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terça-feira, 16 de maio de 2023

Silêncio pensador (Conto espírita)

Por Leonardo Paixão (*) 


Ele estava em seu quarto. Há horas estava a pensar. Aproveitava o fim de semana para ficar consigo mesmo. Afinal, neste século XXI, a correria é grande no dia a dia. 

E lá estava ele a pensar, pensar. Sobre o que pensa? Paulo Henrique (o chamaremos a partir de agora de P. H) pensava sobre o início da vida humana, como tudo começou e se fazia sentido todo esse processo cotidiano do trabalho que garante a sobrevivência. 

- Sobrevivência? - perguntou de si para is o nosso personagem.

E continuou: Há séculos atrás o ser humano não tinha as condições de vida que possui hoje. Os pobres da Roma do século II eram verdadeiramente miseráveis. Neste século XXI em que vivo, os pobres tem acesso à escola, à informação, à alimentação e, até, a algum supérfluo. Sem falar nos benefícios proporcionados, a depender da avaliação de renda per capta ou não - renda que o governo federal aqui no Brasil - proporciona a partir do equipamento do SUAS: Sistema Único de Assistência Social, neste caso, notadamente os CRAS - Centro de Referência e Assistência Social.

Mas, como foi que chegamos aqui, neste patamar?


A mente de P. H. fervilhava. Ele era um espírito curioso e ávido por conhecimento. Devido a uma vida de dificuldades na adolescência, não pode seguir a carreira acadêmica. Ele teve de sustentar a família por um bom período de tempo e o fez com muita responsabilidade, tanto que pôde ver aos irmãos estudarem e alcançarem o nível superior na educação formal.

P. H. era um leitor assíduo e, hoje, se continha para poder ler de forma disciplinada, porque não mais só os livros físicos, mas os apps no celular para baixar livros como o Play Livros, o Kindle (app e e-reader), os livros em pdd baixados no computador e os áudiolivros acessiveis em plataformas como youtube. Chegamoa à Era do Conhecimento e, paradoxalmente, chegamos também à Era da Desinformação com o avanço das fake news. 


Trabalho, cursos, cuidar da casa (P. H. morava só), dar atenção aos pais e irmãos, essa a vida de nosso pensador. Em fins de semana como aquele, aproveitava para, no ócio, refletir sobre a existência humana e seu sentido.


- Há um real sentido para tudo isso? É a lei da evolução? E essa lei, é apenas biológica ou há algo de espiritual nela - refletia P. H. fazendo lembrar os filósofos da Antiga Grécia que buscavam, a partir de Sócrates, entender o ser humano.


Como dissemos, P. H.  era um leitor ávido. Na sua adolescência leu autores incomuns - assim consideravam os familiares - para a sua idade. Sob os seus olhos desfilaram as tragédias de William Shakespeare, os contos e os romances de Fiódor Dostoiévski, os romances de Liv Tolstoi, os de Gustave Flaubert e a literatura feminina de Clarice Lispector. Apesar de sua pouca idade, P. H. conseguia absorver, senão toda a compreensão de que os/a autores/a queriam dizer, boa parte o fazia refletir sobre as questões próprias ã espécie humana: tragédias amorosas, conflitos familiares, suicídio, desemprego, guerras, melancolia, medos, solidão, ódio, esperança, desespero, ambição, filantropia, etc.

Em seu quarto, silencioso quarto, onde as paredes testemunhavam as nuvens de pensamentos que irrompiam de sua mente esfervilhante, estavam presentes as recordações dos livros que havia lido, os contos que envolviam sua emoção àquela época e que agora seriam bem melhor compreendidos, devido a duas condições: P. H. estava se dedicando ao estudo da Filosofia e a maturidade intelectual o favorecia.

Descoberta, que prazer sentia ele nessa palavra! Sim, porque, agora, com estudos em um nível acadêmico, P. H. descobriu o quanto ele podia desenvolver seus pensamentos e,com os atuais estudos qie estava fazendo da Filosofia da Existência, compreendeu que, em seu caso, fora esta a base que lhe faltara para um maior aprofundamento sobre a angústia humana.

