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segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Nos Bastidores da Obsessão - Estudo

Estudo do livro Nos Bastidores da Obsessão, do Espírito Manoel Philomeno de Miranda, psicografia de Divaldo Pereira Franco.


Examinando a Obsessão (Continuação)


Obsessores, obsidiados!

A obsessão, sob qualquer modalidade que se apresente, é enfermidade de longo curso, exigindo terapia especializada de segura aplicação e de resultados que não se fazem sentir apressadamente.

Os tratamentos da obsessão, por conseguinte, são complexos, impondo alta dose de renúncia e abnegação àqueles que se oferecem e se dedicam a tal mister.

Uma força existe capaz de produzir resultados junto aos perseguidores encarnados ou desencarnados, conscientes ou inconscientes: a que se deriva da conduta moral. A princípio, o obsessor dela não se apercebe; no entanto, com o decorrer do tempo, os testemunhos de elevação moral que enseja, confirmando a nobreza da fé, que professa como servidor do Cristo, colimam por convencer o algoz da elevação de princípios de que se revestem os atos do seu doutrinador, terminando por deixar livre, muitas vezes, aquele a quem afligia. Além da exemplificação cristã, a oração consegue lenir as úlceras morais dos assistidos, conduzindo benesses de harmonia que apaziguam o desequilibrado, reacendendo nele a sede e a necessidade da paz.

 

Comentário de Leonardo Paixão:

 

A desobsessão é tarefa árdua que exige muita perseverança de quem a exerce nos agrupamentos espíritas e é exercício de amor incondicional, porque lida-se com Espíritos perversos, sejam estes desencarnados sejam estes encarnados.

Muitas pessoas, por desconhecimento dos processos desobsessivos, ao pedirem socorro para casos de obsessão sejam em si mesmas ou para terceiros, acha, que em uma sessão de desobsessão o seu caso será resolvido ou que bastará as orações dos membros da equipe mediúnica para resolver os seus problemas espirituais, voltando assim tudo rapidamente ao normal. Por isso, se faz de grande importância esclarecer aos assistidos sobre a natureza do obsessor – ser humano tal como ela é e que, em passada existência (quando de obsessão por vingança) muito foi atingida em seus afetos, em sua dignidade pela vítima de hoje que, como ocorre entre os encarnados quando ofendidos, não raro guardam mágoa e esta se transforma em raiva, rancor, até atingir o ápice: o ódio. Compreendida a natureza humana do espírito obsessor, também ele um ser humano, só que sem o corpo físico, fica-se mais fácil de se entender que o tratamento da obsessão é demorado e complexo e exige mudança de comportamento do obsedado. A desobsessão quando bem realizada, trabalha a doutrinação tanto do desencarnado quanto do encarnado.

No capítulo A Interpenetração Fluídica no Processo Obsessivo, do livro A Obsessão e seus Mistérios, de Carlos Bernardo Loureiro são as seguintes observações do autor, colocando sua experiência de 30 anos no tratamento das obsessões:

“O trabalho da doutrinação é penoso e demorado. Exige paciência de ambos os lados, especialmente da parte dos que conduzem o obsidiado à casa espírita. Surge, ao longo do tratamento desobsessional, uma série de impedimentos que devem ser vencidos com paciência e obstinação.

Outro fator importante a ser observado pelos dirigentes das reuniões de desobsessão é que, nos primeiros contatos, o assistido pode apresentar uma sensível piora. E o obsessor (ou grupo de obsessores) que reage, isto é, assume franca e refratária oposição ao tratamento. A sua indisposição, traduzida pela raiva e pelo inconformismo, repercute, psíquica e organicamente, naquele que é, pelo menos aparentemente, a sua vítima, cabe, então, aos responsáveis pela sessão, agir com muita cautela, esclarecendo o porquê do recrudescimento dos distúrbios que acometem o assistido. Tais esclarecimentos são absolutamente necessários, evitando-se a fuga do assistido e de seus prepostos das sessões (Nota de Leonardo Paixão: lembrando que os obsedados são tratados à distância, não é permitida a presença destes nas sessões por motivos óbvios de sintonia e disciplina), que, assim procedendo, fazem, infelizmente o jogo dos Espíritos obsessores,

