Estudo do livro Nos Bastidores da Obsessão, do Espírito Manoel Philomeno de Miranda, psicografia de Divaldo Pereira Franco.
Examinando a Obsessão (Continuação)
Obsessores, obsidiados!
A obsessão, sob
qualquer modalidade que se apresente, é enfermidade de longo curso, exigindo
terapia especializada de segura aplicação e de resultados que não se fazem
sentir apressadamente.
Os tratamentos da
obsessão, por conseguinte, são complexos, impondo alta dose de renúncia e
abnegação àqueles que se oferecem e se dedicam a tal mister.
Uma força existe capaz
de produzir resultados junto aos perseguidores encarnados ou desencarnados,
conscientes ou inconscientes: a que se deriva da conduta moral. A princípio, o
obsessor dela não se apercebe; no entanto, com o decorrer do tempo, os
testemunhos de elevação moral que enseja, confirmando a nobreza da fé, que
professa como servidor do Cristo, colimam por convencer o algoz da elevação de
princípios de que se revestem os atos do seu doutrinador, terminando por deixar
livre, muitas vezes, aquele a quem afligia. Além da exemplificação cristã, a
oração consegue lenir as úlceras morais dos assistidos, conduzindo benesses de
harmonia que apaziguam o desequilibrado, reacendendo nele a sede e a
necessidade da paz.
Comentário de Leonardo Paixão:
A desobsessão é tarefa árdua
que exige muita perseverança de quem a exerce nos agrupamentos espíritas e é exercício
de amor incondicional, porque lida-se com Espíritos perversos, sejam estes
desencarnados sejam estes encarnados.
Muitas pessoas, por desconhecimento
dos processos desobsessivos, ao pedirem socorro para casos de obsessão sejam em
si mesmas ou para terceiros, acha, que em uma sessão de desobsessão o seu caso
será resolvido ou que bastará as orações dos membros da equipe mediúnica para resolver
os seus problemas espirituais, voltando assim tudo rapidamente ao normal. Por
isso, se faz de grande importância esclarecer aos assistidos sobre a natureza
do obsessor – ser humano tal como ela é e que, em passada existência (quando de
obsessão por vingança) muito foi atingida em seus afetos, em sua dignidade pela
vítima de hoje que, como ocorre entre os encarnados quando ofendidos, não raro
guardam mágoa e esta se transforma em raiva, rancor, até atingir o ápice: o
ódio. Compreendida a natureza humana do espírito obsessor, também ele um ser
humano, só que sem o corpo físico, fica-se mais fácil de se entender que o
tratamento da obsessão é demorado e complexo e exige mudança de comportamento
do obsedado. A desobsessão quando bem realizada, trabalha a doutrinação tanto
do desencarnado quanto do encarnado.
No capítulo A Interpenetração
Fluídica no Processo Obsessivo, do livro A Obsessão e seus Mistérios, de
Carlos Bernardo Loureiro são as seguintes observações do autor, colocando sua
experiência de 30 anos no tratamento das obsessões:
“O trabalho da doutrinação é
penoso e demorado. Exige paciência de ambos os lados, especialmente da parte
dos que conduzem o obsidiado à casa espírita. Surge, ao longo do tratamento desobsessional,
uma série de impedimentos que devem ser vencidos com paciência e obstinação.
Outro fator importante a ser
observado pelos dirigentes das reuniões de desobsessão é que, nos primeiros
contatos, o assistido pode apresentar uma sensível piora. E o obsessor (ou
grupo de obsessores) que reage, isto é, assume franca e refratária oposição ao tratamento.