Dentre os autores que estava a se debruçar temos: Søren Kierkegaard, Martin Heidegger, Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Albert Camus.

Encantou-se com a linguagem deles, teve sim, dificuldade em entender Heidegger, mas um esforço e, pronto, a luz da compreensão se fazia, tal como a luz da Criação no relato bíblico do livro Génesis.

O pensar o ser humano em si trazia algumas respostas para o por quê de suas angústias, mas, pensava P. H.: "Isso ainda não me responde o que os pré-socráticos se perguntavam: De onde eu vim? Qual a minha origem? Por que nasci? Há vida após a morte?". E retomava a pergunta: "Há um real sentido para tudo isso? É a lei da evolução? E essa lei, é apenas biológica ou há algo de espiritual nela?"


- Já sei! - disse consigo o nosso personagem - Tenho de me socorrer da Ciência da Vida, a Biologia, afinal, ela estuda justamente isto: a vida.

- Hum... por onde começo? - pensou.

- Ah! Sim, sim, vou ver as aulaa gratuitas de Biologia que tem no youtube e desse modo vou entender melhor o que lerei neste livro. P. H. estava nas mãos com o livro Biologia para o Ensino Médio, um calhamaço de quase mil páginas!

Os olhos de P. H. estavam vidrados nas aulas e nos documentários sobre a origem da vida. Não era esta a sua área de conhecimento, havia dificuldades para bem entender as ligações físico-químicas e compreender o sentido dos vários nomes exóticos dos variados elementos estudados pela microbiologia.


- Desistir?! Nunca! Por mais que me seja difícil entender agora, vou prosseguir.

E ele prosseguia, parava os vídeos onde havia expressões desconhecidas e buscava no glossário do livro que tinha em mãos o seu significado e passava, às vezes, uma hora ou mais pensando sobre, fazendo pontes com os conhecimentos que já possuía nas áreas de Filosofia, Literatura e Ciências Humanas. Quem pudesse ver, como eu que aqui escrevo vejo para além das letras, as cenas, a movimentação a desenrar-se no pensamento de P. H. veria um filme de ação digno de ser exposto nos arquivos da cinematografia holywoodiana.

Pausa na ação.

- Preciso parar um pouco, relaxar, afinal, estou querendo descobrir segredos do universo. Mas, pera lá!, se na Antiguidade, desde os mitos, quantas coisas após a demitificação foi descoberta! Por que ainda hoje não se tem na Humanidade uma síntese dos conhecimentos adquiridos até hoje?


Batem à porta. P. H. olha e vê quem é antes de abrir. Havia uma pequena câmara instalada na parte de fora de sua casa.

- Olá!! Que surpresa! Faz algum tempo, não é, meu amigo?

- Sim, P. H., a vida nos traz responsabilidades e para bem as cumprir temos de nos dedicar - respondeu o amigo Geraldo.

- Sim, e aí, o tempo para nós mesmos e para estarmos a visitar parentes e amigos escasseia...

- Perfeitamente - concordou Geraldo, no entanto, não podemos nos deixar levar, pois do contrário, ficaremos distantes de família e amigos e isso não é saudável.

- Isso mesmo, Geraldo, precisamoa estar a nos movimentar para não nos afastarmos e, por isso, é tão importante o aprendizado de gerirmos o tempo.

- Falar em tempo, continua na Faculdade de Filosofia?

- Ah! Sim, continuo, verdadeiramente amo conhecer.

- Sim, P. H., não esperaria algo diferente de você, sempre nos colocando a pensar, e isso, desde a adolescência.

- Obrigado pelo reconhecimento, fico sensibilizado.

- Ora, não vai chorar cara!!

- Não chegarei a tanto, mas se chorasse seria justo, porque neste nosso país, onde a Educação não é um investimento que atraia os governantes, tal consideração é para tanto sim. Concorda?

- Lá vem você, P. H., sendo o P. H. de sempre, já colocando a conversa em um nível mais elevado. Gosto disso em você. Aprecio mesmo. Falamos tantas bobagens no decorrer de um dia...

