Por Leonardo
Paixão
29/02/2024
Campos
dos Goytacazes, RJ
Neste
texto, iremos tecer algumas reflexões sobre dois parágrafos que constam da Apresentação
do livro Transtornos Psiquiátricos e Obsessivos, do Espírito Manoel Philomeno
de Miranda, psicografia de Divaldo Pereira Franco.
No primeiro
parágrafo observa Miranda:
“Os avanços das doutrinas que estudam a
mente e as emoções têm contribuído de maneira expressiva para decifrar problemas
psiquiátricos e os de comportamento, oferecendo terapias valiosas que os diminuem
ou que libertam os pacientes das aflições de angústia e de desespero que os
alienam”.
(Miranda,
2017. Transtornos Psiquiátricos e Obsessivos)
É
preciso considerar que não se tratam transtornos psiquiátricos ou mentais bem
como as questões emocionais e os conflitos existenciais com o uso exclusivo de
medicamentos. A Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu, em 22 de janeiro de
1998, que “saúde é um estado dinâmico de completo bem-estar físico, mental,
espiritual e social, e não meramente a ausência de doença ou enfermidade”.
Houve
um avanço na definição de saúde ao se inserir o espiritual, no entanto, falta o
se chegar a uma compreensão de que o ser humano é um ser de tríplice aspecto, pois
que ele não é uma dicotomia corpo e mente.
O
Espiritismo traz a seguinte concepção, somos quando encarnados: Espírito,
perispírito e corpo físico. O Espírito é o Ser, a Essência, criada pela Suprema
Vontade – Deus. O perispírito é o corpo intermediário que favorecerá a ligação
do Espírito, que é incorpóreo, com o corpo físico. Esse corpo intermediário
será o canal de comunicação entre o Espírito e o corpo. O corpo físico é movimentado
pelo Espírito através do perispírito que, recebendo, ou melhor, sendo o veículo
do Espírito, leva para o corpo físico as suas impressões. As dores morais
sentidas pelo Espírito em sua romagem terrena fazem, por assim dizer, abalos,
traumas no perispírito e estes são somatizados, isto é, o corpo físico dá os
sinais que visibilizarão o desequilíbrio do Espírito, causa primeira de toda
desordem.
E o
Miranda apontará no segundo parágrafo:
“(...)
muitos conflitos gerados pela tecnologia e pelas comunicações virtuais, assim
como pelos fatores defluentes do processo da evolução, expressando-se na
hereditariedade e nas enfermidades infectocontagiosas, o número de portadores
de transtornos mentais e psicológicos prossegue com estatística ampliada”.
A tecnologia
trouxe excelente auxílio, diminuindo consideravelmente as distâncias para a
comunicação entre os povos, no entanto, para a vida pessoal, ao passo que
facilitou o acesso à informação e à comunicação, trouxe isolamento social, comportamentos
padronizados, crimes cibernéticos, traições virtuais, pornografia em massa,
fake News, bullying cibernético, fatores esses que tem acarretado o desencadear
de depressões, ansiedades, desagregação familiar, estresse constante,
suicídios, dependência de tela, desinformação, deseducação, processos de
vampirismo.
O filósofo
sul-coreano Byung-Chul Han, no ano 2010, escreveu o livro Sociedade do
Cansaço que, segundo Walmar Andrade:
“(...)
é um breve ensaio sobre os efeitos provocados na mente das pessoas pelas
mudanças sociais, culturais e econômicas do século 21.
Para
Byung-Chul Han, uma das principais causas para a piora generalizada na saúde
mental das pessoas é o excesso de positividade.
A
mudança de uma sociedade disciplinar para a atual sociedade de desempenho, em
que todos precisam “performar no seu máximo”, seria a principal razão para a
explosão de doenças neuronais como depressão, transtorno de déficit de atenção
com síndrome de hiperatividade (TDAH), transtorno de personalidade limítrofe
(borderline) e Síndrome de Burnout (SB).
Enquanto
na antiga sociedade disciplinar as pessoas precisavam enfrentar mais regras,
sujeições e proibições, na atual sociedade de desempenho muitos profissionais
tornaram-se empresários de si mesmos.
“O
homem depressivo é aquele animal laborans que explora a si mesmo e, quiçá
deliberadamente, sem qualquer coação estranha. É agressor e vítima ao mesmo
tempo”.
Byung-Chul
Han, em Sociedade do Cansaço (2015)
https://walmarandrade.com.br/sociedade-do-cansaco/
- acesso em 01/01/2024
Podemos
ver assim que Miranda ao falar sobre “conflitos gerados pela tecnologia” está
plenamente de acordo com os estudos, tais o que aqui citamos, como os do
filósofo sul-coreano Byung-Chul Han.
