Por Yvonne Pereira
Do
Livro “Cânticos do Coração”, volume
II, de Yvonne do Amaral Pereira/Rido de Janeiro: CELD, 1994. Cap. IX –
Considerações sobre a Mediunidade.
O Sr.
G. S. V., estudioso dos assuntos espíritas, mandou-nos as seguintes perguntas:
1 – Como ajudar o desenvolvimento
prático da mediunidade?
2 – Qual o método de desenvolvimento a
médiuns comuns, sem forçá-los ou condicioná-los às manifestações?
3 – Como devemos dirigir esta parte?
4 – Qual a forma segura, sem forçar,
que os predisponha a um desenvolvimento natural, tranquilo?
1 – O melhor meio de desenvolver a
mediunidade é não se preocupar com o seu desenvolvimento, mas preparar-se moral
e mentalmente para poder assumir o compromisso de se tornar médium
desenvolvido. Tal preparo, no entanto, não poderá ser rápido, e , muitas vezes,
a faculdade se apresenta e se define durante o seu decurso. É o método mais
seguro, natural, portanto. Se a mediunidade não se apresentar assim,
espontaneamente, naturalmente, é sinal de que ainda não está bastante
amadurecida para explodir.
Pode-se, entretanto, experimentar,
sentando-se o médium à mesa dos trabalhos, e deixando-o à vontade. O diretor da
mesa, por sua vez, não deve insistir, pressionando ou constrangendo o
pretendente a que dê passividade, porquanto esse método excita a mente do
médium, que acaba dando passividade a si próprio, com o que teremos a sugestão,
e não a comunicação mediúnica autêntica.
Kardec aconselha essa experiência até
seis meses, e a observação tem provado que, se há, realmente, alguma faculdade
para desenvolver, em muito menos tempo o caso será resolvido, principalmente se
o médium estiver preparado através do estudo e da prática do bem.
Se o pretendente nada sentir nesse
período deve, a rigor, retirar-se da mesa. O contrário será forçar o dom, com a
superveniência de animismo, de autossugestão ou da sugestão do próprio
dirigente dos trabalhos sobre a mente do paciente. Verifica-se daí uma espécie
de hipnose que poderá até mesmo prejudicar para sempre a mediunidade, quando
ela realmente se apresentar. E é o que mais existe hoje em dia nos centros
espíritas onde Allan Kardec é substituído por ideias pessoais e modismos de
outras escolas espíritas, muito infiltrados na escola Kardequiana.
A mediunidade é faculdade
transcendente, sublime, que não pode suportar métodos inadequados à sua
natureza por assim dizer celeste.
2 – As sessões práticas de
desenvolvimento não são aconselháveis. A observação tem demonstrado que elas
são, em grande maioria, fábricas de animismo e obsessão, de sugestão e descontrole
nervoso, justamente porque obrigam os participantes a um esforço penoso ao
desenvolvimento. Daí a escassez de médiuns seguros da sua faculdade.
Médiuns há que ficam um, dois, cinco,
dez anos desenvolvendo as próprias faculdades sem nada conseguirem de autêntico
e útil, perdendo, assim, um tempo precioso, que poderia ser empregado em outro
setor. Mas, o certo é que, se em alguns poucos meses eles não tiverem
faculdades desenvolvidas, não convém que insistam, ou porque não possuam a
faculdade, ou porque não esteja ela na época de eclosão, ou porque foi
prejudicada por fatores que convém sejam observados e estudados... Ao demais, o
desenvolvimento completo de uma faculdade mediúnica leva tempo a se completar,
e requer paciência e dedicação, muito amor e muito estudo, renovação moral e
mental progressivas e, às vezes, muitas lágrimas e sofrimentos.
É bom não esquecer que a finalidade da
mediunidade é o intercâmbio entre o ser humano e as entidades espirituais,
dependendo, portanto, de nós mesmos a sua glória ou o seu fracasso. O
desenvolvimento espontâneo, pois, é um dos segredos da boa mediunidade.
Há pessoas que parecem demonstrar
sintomas de faculdade a desenvolver, mas são excessivamente nervosas,
impressionáveis. Se experimentam, nada conseguem de plausível. A essas será
prudente, antes de qualquer experiência, um adequado tratamento médico, assim
como passes feitos duas vezes por semana, pelo menos, com uma assistência de
dois a três médiuns passistas, leituras evangélicas, frequência às reuniões de
estudo e meditação, mas não a presença em sessões práticas.
Na maioria dos casos, essas pessoas são
mais doentes psíquicas, necessitados de um tratamento físico-psíquico, do que
verdadeiros médiuns a desenvolver, pois uma das condições para a mediunidade é
a boa saúde do médium. São pessoas traumatizadas, cuja mente invigilante ou
doente forja o que apresenta, tira de si mesma as comunicações que dá, e podem
ser até histéricas. Quando se restabelecerem, poderão experimentar, mas é
provável que jamais sejam aparelhos mediúnicos fieis. Durante o tratamento, a
fim de não perderem tempo poderão ser aproveitadas em trabalhos de caridade ao
próximo aliados ao Evangelho, quaisquer que sejam, e até no auxílio aos passes
(concentração junto ao passista), conforme o grau da responsabilidade já
adquirida, pois tudo isso é responsabilidade, é compromisso com a lei de Deus.
A seara é grande, e há serviço para
todos. A mediunidade é amor, é sacrifício, é renúncia, é humildade, é cruz
pesada, e não apenas no seu setor que podemos servir a Deus e ao próximo.