- Verdade. Mas, e você, continuemos a filosofar, mas sem falarmos na política então, o que diz sobre a vida, digo, sobre o início da vida na Terra?

- Bom, P. H., eu também tinha minhas dúvidas, meus questionamentos, mas eles terminaram, hoje, já não penso sobre o sentido da vida e sim em como estou a viver a vida.

- ???? - a fisionomia de P. H. mostrava espanto e dúvida a respeito da resposta do amigo.

Sentados ambos em um sofá confortável e tomando cada qual uma xícara de café que P. H. havia providenciado, um breve silêncio pairou no ar, interrompido logo depois por Geraldo.

- Vejo seu espanto P. H. e te digo que não foi simples alcançar este caminho.

- E como o alcançou? 

- Tal como você alcançou seus conhecimentos: lendo e refletindo.

- Então você está a me dizer que é adepto de alguma nova Filosofia?

- Nova podemos dizer pelo corpo de doutrina que ela traz, mas está no mundo desde sempre...

- Ora, como assim?

- Você estuda Filosofia e já leu as obras de Platão, certo?

- Sim. Não todas, mas O Banquete, Mênon, Fédon, Críton, Parmênides, A República, são obras que li sim.

- Logo, percebeu, especialmente nas obras Mênon e Fédon o que Platão coloca nos diálogos socráticos que transcreveu sobre a imortalidade da alma e sobre a reencarnação...

- Sim, Geraldo, até que Sócrates ia bem em sua argumentação no diálogo Fédon, mas quando ele fala que retornaríamos em corpos de animais, não vi lógica e nem justiça aí, pois se evoluímos para seres racionais, humanos, seria um retrocesso na lei de evolução tal retorno.

- Exatamente P. H., mas temos de atentar no contexto histórico.

- Claro, claro, não podemos deixar de olhar para tal contexto.

- Então, naquela época recuada no tempo, não havia ensinamentos mais precisos para se passar ao entendimento do ser humano daquele período, certo? Mas, não te deixa intrigado o fato de que tais conceitos como uma Força Sobrenatural Superior ao homem, imortalidade da alma, reencarnação, estejam presentes em diversos povos antigos tais os egípcios, gregos, indianos, chineses, japoneses, nos países da África, e tantos outros povos maia que a História nos aponta?

- É, realmente, é preciso pensar mais profundamente a respeito para se achar a causa ou causas dessas coincidências... - falou P. H. se sentindo impactado por tal questionamento.

- Meu amigo, vou deixar três presentes para você e que muito me ajudaram nas repostas que eu buscava, pode ser que te ajudem também.

Geraldo que sempre andava com sua mochila, a abriu e retirou dela três livros: um exemplar de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec,  outro de O Ser e a Serenidade, de José Herculano Pires e um de Evolução em Dois Mundos, do Espírito André Luiz, psicografia de Chico Xavier.

P. H. pegou os livros, olhou os títulos e ficou pensativo se valeria a pena ler tais obras que, segundo as poucas informações que tinha seriam não de Espíritos, mas fruto da mente dos médiuns em estado alterado de consciência.

- Geraldo - falou P. H. - eu te agradeço, mas, tem certeza que aqui nessas obras vou encontrar respostas para as minhas dúvidas?

- Se tenho certeza, claro que não!! Até porque, cada um lê e interpreta ao seu modo, porém, como pensador que você é, não haverá de desprezar a leitura ou me engano?

- Não, não, lerei com atenção e depois te digo.

- Vou indo lá, meu amigo - despediu-se Geraldo abraçando P. H.

- Ok. Irei ler e depois te respondo sobre minhas impressões em um outro momento "Café Filosófico" - brincou P. H.


Passaram-se os dias e P. H. lia as obras presenteadas a ele por seu amigo.

Estava impressionado com o que estava a ler.

