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sábado, 11 de maio de 2024

Nos Bastidores da Obsessão - Estudo

Estudo do livro Nos Bastidores da Obsessão, do Espírito Manoel Philomeno de Miranda, psicografia de Divaldo Pereira Franco.


Examinando a Obsessão (continuação)


Quando, você escute nos recessos da mente uma ideia torturante que teima por se fixar, interrompendo o curso dos pensamentos; quando constante, imperiosa, atuante força psíquica interferindo nos processos mentais; quando verifique a vontade sendo dominada por outra vontade que parece dominar; quando experimente inquietação crescente, na intimidade mental, sem motivos reais; quando sinta o impacto do desalinho espiritual em franco desenvolvimento, acautele-se, porque você se encontra em processo imperioso e ultriz de obsessão pertinaz.

Transmissão mental de cérebro a cérebro, a obsessão é síndrome alarmante que denuncia enfermidade grave de erradicação difícil.

A princípio se manifesta como inspiração sutil, depois intempestivamente, para com o tempo fazer-se interferência da mente obsessora na mente encarnada, com vigor que alcança o clímax na possessão lamentável.

Ideia negativa que se fixa, campo mental que se enfraquece, dando ensejo a ideias negativas que virão.

 

O Miranda traz nestes parágrafos o modus operandi de como uma obsessão se inicia. E, por mais que em estudos anteriores tenhamos abordado igualmente sobre a técnica da obsessão, citando e transcrevendo trechos do cap. 13 – Pequeno Estudo sobre Técnica da Obsessão, de meu livro Novas Reflexões Doutrinárias, considero importante abordar aqui, inicialmente, os conceitos de obsessão. Para tanto irei transcrever o item 01 da 1ª Parte do livro A Obsessão: Instalação e Cura, organizado por Adilton Pugliese, deixando nossos comentários.

 

Obsessão: Conceito

1 - “Impertinência, perseguição, preocupação com determinada ideia, que domina doentiamente o espírito, e resultante ou não de sentimentos recalcados, ideia fixa, mania” (Dicionário Aurélio)

 

Comentário de Leonardo Paixão:

 

Aqui temos uma definição no campo da psicopatologia. Nesse campo, temos que “nas primeiras iniciativas de se estudar os transtornos mentais, entre 1894 e 1895, a neurose obsessiva foi isolada por Freud de outros sintomas psiquiátricos. Naquele momento, Freud compreendeu-a como um quadro psiquiátrico autônomo e independente, pertencente a família das psiconeuroses. Na época, os médicos consideravam que era uma degeneração e que o quadro era incurável”.

 

(...) atualmente, na Psicanálise, fala-se em uma estrutura mental obsessiva ou em traços obsessivos de personalidade (...)

Segundo a psiquiatra e psicanalista Suzana Grunspun, esse é um dos transtornos mais prevalentes na população e considera-se que sua variabilidade clínica e diversidade de sintomas são fatores complicadores de diagnóstico. Isso preocupa a Organização Mundial de Saúde (OMS), pois o TOC é considerado uma doença incapacitante.

(...)

No DSM V, o TOC é descrito pela presença de obsessões, compreendidas como pensamentos repetitivos e persistentes, imagens ou impulsos e/ou compulsões que são comportamentos com rituais repetitivos ou atos mentais, nos quais a pessoa se vê obrigada a fazer em resposta a uma obsessão. (Blog de Psicanálise.  São Paulo. 01 de setembro. Disponível em  https://www.sbpsp.org.br/blog/transtorno-obsessivo-compulsivo-rituais-manias-e-aprisionamento/#:~:text=coment%C3%A1rios%20e%20d%C3%BAvidas.-,Transtorno%20Obsessivo%2Dcompulsivo%3A%20rituais%2C%20manias%20e%20aprisionamento.,constante%20luta%20contra%20esses%20pensamentos. Acesso em 07/05/2024)

 


Colocamos sobre o TOC para se ver que, no campo da Medicina, da Psicanálise e da Psicologia, estuda-se e trata-se o transtorno obsessivo, dentro de uma conceituação própria. Agora iniciaremos a ver os conceitos espíritas de obsessão propostos por Allan Kardec.

 

2 – “Domínio que alguns Espíritos logram adquirir sobre certas pessoas. Nunca é praticada senão pelos Espíritos inferiores, que procuram dominar” (O Livro dos Médiuns – cap. 23/237 - 61ªed. /FEB – página 306)

 

Comentário:

As observações e estudos de Allan Kardec sobre os fenômenos mediúnicos, o levou ao estudo do complexo e delicado campo da obsessão realizado pelos Espíritos desencarnados sobre os encarnados, com isso, trazendo um novo olhar aos quadros psicopatológicos. E, no decorrer dos anos de pesquisa e observação de tal fenômeno, Kardec irá perceber características diversas e as classificará bem como ampliará seu conceito de obsessão, como veremos.

