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quarta-feira, 7 de março de 2018

ARTIGO: EVANGELHO E DOUTRINA

EVANGELHO E DOUTRINA
Por Leonardo Paixão (*)

"Assim procedemos, porém, ponderando que, num _colar de pérolas_ , cada qual tem valor específico e que, no imenso conjunto de ensinamentos da Boa Nova, cada conceito do Cristo ou de seus colaboradores diretos adapta-se a determinada situação do Espírito, nas estradas da vida" (XAVIER, Francisco Cândido. Caminho, Verdade e Vida. Pelo Espírito Emmanuel. 20. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2001. Prefácio. p. 14).

Deste trecho das justificativas do Espírito Emmanuel para a sua primeira obra de interpretação profunda das passagens evangélicas, citando versículos isolados, vejamos o que nos diz um estudioso das letras evangélicas sobre a expressão "colar de pérolas" usada por Emmanuel.

"Dentre os inúmeros métodos de interpretação encontrados no _Midraxe_ (compêndio de exegese judaica), a harizah (colar em pérolas) ocupa um lugar privilegiado, já que é utilizada pelos mestres hebreus toda vez que desejam ensinar à comunidade um ponto importante da fé de Israel, difícil de ser apreendido pela leitura puramente literal do texto bíblico.
Selecionamos um texto da tradição judaica que descreve a _harizah,_ demonstrando a sua importância como técnica de estudos das Escrituras:
'Quando faziam colares das palavras da Torah aos profetas, e dos Profetas aos Escritos, o fogo flamejava em torno deles e as palavras tornavam-se jubilosas, como quando foram pronunciadas no Sinai: quando pronunciadas pela primeira vez no Sinai, foram dadas entre chamas, como foi dito: a montanha ardia em fogo, até as profundezas do céu. Ben Azai estava sentado e perscrutava a Escritura e o fogo flamejava em torno dele... Rabi Agiba aproximou-se e disse-lhe: Ouvi dizer que perscruta as Escrituras e o fogo flameja em torno de ti? Ele respondeu: Sim. Rabi Agiba perguntou:Acaso estudavas os segredos do carro de Ezequiel (Ez 1)? Ele respondeu: Não. Mas eu estava sentado e fazia um colar das palavras da Torah, passando da Torah aos Profetas e dos Profetas aos Escritos e as palavras mostravam-se alegres, como quando foram transmitidas no Sinai. E eram doces, como quando foram proferidas pela primeira vez, porque, ao serem dadas pela primeira vez, não foram dadas no fogo: E a montanha flamejava?' (Cântico Rabá 1, 10).

A narrativa do "fogo que flamejava" em torno dos Rabis que faziam o colar de versículos da Torah está presente em diversas fontes da tradição judaica, e traduz, sem dúvida, uma forte experiência espiritual vivida por aqueles anciãos que, pela intuição, alcançaram aquilo que faz a Escritura ser una e coerente - seu sentido espiritual" (DIAS, Haroldo Dutra. Parábolas de Jesus: Texto e Contexto. Curitiba: Federação Espírita do Paraná, 2011. p. 17.

Kardec na Introdução de "O Evangelho segundo o Espiritismo", item III - Notícias Históricas deixa claro que:

"Para bem se compreenderem algumas passagens dos Evangelhos, necessário se faz conhecer o valor de muitas palavras neles  frequentemente empregadas e que caracterizam o estado dos costumes e da sociedade judia daquela época. Já não tendo para nós o mesmo sentido, essas palavras foram com frequência mal-interpretadas, causando isso uma espécie de incerteza. A inteligência da significação delas explica, ao demais, o verdadeiro sentido de certas máximas que, à primeira vista, parecem singulares".

No capítulo IV de "O Evangelho segundo o Espiritismo", Kardec esclarece que a reencarnação fazia parte dos dogmas dos judeus sob o nome de ressurreição. Cita, ainda, o Evangelho segundo Mateus (11: 12-15) que diz: "Se quiserdes compreender o que vos digo, ele mesmo é o Elias que há de vir".

E, para se deixar claro que está nesta passagem se tratando de reencarnação mesmo, vejamos as palavras de irmãos da crença judaica: "Pouquíssimas pessoas sabem que a _Reencarnação_ é, antes de tudo, _crença judaica_, e se está no Judaísmo teria que estar no Tanách [Bíblia judaica]" - Avraham Avdam Ben Avraham Corrêa, no Prefácio ao livro "Analisando as Traduções Bíblicas", de Severino Celestino da Silva.

O Rabino Rafael Shammah diz: "Toda pessoa vem ao mundo com uma meta específica que deve alcançar em sua vida. Se o homem não terminar sua missão, voltará em outra encarnação. Como não sabemos exatamente qual a meta de cada um, nos guiamos pelo objetivo comum a todos que é fazer o bem através de Torá [Lei] e Mitsvôt [boas ações]. Esta é a missão que nos cabe a todos os Iehudim [Judeus], e devemos nos esforçar ao máximo para cumpri-la da melhor forma". "Pensamentos", p. 1.

Diante destes esclarecimentos e das palavras de O Espírito da Verdade no Prefácio de "O Evangelho segundo o Espiritismo": "Eu vos digo, em verdade, que são chegados os tempos em que todas as coisas hão de ser restabelecidas no seu verdadeiro sentido, para dissipar as trevas, confundir os orgulhosos e glorificar os justos", é que vemos o quão importante é para o espírita o se debruçar nos estudos das Sagradas Escrituras, no caso a Bíblia Cristã.

Campos dos Goytacazes, 07/03/2018.

(*) Leonardo Paixão é trabalhador espírita em Campos dos Goytacazes, RJ, colaborando com amigos de Ideal no Grupo Espírita Semeadores da Paz.

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