Em O Livro dos Espíritos deixou diversas perguntas grifadas e com sinais de interrogação para posterior pesquisa sobre; encantou-se com  o livro de Herculano Pires que lhe calou fundo na alma, até pelo fato de ser escrito por um Filósofo que também estudou a Filosofia da Existência; a obra de André Luiz o deixou pasmo, pois foi pesquisar sobre a origem da obra e descobriu que os médiuns Chico Xavier e Waldo Vieira a receberam em Estados diferentes e não havia uma lacuna em que se pudesse perceber alguma falha no desenvolvimento do raciocínio. E mais: Waldo Vieira era médico, logo, de sua mente poderiam vir tais conhecimentos na esfera da Biologia, mas e Chico Xavier que não era médico e muito menos teve avançada educação formal, isso também o intrigou.

Passadas mais algumas semanas e P. H. ljga para Geraldo.

-Alô! - atende Geraldo.

- Oi. É o P. H., e aí, topa no sábado a noite ir lá em casa para outro "Café Filosófico"?

- Sim, meu amigo, às oito da noite está bom?

- Para mim está bom sim, até lá Geraldo.


Chega o sábado e Geraldo já está na casa de P. H. e ambos estão se deliciando com café  e quitutes outros que P. H. preparou para aquele momento. 

- Geraldo, estou impressionado!!

- Eu estava a pensar se existiria uma obra que fosse a síntese dos conhecimentos humanos até agora acessados e em O Livro dos Espíritos temos esta síntese, obviamente que não há neste livro conhecimentos de informática, nada se fala sobre Inteligência Artificial, claro, pelo contexto da época em que foi escrita, mas há na obra questôes que avançam no ramo da química, da física e responde às questões pré-socráticas. E o desenvolvimento delas em livros como o de Herculano Pires e no do Espírito André Luiz, realmente estou mesmo admirado, filosoficamente admirado!

- Fico feliz em ouvir isso, meu amigo e tinha mesmo esperança de que não seria diferente.

- Muito obrigado, Geraldo, muito obrigado mesmo!!

- Não há de que, meu amigo. E agora você pode dar um novo passo.

- Qual?

- Se quiser poderá estar indo em uma reunião de estudos espíritas no Grupo que frequento. Não te convidarei para palestra, porque pode ser que não te agrade nesse primeiro momento e também porque em um estudo você poderá contribuir, mesmo que seja com dúvidas, afinal é delas que chegamos às respostas almejadas.

E foi assim que P. H. conheceu a Doutrina Espírita e em seu silencioso pensar galgou novo degrau em seu viver.

(*) Leonardo Paixão é trabalhador espírita no Grupo Espírita Semeadores da Paz, Campos dos Goytacazes, RJ, grupo que fundou e preside.



quinta-feira, 11 de maio de 2023

Déja vu (Conto Espírita)

Por Leonardo Paixão (*)

Ele estava muito bem. Tinha um bom emprego, uma bela casa e com esposa e filhos vivia em harmonia.

Jessé Tritão estava vivendo a sua vida na rotina de sempre, quando um dia deparou-se no trabalho - Tritão era consultor financeiro de uma grande empresa - com uma figura que lhe mexeu por dentro.

Chegara naquele dia de viagem Osório Maldonado e foi a empresa em que Jessé Tritão trabalhava com o objetivo de fazer consultoria sobre um novo negócio que queria abrir.

Foi direcionado pela recepcionista ao escritório de Tritão e este ao ver a Maldonado teve estranha sensação de arrepios por todo o corpo e de que aquele homem não era boa gente. Tritão ficou com pensamentos contínuos sobre esse fato e buscou respostas. Fez buscas na internet sobre o que significavam suas sensações. Busca vai, repostas vem, mas insatisfatórias, até porque as pesquisas científicas sobre os fenômenos de Déja vú, não eram conclusivas por não se as poder reproduzir em laboratório, devido aoa cientistas não saberem como isso fazer até então. 

Bem, como o déja vu é um fenômeno subjetvo e é parte da potencialidade do Espírito, um amigo a quem Jessé Tritão consultou explanando sobre o assunto, e este amigo sendo espírita, pegou O Livro dos Espíritos e leu as seguintes questões para Jessé:

"389. De onde provém a repulsa instintiva que se experimenta por certas pessoas, à primeira vista?