 

3 – “É a ação persistente que um Espírito mau exerce sobre um indivíduo. Apresenta caracteres muito diversos, desde a simples influência moral, sem perceptíveis sinais exteriores até a perturbação completa do organismo e das faculdades mentais” (O Evangelho segundo o Espiritismo – cap. 28/item 81 - 110ª ed./FEB – página 431)

 

Comentário:

Aqui, Allan Kardec nos traz maior desenvolvimento do conceito, diferenciando obsessão simples da que altera as faculdades mentais. Em O Livro dos Médiuns, no cap. 23 Da Obsessão, há todo um estudo sobre obsessão simples, obsessão por fascinação e obsessão por subjugação, o que nos propomos fazer aqui é uma breve análise do desenvolvimento do conceito de obsessão dado por Allan Kardec em suas mais diversas obras.

 

4 – “(...) a alma ficar na dependência de outro Espírito, de modo ase achar subjugada ou obsidiada, ao ponto de a sua vontade vir a achar-se, de certa maneira, paralisada (O Livro dos Espíritos – cap. 09/questão 474 - 76ª ed./FEB – página 250)

 

Comentário:

A definição aqui colocada é, na verdade, uma pergunta que Kardec fez aos Espíritos Superiores e ela é um desenvolvimento da questão 199 de O Livro dos Espíritos em sua 1ª edição que continha 501 perguntas. Vamos colocar aqui para comparação as perguntas e respectivas repostas das duas edições de O Livro dos Espíritos, a da primeira no ano 1857 e a da edição definitiva que foi no ano de 1860.

 

199. Haverá possessos segundo a ideia comumente associada a esta palavra?

“Não, visto que dois Espíritos não podem habitar simultaneamente o mesmo corpo. Os assim chamados eram epilépticos ou loucos, mais necessitados de médicos que de exorcismo” (O Livro dos Espíritos – Edição Histórica)  

 

474. Desde que não há possessão propriamente dita, isto é, coabitação de dois Espíritos no mesmo corpo, pode a alma ficar na dependência de outro Espírito de modo a se achar subjugada ou obsidiada ao ponto de a sua vontade vir a achar-se, de certa maneira paralisada?

“Sem dúvida e são esses os verdadeiros possessos. Mas, é preciso saibas que essa dominação não se efetua nunca sem que aquele que a sofre o consinta, quer por sua fraqueza quer por desejá-la. Muitos epilépticos ou loucos, que mais necessitam de médico que de exorcismos, têm sido tomados por possessos” (O Livro dos Espíritos – cap. 09/questão 474 - 76ª ed./FEB – página 250)

 

5 – “Domínio que os maus Espíritos assumem sobre certas pessoas, com o objetivo de as escravizar e submeter à vontade deles, pelo prazer que experimentam em fazer o mal. Quando um Espírito bom ou mau quer atuar sobre um indivíduo, envolve-o, por assim dizer, no seu perispírito, como se fora um manto” (Obras Póstumas – cap. 7/item 56 - 26ª ed./FEB – páginas 67/68)

 

Comentário:

Se o Espírito tem no perispírito uma como que vestimenta, o Espírito obsessor como que se põe como uma peça a mais da veste do Espírito, dificultando assim, quando da obsessão por subjugação e por fascinação, os movimentos corporais (subjugação física) e a clareza dos raciocínios (subjugação moral e/ou também, a fascinação), já na obsessão simples, o obsedado mantém a lucidez, no entanto, tem pensamentos fixos e imagens mentais lhes surgem, fortalecendo tais pensamentos.

Irritabilidade, episódios depressivos, tristeza, vazio existencial, desequilíbrio emocional em que há constantes mudanças de humor e reações desproporcionais a imprevistos e acontecimentos negativos do dia a dia, são sinais e sintomas do processo da obsessão simples.

 

Tendo feito esse breve estudo do desenvolvimento do conceito de obsessão em Allan Kardec e, percebendo que no campo dos estudos psiquiátricos, psicanalíticos e psicológicos sobre o TOC dizem da ideia fixa acompanhada por imagens, podendo chegar à compulsão (comportamento com rituais repetitivos ou atos mentais), não temos como deixar de  observar a semelhança do processo de instalação do TOC, estudado pelas Ciências Psicológicas e do processo de instalação da obsessão por Espíritos, estudado pelo Espiritismo.