Esse mecanismo vem sendo observado pelo autor desta obra, há vários anos, na cidade de Salvador, nas sessões de desobsessão que faz parte ou que dirige. Não raras vezes, os Espíritos logram êxito nos seus nefastos objetivos, ficando o obsidiado inteiramente á mercê dos seus desafetos, muitas vezes sedados e escravizados por poderosos e inibidores medicamentos. Essas criaturas apáticas, deprimidas, vagam pelas dependências dos sanatórios psiquiátricos, pelos cômodos de seus apartamentos, pelos corredores de suas casas ou pelas ruas, como verdadeiros zumbis. Ainda que a situação que vivenciam, obsessores e obsidiados, seja desesperadora, sempre há uma saída pela Lei Natural, acionando recursos que possibilitam a reconciliação entre desafetos. Em casos extremos, os mecanismos da reencarnação são acionados, dando-se início ao sacrificial reajuste, que demanda tempo, muito tempo...”.

 

E, com relação ao nível espiritual da equipe de trabalhadores do Grupo Espírita, neste caso, especialmente os das reuniões de desobsessão, é essencial que seja em harmonia com os postulados espíritas, pois que os tarefeiros desse campo são constantemente observados por aqueles Espíritos atendidos nas reuniões para tratamento de obsessões. Vejamos este relato do Espírito Adolfo Bezerra de Menezes sobre um trabalho de desobsessão:

 

“E assim foi que, com efeito, durante seis meses habitando aquele Centro de fraternidade, o doutor Timóteo do século 16 e seus três filhos assistiram a curas de paralíticos e de obsidiados, realizadas em nome e pelo amor de Jesus-Cristo, o Nazareno, através daquele grupo de médiuns a quem nós, os do invisível, tínhamos o dever de acionar. Contemplaram e admiraram a dedicação abnegada, diária, de um serviço de assistência a enfermos do corpo e da alma, sem esmorecimentos, sem queixas nem reclamações, antes sob a irradiação da sã ternura do coração e da sublime alegria daquele que já vislumbra em si mesmo as alvoradas do reino de Deus! Assistiram às doces tarefas da fraternidade se distenderem até ao invisível, no socorro a obsessores, a suicidas, a corações endurecidos no mal, como a desesperados e tristes que vagueiam pelos planos invisíveis sem forças para a emenda. Viram o órfão socorrido, o mendigo acalentado na sua miséria, o presidiário assistido no seu tugúrio, esclarecido na sua ignorância e esperançado no futuro redentor dentro das próprias lágrimas do opróbrio, o faminto saciado, o abandonado encaminhado ao trabalho honroso, a decaída retornando ao dever, o ignorante orientado ao caminho do aprendizado compensador. E tudo isso realizado sob o critério da Doutrina do grande Mestre do Cristianismo! Visitando, porém, a intimidade do lar de cada um daqueles médiuns que contribuíam para a melhoria da sua própria situação, constataram que suas vidas eram consagradas ao honesto cumprimento dos deveres sociais e profissionais, dedicadas ao bem e ao respeito do próximo, em qualquer setor! E ainda que, se sofriam, oravam e se resignavam, certos de melhor futuro; e, se eram ofendidos por inimigos gratuitos, poderiam sofrer e chorar em silêncio, mas sem blasfêmias nem revides vingadores, porque o perdão era tão fácil e espontâneo naqueles corações como o sorriso nas faces da criança... Nem uma palavra insultuosa ao próximo jamais ouviram, nem uma delação ou intriga, nem uma apropriação indébita, nem um perjúrio, nem a maledicência, nem o abuso e o vitupério! E tudo isso eles também analisaram e compreenderam que era a verdadeira educação fornecida por aquela Doutrina Cristã, que eles haviam conhecido falseada no século XVI, mas que agora se surpreendiam de vê-la praticada em Espírito e Verdade, em nome do grande “Rabboni”, seu fundador, cujo nome — descobriram através dos ensinamentos desses seus discípulos — era Jesus Nazareno!

