola, com a condição de que a pessoa evocada desse modo esteja morta, e tenha morrido há vários anos. Isto porque a experiência provou que os mortos aceitam com mais boa vontade os convites da sra. Piper, e dos seus celestes associados, quando estes deixaram a Terra há mais tempo. Em seguida, nosso leitor poderia fazer aos seus mortos quantas perguntas quisesse. Pela mão da sra. Piper, Rector e Prudens lhe transmitiriam as respostas. E, como certamente essas respostas seriam exatas, pelo menos grande parte delas, nosso leitor seria forçado a concluir, após tê-las verificado, que a vida futura realmente existe, já que os mortos que ele conhece continuam, não apenas a viver, mas a lembrar-se da sua vida terrena.


Mas, que não se pense que se trata de uma brincadeira! As comunicações etéreo-terrestres da Sra. Piper, que já tive a oportunidade de assinalar, são, ao contrário, tão sérias e convincentes que forneceram matéria para um alentado volume que está prestes a ser publicado pela Sociedade de Pesquisas Psíquicas americana. E, enquanto se aguarda sua publicação, um sábio médico americano, o dr. James Hervey Hyslop, nos põe a par, na Harper's Magazine, de experiências recentemente feitas por ele, com uma extraordinária abundância de verificações, de contraprovas, e de vinte outras precauções científicas.

Tendo tomado conhecimento das respostas obtidas de além-túmulo pelo Sr. Hodgson, o dr. Hyslop inicialmente pensou que elas podiam explicar-se de um modo natural — ou pelo menos quase natural — pelo que chamam de telepatia. Achou que a Sra. Piper, em vez de interrogar verdadeiros mortos, limitava-se a ler no cérebro do Sr. Hodgson, e dar-lhe como vindas do céu informações que ela obtinha dele próprio. A telepatia, que há apenas vinte anos passava por uma tola quimera, hoje parece ser algo admitido por sábios, até pelos menos romanescos. Atualmente, já se admite reconhecer que certas pessoas têm o dom de adivinhar, de perto ou de longe, as idéias e os sentimentos de outras pessoas; chega-se até a reconhecer, se não me engano, que os agonizantes têm o dom de anunciar, à distancia, sua morte às pessoas que lhes são caras.

O dr. Hyslop, pelo menos, não via inconvenientes em reconhecer tudo isso e, ao tomar conhecimento do resultado das experiências do Sr. Hodgson, prometeu a si mesmo que pesquisaria a que ponto essas experiências poderiam ser explicadas pela telepatia. Planejou, então, não fazer suas perguntas diretamente a Sra. Piper, mas por intermédio do Sr. Hodgson, porque assim a Sra. Piper certamente não poderia ler no cérebro do seu questionador respostas que este ignorava por completo. E, para cercar-se de mais garantias, o dr. Hyslop também resolveu só fazer perguntas cuja resposta ele mesmo ignorava. Por exemplo, mandou chamar seu pai e interrogou-o quanto a detalhes referentes aos anos que lhe haviam precedido o nascimento: perguntou ao pai de que doença tinha morrido um dos seus irmãos que falecera com quinze anos de idade; ou perguntou-lhe que objetos tinha no seu quarto de estudante, que roupa havia usado no seu casamento. Fez, assim, umas 200 perguntas ao pai. Depois escrupulosamente, verificou a exatidão das respostas, percorrendo os Estados Unidos de ponta a ponta para chegar a conhecer um mínimo detalhe da história da sua família, e finalmente calculou que, das 200 perguntas dirigidas ao pai, tinha obtido 152 respostas absolutamente exatas, 16 inexatas, e 32 duvidosas, por não ter conseguido verificá-las. Decididamente, não bastava a telepatia para explicar as experiências da sra. Piper. E foi assim que também o dr. Hyslop viu-se forçado a adotar a hipótese da vida futura.

Quereis agora alguns exemplos mais precisos do seu método e do resultado que dele obteve? Eis aqui dois ou três, tomados ao acaso: Um dia, o sr. Hyslop pergunta ao seu pai que remédios lhe levou da farmácia durante sua última enfermidade. — Arsênico e estricnina! — responde o venerável defunto. Ora, o sr. Hyslop só havia levado arsênico. Feita a verificação, porém, soube que seu pai também tinha tomado estricnina. Outro dia, o pai do sr. Hyslop descreveu-lhe um boné que sua mulher bordou para ele, e um canivete que usou para limpar as unhas. O sr. Hyslop crê num erro, pois nunca viu aqueles objetos, mas, feita a verificação, encontra o boné e o canivete na casa da sua madrasta, a segunda esposa do seu pai. Em mais outro dia, o falecido sr. Hyslop diz ao filho que, no curso de uma viagem a Ohio, encontrou um professor e falou com ele sobre um dos seus filhos. O sr. Hyslop vai a Ohio, descobre o professor, e obtém dele a confirmação do relato do pai.

O sr. Hyslop interrogou ainda tios, primos. Perguntou a eles também coisas que ignorava, e lhe deram respostas que, em sua maioria, foram julgadas exatas. Com essas diversas respostas, ele encheu quinze colunas da Harper's Magazine. E, a não ser que se ponha em dúvida sua veracidade e a dos numerosos colegas que assistiram às suas experiências, somos forçados a admitir que a mais intensa telepatia não basta para explicar revelações tão singulares. O sr. Hyslop, aliás, digna-se a expor-nos os motivos que o fizeram renunciar à hipótese da telepatia. Os próprios erros, no seu entender, acabam de excluir a possibilidade dessa hipótese: porque seu pai se enganou várias vezes quanto a ponto que ele, sr. Hyslop, conhecia perfeitamente, e a respeito do quais, conseqüentemente, a médium tinha toda chance de informar-se. Seu pai falou-lhe um dia de uma flauta que um dos seus irmãos mais jovens teria tentado tocar. Ora o sr. Hyslop se lembrava de que ele tinha tocado violino, e não flauta. Enfim, a telepatia é inconciliável com a maneira como as pessoas interrogadas se interrompem sem cessar em suas respostas para tratar de outros assuntos, ou para retificar respostas anteriores, ou para ceder a palavra a outras pessoas.

