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quinta-feira, 25 de setembro de 2014

ANIMISMO: ALGUNS APONTAMENTOS

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Por Leonardo Paixão (*)
 
            O Animismo é o grande fantasma dos médiuns, é ele o responsável pelas dúvidas que acarreta para estes, porém, quando bem compreendido, o médium entende que é um fenômeno natural, o grande problema na verdade é que os médiuns creem que, quando no trabalho mediúnico, têm que ficar totalmente passivos e em nada auxiliam o trabalho dos Espíritos.
            O médium bem orientado, estudioso da Doutrina Espírita, sabe muito bem que os Espíritos usam dos conhecimentos que o médium possui para se expressarem, portanto, é razoável dizer que em todo fenômeno mediúnico há uma expressão anímica, mesmo nos casos de mediunidade mecânica, dita inconsciente.
            O fenômeno anímico é tema de estudos do Espiritismo, célebres personalidades como Alexandre Aksakof e Ernesto Bozzano escreveram obras onde analisam tal fenômeno, são elas: Animismo e Espiritismo e Animismo ou Espiritismo?, respectivamente.
            Aksakof classificou os fenômenos da seguinte forma:
            1º Personismo.
            2ºAnimismo.
            3º Mediunismo (1).
            Allan Kardec, nobre Codificador do Espiritismo, não esteve alheio a tal fenômeno, na 2ª Parte de O Livro dos Médiuns, capítulo XIX – Do Papel dos Médiuns nas comunicações espíritas, Kardec faz 23 perguntas sobre os vários aspectos do animismo e coloca uma extensa dissertação de Erasto e Timóteo (Espíritos) sobre tal questão da qual vamos transcrever algumas partes:
            “Qualquer que seja a natureza dos médiuns escreventes, quer mecânicos ou semimecânicos, quer simplesmente intuitivos, não variam essencialmente os nossos processos de comunicação com eles. De fato, nos comunicamos com os Espíritos encarnados dos médiuns, da mesma forma que com os Espíritos propriamente ditos, tão-só pela irradiação do nosso pensamento.
            Os nossos pensamentos não precisam da vestidura da palavra para serem compreendidos pelos Espíritos e todos os Espíritos percebem os pensamentos que lhes desejamos transmitir, sendo suficiente que lhes dirijamos esses pensamentos e isto em razão de suas faculdades intelectuais. Quer dizer que tal pensamento tais ou quais Espíritos o podem compreender, em virtude do adiantamento deles, ao passo que, para tais outros, por não despertarem nenhuma lembrança, nenhum conhecimento que lhes dormitem no fundo do coração, ou do cérebro, esses mesmos pensamentos não lhes são perceptíveis (...).
            Assim, quando encontramos em um médium o cérebro povoado de conhecimentos adquiridos na sua vida atual e o seu Espírito rico de conhecimentos latentes, obtidos em vidas anteriores, de natureza a nos facilitarem as comunicações, dele de preferência nos servimos, porque com ele o fenômeno da comunicação se nos torna muito mais fácil do que com um médium de inteligência limitada e de escassos conhecimentos anteriormente adquiridos. Vamos fazer-nos compreensíveis por meio de algumas explicações claras e precisas.
(...)
            É por estas razões que de preferência nos dirigimos, para a divulgação do espiritismo e para o desenvolvimento das faculdades mediúnicas escreventes, às classes cultas e instruídas, embora seja nessas classes que se encontram os indivíduos mais incrédulos, mais rebeldes e mais imorais. É que, assim como deixamos hoje, aos Espíritos galhofeiros e pouco adiantados, o exercício das comunicações tangíveis, assim também os homens pouco sérios preferem o espetáculo dos fenômenos que lhes afetam os olhos ou os ouvidos, aos fenômenos puramente espirituais, puramente psicológicos.
(...)
            Sem dúvida, podemos falar de matemáticas, servindo-nos de um médium a quem estas sejam absolutamente estranhas; porém, quase sempre, o Espírito desse médium, possui, em estado latente, conhecimento do assunto, isto é, conhecimento peculiar ao ser fluídico e não ao ser encarnado, por ser o seu corpo atual um instrumento rebelde, ou contrário, a esse conhecimento. O mesmo se dá com a Astronomia, com a Poesia, com a Medicina, com as diversas línguas, assim como com todos os outros conhecimentos peculiares à espécie humana.
            Finalmente, ainda temos como meio penoso de elaboração, para ser usado com médiuns completamente estranhos ao assunto de que se trate, o da reunião das letras e das palavras, uma a uma, como em tipografia”.
 
