Estudo do livro Nos Bastidores da Obsessão, do Espírito Manoel Philomeno de Miranda, psicografia de Divaldo Pereira Franco.
Examinando a Obsessão (continuação)
Quando, você escute nos
recessos da mente uma ideia torturante que teima por se fixar, interrompendo o
curso dos pensamentos; quando constante, imperiosa, atuante força psíquica
interferindo nos processos mentais; quando verifique a vontade sendo dominada
por outra vontade que parece dominar; quando experimente inquietação crescente,
na intimidade mental, sem motivos reais; quando sinta o impacto do desalinho
espiritual em franco desenvolvimento, acautele-se, porque você se encontra em
processo imperioso e ultriz de obsessão pertinaz.
Transmissão mental de
cérebro a cérebro, a obsessão é síndrome alarmante que denuncia enfermidade
grave de erradicação difícil.
A princípio se
manifesta como inspiração sutil, depois intempestivamente, para com o tempo
fazer-se interferência da mente obsessora na mente encarnada, com vigor que
alcança o clímax na possessão lamentável.
Ideia negativa que se
fixa, campo mental que se enfraquece, dando ensejo a ideias negativas que virão.
O Miranda traz nestes
parágrafos o modus operandi de como uma obsessão se inicia. E, por mais que em
estudos anteriores tenhamos abordado igualmente sobre a técnica da obsessão,
citando e transcrevendo trechos do cap. 13 – Pequeno Estudo sobre Técnica da Obsessão,
de meu livro Novas Reflexões Doutrinárias, considero importante abordar
aqui, inicialmente, os conceitos de obsessão. Para tanto irei transcrever o
item 01 da 1ª Parte do livro A Obsessão: Instalação e Cura, organizado
por Adilton Pugliese, deixando nossos comentários.
Obsessão: Conceito
1 - “Impertinência, perseguição, preocupação com determinada ideia, que domina doentiamente o espírito, e resultante ou não de sentimentos recalcados, ideia fixa, mania” (Dicionário Aurélio)
Comentário
de Leonardo Paixão:
Aqui
temos uma definição no campo da psicopatologia. Nesse campo, temos que “nas
primeiras iniciativas de se estudar os transtornos mentais, entre 1894 e 1895,
a neurose obsessiva foi isolada por Freud de outros sintomas psiquiátricos. Naquele
momento, Freud compreendeu-a como um quadro psiquiátrico autônomo e independente,
pertencente a família das psiconeuroses. Na época, os médicos consideravam que
era uma degeneração e que o quadro era incurável”.
(...) atualmente,
na Psicanálise, fala-se em uma estrutura mental obsessiva ou
em traços obsessivos de personalidade (...)
Segundo a
psiquiatra e psicanalista Suzana Grunspun, esse é um dos transtornos mais
prevalentes na população e considera-se que sua variabilidade clínica e
diversidade de sintomas são fatores complicadores de diagnóstico. Isso preocupa
a Organização Mundial de Saúde (OMS), pois o TOC é considerado uma doença
incapacitante.
(...)
No DSM V,
o TOC é descrito pela presença de obsessões, compreendidas como pensamentos
repetitivos e persistentes, imagens ou impulsos e/ou compulsões que são
comportamentos com rituais repetitivos ou atos mentais, nos quais a pessoa se
vê obrigada a fazer em resposta a uma obsessão. (Blog de Psicanálise. São Paulo. 01 de setembro. Disponível em https://www.sbpsp.org.br/blog/transtorno-obsessivo-compulsivo-rituais-manias-e-aprisionamento/#:~:text=coment%C3%A1rios%20e%20d%C3%BAvidas.-,Transtorno%20Obsessivo%2Dcompulsivo%3A%20rituais%2C%20manias%20e%20aprisionamento.,constante%20luta%20contra%20esses%20pensamentos.
Acesso em 07/05/2024)
Colocamos
sobre o TOC para se ver que, no campo da Medicina, da Psicanálise e da
Psicologia, estuda-se e trata-se o transtorno obsessivo, dentro de uma
conceituação própria. Agora iniciaremos a ver os conceitos espíritas de obsessão
propostos por Allan Kardec.
2 – “Domínio
que alguns Espíritos logram adquirir sobre certas pessoas. Nunca é praticada
senão pelos Espíritos inferiores, que procuram dominar” (O Livro dos Médiuns –
cap. 23/237 - 61ªed. /FEB – página 306)
Comentário:
As
observações e estudos de Allan Kardec sobre os fenômenos mediúnicos, o levou ao
estudo do complexo e delicado campo da obsessão realizado pelos Espíritos
desencarnados sobre os encarnados, com isso, trazendo um novo olhar aos quadros
psicopatológicos. E, no decorrer dos anos de pesquisa e observação de tal
fenômeno, Kardec irá perceber características diversas e as classificará bem
como ampliará seu conceito de obsessão, como veremos.