Certamente, não, a telepatia não é suficiente para explicar alguns fatos que o professor americano assinala. Mas, supondo-se que esses fatos sejam exatos, que outra hipótese conseguirá explicá-los? O sr. Hyslop — timidamente, na verdade — propõe a hipótese da vida futura. Lamento apenas que ele não tenha interrogado mais detalhadamente seus indulgentes interlocutores sobre o caráter dessa vida futura, após ter obtido a prova da sua realidade. E não sabendo, por eles mesmos, que passam a ser almas depois da morte, não posso deixar de recear que, segundo o resultado das suas pesquisas, a sorte dessas almas não seja muito mais agradável lá em cima do que neste mundo. Porque o fato é que elas têm um semblante muito triste, sofrendo interrogatórios assim, que não deixam de ser-lhes meio humilhantes. Afastam-nas, trazem-nas de volta, esforçam-se por apanhá-las em erro, tratam-nas como os juízes de instrução tratam os criminosos, e as pobres almas não opõem resistência, com a paciência e a complacência de pessoas entediadas que ficam felizes por achar uma forma qualquer de distrair-se um pouco. Não foi assim que nos acostumaram a imaginar os mortos; e seríamos tentados a pensar que, se a morte deve tornar-nos iguais aos interlocutores do sr. Hyslop, melhor seria jamais morrer. Quanto a mim, sei que. se tivesse a oportunidade de interrogar um morto, há mil assuntos de ordem geral a respeito dos quais me apressaria a questioná-lo, antes de perguntar-lhe como era o canivete de limpar suas unhas. Mas, será que os mortos da sra. Piper se recusam a falar sobre esses assuntos? Talvez tenham por princípio nunca abordá-los em suas conversas com os vivos, de modo a deixar a estes a doçura e o mérito da livre crença. Aí está, em suma, uma hipótese bem plausível, e que se acha mesmo quase justificada por uma das respostas que o sr. Hyslop recebeu de seu pai. 'Deixa todas as tuas teorias em paz, James! — disse um dia a alma do digno ancião. — Eu também passei toda minha vida formulando teorias, e que ganhei? Minhas idéias simplesmente ficaram mais confusas e menos satisfatórias. Há um Deus, um Deus onisciente e onipotente, e, para conhecê-lo, basta seguirmos o que existe de melhor no fundo do nosso coração. E, depois disso, que importa se Swedenborg teve razão ou não, já que o fato é que nós estamos aqui, em pessoa, e mais vivos do que nunca!' Possa esta resposta do sr. Hyslop pai impedir seu filho e todos os sábios de formularem a teoria da vida futura, no dia em que sua existência for definitivamente provada com todo rigor dos métodos científicos.

Possamos continuar a aprender com nosso coração, e não com a ciência, em que se transformam após a morte as almas que amamos! E que possamos ter a paciência de esperar até estarmos juntos, para conversar com eles, em vez de submeter suas palavras a um humilhante sistema de contraprovas e de verificações. 'James, deixa tuas teorias em paz.' Este sábio conselho é, talvez, o que de mais precioso o interessante trabalho do sr. Hyslop nos oferece.

T. de Wyzewa

Eis, portanto, a existência da alma e a sua imortalidade afirmadas, e afirmadas por sábios incrédulos. O sr. Wyzewa é de uma boa fé completa no seu relato das experiências do prof. Hyslop, mas sua incredulidade o leva a fazer objeções nada razoáveis. Ele se admira que os espíritos dêem detalhes e que se disponham a responder às nossas perguntas, ao passo que nada dizem sobre sua existência atual. Aí está uma observação pouco fundada, porque são justamente os pequenos e numerosos fatos narrados pelo pai do dr. Hyslop que lhe estabelecem a identidade e que impedem que essas revelações sejam atribuídas à clarividência ou à telepatia. Quando os sábios tiverem adquirido certeza experimental da sobrevida, só precisarão interrogar todos os espíritos que se manifestam sobre seu gênero de vida fluídica e fazer um catálogo das suas respostas. Então, conhecerão as condições físicas e morais da existência no além, e ficarão surpresos por constatar que Allan Kardec as indicou há cinqüenta anos nas suas obras, que serão as pedras angulares da ciência do mundo invisível.

Deve-se louvar a sabedoria dos espíritos diretores da sra. Piper. Sabedores de que estão lidando com materialistas que só atribuem importância aos fatos verificáveis, dão-lhes apenas o alimento que lhes convém. Eles bem sabem que noções precisas sobre a vida futura não seriam compreendidas por esses positivistas, cuja mentalidade ainda precisa evoluir antes de ser capaz de compreender as condições de uma vida na erraticidade.

A todos os que exigem provas de identidade, chamamos a atenção para o relato do dr. Hyslop e aguardamos uma refutação científica dos fatos, demonstrando que não se devem a almas que viveram na Terra.
 
Fim

 (1) Quando esta obra estava em impressão, o relato do prof. Hyslop foi publicado nos Proceedings, sob o título Nouvelles Observations sur les Phénomènes de Ia Transe. Convidamos os leitores a consultar esse trabalho muito consciencioso e imparcial, que demonstra com evidência, ele também, a realidade das comunicações espíritas.
 

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