- Espíritos antipáticos que se advinham e se reconhecem, sem se falarem.

391. A antipatia entre duas pessoas nasce, em primeiro lugar, naquele que tem o Espírito pior ou melhor?

- Em um e em outro, mas as causas e os efeitos são diferentes. Um Espírito mau tem antipatia contra qualquer um que o possa julgar e desmascarar; vendo uma pessoa pela primeira vez, ele sabe que vai ser desaprovado. Seu afastamento se transforma em ódio, em ciúme, e lhe inspira o desejo de fazer o mal. O bom Espírito tem repulsa pelo mau, porque sabe que não será compreendido e que não partilham os mesmos sentimentos; mas, seguro de sua superioridade, não tem contra o outro nem ódio, nem ciúme, contentando-se em evitá-lo e lastimá-lo".

Alcebíades, o amigo de Tritão, espírita há muitos anos e dedicado estudioso da Doutrina dos Espíritos, perguntou-lhe:  "E então, Jessé Tritão, o que tais respostas te dizem?"

Tritão pensou e calado por instantes, falou a seguir: "Que talvez eu seja um Espírito que, apesar de não ser mau, possa precisar de alguma mudança, especialmente em relação a esse cliente, o Maldonado, porque quando o vejo sempre sinto uma vontade de o maltratar, no entanto, minha posição... e a educação dele com todos, desde os que trabalham na limpeza até os diretores é a mesma...Isso que mais me intriga nessa situação".

Jessé Tritão tendo percebido a lógica e a coerência nas repostas que leu junto ao amigo Alcebíades,  iniciou a leitura atenta de O Livro dos Espíritos e a cada resposta lida, luzes se faziam em sua mente a lhe clarearem os processos da vida. Até que ao ler sobre a reencarnação, aprofunda seu entendimento sobre as relações de simpatia e antipatia entre os Espíritos e passa a compreender que ele e Maldonado, muito provavelmente em uma existência passada foram inimigos e que hoje se reencontraram para que não mais viessem a repetir a inimizade do passado.

Passam-se os anos e é um dia especial na empresa,  ela está aniversariando 50 anos e há uma grande celebração tendo por convidados os funcionários e os melhores clientes e, Maldonado é um destes. Entre conversas alegres Jessé Tritão e Osório Maldonado se aproximam por circunstâncias próprias de eventos tais e Tritão decidi abrir seu coração a Maldonado sobre as suas impressões íntimas em relação a ele. Maldonado escuta atento e surpreende Jessé dizendo: "A impressão foi recíproca, mas como sou espírita e busco domar minhas más tendências, busquei especialmente com você manter uma atitude serena e de compreensão e, para isso, passei a vir ao seu escritório toda semana e, agora aqui estamos, nos abrindo não com sensação de inimizade, mas como irmãos que buscam reconciliação ".

E, assim, de um déja vu, a reconciliação entre duas almas se fez.


(*) Leonardo Paixão é trabalhador espírita no Grupo Espírita Semeadores da Paz, Campos dos Goytacazes, RJ. Grupo que fundou e dirige 


terça-feira, 9 de maio de 2023

Obsessão e Alienação Mental

Imemoriável é o processo de comunicação dos ditos "mortos" com os "vivos".


Ernesto Bozzano, admirável pesquisador dos fenômenos espíritas, escreveu o livro Povos Primitivos e Manifestações Supranormais que nos amplia o campo de conhecimento antropológico.


Nesse conúbio entre os seres humanos ainda primitivos e os Espíritos de seus pares já desencarnados, temos aí o mediunismo primevo e, por consequência o início também dos processos obsessivos.


Avançando no tempo, veremos diversos conquistadores tais Alexandre, o Grande; Calígula; Gengis Khan, Alarico I e Alarico II, personalidades nas quais ao percorrermos as páginas de suas biografias, temos médiuns obsedados e da  obsessão simples passando ao fascinio - que o tinham já por si próprios - culminando na obsessão por subjugação. E, diante de sua ânsia pelo poder de conquistas, tivemos neles, junto aos seus sequazes, as grandes escaladas de violências pelo mundo em que eles então habitavam (1).