Inicia-se com uma ideia que persiste, até que fixada, leve ao comportamento patológico.

Afirma Miranda: “Ideia negativa que se fixa, campo mental que se enfraquece, dando ensejo a ideias negativas que virão”.

Um tipo de obsessão que não podemos esquecer e que pesquisadores espíritas como o Dr. Inácio Ferreira e Carlos Bernardo Loureiro e outros estudaram e escreveram sobre é a auto-obsessão. A este respeito esclarece Carlos Bernardo Loureiro:

 

A auto-obsessão decorre de um processo de polarização mental. É a polarização mental que conduz o indivíduo a um estado de condicionamento mental, ou seja, é uma auto-sugestão. Basta uma criatura credenciar uma determinada coisa, fixando a sua atenção sobre a mesma com persistência, para condicionar o seu pensamento, levando-a ao processo auto-obsessivo.

A verdade é que, segundo o psiquiatra espírita Alberto Calvo, quando a criatura fixa o pensamento numa determinada direção, faz com que todas as coisas da sua vida, todas as atividades intelectuais, sociais, esportivas, etc., sejam conduzidas àquela direção. Esse direcionamento, pela prevalência absoluta, para uma polarização da mente, gerando um condicionamento. Todo condicionamento é uma ideia fixa, e toda ideia fixa, sem dúvida, leva a criatura à exaustão das energias biopsíquicas. Há um desgaste muito grande do fluido bio-magnético e, ao mesmo tempo, a criatura, em face da polarização mental, passa a executar atividades que envolvem determinados centros cerebrais, em muito maior intensidade do que seria adequado, para a função psicológica. (LOUREIRO, Carlos Bernardo. A Obsessão e seus Mistérios. São Paulo: Editora Mnemio Tulio, 1997. Cap. Nos Labirintos da Auto-Obsessão. p. 82)

 

Comentário:

Vemos tal fenômeno, por exemplo (há outros casos como no TOC, no TAG, no TDAH em que o fenômeno ocorre e em outras áreas como Sexo, Dependência Química), ocorrer em pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), neste caso o hiperfoco acarreta consequências prejudiciais às interações sociais e mesmo com relação a saúde da pessoa autista. O que é o hiperfoco? O hiperfoco “é um fenômeno que reflete a completa absorção de uma pessoa em uma tarefa, a um ponto em que a pessoa parece ignorar completamente ou ‘desligar-se’ de todo o resto”.

 

As conexões que se estabelecem a partir do hiperfoco dos autistas podem não ser funcionais e há o risco de provocarem o isolamento do indivíduo por um grupo.

‌Os interesses específicos – por galáxias, plantas ou dinossauros, por exemplo – podem acabar não sendo bem comunicados com os outros e sendo usados fora de contexto, diz Joana. “Então, como resultado, essas crianças acabam ficando isoladas, brincando mais sozinhas. Porque é muito difícil você abrir mão daquele seu hiperfoco em detrimento da relação com o outro”, afirma a neuropsicóloga. (Autismo e Realidade. Hiperfoco no Autismo. 18/09/2023. Disponível em: https://autismoerealidade.org.br/2023/09/18/hiperfoco-no-autismo/#:~:text=No%20caso%20do%20autismo%2C%20o,do%20indiv%C3%ADduo%20por%20um%20grupo. ) Acesso em 11/05/2024

 

Como podemos depreender, o hiperfoco no autista é um investimento libidinal de tal modo que a pessoa não se ocupa nem se preocupa com outra coisa, não é este o exato processo da auto-obsessão? Há diversos estudos sobre as características no TEA e, pensamos que os estudos espíritas sobre a polarização mental ou auto-obsessão podem auxiliar no melhor entendimento do comportamento hiperfocal.

 

E na sociedade, haveria um fenômeno auto-obsessivo coletivo? Pensamos que sim, que há essa possibilidade. Em poucas palavras, façamos uma retrospectiva de uma situação de nossa sociedade brasileira.

Desde as eleições últimas à Presidência da República no Brasil, o fenômeno da polarização política trouxe até os dias atuais (2024), o fenômeno da auto-obsessão coletiva em que, nas redes sociais, podemos observar uma multidão de pessoas a fazerem comentários sobre assuntos diversos e neles inserem sua ideologia política. Autores como Freud, por exemplo, estudaram esse fenômeno nas massas. O seu livro Psicologia das Massas traz o olhar psicanalítico sobre.

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