Dentre
os aspectos obsessivos que podemos relacionar com os transtornos e
comportamentos que são efeitos do uso indiscriminado de aparelhos tecnológicos,
temos o vampirismo. Aqui abordaremos o vampirismo endógeno ou autovampirismo,
já que no uso excessivo de celulares, tablets, notebooks, etc., estamos sós e ocorre
em nosso cérebro os seguintes processos:
“Através
do uso de telefones celulares, computadores ou televisores, as pessoas
podem aprender, se divertir e interagir uns com os outros. No entanto, nem tudo
nesta dinâmica de uso é positivo. Estar na frente das telas por longos períodos
de tempo pode ter efeitos nocivos à saúde.
O uso
da tela pode afetar os ritmos circadianos
Os ritmos
circadianos do nosso corpo – mudanças físicas, mentais e comportamentais
que seguem um ciclo de 24 horas e respondem principalmente à luz e à escuridão
– são afetados pela exposição às telas dos aparelhos eletrônicos.
Dados
do Instituto Nacional de Ciências Médicas Gerais (Nigms, na sigla em inglês),
dos Estados Unidos, indicam que a luz dos dispositivos durante a noite pode
confundir os relógios biológicos. Como resultado, ela pode causar distúrbios
do sono e levar a outras condições médicas crônicas, tais como obesidade,
diabetes ou depressão.
Além
disso, o tempo de tela pode substituir o tempo gasto com exercícios, este, sim,
benéfico para o sono. A informação está publicada no artigo intitulado “Aumento
do tempo de tela como causa de diminuição da saúde física, saúde psicológica e
padrões de sono: uma revisão da literatura”, de 2022, publicado na
revista científica médica Cureus.
As
telas afetam o sistema de recompensa do cérebro
Por
outro lado, o tempo de tela dessensibiliza o sistema de recompensa do cérebro,
de acordo com um artigo informativo de Victoria Dunckley, psiquiatra e autora
do livro “Reset Your Child's Brain” (“Redefina o Cérebro do seu
Filho”, em tradução livre), publicado no site da Universidade do Estado de
Nova York, nos Estados Unidos.
Como
relata o material, os jogos eletrônicos e redes sociais fazem com que
algumas crianças fiquem "viciadas" nos dispositivos e liberam muita
dopamina (um neurotransmissor que gera uma sensação de bem-estar). "Mas
quando os caminhos de recompensa são usados em excesso, eles se tornam menos
responsivos e é necessário cada vez mais estímulo para experimentar o
prazer".
A
exposição excessiva na tela afeta o desenvolvimento cognitivo
Passar
muito tempo diante de uma tela afeta o desenvolvimento cerebral e
aumenta o risco de distúrbios cognitivos, emocionais e comportamentais em
adolescentes e jovens adultos.
É o
que explica o artigo “Demência digital na geração da Internet: o tempo
excessivo de tela durante o desenvolvimento do cérebro aumentará o risco de
doença de Alzheimer e demências relacionadas na vida adulta”, publicado
no Journal of Integrative Neuroscience em 2022.
Segundo
o estudo, o tempo de tela excessivo "afeta negativamente a atenção e a
concentração, a aprendizagem e a memória, a regulação emocional e o funcionamento
social, a saúde física, e o desenvolvimento de distúrbios mentais e de uso de
substâncias".
A
exposição precoce à tela aumenta o risco de Alzheimer
Um
artigo publicado no Journal of Integrative Neuroscience vai
pelo mesmo caminho e também adverte: "Se os circuitos neurais subjacentes
às habilidades cognitivo-comportamentais essenciais para a inteligência geral e
adaptabilidade durante toda a vida são subdesenvolvidos ou anormalmente
desenvolvidos antes da idade adulta”, diz o documento.
A
investigação científica continua e diz que “é provável que essas mudanças
persistam na idade adulta precoce e média e sejam mais vulneráveis à
neurodegeneração acelerada na idade adulta tardia, o que aumentará o risco de
leve comprometimento cognitivo e doença de Alzheimer precoce e
demências relacionadas".
REDAÇÃO
NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL
Publicado
em 24 de fevereiro de 2023, 16:45 BRT
O
Professor José Herculano Pires, filósofo, jornalista, escritor e pesquisador
espírita na década de 70 tinha já a dimensão do que estímulos sensoriais e
psíquicos em excesso trariam de efeitos no comportamento humano. Atentemos:
“Se
compreendermos que o vampirismo não é mais do que exacerbação mórbida de
tendências, naturais do organismo, mantidas e em equilíbrio e, portanto, em
condições normais na vida rotineira, não estranharemos a expressão
autovampirismo. As tendências orgânicas e psíquicas de cada criatura humana
resultam de complexos processos filogenéticos espirituais e vitais que
determinam a condição natural de equilíbrio entre a afetividade, a volição ou
vontade, a dinâmica consciente – inconsciente, e a razão. O menor desequilíbrio
em qualquer ponto de uma dessas áreas da constituição psicossomática pode
desencadear processos anormais nas manifestações compulsórias do ser”. (PIRES, José Herculano. Vampirismo. São Paulo:
Editora Paideia, 2011)
Os Transtornos
de tela trazem consequências como apontam os estudiosos do assunto:
“Farias
(2018), expressa em seu trabalho que há uma alienação do corpo diante do vício
em telas. Aponta uma diminuição da lubrificação ocular, dores na coluna
vertebral e doenças decorrentes da redução da mobilidade, o que tem contribuído
para o aumento do sedentarismo.