3 – “É
a ação persistente que um Espírito mau exerce sobre um indivíduo. Apresenta caracteres
muito diversos, desde a simples influência moral, sem perceptíveis sinais
exteriores até a perturbação completa do organismo e das faculdades mentais” (O
Evangelho segundo o Espiritismo – cap. 28/item 81 - 110ª ed./FEB – página 431)
Comentário:
Aqui,
Allan Kardec nos traz maior desenvolvimento do conceito, diferenciando obsessão
simples da que altera as faculdades mentais. Em O Livro dos Médiuns, no
cap. 23 Da Obsessão, há todo um estudo sobre obsessão simples, obsessão por
fascinação e obsessão por subjugação, o que nos propomos fazer aqui é uma breve
análise do desenvolvimento do conceito de obsessão dado por Allan Kardec em
suas mais diversas obras.
4 – “(...)
a alma ficar na dependência de outro Espírito, de modo ase achar subjugada ou
obsidiada, ao ponto de a sua vontade vir a achar-se, de certa maneira,
paralisada (O Livro dos Espíritos – cap. 09/questão 474 - 76ª ed./FEB – página 250)
Comentário:
A
definição aqui colocada é, na verdade, uma pergunta que Kardec fez aos
Espíritos Superiores e ela é um desenvolvimento da questão 199 de O Livro dos
Espíritos em sua 1ª edição que continha 501 perguntas. Vamos colocar aqui para
comparação as perguntas e respectivas repostas das duas edições de O Livro dos
Espíritos, a da primeira no ano 1857 e a da edição definitiva que foi no ano de
1860.
199.
Haverá possessos segundo a ideia comumente associada a esta palavra?
“Não,
visto que dois Espíritos não podem habitar simultaneamente o mesmo corpo. Os assim
chamados eram epilépticos ou loucos, mais necessitados de médicos que de
exorcismo” (O Livro dos Espíritos – Edição Histórica)
474. Desde
que não há possessão propriamente dita, isto é, coabitação de dois Espíritos no
mesmo corpo, pode a alma ficar na dependência de outro Espírito de modo a se
achar subjugada ou obsidiada ao ponto de a sua vontade vir a achar-se, de certa
maneira paralisada?
“Sem
dúvida e são esses os verdadeiros possessos. Mas, é preciso saibas que essa
dominação não se efetua nunca sem que aquele que a sofre o consinta, quer por
sua fraqueza quer por desejá-la. Muitos epilépticos ou loucos, que mais
necessitam de médico que de exorcismos, têm sido tomados por possessos” (O
Livro dos Espíritos – cap. 09/questão 474 - 76ª ed./FEB – página 250)
5 – “Domínio
que os maus Espíritos assumem sobre certas pessoas, com o objetivo de as
escravizar e submeter à vontade deles, pelo prazer que experimentam em fazer o
mal. Quando um Espírito bom ou mau quer atuar sobre um indivíduo, envolve-o,
por assim dizer, no seu perispírito, como se fora um manto” (Obras Póstumas – cap.
7/item 56 - 26ª ed./FEB – páginas 67/68)
Comentário:
Se o
Espírito tem no perispírito uma como que vestimenta, o Espírito obsessor como
que se põe como uma peça a mais da veste do Espírito, dificultando assim,
quando da obsessão por subjugação e por fascinação, os movimentos corporais
(subjugação física) e a clareza dos raciocínios (subjugação moral e/ou também,
a fascinação), já na obsessão simples, o obsedado mantém a lucidez, no entanto,
tem pensamentos fixos e imagens mentais lhes surgem, fortalecendo tais pensamentos.
Irritabilidade,
episódios depressivos, tristeza, vazio existencial, desequilíbrio emocional em
que há constantes mudanças de humor e reações desproporcionais a imprevistos e
acontecimentos negativos do dia a dia, são sinais e sintomas do processo da
obsessão simples.
Tendo feito
esse breve estudo do desenvolvimento do conceito de obsessão em Allan Kardec e,
percebendo que no campo dos estudos psiquiátricos, psicanalíticos e psicológicos
sobre o TOC dizem da ideia fixa acompanhada por imagens, podendo chegar à compulsão
(comportamento com rituais repetitivos ou atos mentais), não temos como deixar
de observar a semelhança do processo de
instalação do TOC, estudado pelas Ciências Psicológicas e do processo de
instalação da obsessão por Espíritos, estudado pelo Espiritismo.