Sim! “Jesus-ben-Joseph” de Nazaré, mas nascido na Judeia, na cidade de David, exatamente o Messias anunciado pelos profetas de Israel... e como ele, Timóteo, e seus filhos, perseguido pelas hienas clericais até ao desespero do suplício e da morte forjada pelos interesses pecaminosos dos homens!

Durante o espaço de tempo que ali passaram, assistiram, graves e quedos, acomodados entre a assembleia de ouvintes, como quaisquer encarnados, ao estudo e à oratória espírita e evangélica. E nós, então, acionando a técnica do

“Laboratório do Mundo Invisível”, criávamos para os seus entendimentos —valendo-nos do poder da nossa vontade — os panoramas expostos pelos oradores e explicadores, panoramas que eles passavam a ver como em cenas teatrais ou cinematográficas, pois que as vibrações dessa casa de comunhão com o Alto, por se conservarem imaculadas, facilitavam a delicadeza e a eficiência do melindroso, sublime trabalho. Um curso eficiente, pois, de legítimo Cristianismo e de Filosofia Espírita levaram a efeito os antigos hebreus através de tais processos, visitando ainda outras agremiações merecedoras da nossa confiança e observando outros tantos adeptos fiéis às recomendações do Consolador. Pela mesma época, outrossim, foram-lhes demonstrados em aprendizado, através de dolorosa, mas grandiosa exposição da retrospecção da memória (exame consciencial dos arquivos mentais), os antecedentes do drama terrível de Lisboa: — Aboab e filhos haviam existido em Jerusalém ao tempo dos primeiros cristãos como autoridades judaicas e romanas, exercendo então, sobre os inofensivos adeptos do Cristianismo nascente, atrocidades análogas às que tantos anos mais tarde vieram a experimentar, por sua vez, sob as garras da Inquisição de Portugal! Então, compreendendo claramente a lógica dos fatos, ou a lei de causa e efeito, humilharam-se, reconhecendo o erro em que incorriam havia séculos, e, desfeitos em lágrimas de sincero arrependimento, renderam-se à evidência da irresistível doutrina do Amor, do Perdão e da Fraternidade, que desde os dias longínquos do Calvário irradia redenção para a sucessão dos séculos. E constataram, assim, que aquela fé clerical que, sob os auspícios do “Santo Ofício” de sacrílega memória, se pretendeu impor pela crueldade da violência, longe estava de se assemelhar às blandiciosas lições daquele doce “Rabboni” que recomendava aos seus discípulos:

— “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”.

 

E, conclui o Venerável “Médico dos Pobres”:

 

“Assim é, meus caros amigos, que o conhecimento legítimo da Doutrina Espírita, como a boa e lúcida prática da mediunidade, resolvem problemas seculares, pois não esquecereis de que foi através da mediunidade bem orientada, à luz do Evangelho do Cristo e sob o rigor da Ciência Transcendental, que os Aboabs se encaminharam para a regeneração individual... e que a família de Leonel, igualmente convertida sob orientações espiritistas, obteve forças e ensejos para o único alvo que lhe caberia atingir a fim de lograr serenidade para progredir moral e espiritualmente, isto é – o amor e o respeito às soberanas leis de Deus...” (PEREIRA, Yvonne do Amaral. Dramas da Obsessão. Pelo Espírito Bezerra de Menezes, [psicografado por] Yvonne A. Pereira. 4.ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2010). pp.165, 166 e 167).