A sua indisposição, traduzida pela raiva e pelo inconformismo, repercute,
psíquica e organicamente, naquele que é, pelo menos aparentemente, a sua
vítima, cabe, então, aos responsáveis pela sessão, agir com muita cautela,
esclarecendo o porquê do recrudescimento dos distúrbios que acometem o
assistido. Tais esclarecimentos são absolutamente necessários, evitando-se a
fuga do assistido e de seus prepostos das sessões (Nota de Leonardo Paixão:
lembrando que os obsedados são tratados à distância, não é permitida a presença
destes nas sessões por motivos óbvios de sintonia e disciplina), que, assim
procedendo, fazem, infelizmente o jogo dos Espíritos obsessores,
Esse mecanismo vem sendo
observado pelo autor desta obra, há vários anos, na cidade de Salvador, nas
sessões de desobsessão que faz parte ou que dirige. Não raras vezes, os
Espíritos logram êxito nos seus nefastos objetivos, ficando o obsidiado
inteiramente á mercê dos seus desafetos, muitas vezes sedados e escravizados
por poderosos e inibidores medicamentos. Essas criaturas apáticas, deprimidas,
vagam pelas dependências dos sanatórios psiquiátricos, pelos cômodos de seus
apartamentos, pelos corredores de suas casas ou pelas ruas, como verdadeiros
zumbis. Ainda que a situação que vivenciam, obsessores e obsidiados, seja
desesperadora, sempre há uma saída pela Lei Natural, acionando recursos que
possibilitam a reconciliação entre desafetos. Em casos extremos, os mecanismos da
reencarnação são acionados, dando-se início ao sacrificial reajuste, que
demanda tempo, muito tempo...”.
E, com relação ao nível espiritual
da equipe de trabalhadores do Grupo Espírita, neste caso, especialmente os das
reuniões de desobsessão, é essencial que seja em harmonia com os postulados espíritas,
pois que os tarefeiros desse campo são constantemente observados por aqueles Espíritos
atendidos nas reuniões para tratamento de obsessões. Vejamos este relato do
Espírito Adolfo Bezerra de Menezes sobre um trabalho de desobsessão:
“E assim foi que, com efeito,
durante seis meses habitando aquele Centro de fraternidade, o doutor Timóteo do
século 16 e seus três filhos assistiram a curas de paralíticos e de obsidiados,
realizadas em nome e pelo amor de Jesus-Cristo, o Nazareno, através daquele
grupo de médiuns a quem nós, os do invisível, tínhamos o dever de acionar.
Contemplaram e admiraram a dedicação abnegada, diária, de um serviço de
assistência a enfermos do corpo e da alma, sem esmorecimentos, sem queixas nem
reclamações, antes sob a irradiação da sã ternura do coração e da sublime
alegria daquele que já vislumbra em si mesmo as alvoradas do reino de Deus!
Assistiram às doces tarefas da fraternidade se distenderem até ao invisível, no
socorro a obsessores, a suicidas, a corações endurecidos no mal, como a desesperados
e tristes que vagueiam pelos planos invisíveis sem forças para a emenda. Viram
o órfão socorrido, o mendigo acalentado na sua miséria, o presidiário assistido
no seu tugúrio, esclarecido na sua ignorância e esperançado no futuro redentor
dentro das próprias lágrimas do opróbrio, o faminto saciado, o abandonado
encaminhado ao trabalho honroso, a decaída retornando ao dever, o ignorante
orientado ao caminho do aprendizado compensador. E tudo isso realizado sob o
critério da Doutrina do grande Mestre do Cristianismo! Visitando, porém, a intimidade
do lar de cada um daqueles médiuns que contribuíam para a melhoria da sua
própria situação, constataram que suas vidas eram consagradas ao honesto cumprimento
dos deveres sociais e profissionais, dedicadas ao bem e ao respeito do próximo,
em qualquer setor! E ainda que, se sofriam, oravam e se resignavam, certos de
melhor futuro; e, se eram ofendidos por inimigos gratuitos, poderiam sofrer e
chorar em silêncio, mas sem blasfêmias nem revides vingadores, porque o perdão
era tão fácil e espontâneo naqueles corações como o sorriso nas faces da criança...