Inicia-se
com uma ideia que persiste, até que fixada, leve ao comportamento patológico.
Afirma
Miranda: “Ideia negativa que se fixa, campo mental que se enfraquece, dando
ensejo a ideias negativas que virão”.
Um tipo
de obsessão que não podemos esquecer e que pesquisadores espíritas como o Dr. Inácio
Ferreira e Carlos Bernardo Loureiro e outros estudaram e escreveram sobre é a auto-obsessão.
A este respeito esclarece Carlos Bernardo Loureiro:
A
auto-obsessão decorre de um processo de polarização mental. É a polarização
mental que conduz o indivíduo a um estado de condicionamento mental, ou seja, é
uma auto-sugestão. Basta uma criatura credenciar uma determinada coisa, fixando
a sua atenção sobre a mesma com persistência, para condicionar o seu
pensamento, levando-a ao processo auto-obsessivo.
A verdade
é que, segundo o psiquiatra espírita Alberto Calvo, quando a criatura fixa o
pensamento numa determinada direção, faz com que todas as coisas da sua vida, todas
as atividades intelectuais, sociais, esportivas, etc., sejam conduzidas àquela
direção. Esse direcionamento, pela prevalência absoluta, para uma polarização
da mente, gerando um condicionamento. Todo condicionamento é uma ideia fixa, e
toda ideia fixa, sem dúvida, leva a criatura à exaustão das energias
biopsíquicas. Há um desgaste muito grande do fluido bio-magnético e, ao mesmo
tempo, a criatura, em face da polarização mental, passa a executar atividades
que envolvem determinados centros cerebrais, em muito maior intensidade do que
seria adequado, para a função psicológica. (LOUREIRO, Carlos Bernardo. A
Obsessão e seus Mistérios. São Paulo: Editora Mnemio Tulio, 1997. Cap. Nos
Labirintos da Auto-Obsessão. p. 82)
Comentário:
Vemos
tal fenômeno, por exemplo (há outros casos como no TOC, no TAG, no TDAH em que o fenômeno ocorre e em outras áreas como Sexo, Dependência Química), ocorrer em pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), neste
caso o hiperfoco acarreta consequências prejudiciais às interações sociais e
mesmo com relação a saúde da pessoa autista. O que é o hiperfoco? O hiperfoco
“é um fenômeno que reflete a completa absorção de uma pessoa em uma tarefa, a
um ponto em que a pessoa parece ignorar completamente ou ‘desligar-se’ de todo
o resto”.
As
conexões que se estabelecem a partir do hiperfoco dos autistas podem não ser
funcionais e há o risco de provocarem o isolamento do indivíduo por um grupo.
Os
interesses específicos – por galáxias, plantas ou dinossauros, por exemplo –
podem acabar não sendo bem comunicados com os outros e sendo usados fora de
contexto, diz Joana. “Então, como resultado, essas crianças acabam ficando
isoladas, brincando mais sozinhas. Porque é muito difícil você abrir mão
daquele seu hiperfoco em detrimento da relação com o outro”, afirma a
neuropsicóloga. (Autismo e Realidade. Hiperfoco no Autismo. 18/09/2023. Disponível
em: https://autismoerealidade.org.br/2023/09/18/hiperfoco-no-autismo/#:~:text=No%20caso%20do%20autismo%2C%20o,do%20indiv%C3%ADduo%20por%20um%20grupo.
) Acesso em 11/05/2024
Como
podemos depreender, o hiperfoco no autista é um investimento libidinal de tal
modo que a pessoa não se ocupa nem se preocupa com outra coisa, não é este o
exato processo da auto-obsessão? Há diversos estudos sobre as características no
TEA e, pensamos que os estudos espíritas sobre a polarização mental ou
auto-obsessão podem auxiliar no melhor entendimento do comportamento
hiperfocal.
E na
sociedade, haveria um fenômeno auto-obsessivo coletivo? Pensamos que sim, que
há essa possibilidade. Em poucas palavras, façamos uma retrospectiva de uma
situação de nossa sociedade brasileira.
Desde as
eleições últimas à Presidência da República no Brasil, o fenômeno da
polarização política trouxe até os dias atuais (2024), o fenômeno da
auto-obsessão coletiva em que, nas redes sociais, podemos observar uma multidão
de pessoas a fazerem comentários sobre assuntos diversos e neles inserem sua
ideologia política. Autores como Freud, por exemplo, estudaram esse fenômeno
nas massas. O seu livro Psicologia das Massas traz o olhar psicanalítico sobre.
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