            Allan Kardec em nota à referida dissertação, termina com este salutar aviso; “Se os que reclamam esses fenômenos, como meio de se convencerem, estudassem previamente a teoria, haviam de saber em que condições excepcionais eles se produzem”.
            Também de forma clara nos elucida um Espírito Universalista – Ramatís:
            “A repressão ao animismo dificultará grandemente as tarefas mediúnicas e por isso não deve ser feita. O Mediunismo não dispensa a colaboração do médium, o qual jamais deve ser um simples autômato, um “robot”.
            Os guias espirituais têm alto interesse em desenvolver as qualidades morais dos médiuns, dos quais se servem e esse trabalho, na maioria das vezes, é ainda mais importante que o próprio exercício da mediunidade. Muitas vezes os guias protelam revelações do Alto ou avançamento de conhecimentos à espera que os médiuns primeiramente revelem seu adiantamento no campo da evangelização e do conhecimento espiritual. O esforço contínuo para o cumprimento dos deveres morais é sempre o que mais esperam dos médiuns dos quis se servem.
            Nos casos de mediunidade consciente, quando coincidem ideias, índoles, pensamentos e conhecimentos entre os guias e os médiuns, estes, ao dar as comunicações, se tornam imediatamente mais animados, eloquente e entusiasmados porque se encontram em terreno conhecido; mas, ao contrário, cai o entusiasmo, formam-se hiatos e surgem dificuldades até de falar, quando o espírito trata de assunto desconhecido, ou complicado.
            Os guias não se preocupam em eliminar o animismo dos seus médiuns; o que importa é que estes progridam espiritualmente a ponto de aqueles poderem subscrever o resultado de seus trabalhos, quando perfeitos.
            Como os médiuns devem caminhar com seus próprios pés e progredir sempre, os guias estão sempre a lhes oferecer oportunidades de produzir coisas próprias, mostrar o que valem. Por isso, os médiuns devem se esforçar constantemente em melhorarem seu padrão de conhecimentos, sua cultura doutrinária e suas qualidades morais, para que  o que produzam mereça o endosso dos guias.
            Às vezes os guias, muito de propósito, deixam lacunas e vazios no curso de uma comunicação para que os médiuns completem a tarefa, continuando na explanação do assunto ou do tema com seus próprios recursos, demonstrando sua capacidade de compreensão e exposição, sem deturpar as ideias fundamentais dos guias.
            Assim, constantemente encorajados e postos à prova, os médiuns acabam por esposar pessoalmente, em público, tudo quanto assimilaram dos seus respectivos guias, identificando-se com eles. Desta forma, aos poucos, os mentores vão aumentando o crédito de confiança que depositam nos intérpretes e lhes oferecendo campo de trabalho cada vez mais amplo e importante. Isto é o que faz o progresso mediúnico individual.
            Muitas vezes os mentores fazem um contato inicial com os médiuns, transmitem-lhes as primeiras ideias do tema e se afastam, sem se desligarem, para ver como seus pupilos se desembaraçam da tarefa, por si mesmos. Se tudo vai bem, deixam que assim vá, e, ao, final, aproximam-se de novo e endossam tudo o que foi dito, com suas características de identidade pessoal.
            O esforço do trabalho mediúnico, como se vê, é sempre recíproco e benéfico a todos. Os guias, nestes casos, agem como pais solícitos que ensinam os filhinhos a andar, amparando-lhes os primeiros passos.
            Outra coisa a dizer: a mediunidade não se desenvolve unicamente à hora do trabalho: está presente para ser utilizada e as responsabilidades das tarefas obrigam o médium a estar sempre em comunhão com o messionismo do Cristo, exemplificando sacrifício e renúncia. Somente assim haverá bons resultados e os guias poderão endossar o trabalho dos medianeiros. Jamais eles subscrevem o animismo inferior, de médiuns que não cogitam da melhoria espiritual.
            Muitas vezes a tarefa dos médiuns é preparada previamente, durante o dia do trabalho, nos encontros pessoais, nas leituras, nas meditações e até mesmo nas vicissitudes. Tudo serve par a organização do tema da noite. Entretanto, quando o médium tem cultura e é flexível no recebimento telepático, esse trabalho preparatório pode ser dispensado; nestes casos os guias transmitem o que querem, no próprio momento da comunicação, tendo em vista, é claro, a natureza e a capacidade de compreensão do auditório. Melhor médium é o que recebe com mais facilidade as ideias do guia e as interpreta pessoalmente com mais fidelidade e perfeição”.
            (Comunicação recebida pelo médium Hercílio Maes. APUD: ARMOND, Edgar. IN: Mediunidade: seus aspectos, desenvolvimento e utilização. 15. ed. São Paulo: LAKE, 1956).
 