Manno;
Rosa (2018), afirmam que os indivíduos que mantém uma relação psicótica com a
internet, em sua maioria, apresentam acentuada fragilidade pessoal, tais como,
baixa autoestima, dificuldade em lidar com a frustração, entre outras, e a
internet surge como uma forma de evitar os medos e as ansiedades do mundo real
e proporcionar prazer.
Os
sintomas de que um indivíduo está acometido dessa dependência são
caracterizados por ansiedade, mudanças de humor, agitação e manter-se por horas
conectado, indiferente aos danos sofridos nas áreas psicológicas, social e
física (TERROSO; ARGIMON, 2016)”
IN:
SILVA, Braian Bruno da; LEITE, Cássia Soares; COSTA, Ederson Ribeiro. Dependência
de tela - A patologia do século XXI: uma
revisão narrativa. Unisalesiano.
Recursos
a serem usados para o auxílio a pessoas dependentes de telas:
-
Psicoterapia, pois por trás da dependência, comumente há carências pessoais e
baixa autoestima, mas também pode haver conflitos familiares, bullying,
luto pela morte de um ente querido ou mudança de país;
-
Apoio familiar, os familiares devem buscar grupos de apoio par que possam assim
irem aprendendo a lidar com a situação.
No
campo espírita os recursos são:
-
Orientar a pessoa para desenvolver o hábito diário da prece e também se orar
por ela, lembrando que “Em todos os casos de obsessão, a prece é o mais
poderoso auxiliar para agir contra o Espírito obsessor” (KARDEC, Allan. O
Evangelho segundo o Espiritismo » Capítulo XXVIII - Coletânea de preces
espíritas » V - Preces pelos doentes e pelos obsidiados » Pelos obsidiados,
item 81). Obviamente falamos aqui da prece sincera e não das lidas e/ou
decoradas cujo coração está longe.
-
Tratamento por passes magnéticos. Lembrando que:
“Nos
casos de obsessão grave, o obsidiado se acha como que envolvido e impregnado de
um fluido pernicioso, que neutraliza a ação dos fluidos salutares e os repele.
É desse fluido que importa desembaraçá-lo. Ora, um fluido mau não pode ser
eliminado por outro fluido mau. Mediante ação idêntica à do médium curador nos
casos de enfermidade, cumpre se elimine o fluido mau com o auxílio de um fluido
melhor, que produz, de certo modo, o efeito de um reativo. Esta a ação
mecânica, mas que não basta; necessário, sobretudo, é que se atue sobre
o ser inteligente, ao qual importa se possa falar com autoridade, que só
existe onde há superioridade moral. Quanto maior for esta, tanto maior será
igualmente a autoridade”.
(KARDEC,
Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo » Capítulo XXVIII - Coletânea
de preces espíritas » V - Preces pelos doentes e pelos obsidiados » pelos
obsidiados, item 81)
-
Reuniões mediúnicas de desobsessão, pois, ainda que seja um processo de
autovampirismo, Espíritos ociosos podem se aproximar para exacerbar o comportamento
dependente. Não podemos nos esquecer de que há no Mundo dos Espíritos os jovens
que desencarnaram com tal dependência e que podem estar a influenciar outros
jovens que foram ou não de seu círculo de amizades virtuais.
-
E fica essa advertência e orientação do Professor José Herculano Pires para
quando nos dirigirmos a pessoas obsedadas por processos de vampirismo:
“(...)
Mais do que estimulações morais, deve-se recorrer ao esclarecimento racional do
problema. A criatura humana é sempre mais sensível às explicações lógicas do
que às exortações puramente morais e geralmente piegas, desvalorizadas pela
ação corrosiva da hipocrisia de pregadores que fazem o contrário do que
ensinam. A vítima de vampirismo e os seus algozes necessitam de estímulo
racional, pois a prática vampiresca se funda sempre nos processos sensoriais e
afetivos. São sempre criaturas que alegam carência de amor, de afetividade,
como crianças mimadas que passam pelos traumatismos do abandono. Por isso mesmo
são também inconstantes, inseguras, fugindo ao tratamento sempre que possível”.
(PIRES,
José Herculano. Vampirismo. São Paulo: Editora Paideia, 2011)
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