3 – O meio mais prudente para dirigir
esta parte é o seguinte, prática esta estabelecida nos núcleos espíritas mais
esclarecidos e criteriosos:
a) Sessões teóricas para os candidatos
ao desenvolvimento. Estudo indispensável de “O Livro dos Médiuns”, de Allan
Kardec, e de outras obras que auxiliem o esforço para a sintonização das
próprias vibrações com as forças do Alto.
b) Se os candidatos forem portadores de
boa moral, boa saúde e desejo de servir a Deus e ao próximo, se já frequentam
sessões de estudo, aproveitando das instruções recebidas, do critério da
Doutrina e da responsabilidade assumida, poderão aplicar passes, no próprio
centro ou fora dele, acompanhados de irmãos mais experimentados, ao iniciarem o
mister. Esse é o trabalho da fé e da coragem, desburocratizado, e nada devemos
temer, pois estaremos assistidos ocultamente pelos mensageiros do Cristo.
Será erro, porém, supor que, para
aplicar passes necessitamos receber Espíritos e sermos médiuns desenvolvidos.
Esse método é falso, infiltrações infelizes de outras correntes de ideias na
lúcida Doutrina dos Espíritos, codificada por Allan Kardec.
Aplicando passes criteriosamente, no
sublime trabalho da Caridade, com fervor, responsabilidade e amor, o pretendente
será, por certo, assistido pelos mensageiros do bem e, se possuir outras
faculdades desenvolvê-las-á suavemente, naturalmente, seguramente, em faixas
espirituais protetoras e iluminadas, sem necessidade de passar por aqueles
terríveis períodos obsessivos provocados pelas sessões de desenvolvimento,
forçando a explosão da faculdade que pode não existir. Esses são os casos
normais.
c) Além dos trabalhos de passes, o
candidato poderá assistir a reuniões práticas ditas “de caridade” (não para
desobsessões), fora da mesa, numa “segunda corrente”. Que o presidente não se
incomode com ele. O dia em que ele, médium, sentir qualquer anormalidade,
sente-se à mesa e, com certeza, o caso estará resolvido.
Deverá também estudar a Doutrina
Espírita e o Evangelho, diariamente, evitando, porém, o fanatismo pelas obras
mediúnicas e meditando criteriosamente sobre as clássicas, observando a
pesquisa moderna; orar, suplicar, oferecer seu trabalho a Jesus, aprendendo com
ele a ser bom e humilde de coração e a renunciar, embora o preparo para as
renúncias necessárias à boa marcha dos trabalhos seja lento, progressivo; e
fazer caridade, também, sem fanatismo, antes equilibrada e útil. É uma
renovação moral que se impõe para se conseguir a boa mediunidade.
O médium, outrossim, não deve nem pode
pensar nos próprios deveres ao se sentar à mesa, mas a cada hora que viver,
pois é uma antena sempre desperta, que receberá tudo, e que poderá
prejudicar-se e ao seu trabalho mediúnico por muitas formas diferentes, se se
descurar das próprias responsabilidades.
Para os casos de obsessão ou atuações
fortes em médiuns não desenvolvidos não convirá desenvolvê-los nessa ocasião.
Nesse estado anormal, o médium torna-se um enfermo que necessita tratamento
antes de mais nada. O mais prudente será passar a entidade para outro médium,
conversar com ela a fim de esclarecê-la, e tratar cautelosamente do médium,
inclusive esclarecendo-o também.
Doutrinar a entidade servindo-se do
médium assim atormentado é prejudica-lo ainda mais, pois ele poderá não possuir
o critério necessário a tal empreendimento, nem aguentar a responsabilidade do
compromisso; desenvolver sua faculdade nessa ocasião é abrir-lhe a
possibilidade para novas obsessões. O trabalho da caridade, qualquer que seja,
será recurso salvador.
4 – A psicografia é muito subdividida.
Há médiuns psicógrafos de vários tipos (Ver “O Livro dos Médiuns”, cap. XVI,
item 193). Não se pode, portanto, pedir ao psicógrafo aquilo que ele não poderá
dar, pois, às vezes, nosso pedido poderá não corresponder à sua especialidade,
e novamente advir a intromissão do chamado animismo.
Frequentemente, entre médiuns
escreventes, poderá haver o impulso vibratório do braço, mas ele, o médium, não
tem o que escrever porque não possui faculdade literária. Nesse caso, Kardec
aconselha a fazer perguntas ao seu Guia Espiritual, sempre respeitosas e
doutrinárias, de forma, porém, a provocar respostas amplas, e em nome de Deus
Todo-Poderoso.
Se o médium não possui dons literários
será em vão tentar, pois somente obterá produções medíocres. A literatura
autêntica na psicografia é dom especial, que não se poderá provocar. Em
idênticas condições a poesia: nem todos os médiuns literários produzirão
poesia, pois esse dom é outra especialidade na psicografia (Ver “O Livro dos
Médiuns”, cap. XVI, item 193).
O modo mais seguro, portanto, natural,
sem forçar a explosão da faculdade, é o que aí fica exposto, resultado de
longas observações em torno do caso, dos conselhos dos Bons Espíritos e das
recomendações dos grandes mestres da Doutrina Espírita.
Convém
não esquecer que a mediunidade é um dom de Deus, com o qual não devemos abusar.
Devemos, sim, tratá-lo com amor e respeito, cultivá-lo com método, humildade e
habilidade, à base do Evangelho, dele fazer instrumento da Caridade e da Fé.
Útil
lembrar que a um médium não será apenas recomendado que produza belas páginas
de literatura, mas, também, e acima de tudo, que console corações sofredores,
enxugue lágrimas de aflição, socorra os infelizes, fornecendo-lhe Amor e
Esperança, pois para isso possui ele as credenciais de intermediário entre a
Terra e o Céu.
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