            O espírito Odilon Fernandes, através do médium Carlos Antônio Baccelli, deixa claro que mediunidade é parceria consciente do médium com os Espíritos (vide Mediunidade e Doutrina com prefácio de Emmanuel por Chico Xavier). Quanto a esta parceria de que nos falam os Espíritos, Léon Denis adverte na 1ª Parte, cap. VII, do livro No Invisível:
            “Para comunicar conosco deverá o Espírito amortecer a intensidade de suas vibrações, ao mesmo tempo que ativará as nossas. Nisso pode o homem voluntariamente auxiliar; o ponto a atingir constitui para ele o estado de mediunidade.
Sabemos que a mediunidade, no maior número de suas aplicações, é a propriedade que têm alguns dentre nós de se exteriorizar em graus diversos, de se desprender do envoltório carnal e imprimir mais amplitude a suas vibrações psíquicas. Por seu lado, o Espírito libertado pela mente se impregna de matéria sutil e atenua suas radiações próprias, a fim de entrar em uníssono com o médium”.
 
Sobre essa exteriorização psíquica, o Espírito Odilon Fernandes, através de nossas mãos escreveu:
TRANSE
            O transe mediúnico caracteriza-se por uma exteriorização do ser psíquico, e daí, a sua maior ou menor profundidade, porém, pode-se dizer que não só a exteriorização é responsável pelo transe como também é muito necessária à interiorização do medianeiro. A sondagem íntima proporciona ao médium a avaliação de sua capacidade para tal ou qual comunicado, como poderá o médium que não se moraliza receber longos ditados sobre filosofia moral e Ética, se não faz nenhum esforço por se melhorar? Alguns médiuns imperfeitos e viciosos recebem de vez em quando ditados morais, mas não lhes dando atenção e não buscando fazer-se melhor, os espíritos sérios os deixam à mercê da sintonia que buscam.
            Desejar um transe profundo não é suficiente para que tal se dê, entretanto, precisamos analisar melhor a expressão “transe mediúnico”. O médium deve se esforçar por viver em um contínuo transe, expliquemo-nos: o transe mediúnico, como acima dissemos, é caracterizado não só pela exteriorização do ser psíquico, mas também por uma interiorização, que é o famoso “Conhece-te a ti mesmo”. O “estado de transe” que os médiuns devem buscar, não é a chamada inconsciência mediúnica, sim a constante sintonia com os trabalhadores do Cristo. De nada adiantará a capacidade de maior exteriorização do ser psíquico, enquanto a interiorização não for parte da vida do medianeiro. Paulo de Tarso levou três anos no deserto em seu trabalho de reforma íntima e tornou-se médium do Cristo que, quando entre nós, era o Perfeito Médium de Deus.
            Estejamos conscientes de nossas lutas e da necessidade delas para o nosso crescimento e tal como Paulo, do deserto de nossos corações florescerá a bela rosa por nos tornarmos também um “vaso escolhido” de Deus.
Odilon
(Página recebida espontaneamente no dia 04/12/2009 pelo médium Leonardo Paixão).
 