Na História do Cristianismo, temos a triste situação ocorrida na Idade Média, segundo alguns historiadores, chamada de Idade das Trevas, isso porque se estava a usar do nome do Espírito de Pureza - Jesus Cristo, que encarnou na Terra - para saciar os mais torpes desejos do clero... (2)


Somente a partir de Allan Kardec, na segunda metade do século XIX, é que os fenômenos mediúnicos foram detalhadamente observados e colocados para experimentações e a obsessão surgiu como uma das tristes consequências do mau uso e abuso da mediunidade.


 O Livro dos Médiuns é um verdadeiro farol que guia aos que desejam se esclarecer e, esclarecidos, ajudarem no amparo aos casos de obsessão.


Vemos hoje, nós, os Espíritos desvestidos do corpo físico, o quanto hoje, em pleno século XXI, ainda grassa a ignorância e a descrença em homens e mulheres que são da área científica, notadamente, médicos (as), em relação ao processo espiritual, quando se eles buscassem pesquisar sobre o assunto, veriam claramente o quanto os problemas psíquicos que acometem grande número de seres humanos hoje, tem, não raramente, uma influência espiritual negativa; basta aos espíritas estudiosos e que participam de reuniões de desobsessão, pesquisar a veracidade ou não do que aqui estamoa explanando (3).


Quando encarnado (4), ao escrever sobre obsessão eu percebi que cerca de 90% dos casos de pessoas internadas nos então chamados Manicômios ou Sanatórios, eram casos de alienação mental derivada do processo obsessivo de subjugação.


Tivemos o prazer e alegria de vermos muitos casos serem curados e, até de algumas pessoas que após se tornaram trabalhadoras em agremiações espíritas.


Estudemos sim, a Doutrina Espírita; pesquisemos sim; busquemos sim os aprofundamentos precisos, mas como nos diz Paulo, Apóstolo em sua I Coríntios 13 é preciso amar. E recordando aqui o nosso  confrade Hermínio Miranda em seu excelenfe livro Diálogo com as Sombras, repetimos:


"Se me fosse pedido o segredo da doutrinação, diria apenas uma palavra:


- AMOR" (5).


Inácio Ferreira

(Página psicografada pelo médium Leonardo Paixão em reunião de Estudo de Aperfeiçoamento na Doutrinação no Grupo Espírita Semeadores da Paz, Campos dos Goytacazes, RJ, no dia 06/05/2023).


Notas do médium:


(1) - O Espírito se refere ao estágio espiritual desses conquistadores que depreendemos terem sido Espíritos exilados de Capela, conforme nos esclarece Santo Agostinho (Espírito) no cap. III de O Evangelho segundo o Espiritismo: 


"(...) nem todos os Espíritos que encarnam na Terra vão para aí em expiação. As raças a que chamais selvagens são formadas de Espíritos que apenas saíram da infância e que na Terra se acham, por assim dizer, em curso de educação, para se desenvolverem pelo contacto com Espíritos mais adiantados. Vêm depois as raças semicivilizadas, constituídas desses mesmos Espíritos em via de progresso. São elas, de certo modo, raças indígenas da Terra, que aí se elevaram pouco a pouco em longos períodos seculares, algumas das quais hão podido chegar ao aperfeiçoamento intelectual dos povos mais esclarecidos.


Os Espíritos em expiação, se nos podemos exprimir dessa forma, são exóticos na Terra; já estiveram noutros mundos, donde foram excluídos em consequência da sua obstinação no mal e por se haverem constituído, em tais mundos, causa de perturbação para os bons. Tiveram de ser degredados, por algum tempo, para o meio de Espíritos mais atrasados, com a missão de fazer que estes últimos avançassem, pois que levam consigo inteligências desenvolvidas e o gérmen dos conhecimentos que adquiriram. Daí vem que os Espíritos em punição se encontram no seio das raças mais inteligentes. Por isso mesmo, para essas raças é que de mais amargor se revestem os infortúnios da vida. É que há nelas mais sensibilidade, sendo, portanto, mais provadas pelas contrariedades e desgostos do que as raças primitivas, cujo senso moral se acha mais embotado. (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. III, item 14.).