Nem uma palavra insultuosa ao próximo jamais ouviram, nem uma delação ou
intriga, nem uma apropriação indébita, nem um perjúrio, nem a maledicência, nem
o abuso e o vitupério! E tudo isso eles também analisaram e compreenderam que
era a verdadeira educação fornecida por aquela Doutrina Cristã, que eles haviam
conhecido falseada no século XVI, mas que agora se surpreendiam de vê-la
praticada em Espírito e Verdade, em nome do grande “Rabboni”, seu fundador,
cujo nome — descobriram através dos ensinamentos desses seus discípulos — era
Jesus Nazareno!
Sim! “Jesus-ben-Joseph” de
Nazaré, mas nascido na Judeia, na cidade de David, exatamente o Messias
anunciado pelos profetas de Israel... e como ele, Timóteo, e seus filhos,
perseguido pelas hienas clericais até ao desespero do suplício e da morte
forjada pelos interesses pecaminosos dos homens!
Durante o espaço de tempo que
ali passaram, assistiram, graves e quedos, acomodados entre a assembleia de
ouvintes, como quaisquer encarnados, ao estudo e à oratória espírita e
evangélica. E nós, então, acionando a técnica do
“Laboratório do Mundo
Invisível”, criávamos para os seus entendimentos —valendo-nos do poder da nossa
vontade — os panoramas expostos pelos oradores e explicadores, panoramas que
eles passavam a ver como em cenas teatrais ou cinematográficas, pois que as
vibrações dessa casa de comunhão com o Alto, por se conservarem imaculadas,
facilitavam a delicadeza e a eficiência do melindroso, sublime trabalho. Um
curso eficiente, pois, de legítimo Cristianismo e de Filosofia Espírita levaram
a efeito os antigos hebreus através de tais processos, visitando ainda outras
agremiações merecedoras da nossa confiança e observando outros tantos adeptos
fiéis às recomendações do Consolador. Pela mesma época, outrossim, foram-lhes
demonstrados em aprendizado, através de dolorosa, mas grandiosa exposição da
retrospecção da memória (exame consciencial dos arquivos mentais), os
antecedentes do drama terrível de Lisboa: — Aboab e filhos haviam existido em
Jerusalém ao tempo dos primeiros cristãos como autoridades judaicas e romanas,
exercendo então, sobre os inofensivos adeptos do Cristianismo nascente, atrocidades
análogas às que tantos anos mais tarde vieram a experimentar, por sua vez, sob
as garras da Inquisição de Portugal! Então, compreendendo claramente a lógica
dos fatos, ou a lei de causa e efeito, humilharam-se, reconhecendo o erro em que
incorriam havia séculos, e, desfeitos em lágrimas de sincero arrependimento, renderam-se
à evidência da irresistível doutrina do Amor, do Perdão e da Fraternidade, que
desde os dias longínquos do Calvário irradia redenção para a sucessão dos
séculos. E constataram, assim, que aquela fé clerical que, sob os auspícios do
“Santo Ofício” de sacrílega memória, se pretendeu impor pela crueldade da
violência, longe estava de se assemelhar às blandiciosas lições daquele doce
“Rabboni” que recomendava aos seus discípulos:
— “Amai-vos uns aos outros
como eu vos amei”.
E, conclui o Venerável “Médico
dos Pobres”:
“Assim é, meus caros amigos,
que o conhecimento legítimo da Doutrina Espírita, como a boa e lúcida prática
da mediunidade, resolvem problemas seculares, pois não esquecereis de que foi
através da mediunidade bem orientada, à luz do Evangelho do Cristo e sob o
rigor da Ciência Transcendental, que os Aboabs se encaminharam para a
regeneração individual... e que a família de Leonel, igualmente convertida sob
orientações espiritistas, obteve forças e ensejos para o único alvo que lhe
caberia atingir a fim de lograr serenidade para progredir moral e
espiritualmente, isto é – o amor e o respeito às soberanas leis de Deus...”
(PEREIRA, Yvonne do Amaral. Dramas da Obsessão. Pelo Espírito Bezerra de
Menezes, [psicografado por] Yvonne A. Pereira. 4.ed. Rio de Janeiro: Federação
Espírita Brasileira, 2010). pp.165, 166 e 167).
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