Encerrando estes apontamentos não poderíamos deixar de lembrar advertência de D. Yvonne do Amaral Pereira em relação ao que podemos chamar animismo vicioso:
“Nos casos do chamado animismo (automatismo. mental), será conveniente que [o suposto médium] se afaste das sessões práticas e se dedique a estágios em setores diferentes, onde poderá ser aproveitável.
A Seara Divina é extensa e fecunda e em qualquer situação serviremos ao Bem e à Verdade, se realmente houver o desejo de servir, e não somente no campo mediúnico. Muitos supostos médiuns, emaranhados nos complexos do animismo, uma vez afastados ou corrigidos das pretensões mediúnicas, têm conseguido equilibrar-se em outros setores, então realmente servindo à Doutrina Espírita e ao próximo. O automatismo mental, ou seja, o animismo, é a obsessão da própria mente e poderá ocasionar consequências desagradáveis para quem a cultiva.
Lembremo-nos de que o grande Paulo de Tarso, um dos maiores médiuns que o Cristianismo produziu, antes de se tornar o esteio do Cristianismo nascente recolheu-se ao deserto a fim de fazer a sua iniciação, num espaço de três longos anos. E o mesmo fizeram os demais médiuns do passado, isto é, os profetas e os grandes iniciados.
Tenhamos, portanto, idênticas atitudes se nos desejarmos transformar em obreiros seguros e fiéis da Doutrina dos Espíritos, capazes de vencer os terríveis complexos geradores da obsessão”
Do livro Recordações da Mediunidade, cap. 10 – O Complexo Obsessão.
 
Nota: (1) -  (1) - Vejamos a conceituação de cada um desses fenômenos:
 
- As manifestações do inconsciente, Aksakof definiu como PERSONISMO e disse que era a manifestação onde havia o predomínio da adoção de um nome ou caráter de uma personalidade diferente daquela que habitualmente o sensitivo adotava e apresentava. Assim, é uma manifestação que se passa na intimidade do sensitivo e, portanto, essa manifestação foi classificada como intramediúnica. Dessa forma sugestões arquivadas, processos psicológicos das partes internas da personalidade, lembranças de outras vidas, os arquétipos fazem parte do Personismo. Portanto, todos os fatos do inconsciente que são trazidos ao consciente são manifestações dessa categoria.
 
- Ainda manifestações do inconsciente que vão além dos limites corporais e por isso denominadas de extramediúnicas, fazem parte da categoria chamada de ANIMISMO (de anima ou alma).  Nessa categoria Aksakof colocou fenômenos como a transmissão de pensamentos ou telepatia, a movimentação de objetos sem contato ou telecinesia, as projeções de duplos ou telefania e a bicorporeidade ou teleplastia. Atualmente, os fenômenos do Personismo e do Animismo em uma só classificação, pois são da alma humana do Espírito encarnado, e assim fica apenas o Animismo, devido à semântica da própria palavra.
 
- O último fenômeno classificado foi o MEDIUNISMO, que era manifestação produzida pelos desencarnados agindo sobre o psiquismo de um encarnado.
 
(*) - Leonardo Paixão é Orador espírita (que tem viajado por alguns Estados brasileiros, quando possível, na divulgação da Doutrina Espírita), articulista, poeta, tem críticas literárias publicadas no site orientacaoespirita.org e um artigo publicado em Reformador em Agosto de 2010, A Revelação - uma perspectiva histórica e tem escrito alguns artigos no jornal eletrônico O Rebate. Participa com um grupo de amigos de ideal do GE Semeadores da Paz em Campos dos Goytacazes, RJ, onde exerce direção de estudos e trabalhos na área mediúnica, atuando como médium psicofônico na desobsessão e como psicógrafo de mensagens esclarecedoras, poesias e cartas consoladoras.
 
 

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