(2) - Referência à Inquisição.


"A Inquisição foi criada pela Igreja Católica, durante a Idade Média (476-1453)  — especificamente na Baixa Idade Média (séculos XI e XV) — e Idade Modena (1453-1789). Era um tribunal que julgava hereges (pessoas não adeptas ao cristianismo), porém esses julgamentos se tornaram também parte de um movimento político e econômico da época.


Inicialmente, as averiguações incidiram na Alemanha, França e Itália; em seguida, Espanha e Portugal, e, assim, alcançaram os países da América colonizados. O movimento, já abrandado na Idade Moderna, teve um novo apogeu durante a Reforma Protestante (1517), e retornou também durante a formação dos Estados Nacionais (século XVIII).


Apesar de existirem poucos estudos a respeito, existiu Inquisição no Brasil, onde chegou a abrir mais de 1000 processos. Não se sabe ao certo quantas pessoas morreram em todo o período inquisitório no mundo, mas os números vão de 100 mil a milhões. O Tribunal da Santa Inquisição foi extinto em 1891." (https://brasilescola.uol.com.br/guerras/inquisicao.htm)


Eu possuo em minha biblioteca particular o livro da Doutora em História Neusa Fernandes, pela UERJ, cujo título é A Inquisição em Minas Gerais no século XVIII, estudo em que ela combinou capítulos de sua dissertação de mestrado e outros de sua tese de doutorado. É um livro que nos mostra vários processos e diversas injustiças cometidas pela Inquisição em terra brasileira.


(3) - A Classificação Internacional de Doenças (CID) traz o seguinte:


 CID F44.3 - Estados de Transe e Possessão


Transtornos caracterizados por uma perda transitória da consciência de sua própria identidade, associada a uma conservação perfeita da consciência do meio ambiente. Devem aqui ser incluídos somente os estados de transe involuntários e não desejados, excluídos aqueles de situações admitidas no contexto cultural ou religioso do sujeito.


Vemos aqui um desenvolvimento da ciência médica, especialmente a psiquiatria, em relação a taís estados, não os considerando quando admitidos, como nas reuniões mediúnicas espíritas, esquizofrenia ou outro transtorno psicótico.


(4) - Neste momento da mensagem ocorreu um fenômeno interessante, o Espírito Alberto, nosso Guia Espiritual, que até então estava a escrever a mensagem, dá licença ao Espírito Inácio Ferreira e, deixando a este a conclusâo da mensagem, este último a assina. Espíritos que estão sintonizados em seus pensamentos não se preocupam com seus nomes desde que a mensagem seja transmitida,conforme podemos ler na Introdução de O Livro dos Espíritos , item 12:


"(...) A experiência nos ensina que os Espíritos da mesma categoria, do mesmo caráter e possuídos dos mesmos sentimentos formam grupos e famílias; ora, incalculável é o número dos Espíritos e longe estamos de conhecê-los a todos; a maior parte deles não têm mesmo nomes para nós. Nada, pois, impede que um Espírito da categoria de Fénelon venha em seu lugar, muitas vezes até como seu mandatário; apresenta-se então com o seu nome, porque lhe é idêntico e pode substituí-lo e ainda porque precisamos de um nome para fixar as nossas ideias; mas, que importa, afinal, seja um Espírito, realmente ou não, o de Fénelon? Desde que tudo o que ele diz é bom e que fala como o teria feito o próprio Fénelon, é um bom Espírito; indiferente é o nome pelo qual se dá a conhecer, não passando muitas vezes de um meio de que lança mão para nos fixar as ideias. O mesmo, entretanto, não é admissível nas evocações íntimas; mas, aí, como dissemos há pouco, se consegue estabelecer a identidade por provas de certo modo patentes".


(5) - Final do livro Diálogo com as Sombras , de Hermínio Miranda. Livro que muito recomendamos a todos os lidadores da mediunidade e especialmente aos dirigentes e doutrinadores ou dialogadores.